WASHINGTON - Os sistemas de mísseis Patriot há muito são um item importante para os EUA e aliados em áreas contestadas do mundo como um escudo cobiçado contra mísseis que se aproximam. Na Europa, Oriente Médio e Pacífico, eles protegem contra possíveis ataques do Irã, Somália e Coreia do Norte.
Portanto, foi um ponto de virada crítico quando surgiram as notícias esta semana de que os EUA concordaram em enviar uma bateria de mísseis Patriot para a Ucrânia - algo que o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, busca há meses para aumentar as defesas aéreas de seu país.
Na quarta, 22, na primeira viagem internacional do presidente da Ucrânia desde o começo da invasão russa ao país, em fevereiro, Volodmir Zelenski conversou com o presidente dos EUA, Joe Biden, discursou no Congresso dos EUA e recebeu a promessa de um envio de US$ 2 bilhões em ajuda, além do importante sistema anti-aéreo de mísseis Patriot.
Mas especialistas em armamentos bélicos e sistemas de defesa alertam que a eficácia do sistema é limitada, sua operação é complexa e que eles não vão necessariamente mudar o jogo na guerra.
O que é o sistema Patriot?
O Patriot é um sistema de mísseis guiados terra-ar que foi implantado pela primeira vez na década de 1980 e pode atingir aeronaves, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos de curto alcance.
Cada bateria do Patriot consiste em um sistema de lançamento montado em caminhão com oito lançadores que podem conter até quatro interceptadores de mísseis cada, um radar terrestre, uma estação de controle e um gerador. O Exército americano disse que atualmente tem 16 batalhões Patriot. Um relatório do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de 2018 descobriu que esses batalhões operam 50 baterias, que possuem mais de 1.200 interceptadores de mísseis.
As baterias dos EUA são regularmente implantadas em todo o mundo. Além disso, os Patriots também são operados ou estão sendo comprados pela Holanda, Alemanha, Japão, Israel, Arábia Saudita, Kuwait, Taiwan, Grécia, Espanha, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Catar, Romênia, Suécia, Polônia e Bahrein.
O sistema Patriot “é um dos sistemas de defesa de mísseis aéreos mais amplamente operados, confiáveis e testados que existe”, e a capacidade de defesa de mísseis balísticos pode ajudar a defender a Ucrânia contra mísseis fornecidos pelo Irã, disse Tom Karako, diretor do Missile Defense Projetct do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
Alternativa custosa
Ao longo dos anos, o sistema Patriot e os mísseis utilizados por ele foram continuamente modificados. O atual míssil interceptador para o sistema Patriot custa aproximadamente US$ 4 milhões (R$ 21,3 milhões) por disparo e os lançadores custam cerca de US$ 10 milhões (R$ 53,3 milhões) cada, informou o CSIS em seu relatório de defesa antimísseis de julho. A esse preço, não é rentável ou ideal usar o Patriot para abater os drones iranianos, muito menores e muito mais baratos, que a Rússia tem comprado e usado na Ucrânia.
“Disparar um míssil de um milhão de dólares contra um drone de US$ 50.000 é uma proposição sem sentido”, disse Mark Cancian, coronel da reserva aposentado do Corpo de Fuzileiros Navais e conselheiro sênior do CSIS.
Dúvidas quanto à implantação
Uma bateria Patriot pode precisar de até 90 soldados para operá-la e mantê-la, e por meses os EUA relutaram em fornecer o sistema complexo porque enviar forças para a Ucrânia para operá-la é algo que não pode ser feito pelo governo de Joe Biden.
Mas também havia preocupações de que a implantação do sistema pudesse provocar a Rússia, ou arriscar que um míssil disparado acabasse atingindo o interior da Rússia, o que poderia intensificar ainda mais o conflito. De acordo com as autoridades, os apelos urgentes dos líderes ucranianos e a destruição devastadora da infraestrutura civil do país, incluindo a perda de eletricidade e calor à medida que o inverno se intensifica, acabaram superando as preocupações dos EUA sobre o fornecimento do Patriot.
Um obstáculo fundamental será o treinamento. As tropas dos EUA terão que treinar as forças ucranianas sobre como usar e manter o sistema. Soldados do exército designados para batalhões Patriot recebem treinamento extensivo para serem capazes de localizar um alvo com eficácia, mirar com o radar e disparar.
Os EUA treinaram tropas ucranianas em outros sistemas de armas complexos, incluindo os Sistemas de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade, conhecidos como HIMARS. Em muitos casos, eles conseguiram encurtar o treinamento, levando as tropas ucranianas para a frente de batalha em semanas. As autoridades se recusaram a fornecer detalhes sobre quanto tempo o novo treinamento levaria e onde exatamente ele seria feito.
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Capacidades e impacto
Diante das ameaças sofridas pela Ucrânia, o Patriot é considerado uma boa solução para parte do arsenal russo - mas nem tão útil assim contra outras.
Um ex-oficial militar sênior com conhecimento do sistema Patriot disse que o equipamento será eficaz contra mísseis balísticos de curto alcance e representa uma forte mensagem de apoio dos EUA, mas uma bateria não vai mudar o curso da guerra.
O funcionário, que falou sob condição de anonimato porque o acordo com a Ucrânia ainda não foi divulgado, observou que uma bateria do Patriot tem um longo alcance de tiro, mas pode cobrir apenas uma área limitada. Por exemplo, o Patriot pode proteger efetivamente uma pequena base militar, mas não podem proteger totalmente uma cidade grande como Kiev. Eles só poderiam fornecer cobertura para um segmento de uma cidade.
Os sistemas costumam ser implantados como um batalhão, que inclui quatro baterias. Este não será o caso da Ucrânia, que as autoridades disseram que só receberá uma bateria.
O Patriot tem um radar mais poderoso que é melhor em discriminar alvos do que o sistema S-300 da era soviética que os ucranianos têm usado, mas tem limitações, disseram Karako e Cancian.
Ainda assim, a capacidade do Patriot de direcionar alguns mísseis balísticos e aeronaves poderia proteger Kiev se o presidente russo, Vladimir Putin, mantiver sua ameaça persistente de implantar um dispositivo nuclear tático. Mas isso dependeria de como a arma for disparada, disse Karako.
Se fosse uma bomba de gravidade lançada por um avião de guerra, o sistema poderia atingir a aeronave; se fosse um míssil balístico de cruzeiro ou de curto a médio alcance, também poderia interceptar o míssil, disse Karako.
A Raytheon, que fabrica o Patriot, diz que esteve envolvida em 150 interceptações de mísseis balísticos desde 2015. A taxa de sucesso do Patriot, no entanto, tem sido repetidamente questionada.
Um relatório do Government Accountability Office de 1992 disse que não conseguiu encontrar evidências para apoiar os relatórios de que o sistema havia alcançado uma taxa de sucesso de 70% contra mísseis Scud na Guerra do Golfo. Em 2018, o sucesso da Arábia Saudita em usar Patriots contra mísseis disparados por rebeldes Houthi, no Iêmen, foi questionado quando surgiram vídeos de falha de sistemas.
Mas além das capacidades do Patriot, sua implantação é uma grande declaração de apoio à Ucrânia. “Há muito simbolismo aqui”, disse Cancian./ AP