Novo regime na Síria traz incertezas sobre futuro sem Assad e não está livre do autoritarismo


Especialistas acreditam que governo deve se aproximar de moderação para ter reconhecimento internacional, mas não descartam radicalização

Por Bruna Arimathea
Atualização:

Damasco foi tomada por rebeldes neste domingo, 8, colocando fim a mais de 50 anos de um regime que arrasou a Síria. Apesar da incerteza quanto ao novo regime instalado pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), especialistas acreditam que, para buscar um reconhecimento da comunidade internacional, os líderes devem adotar uma postura mais moderada - ou menos autoritária - em relação à ditadura de Bashar Assad, mas que ainda deve ser vista com cautela.

Enquanto os rebeldes se aproximavam da capital, o presidente Assad saiu do país antes de as forças militares abandonarem os postos com a invasão, deixando a sede do governo para trás.

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Mas a transição de poder não significa que a Síria esteja livre dos problemas que assolam o país. Para o professor de relações internacionais Roberto Uebel, da ESPM, é preciso ver com cuidado qualquer ação que os novos líderes possam tomar daqui pra frente.

Foto de Bashar Assad, antigo ditador do país, é pisoteada em demonstração de descontentamento com o regime Foto: Omar Sanadiki/AP

“Quem hoje toma o poder também é uma figura que, não necessariamente, é muito afeita à democracia. É preciso observar com cautela se de fato o Hayat Tahrir al-Sham vai permitir a realização de eleições na Síria agora, nas próximas semanas ou nos próximos meses. Mas, de fato, é o fim da ditadura de Assad”, explicou Uebel ao Estadão.

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Apesar disso, a abertura a negociações com potências da região, como Arábia Saudita e Turquia, pode acontecer, principalmente de olho no enfraquecimento do Irã e uma possível diminuição da instabilidade no país, que faz fronteira com algumas das nações mais tumultuadas do Oriente Médio.

Mohamad Al-Golani, líder do Hayat Tahrir al-Sham, está fazendo um discurso absolutamente moderado. Ele está abandonando o turbante jihadista, está usando o uniforme militar, ele está se apresentando tanto em Alepo, como em Homs, como em Damasco, com líderes cristãos ao lado. Em outras palavras, falando que vai ter tolerância religiosa. Isso no contexto sírio é fundamental”, afirmou Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM.

Isso porque os principais desafios no país têm relação com a coesão política e territorial. Desde o início da Primavera Árabe, série de movimentos com protestos a favor de regimes menos autoritários no Oriente Médio e norte da África, diversos grupos tiveram de lidar com a repressão violenta do governo, que dividiu ainda mais a população e o poder.

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Na Síria, o conflito com as forças militares deu início a uma guerra civil que já dura 13 anos e foi inflamada pela posição cada vez mais repressora de Assad.

Agora, reconstruir os pedaços de um território arrasado pelo conflito e com tantos anos de opressão pode não ser uma tarefa fácil na troca de governo. Além disso, as diversas minorias que vivem no país também podem aproveitar o momento para se levantar em prol de seus próprios estados independentes.

“Esse é um grande desafio de quem for assumir o governo da Síria. Conseguir ter um governo, ter legitimidade, legalidade e conseguir realizar eleições. O segundo momento é a questão do território. Ainda há células do Estado Islâmico no interior da Síria, há outros grupos rebeldes de oposição e outros grupos menores, além da resistência dos apoiadores do Assad, que vão permanecer na Síria e vão ser a nova oposição. Então, a coesão territorial será tão importante quanto a coesão política”, apontou Uebel.

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Aliados regionais

A dinâmica dos países aliados do regime de Assad na Síria também foi determinante para o avanço dos rebeldes sobre a capital - o que trouxe o senso de oportunidade para o avanço deles, afirmou o professor Trevisan.

Enquanto a Rússia vive sua própria guerra doméstica com a Ucrânia, conflito que já dura quase três anos, o Irã se viu obrigado a concentrar suas forças militares na luta contra Israel, depois que se envolveu em ataques contra o país em resposta à Guerra israelense contra o Hamas.

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O governo de Binyamin Netanyahu também é grande interessado no fim da influência iraniana da Síria, que já serviu de ponto logístico para o fornecimento de armamento para o Hezbollah, grupo radical do Líbano.

“A inteligência israelense matou o maior líder político do Hamas em um apartamento do governo iraniano em Teerã. Isso é o sinal mais claro. Os mísseis que os russos deram para o Irã para se proteger da aviação israelense foram todos destruídos. Então, o Irã está completamente desprotegido”, afirmou Trevisan.

“A Rússia está esperando uma negociação sobre a Ucrânia e não quer jogar fichas em outro lugar neste momento. Então, quando a gente olha para esse contexto, de fato, é uma oportunidade para redesenhar a política do Oriente Médio na linha dos Acordos de Abraão, cujo principal item é a aproximação dos árabes moderados com Israel”.

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A região ainda conta com outros atores que podem ajudar a entender o que será o governo daqui para frente. Tanto Turquia quanto Arábia Saudita se beneficiariam de um governo menos instável na região e, principalmente, sem mais um território com forte influência do Irã e da Rússia.

Para a Turquia ainda a questão passa por uma possível coesão territorial dentro da Síria, que, dentre os grupos étnicos, abriga os curdos, que reivindicam sua própria nação na fronteira entre os dois países.

Grupo HTS tomou o poder de Damasco na madrugada deste domingo, 8 Foto: Omar Sanadiki/AP

“Eu imagino que, se Israel, Turquia e Arábia Saudita conseguirem construir alguma espécie de transição e estabilidade na Síria, a gente vai testemunhar um reordenamento do próprio Oriente Médio, um isolamento maior do Irã”, apontou Uebel. “O maior pesadelo hoje para o Irã seria uma Síria governada por uma liderança que seja próxima desses países.”

Apesar de acabar com mais de 50 anos de ditadura, o grupo HTS ainda pode se desviar de um princípio mais “aberto” de governo e decretar um regime autoritário - o grupo é considerado como terrorista pelos EUA e foi formado a partir de uma dissidência da Al-Qaeda.

“O risco da radicalização sempre existe quando há mudança de regimes em estados autoritários e, neste momento, há um vazio de poder. A gente não sabe quem está governando a Síria ou quem controlará as instituições. Em toda mudança de regime, a gente tem que olhar também para o papel das instituições.”

O primeiro-ministro sírio, Mohamed Ghazi al-Jalali, deve continuar no cargo. Al-Jalali afirmou que está disposto a colaborar com as novas lideranças para encaminhar um governo de interesse dos cidadãos sírios, mas não deu informações sobre a transição ou quais seriam os próximos passos.

Inimigo do Estado Islamico, o HTS não está livre da radicalização pela qual os rivais passaram, e a tentação do poder a todo custo também é um fator que pode aumentar a incerteza na região.

“Tudo é provável agora, porque você não tem mais um regime autoritário, uma ditadura de 50 anos. Tudo está na mesa. Então, certamente a gente vai ver um interesse muito grande das potências regionais. Vai ser um desafio, inclusive, para os países da região conseguirem coordenar essa transição na Síria”.

Damasco foi tomada por rebeldes neste domingo, 8, colocando fim a mais de 50 anos de um regime que arrasou a Síria. Apesar da incerteza quanto ao novo regime instalado pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), especialistas acreditam que, para buscar um reconhecimento da comunidade internacional, os líderes devem adotar uma postura mais moderada - ou menos autoritária - em relação à ditadura de Bashar Assad, mas que ainda deve ser vista com cautela.

Enquanto os rebeldes se aproximavam da capital, o presidente Assad saiu do país antes de as forças militares abandonarem os postos com a invasão, deixando a sede do governo para trás.

Mas a transição de poder não significa que a Síria esteja livre dos problemas que assolam o país. Para o professor de relações internacionais Roberto Uebel, da ESPM, é preciso ver com cuidado qualquer ação que os novos líderes possam tomar daqui pra frente.

Foto de Bashar Assad, antigo ditador do país, é pisoteada em demonstração de descontentamento com o regime Foto: Omar Sanadiki/AP

“Quem hoje toma o poder também é uma figura que, não necessariamente, é muito afeita à democracia. É preciso observar com cautela se de fato o Hayat Tahrir al-Sham vai permitir a realização de eleições na Síria agora, nas próximas semanas ou nos próximos meses. Mas, de fato, é o fim da ditadura de Assad”, explicou Uebel ao Estadão.

Apesar disso, a abertura a negociações com potências da região, como Arábia Saudita e Turquia, pode acontecer, principalmente de olho no enfraquecimento do Irã e uma possível diminuição da instabilidade no país, que faz fronteira com algumas das nações mais tumultuadas do Oriente Médio.

Mohamad Al-Golani, líder do Hayat Tahrir al-Sham, está fazendo um discurso absolutamente moderado. Ele está abandonando o turbante jihadista, está usando o uniforme militar, ele está se apresentando tanto em Alepo, como em Homs, como em Damasco, com líderes cristãos ao lado. Em outras palavras, falando que vai ter tolerância religiosa. Isso no contexto sírio é fundamental”, afirmou Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM.

Isso porque os principais desafios no país têm relação com a coesão política e territorial. Desde o início da Primavera Árabe, série de movimentos com protestos a favor de regimes menos autoritários no Oriente Médio e norte da África, diversos grupos tiveram de lidar com a repressão violenta do governo, que dividiu ainda mais a população e o poder.

Na Síria, o conflito com as forças militares deu início a uma guerra civil que já dura 13 anos e foi inflamada pela posição cada vez mais repressora de Assad.

Agora, reconstruir os pedaços de um território arrasado pelo conflito e com tantos anos de opressão pode não ser uma tarefa fácil na troca de governo. Além disso, as diversas minorias que vivem no país também podem aproveitar o momento para se levantar em prol de seus próprios estados independentes.

“Esse é um grande desafio de quem for assumir o governo da Síria. Conseguir ter um governo, ter legitimidade, legalidade e conseguir realizar eleições. O segundo momento é a questão do território. Ainda há células do Estado Islâmico no interior da Síria, há outros grupos rebeldes de oposição e outros grupos menores, além da resistência dos apoiadores do Assad, que vão permanecer na Síria e vão ser a nova oposição. Então, a coesão territorial será tão importante quanto a coesão política”, apontou Uebel.

Aliados regionais

A dinâmica dos países aliados do regime de Assad na Síria também foi determinante para o avanço dos rebeldes sobre a capital - o que trouxe o senso de oportunidade para o avanço deles, afirmou o professor Trevisan.

Enquanto a Rússia vive sua própria guerra doméstica com a Ucrânia, conflito que já dura quase três anos, o Irã se viu obrigado a concentrar suas forças militares na luta contra Israel, depois que se envolveu em ataques contra o país em resposta à Guerra israelense contra o Hamas.

O governo de Binyamin Netanyahu também é grande interessado no fim da influência iraniana da Síria, que já serviu de ponto logístico para o fornecimento de armamento para o Hezbollah, grupo radical do Líbano.

“A inteligência israelense matou o maior líder político do Hamas em um apartamento do governo iraniano em Teerã. Isso é o sinal mais claro. Os mísseis que os russos deram para o Irã para se proteger da aviação israelense foram todos destruídos. Então, o Irã está completamente desprotegido”, afirmou Trevisan.

“A Rússia está esperando uma negociação sobre a Ucrânia e não quer jogar fichas em outro lugar neste momento. Então, quando a gente olha para esse contexto, de fato, é uma oportunidade para redesenhar a política do Oriente Médio na linha dos Acordos de Abraão, cujo principal item é a aproximação dos árabes moderados com Israel”.

A região ainda conta com outros atores que podem ajudar a entender o que será o governo daqui para frente. Tanto Turquia quanto Arábia Saudita se beneficiariam de um governo menos instável na região e, principalmente, sem mais um território com forte influência do Irã e da Rússia.

Para a Turquia ainda a questão passa por uma possível coesão territorial dentro da Síria, que, dentre os grupos étnicos, abriga os curdos, que reivindicam sua própria nação na fronteira entre os dois países.

Grupo HTS tomou o poder de Damasco na madrugada deste domingo, 8 Foto: Omar Sanadiki/AP

“Eu imagino que, se Israel, Turquia e Arábia Saudita conseguirem construir alguma espécie de transição e estabilidade na Síria, a gente vai testemunhar um reordenamento do próprio Oriente Médio, um isolamento maior do Irã”, apontou Uebel. “O maior pesadelo hoje para o Irã seria uma Síria governada por uma liderança que seja próxima desses países.”

Apesar de acabar com mais de 50 anos de ditadura, o grupo HTS ainda pode se desviar de um princípio mais “aberto” de governo e decretar um regime autoritário - o grupo é considerado como terrorista pelos EUA e foi formado a partir de uma dissidência da Al-Qaeda.

“O risco da radicalização sempre existe quando há mudança de regimes em estados autoritários e, neste momento, há um vazio de poder. A gente não sabe quem está governando a Síria ou quem controlará as instituições. Em toda mudança de regime, a gente tem que olhar também para o papel das instituições.”

O primeiro-ministro sírio, Mohamed Ghazi al-Jalali, deve continuar no cargo. Al-Jalali afirmou que está disposto a colaborar com as novas lideranças para encaminhar um governo de interesse dos cidadãos sírios, mas não deu informações sobre a transição ou quais seriam os próximos passos.

Inimigo do Estado Islamico, o HTS não está livre da radicalização pela qual os rivais passaram, e a tentação do poder a todo custo também é um fator que pode aumentar a incerteza na região.

“Tudo é provável agora, porque você não tem mais um regime autoritário, uma ditadura de 50 anos. Tudo está na mesa. Então, certamente a gente vai ver um interesse muito grande das potências regionais. Vai ser um desafio, inclusive, para os países da região conseguirem coordenar essa transição na Síria”.

Damasco foi tomada por rebeldes neste domingo, 8, colocando fim a mais de 50 anos de um regime que arrasou a Síria. Apesar da incerteza quanto ao novo regime instalado pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), especialistas acreditam que, para buscar um reconhecimento da comunidade internacional, os líderes devem adotar uma postura mais moderada - ou menos autoritária - em relação à ditadura de Bashar Assad, mas que ainda deve ser vista com cautela.

Enquanto os rebeldes se aproximavam da capital, o presidente Assad saiu do país antes de as forças militares abandonarem os postos com a invasão, deixando a sede do governo para trás.

Mas a transição de poder não significa que a Síria esteja livre dos problemas que assolam o país. Para o professor de relações internacionais Roberto Uebel, da ESPM, é preciso ver com cuidado qualquer ação que os novos líderes possam tomar daqui pra frente.

Foto de Bashar Assad, antigo ditador do país, é pisoteada em demonstração de descontentamento com o regime Foto: Omar Sanadiki/AP

“Quem hoje toma o poder também é uma figura que, não necessariamente, é muito afeita à democracia. É preciso observar com cautela se de fato o Hayat Tahrir al-Sham vai permitir a realização de eleições na Síria agora, nas próximas semanas ou nos próximos meses. Mas, de fato, é o fim da ditadura de Assad”, explicou Uebel ao Estadão.

Apesar disso, a abertura a negociações com potências da região, como Arábia Saudita e Turquia, pode acontecer, principalmente de olho no enfraquecimento do Irã e uma possível diminuição da instabilidade no país, que faz fronteira com algumas das nações mais tumultuadas do Oriente Médio.

Mohamad Al-Golani, líder do Hayat Tahrir al-Sham, está fazendo um discurso absolutamente moderado. Ele está abandonando o turbante jihadista, está usando o uniforme militar, ele está se apresentando tanto em Alepo, como em Homs, como em Damasco, com líderes cristãos ao lado. Em outras palavras, falando que vai ter tolerância religiosa. Isso no contexto sírio é fundamental”, afirmou Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM.

Isso porque os principais desafios no país têm relação com a coesão política e territorial. Desde o início da Primavera Árabe, série de movimentos com protestos a favor de regimes menos autoritários no Oriente Médio e norte da África, diversos grupos tiveram de lidar com a repressão violenta do governo, que dividiu ainda mais a população e o poder.

Na Síria, o conflito com as forças militares deu início a uma guerra civil que já dura 13 anos e foi inflamada pela posição cada vez mais repressora de Assad.

Agora, reconstruir os pedaços de um território arrasado pelo conflito e com tantos anos de opressão pode não ser uma tarefa fácil na troca de governo. Além disso, as diversas minorias que vivem no país também podem aproveitar o momento para se levantar em prol de seus próprios estados independentes.

“Esse é um grande desafio de quem for assumir o governo da Síria. Conseguir ter um governo, ter legitimidade, legalidade e conseguir realizar eleições. O segundo momento é a questão do território. Ainda há células do Estado Islâmico no interior da Síria, há outros grupos rebeldes de oposição e outros grupos menores, além da resistência dos apoiadores do Assad, que vão permanecer na Síria e vão ser a nova oposição. Então, a coesão territorial será tão importante quanto a coesão política”, apontou Uebel.

Aliados regionais

A dinâmica dos países aliados do regime de Assad na Síria também foi determinante para o avanço dos rebeldes sobre a capital - o que trouxe o senso de oportunidade para o avanço deles, afirmou o professor Trevisan.

Enquanto a Rússia vive sua própria guerra doméstica com a Ucrânia, conflito que já dura quase três anos, o Irã se viu obrigado a concentrar suas forças militares na luta contra Israel, depois que se envolveu em ataques contra o país em resposta à Guerra israelense contra o Hamas.

O governo de Binyamin Netanyahu também é grande interessado no fim da influência iraniana da Síria, que já serviu de ponto logístico para o fornecimento de armamento para o Hezbollah, grupo radical do Líbano.

“A inteligência israelense matou o maior líder político do Hamas em um apartamento do governo iraniano em Teerã. Isso é o sinal mais claro. Os mísseis que os russos deram para o Irã para se proteger da aviação israelense foram todos destruídos. Então, o Irã está completamente desprotegido”, afirmou Trevisan.

“A Rússia está esperando uma negociação sobre a Ucrânia e não quer jogar fichas em outro lugar neste momento. Então, quando a gente olha para esse contexto, de fato, é uma oportunidade para redesenhar a política do Oriente Médio na linha dos Acordos de Abraão, cujo principal item é a aproximação dos árabes moderados com Israel”.

A região ainda conta com outros atores que podem ajudar a entender o que será o governo daqui para frente. Tanto Turquia quanto Arábia Saudita se beneficiariam de um governo menos instável na região e, principalmente, sem mais um território com forte influência do Irã e da Rússia.

Para a Turquia ainda a questão passa por uma possível coesão territorial dentro da Síria, que, dentre os grupos étnicos, abriga os curdos, que reivindicam sua própria nação na fronteira entre os dois países.

Grupo HTS tomou o poder de Damasco na madrugada deste domingo, 8 Foto: Omar Sanadiki/AP

“Eu imagino que, se Israel, Turquia e Arábia Saudita conseguirem construir alguma espécie de transição e estabilidade na Síria, a gente vai testemunhar um reordenamento do próprio Oriente Médio, um isolamento maior do Irã”, apontou Uebel. “O maior pesadelo hoje para o Irã seria uma Síria governada por uma liderança que seja próxima desses países.”

Apesar de acabar com mais de 50 anos de ditadura, o grupo HTS ainda pode se desviar de um princípio mais “aberto” de governo e decretar um regime autoritário - o grupo é considerado como terrorista pelos EUA e foi formado a partir de uma dissidência da Al-Qaeda.

“O risco da radicalização sempre existe quando há mudança de regimes em estados autoritários e, neste momento, há um vazio de poder. A gente não sabe quem está governando a Síria ou quem controlará as instituições. Em toda mudança de regime, a gente tem que olhar também para o papel das instituições.”

O primeiro-ministro sírio, Mohamed Ghazi al-Jalali, deve continuar no cargo. Al-Jalali afirmou que está disposto a colaborar com as novas lideranças para encaminhar um governo de interesse dos cidadãos sírios, mas não deu informações sobre a transição ou quais seriam os próximos passos.

Inimigo do Estado Islamico, o HTS não está livre da radicalização pela qual os rivais passaram, e a tentação do poder a todo custo também é um fator que pode aumentar a incerteza na região.

“Tudo é provável agora, porque você não tem mais um regime autoritário, uma ditadura de 50 anos. Tudo está na mesa. Então, certamente a gente vai ver um interesse muito grande das potências regionais. Vai ser um desafio, inclusive, para os países da região conseguirem coordenar essa transição na Síria”.

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