Servidores e policiais entram em confronto na Argentina em protesto contra demissões de Milei


Dirigentes sindicais e trabalhadores declararam greve e tentaram entrar em prédios ministeriais, mas foram impedidos por forças federais; governo demitiu 12 mil servidores temporários

Por Carolina Marins
Atualização:

Dirigentes sindicais e trabalhadores da Argentina declararam greve nesta quarta-feira, 3, e tentaram entrar em prédios ministeriais do governo de Javier Milei em protesto contra a demissão em massa de servidores públicos no fim de semana. As mobilizações começaram na frente do Ministério do Trabalho, em Buenos Aires, e se espalharam por outros edifícios públicos argentinos. Organizações prometem novas mobilizações para os próximos dias e uma nova greve geral para o fim deste mês.

O governo Milei determinou operação especial da Polícia Federal por meio de sua ministra de segurança pública, Patricia Bullrich, para impedir os manifestantes de invadirem os prédios e confirmou as demissões, conforme anunciadas na semana passada. Segundo o governo, 15 mil contratos de trabalho temporários se encerraram em março e não foram renovados. Milei pretende que 70 mil servidores públicos sejam despedidos, número não garantido pelo porta-voz do governo.

Servidores públicos da Argentina protestam contra demissão em massa do governo Milei dentro do Instituto Nacional contra a Descriminação, Xenofonia e Racismo, em Buenos Aires, nesta quarta-feira, 3. Governo confirmou a demissão de 15 mil servidores nesta semana Foto: Natacha Pisarenko/AP
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Os protestos foram liderados pela a Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), que se posicionou contra a medida na semana passada. “Temos que mostrar que é o governo que age à margem da Constituição e da lei”, declarou o secretário-geral da ATE nacional, Rodolfo Aguiar, no X, antes do protesto.

As tensões entre manifestantes e as forças federais foram maiores na sede do Instituto Nacional contra a Discriminação, Xenofobia e Racismo (Inadi), fechado por Milei. Os grevistas, entre eles servidores demitidos no fim de semana, entraram em combate com os membros da Polícia Federal, que haviam montado guarda atrás de catracas, e conseguiram entrar no prédio após trocas de empurrões e insultos.

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As maiores manifestações aconteceram no Ministério do Trabalho, onde cerca de 600 funcionários foram demitidos. Centenas de grevistas e dirigentes sindicais se reuniram na frente do edifício ministerial para protestar contra o governo. “Uma mensagem de unidade tem que vir daqui. Aqui estamos construindo uma greve geral. Temos que construir a partir de baixo porque ninguém se salva sozinho”, disse o dirigente da Central de Trabalhadores da Argentina, Hugo Yasky.

O porta-voz do governo, Manuel Adorni, disse que os manifestantes que “agiram fora da lei” serão punidos com medidas legais. “Quem estiver em algum episódio ou ato fora da lei terá suas consequências”, disse em uma coletiva de imprensa nesta quarta, na qual confirmou a demissão dos servidores.

Policiais federais montam guarda na entrada do Instituto Nacional contra Descriminação, Xenofobia e Racismo em Buenos Aires, nesta quarta-feira, 3. Manifestantes entraram em combate e conseguiram entrar no prédio para protestar contra demissões Foto: Natacha Pisarenko/AP
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Adorni reforçou que as demissões fazem parte do plano de enxugar os gastos do Estado argentino, como parte das medidas de ajuste fiscal do novo governo libertário. “Temos falado repetidamente disto, não há muito mais a dizer, faz parte do trabalho que fazemos para encolher o Estado”, declarou.

Javier Milei chegou a declarar na semana passada que as demissões atingiriam 70 mil servidores públicos, mas, de acordo com seu porta-voz, este número não está garantido. Uma auditoria está em andamento para avaliar novas demissões no futuro.

Medida impopular

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A medida, porém, pode ser custosa para Milei, já que o funcionalismo público é um grande empregador na Argentina e pode jogar milhares de argentinos no desemprego durante a uma crise econômica grave.

“Essa demissão em massa vem como plataforma de governo, muito associada a ultraliberalismo que Milei promove: a redução do Estado e corte de despesas”, explica Rodrigo Reis, internacionalista e fundador do Instituto Global Attitude. “É uma medida sem sombra de dúvidas bastante impopular na Argentina, porque existe um cabide de emprego sustentado pelo governo, que é muito custoso para a máquina governamental argentina.”

Segundo dados do Centro de Implementação de Políticas Públicas para a Equidade e o Crescimento (Cippec), organização não-governamental com sede em Buenos Aires, quase 4 milhões de pessoas trabalham no setor público, o que representa 18% dos argentinos ocupados.

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Empregados públicos entram nos prédios depois de serem inicialmente impedidos por forças de segurança Foto: Gustavo Garello/AP

Já é conhecido que governos de direita e oposição ao peronismo tendem a enfrentar maiores protestos sociais e greves por parte dos sindicatos, cujas ligações são próximas dos peronistas. Foi o caso de Mauricio Macri, atual fiel da balança de Milei com a base de direita no Congresso. No entanto, o libertário encontra uma situação mais dramática, ao lidar com uma inflação de 276% na taxa internanual, aumento da pobreza e crises políticas em sua base de apoio.

“Essa vai ser uma medida bastante impopular já para um presidente que encara atualmente desafios de governabilidade, principalmente na Câmara dos Deputados”, completa o internacionalista. Com o seu partido tendo apenas 38 cadeiras no Congresso, 7 no Senado e nenhum governador eleito, Milei precisa da direita para governar, a mesma com quem abriu uma guerra recentemente e agora tenta conciliar no chamado Pacto de Maio.

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Humor social

No fim do dia, a ATE definiu em plenária a próxima sexta-feira, 5, como um dia de greve nacional dos trabalhadores do Estado, dia em que deve ocorrer uma marcha rumo ao prédio do Ministério da Economia.

Já nesta quinta, 4, os professores prometem fazer uma greve nacional em defesa da educação pública. Será a segunda greve de professores do governo Milei e a primeira desde o início do ano letivo. No mesmo dia, professores da Universidade de Buenos Aires (UBA) prometem um “bandeiraço” em defesa da universidade pública e da ciência, poucos dias depois da demissão de funcionários do Conselho Nacional de Investigações Científicas (Conicet).

A CGT prometeu “medidas de força” contra as políticas de Milei, sem entrar em detalhes do que seriam essas medidas. A expectativa é que o grêmio promova novas manifestações até o fim do mês. “Uma das mobilizações será no dia 1º de maio, mas antes haverá atividades que serão confirmadas no dia 11/04 na reunião do conselho de administração”, afirmou o sindicalista Héctor Daer ao jornal Clarín.

Desde que assumiu a presidência, em dezembro, analistas políticos e economistas alertavam que Milei poderia lidar com um humor social cada vez mais fervente conforme for avançando com suas medidas de ajuste, especialmente se não investir em políticas de contrapartida para redução da pobreza gerada.

Já em janeiro, na esteira da Lei Ônibus - atualmente derrubada - o presidente teve a sua primeira greve geral com manifestantes entrando em confronto com a polícia nas ruas, em um primeiro reflexo da nova política de segurança.

O desafio agora vai ser evitar nos próximos meses uma ebulição social caso não tome medidas que impactem mais o que Milei convencionou chamar de “casta política” e menos os trabalhadores e aposentados que, até agora, só viram seu poder aquisitivo ser derretido.

“A crise social já é uma realidade na sociedade argentina”, afirma Reis. “Ele vai ter que ser muito cuidadoso e ter muito tato para poder dialogar com diferentes setores da sociedade e realmente navegar por uma reforma estrutural, tributária, de redução de Estado que ele propõe de uma maneira que dialogue com esses diferentes setores da sociedade”.

“É um desafio muito grande para uma figura altamente controversa, tanto com as suas declarações, com um populismo muito claro, com algo que se assemelha, de certa maneira, com outros governos de ultradireita, como o bolsonarismo no Brasil e o trumpismo foi nos Estados Unidos, entre outros”, completa.

Milei se apoia em uma aprovação que atualmente gira em torno de 50%, os mesmos valores que ele obteve no segundo turno. Mas as pesquisas já mostram há semanas que este apoio vem caindo, principalmente conforme os salários são corroídos e se amplia a briga política com governadores.

Uma pesquisa da consultora ShopApp divulgada hoje pelo Clarín mostrou que a maioria dos argentinos ainda está otimista com o novo governo, principalmente os homens. Mas mais de 40% sente incerteza com o futuro e tem medo pelas suas economias pessoais.

Dirigentes sindicais e trabalhadores da Argentina declararam greve nesta quarta-feira, 3, e tentaram entrar em prédios ministeriais do governo de Javier Milei em protesto contra a demissão em massa de servidores públicos no fim de semana. As mobilizações começaram na frente do Ministério do Trabalho, em Buenos Aires, e se espalharam por outros edifícios públicos argentinos. Organizações prometem novas mobilizações para os próximos dias e uma nova greve geral para o fim deste mês.

O governo Milei determinou operação especial da Polícia Federal por meio de sua ministra de segurança pública, Patricia Bullrich, para impedir os manifestantes de invadirem os prédios e confirmou as demissões, conforme anunciadas na semana passada. Segundo o governo, 15 mil contratos de trabalho temporários se encerraram em março e não foram renovados. Milei pretende que 70 mil servidores públicos sejam despedidos, número não garantido pelo porta-voz do governo.

Servidores públicos da Argentina protestam contra demissão em massa do governo Milei dentro do Instituto Nacional contra a Descriminação, Xenofonia e Racismo, em Buenos Aires, nesta quarta-feira, 3. Governo confirmou a demissão de 15 mil servidores nesta semana Foto: Natacha Pisarenko/AP

Os protestos foram liderados pela a Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), que se posicionou contra a medida na semana passada. “Temos que mostrar que é o governo que age à margem da Constituição e da lei”, declarou o secretário-geral da ATE nacional, Rodolfo Aguiar, no X, antes do protesto.

As tensões entre manifestantes e as forças federais foram maiores na sede do Instituto Nacional contra a Discriminação, Xenofobia e Racismo (Inadi), fechado por Milei. Os grevistas, entre eles servidores demitidos no fim de semana, entraram em combate com os membros da Polícia Federal, que haviam montado guarda atrás de catracas, e conseguiram entrar no prédio após trocas de empurrões e insultos.

As maiores manifestações aconteceram no Ministério do Trabalho, onde cerca de 600 funcionários foram demitidos. Centenas de grevistas e dirigentes sindicais se reuniram na frente do edifício ministerial para protestar contra o governo. “Uma mensagem de unidade tem que vir daqui. Aqui estamos construindo uma greve geral. Temos que construir a partir de baixo porque ninguém se salva sozinho”, disse o dirigente da Central de Trabalhadores da Argentina, Hugo Yasky.

O porta-voz do governo, Manuel Adorni, disse que os manifestantes que “agiram fora da lei” serão punidos com medidas legais. “Quem estiver em algum episódio ou ato fora da lei terá suas consequências”, disse em uma coletiva de imprensa nesta quarta, na qual confirmou a demissão dos servidores.

Policiais federais montam guarda na entrada do Instituto Nacional contra Descriminação, Xenofobia e Racismo em Buenos Aires, nesta quarta-feira, 3. Manifestantes entraram em combate e conseguiram entrar no prédio para protestar contra demissões Foto: Natacha Pisarenko/AP

Adorni reforçou que as demissões fazem parte do plano de enxugar os gastos do Estado argentino, como parte das medidas de ajuste fiscal do novo governo libertário. “Temos falado repetidamente disto, não há muito mais a dizer, faz parte do trabalho que fazemos para encolher o Estado”, declarou.

Javier Milei chegou a declarar na semana passada que as demissões atingiriam 70 mil servidores públicos, mas, de acordo com seu porta-voz, este número não está garantido. Uma auditoria está em andamento para avaliar novas demissões no futuro.

Medida impopular

A medida, porém, pode ser custosa para Milei, já que o funcionalismo público é um grande empregador na Argentina e pode jogar milhares de argentinos no desemprego durante a uma crise econômica grave.

“Essa demissão em massa vem como plataforma de governo, muito associada a ultraliberalismo que Milei promove: a redução do Estado e corte de despesas”, explica Rodrigo Reis, internacionalista e fundador do Instituto Global Attitude. “É uma medida sem sombra de dúvidas bastante impopular na Argentina, porque existe um cabide de emprego sustentado pelo governo, que é muito custoso para a máquina governamental argentina.”

Segundo dados do Centro de Implementação de Políticas Públicas para a Equidade e o Crescimento (Cippec), organização não-governamental com sede em Buenos Aires, quase 4 milhões de pessoas trabalham no setor público, o que representa 18% dos argentinos ocupados.

Empregados públicos entram nos prédios depois de serem inicialmente impedidos por forças de segurança Foto: Gustavo Garello/AP

Já é conhecido que governos de direita e oposição ao peronismo tendem a enfrentar maiores protestos sociais e greves por parte dos sindicatos, cujas ligações são próximas dos peronistas. Foi o caso de Mauricio Macri, atual fiel da balança de Milei com a base de direita no Congresso. No entanto, o libertário encontra uma situação mais dramática, ao lidar com uma inflação de 276% na taxa internanual, aumento da pobreza e crises políticas em sua base de apoio.

“Essa vai ser uma medida bastante impopular já para um presidente que encara atualmente desafios de governabilidade, principalmente na Câmara dos Deputados”, completa o internacionalista. Com o seu partido tendo apenas 38 cadeiras no Congresso, 7 no Senado e nenhum governador eleito, Milei precisa da direita para governar, a mesma com quem abriu uma guerra recentemente e agora tenta conciliar no chamado Pacto de Maio.

Humor social

No fim do dia, a ATE definiu em plenária a próxima sexta-feira, 5, como um dia de greve nacional dos trabalhadores do Estado, dia em que deve ocorrer uma marcha rumo ao prédio do Ministério da Economia.

Já nesta quinta, 4, os professores prometem fazer uma greve nacional em defesa da educação pública. Será a segunda greve de professores do governo Milei e a primeira desde o início do ano letivo. No mesmo dia, professores da Universidade de Buenos Aires (UBA) prometem um “bandeiraço” em defesa da universidade pública e da ciência, poucos dias depois da demissão de funcionários do Conselho Nacional de Investigações Científicas (Conicet).

A CGT prometeu “medidas de força” contra as políticas de Milei, sem entrar em detalhes do que seriam essas medidas. A expectativa é que o grêmio promova novas manifestações até o fim do mês. “Uma das mobilizações será no dia 1º de maio, mas antes haverá atividades que serão confirmadas no dia 11/04 na reunião do conselho de administração”, afirmou o sindicalista Héctor Daer ao jornal Clarín.

Desde que assumiu a presidência, em dezembro, analistas políticos e economistas alertavam que Milei poderia lidar com um humor social cada vez mais fervente conforme for avançando com suas medidas de ajuste, especialmente se não investir em políticas de contrapartida para redução da pobreza gerada.

Já em janeiro, na esteira da Lei Ônibus - atualmente derrubada - o presidente teve a sua primeira greve geral com manifestantes entrando em confronto com a polícia nas ruas, em um primeiro reflexo da nova política de segurança.

O desafio agora vai ser evitar nos próximos meses uma ebulição social caso não tome medidas que impactem mais o que Milei convencionou chamar de “casta política” e menos os trabalhadores e aposentados que, até agora, só viram seu poder aquisitivo ser derretido.

“A crise social já é uma realidade na sociedade argentina”, afirma Reis. “Ele vai ter que ser muito cuidadoso e ter muito tato para poder dialogar com diferentes setores da sociedade e realmente navegar por uma reforma estrutural, tributária, de redução de Estado que ele propõe de uma maneira que dialogue com esses diferentes setores da sociedade”.

“É um desafio muito grande para uma figura altamente controversa, tanto com as suas declarações, com um populismo muito claro, com algo que se assemelha, de certa maneira, com outros governos de ultradireita, como o bolsonarismo no Brasil e o trumpismo foi nos Estados Unidos, entre outros”, completa.

Milei se apoia em uma aprovação que atualmente gira em torno de 50%, os mesmos valores que ele obteve no segundo turno. Mas as pesquisas já mostram há semanas que este apoio vem caindo, principalmente conforme os salários são corroídos e se amplia a briga política com governadores.

Uma pesquisa da consultora ShopApp divulgada hoje pelo Clarín mostrou que a maioria dos argentinos ainda está otimista com o novo governo, principalmente os homens. Mas mais de 40% sente incerteza com o futuro e tem medo pelas suas economias pessoais.

Dirigentes sindicais e trabalhadores da Argentina declararam greve nesta quarta-feira, 3, e tentaram entrar em prédios ministeriais do governo de Javier Milei em protesto contra a demissão em massa de servidores públicos no fim de semana. As mobilizações começaram na frente do Ministério do Trabalho, em Buenos Aires, e se espalharam por outros edifícios públicos argentinos. Organizações prometem novas mobilizações para os próximos dias e uma nova greve geral para o fim deste mês.

O governo Milei determinou operação especial da Polícia Federal por meio de sua ministra de segurança pública, Patricia Bullrich, para impedir os manifestantes de invadirem os prédios e confirmou as demissões, conforme anunciadas na semana passada. Segundo o governo, 15 mil contratos de trabalho temporários se encerraram em março e não foram renovados. Milei pretende que 70 mil servidores públicos sejam despedidos, número não garantido pelo porta-voz do governo.

Servidores públicos da Argentina protestam contra demissão em massa do governo Milei dentro do Instituto Nacional contra a Descriminação, Xenofonia e Racismo, em Buenos Aires, nesta quarta-feira, 3. Governo confirmou a demissão de 15 mil servidores nesta semana Foto: Natacha Pisarenko/AP

Os protestos foram liderados pela a Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), que se posicionou contra a medida na semana passada. “Temos que mostrar que é o governo que age à margem da Constituição e da lei”, declarou o secretário-geral da ATE nacional, Rodolfo Aguiar, no X, antes do protesto.

As tensões entre manifestantes e as forças federais foram maiores na sede do Instituto Nacional contra a Discriminação, Xenofobia e Racismo (Inadi), fechado por Milei. Os grevistas, entre eles servidores demitidos no fim de semana, entraram em combate com os membros da Polícia Federal, que haviam montado guarda atrás de catracas, e conseguiram entrar no prédio após trocas de empurrões e insultos.

As maiores manifestações aconteceram no Ministério do Trabalho, onde cerca de 600 funcionários foram demitidos. Centenas de grevistas e dirigentes sindicais se reuniram na frente do edifício ministerial para protestar contra o governo. “Uma mensagem de unidade tem que vir daqui. Aqui estamos construindo uma greve geral. Temos que construir a partir de baixo porque ninguém se salva sozinho”, disse o dirigente da Central de Trabalhadores da Argentina, Hugo Yasky.

O porta-voz do governo, Manuel Adorni, disse que os manifestantes que “agiram fora da lei” serão punidos com medidas legais. “Quem estiver em algum episódio ou ato fora da lei terá suas consequências”, disse em uma coletiva de imprensa nesta quarta, na qual confirmou a demissão dos servidores.

Policiais federais montam guarda na entrada do Instituto Nacional contra Descriminação, Xenofobia e Racismo em Buenos Aires, nesta quarta-feira, 3. Manifestantes entraram em combate e conseguiram entrar no prédio para protestar contra demissões Foto: Natacha Pisarenko/AP

Adorni reforçou que as demissões fazem parte do plano de enxugar os gastos do Estado argentino, como parte das medidas de ajuste fiscal do novo governo libertário. “Temos falado repetidamente disto, não há muito mais a dizer, faz parte do trabalho que fazemos para encolher o Estado”, declarou.

Javier Milei chegou a declarar na semana passada que as demissões atingiriam 70 mil servidores públicos, mas, de acordo com seu porta-voz, este número não está garantido. Uma auditoria está em andamento para avaliar novas demissões no futuro.

Medida impopular

A medida, porém, pode ser custosa para Milei, já que o funcionalismo público é um grande empregador na Argentina e pode jogar milhares de argentinos no desemprego durante a uma crise econômica grave.

“Essa demissão em massa vem como plataforma de governo, muito associada a ultraliberalismo que Milei promove: a redução do Estado e corte de despesas”, explica Rodrigo Reis, internacionalista e fundador do Instituto Global Attitude. “É uma medida sem sombra de dúvidas bastante impopular na Argentina, porque existe um cabide de emprego sustentado pelo governo, que é muito custoso para a máquina governamental argentina.”

Segundo dados do Centro de Implementação de Políticas Públicas para a Equidade e o Crescimento (Cippec), organização não-governamental com sede em Buenos Aires, quase 4 milhões de pessoas trabalham no setor público, o que representa 18% dos argentinos ocupados.

Empregados públicos entram nos prédios depois de serem inicialmente impedidos por forças de segurança Foto: Gustavo Garello/AP

Já é conhecido que governos de direita e oposição ao peronismo tendem a enfrentar maiores protestos sociais e greves por parte dos sindicatos, cujas ligações são próximas dos peronistas. Foi o caso de Mauricio Macri, atual fiel da balança de Milei com a base de direita no Congresso. No entanto, o libertário encontra uma situação mais dramática, ao lidar com uma inflação de 276% na taxa internanual, aumento da pobreza e crises políticas em sua base de apoio.

“Essa vai ser uma medida bastante impopular já para um presidente que encara atualmente desafios de governabilidade, principalmente na Câmara dos Deputados”, completa o internacionalista. Com o seu partido tendo apenas 38 cadeiras no Congresso, 7 no Senado e nenhum governador eleito, Milei precisa da direita para governar, a mesma com quem abriu uma guerra recentemente e agora tenta conciliar no chamado Pacto de Maio.

Humor social

No fim do dia, a ATE definiu em plenária a próxima sexta-feira, 5, como um dia de greve nacional dos trabalhadores do Estado, dia em que deve ocorrer uma marcha rumo ao prédio do Ministério da Economia.

Já nesta quinta, 4, os professores prometem fazer uma greve nacional em defesa da educação pública. Será a segunda greve de professores do governo Milei e a primeira desde o início do ano letivo. No mesmo dia, professores da Universidade de Buenos Aires (UBA) prometem um “bandeiraço” em defesa da universidade pública e da ciência, poucos dias depois da demissão de funcionários do Conselho Nacional de Investigações Científicas (Conicet).

A CGT prometeu “medidas de força” contra as políticas de Milei, sem entrar em detalhes do que seriam essas medidas. A expectativa é que o grêmio promova novas manifestações até o fim do mês. “Uma das mobilizações será no dia 1º de maio, mas antes haverá atividades que serão confirmadas no dia 11/04 na reunião do conselho de administração”, afirmou o sindicalista Héctor Daer ao jornal Clarín.

Desde que assumiu a presidência, em dezembro, analistas políticos e economistas alertavam que Milei poderia lidar com um humor social cada vez mais fervente conforme for avançando com suas medidas de ajuste, especialmente se não investir em políticas de contrapartida para redução da pobreza gerada.

Já em janeiro, na esteira da Lei Ônibus - atualmente derrubada - o presidente teve a sua primeira greve geral com manifestantes entrando em confronto com a polícia nas ruas, em um primeiro reflexo da nova política de segurança.

O desafio agora vai ser evitar nos próximos meses uma ebulição social caso não tome medidas que impactem mais o que Milei convencionou chamar de “casta política” e menos os trabalhadores e aposentados que, até agora, só viram seu poder aquisitivo ser derretido.

“A crise social já é uma realidade na sociedade argentina”, afirma Reis. “Ele vai ter que ser muito cuidadoso e ter muito tato para poder dialogar com diferentes setores da sociedade e realmente navegar por uma reforma estrutural, tributária, de redução de Estado que ele propõe de uma maneira que dialogue com esses diferentes setores da sociedade”.

“É um desafio muito grande para uma figura altamente controversa, tanto com as suas declarações, com um populismo muito claro, com algo que se assemelha, de certa maneira, com outros governos de ultradireita, como o bolsonarismo no Brasil e o trumpismo foi nos Estados Unidos, entre outros”, completa.

Milei se apoia em uma aprovação que atualmente gira em torno de 50%, os mesmos valores que ele obteve no segundo turno. Mas as pesquisas já mostram há semanas que este apoio vem caindo, principalmente conforme os salários são corroídos e se amplia a briga política com governadores.

Uma pesquisa da consultora ShopApp divulgada hoje pelo Clarín mostrou que a maioria dos argentinos ainda está otimista com o novo governo, principalmente os homens. Mas mais de 40% sente incerteza com o futuro e tem medo pelas suas economias pessoais.

Dirigentes sindicais e trabalhadores da Argentina declararam greve nesta quarta-feira, 3, e tentaram entrar em prédios ministeriais do governo de Javier Milei em protesto contra a demissão em massa de servidores públicos no fim de semana. As mobilizações começaram na frente do Ministério do Trabalho, em Buenos Aires, e se espalharam por outros edifícios públicos argentinos. Organizações prometem novas mobilizações para os próximos dias e uma nova greve geral para o fim deste mês.

O governo Milei determinou operação especial da Polícia Federal por meio de sua ministra de segurança pública, Patricia Bullrich, para impedir os manifestantes de invadirem os prédios e confirmou as demissões, conforme anunciadas na semana passada. Segundo o governo, 15 mil contratos de trabalho temporários se encerraram em março e não foram renovados. Milei pretende que 70 mil servidores públicos sejam despedidos, número não garantido pelo porta-voz do governo.

Servidores públicos da Argentina protestam contra demissão em massa do governo Milei dentro do Instituto Nacional contra a Descriminação, Xenofonia e Racismo, em Buenos Aires, nesta quarta-feira, 3. Governo confirmou a demissão de 15 mil servidores nesta semana Foto: Natacha Pisarenko/AP

Os protestos foram liderados pela a Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), que se posicionou contra a medida na semana passada. “Temos que mostrar que é o governo que age à margem da Constituição e da lei”, declarou o secretário-geral da ATE nacional, Rodolfo Aguiar, no X, antes do protesto.

As tensões entre manifestantes e as forças federais foram maiores na sede do Instituto Nacional contra a Discriminação, Xenofobia e Racismo (Inadi), fechado por Milei. Os grevistas, entre eles servidores demitidos no fim de semana, entraram em combate com os membros da Polícia Federal, que haviam montado guarda atrás de catracas, e conseguiram entrar no prédio após trocas de empurrões e insultos.

As maiores manifestações aconteceram no Ministério do Trabalho, onde cerca de 600 funcionários foram demitidos. Centenas de grevistas e dirigentes sindicais se reuniram na frente do edifício ministerial para protestar contra o governo. “Uma mensagem de unidade tem que vir daqui. Aqui estamos construindo uma greve geral. Temos que construir a partir de baixo porque ninguém se salva sozinho”, disse o dirigente da Central de Trabalhadores da Argentina, Hugo Yasky.

O porta-voz do governo, Manuel Adorni, disse que os manifestantes que “agiram fora da lei” serão punidos com medidas legais. “Quem estiver em algum episódio ou ato fora da lei terá suas consequências”, disse em uma coletiva de imprensa nesta quarta, na qual confirmou a demissão dos servidores.

Policiais federais montam guarda na entrada do Instituto Nacional contra Descriminação, Xenofobia e Racismo em Buenos Aires, nesta quarta-feira, 3. Manifestantes entraram em combate e conseguiram entrar no prédio para protestar contra demissões Foto: Natacha Pisarenko/AP

Adorni reforçou que as demissões fazem parte do plano de enxugar os gastos do Estado argentino, como parte das medidas de ajuste fiscal do novo governo libertário. “Temos falado repetidamente disto, não há muito mais a dizer, faz parte do trabalho que fazemos para encolher o Estado”, declarou.

Javier Milei chegou a declarar na semana passada que as demissões atingiriam 70 mil servidores públicos, mas, de acordo com seu porta-voz, este número não está garantido. Uma auditoria está em andamento para avaliar novas demissões no futuro.

Medida impopular

A medida, porém, pode ser custosa para Milei, já que o funcionalismo público é um grande empregador na Argentina e pode jogar milhares de argentinos no desemprego durante a uma crise econômica grave.

“Essa demissão em massa vem como plataforma de governo, muito associada a ultraliberalismo que Milei promove: a redução do Estado e corte de despesas”, explica Rodrigo Reis, internacionalista e fundador do Instituto Global Attitude. “É uma medida sem sombra de dúvidas bastante impopular na Argentina, porque existe um cabide de emprego sustentado pelo governo, que é muito custoso para a máquina governamental argentina.”

Segundo dados do Centro de Implementação de Políticas Públicas para a Equidade e o Crescimento (Cippec), organização não-governamental com sede em Buenos Aires, quase 4 milhões de pessoas trabalham no setor público, o que representa 18% dos argentinos ocupados.

Empregados públicos entram nos prédios depois de serem inicialmente impedidos por forças de segurança Foto: Gustavo Garello/AP

Já é conhecido que governos de direita e oposição ao peronismo tendem a enfrentar maiores protestos sociais e greves por parte dos sindicatos, cujas ligações são próximas dos peronistas. Foi o caso de Mauricio Macri, atual fiel da balança de Milei com a base de direita no Congresso. No entanto, o libertário encontra uma situação mais dramática, ao lidar com uma inflação de 276% na taxa internanual, aumento da pobreza e crises políticas em sua base de apoio.

“Essa vai ser uma medida bastante impopular já para um presidente que encara atualmente desafios de governabilidade, principalmente na Câmara dos Deputados”, completa o internacionalista. Com o seu partido tendo apenas 38 cadeiras no Congresso, 7 no Senado e nenhum governador eleito, Milei precisa da direita para governar, a mesma com quem abriu uma guerra recentemente e agora tenta conciliar no chamado Pacto de Maio.

Humor social

No fim do dia, a ATE definiu em plenária a próxima sexta-feira, 5, como um dia de greve nacional dos trabalhadores do Estado, dia em que deve ocorrer uma marcha rumo ao prédio do Ministério da Economia.

Já nesta quinta, 4, os professores prometem fazer uma greve nacional em defesa da educação pública. Será a segunda greve de professores do governo Milei e a primeira desde o início do ano letivo. No mesmo dia, professores da Universidade de Buenos Aires (UBA) prometem um “bandeiraço” em defesa da universidade pública e da ciência, poucos dias depois da demissão de funcionários do Conselho Nacional de Investigações Científicas (Conicet).

A CGT prometeu “medidas de força” contra as políticas de Milei, sem entrar em detalhes do que seriam essas medidas. A expectativa é que o grêmio promova novas manifestações até o fim do mês. “Uma das mobilizações será no dia 1º de maio, mas antes haverá atividades que serão confirmadas no dia 11/04 na reunião do conselho de administração”, afirmou o sindicalista Héctor Daer ao jornal Clarín.

Desde que assumiu a presidência, em dezembro, analistas políticos e economistas alertavam que Milei poderia lidar com um humor social cada vez mais fervente conforme for avançando com suas medidas de ajuste, especialmente se não investir em políticas de contrapartida para redução da pobreza gerada.

Já em janeiro, na esteira da Lei Ônibus - atualmente derrubada - o presidente teve a sua primeira greve geral com manifestantes entrando em confronto com a polícia nas ruas, em um primeiro reflexo da nova política de segurança.

O desafio agora vai ser evitar nos próximos meses uma ebulição social caso não tome medidas que impactem mais o que Milei convencionou chamar de “casta política” e menos os trabalhadores e aposentados que, até agora, só viram seu poder aquisitivo ser derretido.

“A crise social já é uma realidade na sociedade argentina”, afirma Reis. “Ele vai ter que ser muito cuidadoso e ter muito tato para poder dialogar com diferentes setores da sociedade e realmente navegar por uma reforma estrutural, tributária, de redução de Estado que ele propõe de uma maneira que dialogue com esses diferentes setores da sociedade”.

“É um desafio muito grande para uma figura altamente controversa, tanto com as suas declarações, com um populismo muito claro, com algo que se assemelha, de certa maneira, com outros governos de ultradireita, como o bolsonarismo no Brasil e o trumpismo foi nos Estados Unidos, entre outros”, completa.

Milei se apoia em uma aprovação que atualmente gira em torno de 50%, os mesmos valores que ele obteve no segundo turno. Mas as pesquisas já mostram há semanas que este apoio vem caindo, principalmente conforme os salários são corroídos e se amplia a briga política com governadores.

Uma pesquisa da consultora ShopApp divulgada hoje pelo Clarín mostrou que a maioria dos argentinos ainda está otimista com o novo governo, principalmente os homens. Mas mais de 40% sente incerteza com o futuro e tem medo pelas suas economias pessoais.

Dirigentes sindicais e trabalhadores da Argentina declararam greve nesta quarta-feira, 3, e tentaram entrar em prédios ministeriais do governo de Javier Milei em protesto contra a demissão em massa de servidores públicos no fim de semana. As mobilizações começaram na frente do Ministério do Trabalho, em Buenos Aires, e se espalharam por outros edifícios públicos argentinos. Organizações prometem novas mobilizações para os próximos dias e uma nova greve geral para o fim deste mês.

O governo Milei determinou operação especial da Polícia Federal por meio de sua ministra de segurança pública, Patricia Bullrich, para impedir os manifestantes de invadirem os prédios e confirmou as demissões, conforme anunciadas na semana passada. Segundo o governo, 15 mil contratos de trabalho temporários se encerraram em março e não foram renovados. Milei pretende que 70 mil servidores públicos sejam despedidos, número não garantido pelo porta-voz do governo.

Servidores públicos da Argentina protestam contra demissão em massa do governo Milei dentro do Instituto Nacional contra a Descriminação, Xenofonia e Racismo, em Buenos Aires, nesta quarta-feira, 3. Governo confirmou a demissão de 15 mil servidores nesta semana Foto: Natacha Pisarenko/AP

Os protestos foram liderados pela a Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), que se posicionou contra a medida na semana passada. “Temos que mostrar que é o governo que age à margem da Constituição e da lei”, declarou o secretário-geral da ATE nacional, Rodolfo Aguiar, no X, antes do protesto.

As tensões entre manifestantes e as forças federais foram maiores na sede do Instituto Nacional contra a Discriminação, Xenofobia e Racismo (Inadi), fechado por Milei. Os grevistas, entre eles servidores demitidos no fim de semana, entraram em combate com os membros da Polícia Federal, que haviam montado guarda atrás de catracas, e conseguiram entrar no prédio após trocas de empurrões e insultos.

As maiores manifestações aconteceram no Ministério do Trabalho, onde cerca de 600 funcionários foram demitidos. Centenas de grevistas e dirigentes sindicais se reuniram na frente do edifício ministerial para protestar contra o governo. “Uma mensagem de unidade tem que vir daqui. Aqui estamos construindo uma greve geral. Temos que construir a partir de baixo porque ninguém se salva sozinho”, disse o dirigente da Central de Trabalhadores da Argentina, Hugo Yasky.

O porta-voz do governo, Manuel Adorni, disse que os manifestantes que “agiram fora da lei” serão punidos com medidas legais. “Quem estiver em algum episódio ou ato fora da lei terá suas consequências”, disse em uma coletiva de imprensa nesta quarta, na qual confirmou a demissão dos servidores.

Policiais federais montam guarda na entrada do Instituto Nacional contra Descriminação, Xenofobia e Racismo em Buenos Aires, nesta quarta-feira, 3. Manifestantes entraram em combate e conseguiram entrar no prédio para protestar contra demissões Foto: Natacha Pisarenko/AP

Adorni reforçou que as demissões fazem parte do plano de enxugar os gastos do Estado argentino, como parte das medidas de ajuste fiscal do novo governo libertário. “Temos falado repetidamente disto, não há muito mais a dizer, faz parte do trabalho que fazemos para encolher o Estado”, declarou.

Javier Milei chegou a declarar na semana passada que as demissões atingiriam 70 mil servidores públicos, mas, de acordo com seu porta-voz, este número não está garantido. Uma auditoria está em andamento para avaliar novas demissões no futuro.

Medida impopular

A medida, porém, pode ser custosa para Milei, já que o funcionalismo público é um grande empregador na Argentina e pode jogar milhares de argentinos no desemprego durante a uma crise econômica grave.

“Essa demissão em massa vem como plataforma de governo, muito associada a ultraliberalismo que Milei promove: a redução do Estado e corte de despesas”, explica Rodrigo Reis, internacionalista e fundador do Instituto Global Attitude. “É uma medida sem sombra de dúvidas bastante impopular na Argentina, porque existe um cabide de emprego sustentado pelo governo, que é muito custoso para a máquina governamental argentina.”

Segundo dados do Centro de Implementação de Políticas Públicas para a Equidade e o Crescimento (Cippec), organização não-governamental com sede em Buenos Aires, quase 4 milhões de pessoas trabalham no setor público, o que representa 18% dos argentinos ocupados.

Empregados públicos entram nos prédios depois de serem inicialmente impedidos por forças de segurança Foto: Gustavo Garello/AP

Já é conhecido que governos de direita e oposição ao peronismo tendem a enfrentar maiores protestos sociais e greves por parte dos sindicatos, cujas ligações são próximas dos peronistas. Foi o caso de Mauricio Macri, atual fiel da balança de Milei com a base de direita no Congresso. No entanto, o libertário encontra uma situação mais dramática, ao lidar com uma inflação de 276% na taxa internanual, aumento da pobreza e crises políticas em sua base de apoio.

“Essa vai ser uma medida bastante impopular já para um presidente que encara atualmente desafios de governabilidade, principalmente na Câmara dos Deputados”, completa o internacionalista. Com o seu partido tendo apenas 38 cadeiras no Congresso, 7 no Senado e nenhum governador eleito, Milei precisa da direita para governar, a mesma com quem abriu uma guerra recentemente e agora tenta conciliar no chamado Pacto de Maio.

Humor social

No fim do dia, a ATE definiu em plenária a próxima sexta-feira, 5, como um dia de greve nacional dos trabalhadores do Estado, dia em que deve ocorrer uma marcha rumo ao prédio do Ministério da Economia.

Já nesta quinta, 4, os professores prometem fazer uma greve nacional em defesa da educação pública. Será a segunda greve de professores do governo Milei e a primeira desde o início do ano letivo. No mesmo dia, professores da Universidade de Buenos Aires (UBA) prometem um “bandeiraço” em defesa da universidade pública e da ciência, poucos dias depois da demissão de funcionários do Conselho Nacional de Investigações Científicas (Conicet).

A CGT prometeu “medidas de força” contra as políticas de Milei, sem entrar em detalhes do que seriam essas medidas. A expectativa é que o grêmio promova novas manifestações até o fim do mês. “Uma das mobilizações será no dia 1º de maio, mas antes haverá atividades que serão confirmadas no dia 11/04 na reunião do conselho de administração”, afirmou o sindicalista Héctor Daer ao jornal Clarín.

Desde que assumiu a presidência, em dezembro, analistas políticos e economistas alertavam que Milei poderia lidar com um humor social cada vez mais fervente conforme for avançando com suas medidas de ajuste, especialmente se não investir em políticas de contrapartida para redução da pobreza gerada.

Já em janeiro, na esteira da Lei Ônibus - atualmente derrubada - o presidente teve a sua primeira greve geral com manifestantes entrando em confronto com a polícia nas ruas, em um primeiro reflexo da nova política de segurança.

O desafio agora vai ser evitar nos próximos meses uma ebulição social caso não tome medidas que impactem mais o que Milei convencionou chamar de “casta política” e menos os trabalhadores e aposentados que, até agora, só viram seu poder aquisitivo ser derretido.

“A crise social já é uma realidade na sociedade argentina”, afirma Reis. “Ele vai ter que ser muito cuidadoso e ter muito tato para poder dialogar com diferentes setores da sociedade e realmente navegar por uma reforma estrutural, tributária, de redução de Estado que ele propõe de uma maneira que dialogue com esses diferentes setores da sociedade”.

“É um desafio muito grande para uma figura altamente controversa, tanto com as suas declarações, com um populismo muito claro, com algo que se assemelha, de certa maneira, com outros governos de ultradireita, como o bolsonarismo no Brasil e o trumpismo foi nos Estados Unidos, entre outros”, completa.

Milei se apoia em uma aprovação que atualmente gira em torno de 50%, os mesmos valores que ele obteve no segundo turno. Mas as pesquisas já mostram há semanas que este apoio vem caindo, principalmente conforme os salários são corroídos e se amplia a briga política com governadores.

Uma pesquisa da consultora ShopApp divulgada hoje pelo Clarín mostrou que a maioria dos argentinos ainda está otimista com o novo governo, principalmente os homens. Mas mais de 40% sente incerteza com o futuro e tem medo pelas suas economias pessoais.

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