Os 14 tanques alemães, os 31 americanos, e os outros 56 doados por 12 diferentes países podem fazer a Ucrânia virar o jogo e ganhar a guerra com a Rússia?
A resposta é simples: não podem.
Os 100 tanques da frota prometida são capazes, sim, de criar dificuldades nos contatos diretos e de aumentar o poder de fogo do Exército de Kiev. Mas é só. Para ter chances efetivas a cavalaria blindada teria de ter entre 300 e 500 carros de combate principais como os Leopard ou Abrams. E de contar com recursos paralelos na mesma proporção: blindados sobre rodas, artilharia auto-propulsada, canhões obuzeiros de longo alcance, mísseis leves, mísseis balísticos e foguetes de saturação na escala de dezenas, talvez centenas, de unidades.
O apelo permanente do líder ucraniano Volodimir Zelenski pelo fornecimento de mais equipamento dos aliados, corre o risco de entrar em uma zona perigosa -- passar a ser visto como um esforço para internacionalizar a guerra por meio de uma coalizão militar. Na opinião de uma cenarista ouvida pelo Estadão em Madri, “o presidente sabe que o confronto será longo, quer parceiros para lutar por ele ou com ele”.
Monstros
Os monstros de aço que chegarão à Ucrânia, provavelmente por meio da fronteira com a Polônia, ainda demoram. Todos são gigantes de cerca de 10 metros de comprimento, com peso entre 54 toneladas e 70 toneladas. Custam entre US$ 4 milhões e US$ 7 milhões cada. Usam uma couraça de metais especiais e, de certa forma, podem transpor quaisquer obstáculos -- valetas profundas, muretas de concreto ou construções; transformam casas em ruínas, por exemplo.
Todos tem a mesma capacidade principal: avançar depressa, levando a destruição terrível causada pela ação do canhão de 120 milimetros, mais duas metralhadoras 7.62mm. Alguns deles lançam mísseis e cargas incendiárias. Gigantes velozes: rodam a 70 km/h.
Além dos Leopard-2 da Alemanha e dos Abrams M1A1 dos Estados Unidos, o exército ucraniano vai receber tanques franceses Leclerc e ingleses Challenger-2. Todos são versões da década de 90 de projetos executados a partir dos anos 80 do século 20.
O que faz do Leopard o modelo mais desejado é a reconhecida eficiência e facilidade de operação. Na estimativa dos instrutores da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) bastam 120 horas de treinamento para o preparo das tripulações. Bem diferente do Abrams americano, complexo e específico a ponto de ter gerado uma bem humorada definição entre a tropa: “você só sentará em um deles se for engenheiro da Nasa -- pós graduado”.
Na verdade, a dificuldade está na motorização: duas turbinas Honeywell, alimentadas a combustível de aviões de caça. Também é um problema a ampla carga eletrônica de bordo, digital. A rigor, entretanto, todos os tanques modernos utilizam sistemas computadorizados avançados.
Do outro lado do campo de batalha a Rússia alinha seu T-90MS, terceira geração tecnológica do tipo apresentado em 92 e atualizado em 1999. Mais leve, na faixa de 46 toneladas e mais barato, saindo a US$ 2,7 milhões, é armado com um canhão de 125 mm.
Seguindo uma doutrina de abastecimento herdada da extinta União Soviética, a produção do T-90 é alta. Da linha das indústrias Uralvagonzavod saíram até agora 1.1 mil tanques. Há outros 300 encomendados. Um em cada cinco T-90 deixa a fábrica com tubos de disparo de mísseis antiblindagem.
Pouco informatizados, os tanques russo T-90MS tem o essencial. Um computador de tiro e uma central de navegação. A torre e parte das placas dianteiras são revestidas por um novo tipo de proteção, o Kontak-5, secreto, que seria capaz de absorver impactos diretos de cargas explosivas médias.
Na quinta, em Londres, o informe reservado semanal da inteligência para o Parlamento, indicava que após a aprovação do envio dos tanques, peças, componentes e munições das nações europeias para a Ucrânia, o processo de preparo e transferência vai exigir até três meses. Tempo demais.
O Exército Brasileiro comprou na Europa uma significativa frota de tanques Leopard, usados, entre os anos 90 e 2006. São todos das série mais antigas 1A1 e 1A5, armados com canhões 105 mm. No mesmo período foram adquiridos os M60 Patton, americanos, também com canhão 105mm. No total, 458 unidades, 439 das quais configuradas para batalha. Os demais no arranjo para treinamento ou apoio. Todos os Leopard estão em unidades do Comando Militar do Sul (CMS).