A Suprema Corte de Israel determinou, hoje, que os municípios israelenses devem permitir a venda de porco onde a maioria dos habitantes o desejar ? uma decisão comemorada como uma vitória pelos ativistas dos direitos seculares. Os judeus ortodoxos advertem que a decisão poderá solapar a identidade judaica da nação. O consumo de carne suína é proibido pela religião judaica. A batalha entre observadores das normas religiosas e os israelenses seculares sobre o papel da religião na vida diária esquentou, nos últimos anos. As áreas de fricção incluem a observância do sabá judeu ? a maioria do comércio de Israel ainda fecha do pôr-do-sol de sexta-feira ao pôr-do-sol de sábado ? e a dispensa do serviço militar obrigatório garantida à maioria dos judeus ultra-ortodoxos. De acordo com uma lei de 1956, cabe aos municípios decidir se permitem a venda da carne de porco. Várias cidades tentaram limitar sua comercialização ou bani-la. A decisão de hoje resultou de um caso contra três municipalidades que barraram a venda de porco. Os nove juizes do Supremo anularam as leis locais e determinaram que se delineie uma nova regulamentação, refletindo o verdadeiro desejo dos habitantes. De qualquer forma, segundo os juizes, a carne deverá ser vendida em localidades onde a maioria dos moradores queira comprá-la. Onde forem minoria, terão de ter acesso fácil a cidades onde exista a comercialização. Em áreas onde não esteja clara a definição da tendência, as autoridades precisarão esclarecer a opinião dos moradores. O caso opôs judeus ortodoxos a ativistas dos direitos seculares, muitos deles imigrantes da ex-União Soviética, que chegaram nos últimos 15 anos. Milhares de imigrantes não são judeus. ?Isto é um prego no caixão da identidade judaica do estado?, disse Eli Yishai, líder do ultra-ortodoxo Partido Shas. O parlamentar Yossi Yasinov, do Partido Shinui de formação secular, afirma que a decisão estabelece um precedente, pela primeira vez protegendo os direitos dos israelenses de comprar carne de porco. ?Estamos lutando para que as pessoas possam comer porco?, disse o líder do Shinui, o ministro da Justiça Joseph Lapid, à Rádio do Exército. ?Estamos lutando pelo direito das pessoas comerem o que quiserem, quando quiserem e onde quiserem,? O proprietário de uma grande cadeia de lojas não-kosher, Yaakov Maniya, diz não ver o porquê de os judeus não poderem concordar com a venda de porco. Os árabes muçulmanos, cuja religião também proíbe o consumo de carne de porco, não impedem os árabes cristãos de comê-la, nas localidades mistas de Israel. Segundo Maniya, os porcos são criados em terras de proprietários árabes, no norte de Israel, uma vez que a lei israelense proíbe a criação de suínos em terras de judeus.