Surto de cólera e falta de remédios ameaçam sobreviventes de terremoto na Turquia e na Síria


Desastre destruiu hospitais e outras instalações médicas que poderiam ter sido cruciais no tratamento de feridos em desmoronamentos de edifícios

Por David Ovalle

Conforme equipes médicas internacionais chegam às regiões devastadas pelo terremoto na Turquia e na Síria, os ferimentos com que os profissionais de saúde se deparam são horripilantes, mas não surpreendem: ossos quebrados, braços e pernas esmagados por construções que desabaram, cortes infectados. Mas isso é apenas o início para os médicos e paramédicos que trabalham febrilmente para salvar vidas no desastre que já matou mais de 23 mil pessoas, segundo afirmam especialistas.

Nas próximas semanas, conforme os esforços de busca se transformarem na lúgubre tarefa de recuperar corpos, incontáveis sobreviventes precisarão de seus medicamentos para pressão alta, diabetes e asma que acabaram soterrados nos escombros. Muitas grávidas darão à luz em abrigos improvisados e campos de refugiados. Pacientes de câncer não receberão tratamento.

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Temperaturas congelantes resultam em sobreviventes sofrendo hipotermia ou queimaduras de frio nos abrigos. Leitos próximos nas instalações de acolhimento também podem levar à disseminação do coronavírus e outros vírus respiratórios.

Aqueles que perderam suas casas no terremoto passaram a viver em abrigos improvisados e campos de refugiados Foto: Umit Bektas/Reuters - 10/02/2023

E há outro risco à espreita: doenças transmitidas pela água, como cólera, que já apareceu na zona de guerra no noroeste da Síria em razão da qualidade ruim da água e do saneamento.

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“É uma situação horrível. Não podemos fazer o que queremos, temos de nos adaptar a uma maneira completamente diferente de tratar as pessoas. É uma situação que exige da gente mentalmente e moralmente”, afirmou Thomas Kirsch, professor de medicina de emergência da Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde da Universidade George Washington, a respeito dos próximos desafios para os profissionais médicos.

Paul Spiegel, diretor do Centro para Saúde Humanitária da Faculdade Johns Hopkins Bloomberg de Saúde Pública, afirmou que o período após os esforços de busca e resgate são cruciais, até dramáticos. “Você vai salvar muito mais gente garantindo que haja vigilância e pensando sobre como continuar o cuidado e as ajudas”, afirmou ele.

Esses esforços já estão sendo coordenados pelo governo turco, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por grupos de ajuda que enviam regularmente equipes de emergência para zonas atingidas por terremotos.

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Os desafios para fornecer assistência médica são especialmente desanimadores na Turquia e na Síria, que foram sacudidas por um terremoto de magnitude 7,8 na madrugada da segunda-feira e um segundo tremor registrado posteriormente, de magnitude 7,5.

O desastre destruiu hospitais e outras instalações médicas que poderiam ter sido cruciais no tratamento de feridos em desmoronamentos de edifícios, sem mencionar outras aflições. Estradas arruinadas e intransitáveis não facilitarão nada as condições para as organizações médicas, afirmou Kirsch, que trabalhou extensivamente em zonas de desastres, incluindo no Haiti após o país ser devastado por um terremoto, em 2010.

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“A logística e a coordenação da resposta de assistência médica são realmente problemáticas”, afirmou ele.

A Síria gera uma preocupação particular por causa da destruição de sua infraestrutura de assistência médica depois de anos de guerra civil, afirmou a repórteres Iman Shankiti, representante da OMS no país, na quarta-feira.

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“Sem dúvida as necessidades em saúde são tremendas. É importante notar que o sistema de saúde tem sofrido ao longo dos últimos 12 anos e continua a sofrer e continua a ser pressionado por emergências atuais, e a última foi este terremoto”, afirmou Shankiti.

A OMS afirmou que estava enviando três aviões com suprimentos médicos para ambos os países, incluindo kits para tratamento de traumas, de um polo logístico em Dubai. A organização também liberou US$ 3 milhões em financiamento.

O Exército de Israel afirmou que está montando um hospital de campanha na Turquia.

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Grupos não governamentais também serão cruciais. A ONG Médicos sem Fronteiras, que já estava presente no noroeste da Síria, afirmou que continua a dar apoio a sete hospitais, centros de assistência médica e uma unidade para queimados na região.

O grupo de ajuda em saúde Americares, com base em Connecticut, já enviou um carregamento de kits de higiene, fluidos intravenosos e alguns medicamentos para doenças crônicas. Uma equipe de quatro pessoas já está em campo no sul da Turquia.

“Nos próximos dias haverá uma necessidade tremenda por medicamentos para pacientes crônicos”, afirmou a diretora médica da organização, Julie Varughese.

A ONG de saúde global e ajuda humanitária Project Hope também está em Gaziantep, Turquia, cidade que foi duramente danificada pelos terremotos. Como muitas organizações de assistência médica, a entidade está analisando o que cada região precisará em termos de assistência médica a curto e longo prazo, enquanto as operações de busca e resgate continuam a procurar sobreviventes.

‘Síndrome do esmagamento’

O conselheiro de saúde humanitária da organização, Pranav Shetty, teme que nos próximos dias os médicos encontrem condições de trabalho parecidas com as que ocorreram no Haiti após o devastador terremoto de 2010.

Médicos precisarão trabalhar rapidamente para remover tecido morto de feridas para evitar infecções perigosas, afirmou ele.

Outra preocupação premente é uma condição conhecida como “síndrome do esmagamento”, que sucede quando sobreviventes são retirados de escombros, aliviando a pressão sobre os músculos e liberando toxinas de tecidos machucados. Essa condição pode provocar insuficiência renal nos sobreviventes, exigindo que eles façam hemodiálise — o que não é fácil de fornecer quando os hospitais estão destruídos.

“Trata-se de uma intervenção bastante robusta, que requer muitos recursos”, afirmou Shetty.

Mas dificuldades cotidianas podem acabar se tornando um problema maior conforme passarem os meses. Kirsch, da Universidade George Washington, afirmou que assistência médica estrangeira será necessária para ajudar a tratar aflições do dia a dia, como diabetes, ataques cardíacos e AVCs.

“A Turquia possui um sistema de assistência médica bem forte, então sua recuperação será melhor do que em muitos países menos robustos economicamente”, afirmou ele.

E ambos países precisarão injetar recursos em tratamento de saúde mental não apenas para os sobreviventes, mas também para trabalhadores médicos sobrecarregados tratando das vítimas. “Certas horas você toma decisões sobre vida ou morte que não teria de tomar em outras situações”, afirmou Kirsch sobre o trabalho dos médicos em zonas de terremoto. “Esta é a dificuldade desde o início.”

Conforme equipes médicas internacionais chegam às regiões devastadas pelo terremoto na Turquia e na Síria, os ferimentos com que os profissionais de saúde se deparam são horripilantes, mas não surpreendem: ossos quebrados, braços e pernas esmagados por construções que desabaram, cortes infectados. Mas isso é apenas o início para os médicos e paramédicos que trabalham febrilmente para salvar vidas no desastre que já matou mais de 23 mil pessoas, segundo afirmam especialistas.

Nas próximas semanas, conforme os esforços de busca se transformarem na lúgubre tarefa de recuperar corpos, incontáveis sobreviventes precisarão de seus medicamentos para pressão alta, diabetes e asma que acabaram soterrados nos escombros. Muitas grávidas darão à luz em abrigos improvisados e campos de refugiados. Pacientes de câncer não receberão tratamento.

Temperaturas congelantes resultam em sobreviventes sofrendo hipotermia ou queimaduras de frio nos abrigos. Leitos próximos nas instalações de acolhimento também podem levar à disseminação do coronavírus e outros vírus respiratórios.

Aqueles que perderam suas casas no terremoto passaram a viver em abrigos improvisados e campos de refugiados Foto: Umit Bektas/Reuters - 10/02/2023

E há outro risco à espreita: doenças transmitidas pela água, como cólera, que já apareceu na zona de guerra no noroeste da Síria em razão da qualidade ruim da água e do saneamento.

“É uma situação horrível. Não podemos fazer o que queremos, temos de nos adaptar a uma maneira completamente diferente de tratar as pessoas. É uma situação que exige da gente mentalmente e moralmente”, afirmou Thomas Kirsch, professor de medicina de emergência da Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde da Universidade George Washington, a respeito dos próximos desafios para os profissionais médicos.

Paul Spiegel, diretor do Centro para Saúde Humanitária da Faculdade Johns Hopkins Bloomberg de Saúde Pública, afirmou que o período após os esforços de busca e resgate são cruciais, até dramáticos. “Você vai salvar muito mais gente garantindo que haja vigilância e pensando sobre como continuar o cuidado e as ajudas”, afirmou ele.

Esses esforços já estão sendo coordenados pelo governo turco, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por grupos de ajuda que enviam regularmente equipes de emergência para zonas atingidas por terremotos.

Os desafios para fornecer assistência médica são especialmente desanimadores na Turquia e na Síria, que foram sacudidas por um terremoto de magnitude 7,8 na madrugada da segunda-feira e um segundo tremor registrado posteriormente, de magnitude 7,5.

O desastre destruiu hospitais e outras instalações médicas que poderiam ter sido cruciais no tratamento de feridos em desmoronamentos de edifícios, sem mencionar outras aflições. Estradas arruinadas e intransitáveis não facilitarão nada as condições para as organizações médicas, afirmou Kirsch, que trabalhou extensivamente em zonas de desastres, incluindo no Haiti após o país ser devastado por um terremoto, em 2010.

“A logística e a coordenação da resposta de assistência médica são realmente problemáticas”, afirmou ele.

A Síria gera uma preocupação particular por causa da destruição de sua infraestrutura de assistência médica depois de anos de guerra civil, afirmou a repórteres Iman Shankiti, representante da OMS no país, na quarta-feira.

“Sem dúvida as necessidades em saúde são tremendas. É importante notar que o sistema de saúde tem sofrido ao longo dos últimos 12 anos e continua a sofrer e continua a ser pressionado por emergências atuais, e a última foi este terremoto”, afirmou Shankiti.

A OMS afirmou que estava enviando três aviões com suprimentos médicos para ambos os países, incluindo kits para tratamento de traumas, de um polo logístico em Dubai. A organização também liberou US$ 3 milhões em financiamento.

O Exército de Israel afirmou que está montando um hospital de campanha na Turquia.

Grupos não governamentais também serão cruciais. A ONG Médicos sem Fronteiras, que já estava presente no noroeste da Síria, afirmou que continua a dar apoio a sete hospitais, centros de assistência médica e uma unidade para queimados na região.

O grupo de ajuda em saúde Americares, com base em Connecticut, já enviou um carregamento de kits de higiene, fluidos intravenosos e alguns medicamentos para doenças crônicas. Uma equipe de quatro pessoas já está em campo no sul da Turquia.

“Nos próximos dias haverá uma necessidade tremenda por medicamentos para pacientes crônicos”, afirmou a diretora médica da organização, Julie Varughese.

A ONG de saúde global e ajuda humanitária Project Hope também está em Gaziantep, Turquia, cidade que foi duramente danificada pelos terremotos. Como muitas organizações de assistência médica, a entidade está analisando o que cada região precisará em termos de assistência médica a curto e longo prazo, enquanto as operações de busca e resgate continuam a procurar sobreviventes.

‘Síndrome do esmagamento’

O conselheiro de saúde humanitária da organização, Pranav Shetty, teme que nos próximos dias os médicos encontrem condições de trabalho parecidas com as que ocorreram no Haiti após o devastador terremoto de 2010.

Médicos precisarão trabalhar rapidamente para remover tecido morto de feridas para evitar infecções perigosas, afirmou ele.

Outra preocupação premente é uma condição conhecida como “síndrome do esmagamento”, que sucede quando sobreviventes são retirados de escombros, aliviando a pressão sobre os músculos e liberando toxinas de tecidos machucados. Essa condição pode provocar insuficiência renal nos sobreviventes, exigindo que eles façam hemodiálise — o que não é fácil de fornecer quando os hospitais estão destruídos.

“Trata-se de uma intervenção bastante robusta, que requer muitos recursos”, afirmou Shetty.

Mas dificuldades cotidianas podem acabar se tornando um problema maior conforme passarem os meses. Kirsch, da Universidade George Washington, afirmou que assistência médica estrangeira será necessária para ajudar a tratar aflições do dia a dia, como diabetes, ataques cardíacos e AVCs.

“A Turquia possui um sistema de assistência médica bem forte, então sua recuperação será melhor do que em muitos países menos robustos economicamente”, afirmou ele.

E ambos países precisarão injetar recursos em tratamento de saúde mental não apenas para os sobreviventes, mas também para trabalhadores médicos sobrecarregados tratando das vítimas. “Certas horas você toma decisões sobre vida ou morte que não teria de tomar em outras situações”, afirmou Kirsch sobre o trabalho dos médicos em zonas de terremoto. “Esta é a dificuldade desde o início.”

Conforme equipes médicas internacionais chegam às regiões devastadas pelo terremoto na Turquia e na Síria, os ferimentos com que os profissionais de saúde se deparam são horripilantes, mas não surpreendem: ossos quebrados, braços e pernas esmagados por construções que desabaram, cortes infectados. Mas isso é apenas o início para os médicos e paramédicos que trabalham febrilmente para salvar vidas no desastre que já matou mais de 23 mil pessoas, segundo afirmam especialistas.

Nas próximas semanas, conforme os esforços de busca se transformarem na lúgubre tarefa de recuperar corpos, incontáveis sobreviventes precisarão de seus medicamentos para pressão alta, diabetes e asma que acabaram soterrados nos escombros. Muitas grávidas darão à luz em abrigos improvisados e campos de refugiados. Pacientes de câncer não receberão tratamento.

Temperaturas congelantes resultam em sobreviventes sofrendo hipotermia ou queimaduras de frio nos abrigos. Leitos próximos nas instalações de acolhimento também podem levar à disseminação do coronavírus e outros vírus respiratórios.

Aqueles que perderam suas casas no terremoto passaram a viver em abrigos improvisados e campos de refugiados Foto: Umit Bektas/Reuters - 10/02/2023

E há outro risco à espreita: doenças transmitidas pela água, como cólera, que já apareceu na zona de guerra no noroeste da Síria em razão da qualidade ruim da água e do saneamento.

“É uma situação horrível. Não podemos fazer o que queremos, temos de nos adaptar a uma maneira completamente diferente de tratar as pessoas. É uma situação que exige da gente mentalmente e moralmente”, afirmou Thomas Kirsch, professor de medicina de emergência da Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde da Universidade George Washington, a respeito dos próximos desafios para os profissionais médicos.

Paul Spiegel, diretor do Centro para Saúde Humanitária da Faculdade Johns Hopkins Bloomberg de Saúde Pública, afirmou que o período após os esforços de busca e resgate são cruciais, até dramáticos. “Você vai salvar muito mais gente garantindo que haja vigilância e pensando sobre como continuar o cuidado e as ajudas”, afirmou ele.

Esses esforços já estão sendo coordenados pelo governo turco, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por grupos de ajuda que enviam regularmente equipes de emergência para zonas atingidas por terremotos.

Os desafios para fornecer assistência médica são especialmente desanimadores na Turquia e na Síria, que foram sacudidas por um terremoto de magnitude 7,8 na madrugada da segunda-feira e um segundo tremor registrado posteriormente, de magnitude 7,5.

O desastre destruiu hospitais e outras instalações médicas que poderiam ter sido cruciais no tratamento de feridos em desmoronamentos de edifícios, sem mencionar outras aflições. Estradas arruinadas e intransitáveis não facilitarão nada as condições para as organizações médicas, afirmou Kirsch, que trabalhou extensivamente em zonas de desastres, incluindo no Haiti após o país ser devastado por um terremoto, em 2010.

“A logística e a coordenação da resposta de assistência médica são realmente problemáticas”, afirmou ele.

A Síria gera uma preocupação particular por causa da destruição de sua infraestrutura de assistência médica depois de anos de guerra civil, afirmou a repórteres Iman Shankiti, representante da OMS no país, na quarta-feira.

“Sem dúvida as necessidades em saúde são tremendas. É importante notar que o sistema de saúde tem sofrido ao longo dos últimos 12 anos e continua a sofrer e continua a ser pressionado por emergências atuais, e a última foi este terremoto”, afirmou Shankiti.

A OMS afirmou que estava enviando três aviões com suprimentos médicos para ambos os países, incluindo kits para tratamento de traumas, de um polo logístico em Dubai. A organização também liberou US$ 3 milhões em financiamento.

O Exército de Israel afirmou que está montando um hospital de campanha na Turquia.

Grupos não governamentais também serão cruciais. A ONG Médicos sem Fronteiras, que já estava presente no noroeste da Síria, afirmou que continua a dar apoio a sete hospitais, centros de assistência médica e uma unidade para queimados na região.

O grupo de ajuda em saúde Americares, com base em Connecticut, já enviou um carregamento de kits de higiene, fluidos intravenosos e alguns medicamentos para doenças crônicas. Uma equipe de quatro pessoas já está em campo no sul da Turquia.

“Nos próximos dias haverá uma necessidade tremenda por medicamentos para pacientes crônicos”, afirmou a diretora médica da organização, Julie Varughese.

A ONG de saúde global e ajuda humanitária Project Hope também está em Gaziantep, Turquia, cidade que foi duramente danificada pelos terremotos. Como muitas organizações de assistência médica, a entidade está analisando o que cada região precisará em termos de assistência médica a curto e longo prazo, enquanto as operações de busca e resgate continuam a procurar sobreviventes.

‘Síndrome do esmagamento’

O conselheiro de saúde humanitária da organização, Pranav Shetty, teme que nos próximos dias os médicos encontrem condições de trabalho parecidas com as que ocorreram no Haiti após o devastador terremoto de 2010.

Médicos precisarão trabalhar rapidamente para remover tecido morto de feridas para evitar infecções perigosas, afirmou ele.

Outra preocupação premente é uma condição conhecida como “síndrome do esmagamento”, que sucede quando sobreviventes são retirados de escombros, aliviando a pressão sobre os músculos e liberando toxinas de tecidos machucados. Essa condição pode provocar insuficiência renal nos sobreviventes, exigindo que eles façam hemodiálise — o que não é fácil de fornecer quando os hospitais estão destruídos.

“Trata-se de uma intervenção bastante robusta, que requer muitos recursos”, afirmou Shetty.

Mas dificuldades cotidianas podem acabar se tornando um problema maior conforme passarem os meses. Kirsch, da Universidade George Washington, afirmou que assistência médica estrangeira será necessária para ajudar a tratar aflições do dia a dia, como diabetes, ataques cardíacos e AVCs.

“A Turquia possui um sistema de assistência médica bem forte, então sua recuperação será melhor do que em muitos países menos robustos economicamente”, afirmou ele.

E ambos países precisarão injetar recursos em tratamento de saúde mental não apenas para os sobreviventes, mas também para trabalhadores médicos sobrecarregados tratando das vítimas. “Certas horas você toma decisões sobre vida ou morte que não teria de tomar em outras situações”, afirmou Kirsch sobre o trabalho dos médicos em zonas de terremoto. “Esta é a dificuldade desde o início.”

Conforme equipes médicas internacionais chegam às regiões devastadas pelo terremoto na Turquia e na Síria, os ferimentos com que os profissionais de saúde se deparam são horripilantes, mas não surpreendem: ossos quebrados, braços e pernas esmagados por construções que desabaram, cortes infectados. Mas isso é apenas o início para os médicos e paramédicos que trabalham febrilmente para salvar vidas no desastre que já matou mais de 23 mil pessoas, segundo afirmam especialistas.

Nas próximas semanas, conforme os esforços de busca se transformarem na lúgubre tarefa de recuperar corpos, incontáveis sobreviventes precisarão de seus medicamentos para pressão alta, diabetes e asma que acabaram soterrados nos escombros. Muitas grávidas darão à luz em abrigos improvisados e campos de refugiados. Pacientes de câncer não receberão tratamento.

Temperaturas congelantes resultam em sobreviventes sofrendo hipotermia ou queimaduras de frio nos abrigos. Leitos próximos nas instalações de acolhimento também podem levar à disseminação do coronavírus e outros vírus respiratórios.

Aqueles que perderam suas casas no terremoto passaram a viver em abrigos improvisados e campos de refugiados Foto: Umit Bektas/Reuters - 10/02/2023

E há outro risco à espreita: doenças transmitidas pela água, como cólera, que já apareceu na zona de guerra no noroeste da Síria em razão da qualidade ruim da água e do saneamento.

“É uma situação horrível. Não podemos fazer o que queremos, temos de nos adaptar a uma maneira completamente diferente de tratar as pessoas. É uma situação que exige da gente mentalmente e moralmente”, afirmou Thomas Kirsch, professor de medicina de emergência da Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde da Universidade George Washington, a respeito dos próximos desafios para os profissionais médicos.

Paul Spiegel, diretor do Centro para Saúde Humanitária da Faculdade Johns Hopkins Bloomberg de Saúde Pública, afirmou que o período após os esforços de busca e resgate são cruciais, até dramáticos. “Você vai salvar muito mais gente garantindo que haja vigilância e pensando sobre como continuar o cuidado e as ajudas”, afirmou ele.

Esses esforços já estão sendo coordenados pelo governo turco, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por grupos de ajuda que enviam regularmente equipes de emergência para zonas atingidas por terremotos.

Os desafios para fornecer assistência médica são especialmente desanimadores na Turquia e na Síria, que foram sacudidas por um terremoto de magnitude 7,8 na madrugada da segunda-feira e um segundo tremor registrado posteriormente, de magnitude 7,5.

O desastre destruiu hospitais e outras instalações médicas que poderiam ter sido cruciais no tratamento de feridos em desmoronamentos de edifícios, sem mencionar outras aflições. Estradas arruinadas e intransitáveis não facilitarão nada as condições para as organizações médicas, afirmou Kirsch, que trabalhou extensivamente em zonas de desastres, incluindo no Haiti após o país ser devastado por um terremoto, em 2010.

“A logística e a coordenação da resposta de assistência médica são realmente problemáticas”, afirmou ele.

A Síria gera uma preocupação particular por causa da destruição de sua infraestrutura de assistência médica depois de anos de guerra civil, afirmou a repórteres Iman Shankiti, representante da OMS no país, na quarta-feira.

“Sem dúvida as necessidades em saúde são tremendas. É importante notar que o sistema de saúde tem sofrido ao longo dos últimos 12 anos e continua a sofrer e continua a ser pressionado por emergências atuais, e a última foi este terremoto”, afirmou Shankiti.

A OMS afirmou que estava enviando três aviões com suprimentos médicos para ambos os países, incluindo kits para tratamento de traumas, de um polo logístico em Dubai. A organização também liberou US$ 3 milhões em financiamento.

O Exército de Israel afirmou que está montando um hospital de campanha na Turquia.

Grupos não governamentais também serão cruciais. A ONG Médicos sem Fronteiras, que já estava presente no noroeste da Síria, afirmou que continua a dar apoio a sete hospitais, centros de assistência médica e uma unidade para queimados na região.

O grupo de ajuda em saúde Americares, com base em Connecticut, já enviou um carregamento de kits de higiene, fluidos intravenosos e alguns medicamentos para doenças crônicas. Uma equipe de quatro pessoas já está em campo no sul da Turquia.

“Nos próximos dias haverá uma necessidade tremenda por medicamentos para pacientes crônicos”, afirmou a diretora médica da organização, Julie Varughese.

A ONG de saúde global e ajuda humanitária Project Hope também está em Gaziantep, Turquia, cidade que foi duramente danificada pelos terremotos. Como muitas organizações de assistência médica, a entidade está analisando o que cada região precisará em termos de assistência médica a curto e longo prazo, enquanto as operações de busca e resgate continuam a procurar sobreviventes.

‘Síndrome do esmagamento’

O conselheiro de saúde humanitária da organização, Pranav Shetty, teme que nos próximos dias os médicos encontrem condições de trabalho parecidas com as que ocorreram no Haiti após o devastador terremoto de 2010.

Médicos precisarão trabalhar rapidamente para remover tecido morto de feridas para evitar infecções perigosas, afirmou ele.

Outra preocupação premente é uma condição conhecida como “síndrome do esmagamento”, que sucede quando sobreviventes são retirados de escombros, aliviando a pressão sobre os músculos e liberando toxinas de tecidos machucados. Essa condição pode provocar insuficiência renal nos sobreviventes, exigindo que eles façam hemodiálise — o que não é fácil de fornecer quando os hospitais estão destruídos.

“Trata-se de uma intervenção bastante robusta, que requer muitos recursos”, afirmou Shetty.

Mas dificuldades cotidianas podem acabar se tornando um problema maior conforme passarem os meses. Kirsch, da Universidade George Washington, afirmou que assistência médica estrangeira será necessária para ajudar a tratar aflições do dia a dia, como diabetes, ataques cardíacos e AVCs.

“A Turquia possui um sistema de assistência médica bem forte, então sua recuperação será melhor do que em muitos países menos robustos economicamente”, afirmou ele.

E ambos países precisarão injetar recursos em tratamento de saúde mental não apenas para os sobreviventes, mas também para trabalhadores médicos sobrecarregados tratando das vítimas. “Certas horas você toma decisões sobre vida ou morte que não teria de tomar em outras situações”, afirmou Kirsch sobre o trabalho dos médicos em zonas de terremoto. “Esta é a dificuldade desde o início.”

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