AUSTIN, EUA - Um júri do Estado americano do Texas ordenou nesta quinta-feira, 4, que o teórico da conspiração Alex Jones pague mais de US$ 4 milhões (mais de R$ 20 milhões) em danos compensatórios aos pais de um menino de 6 anos que foi morto no massacre da Sandy Hook Elementary School, em Newtown, Connecticut, em 2012.
A decisão marca a primeira vez que o apresentador do Infowars foi responsabilizado financeiramente por alegar repetidamente que o ataque a tiros em escola mais mortal da história dos Estados Unidos era uma farsa. Na tragédia, 20 crianças de até 7 anos foram mortas, além de 6 educadoras.
O júri de Austin ainda deve decidir quanto o apresentador do Infowars deve pagar em danos punitivos a Neil Heslin e Scarlett Lewis, cujo filho Jesse Lewis estava entre as crianças que foram mortas.
Os pais pediram pelo menos US$ 150 milhões em compensação por difamação e inflição intencional de sofrimento emocional. O advogado de Jones pediu ao júri para limitar os danos para cada uma das oito acusações de compensação que estão considerando - e o próprio Jones disse que qualquer condenação acima de US$ 2 milhões “o afundaria”.
Esse não deve ser o último julgamento contra Jones sobre suas alegações de que o ataque foi encenado com o objetivo de aumentar o controle de armas nos EUA. Um juiz de Connecticut decidiu contra ele em um processo semelhante movido por famílias de outras vítimas e um agente do FBI que trabalhou no caso.
A decisão do Texas pode ser um ponto de partida para outros casos contra Jones e destaca a ameaça financeira que ele enfrenta. Também levanta novas questões sobre a capacidade do Infowars - que foi banido do YouTube, Spotify e Twitter por discurso de ódio - continuar operando, embora as finanças da empresa permaneçam obscuras.
A audiência de Jones em seu programa e as receitas correspondentes aumentaram acentuadamente, para mais de US$ 50 milhões por ano, na década seguinte ao ataque de Sandy Hook.
Jones admitiu durante o julgamento que o ataque era real e que ele estava errado em ter mentido sobre isso. Mas Heslin e Lewis disseram aos jurados que um pedido de desculpas não seria suficiente e pediram a eles que fizessem Jones pagar pelos anos de sofrimento impostos à sua e outras famílias de Sandy Hook.
A empresa de mídia de Jones, Free Speech Systems, que é a controladora da Infowars, entrou com pedido de falência durante o julgamento, que começou há duas semanas.
Teorias da conspiração
De muitas maneiras, Jones tem sido emblemático de como a desinformação e as narrativas falsas ganharam força na sociedade na última década. Ele desempenhou um papel na divulgação de algumas das teorias de conspiração mais perniciosas e perigosas da história recente, como Pizzagate – no qual um vídeo do Infowars ajudou a inspirar um atirador a atacar uma pizzaria em Washington – mitos sobre coronavírus e falsidades como “Stop the Steal” sobre fraude eleitoral antes do ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
O julgamento agora entrará em uma segunda fase, na qual o júri considerará evidências do patrimônio líquido de Jones para determinar quanto, se for o caso, concederá a Heslin e Lewis em danos punitivos.
Mais importante do que dinheiro, disseram as famílias de Sandy Hook, é o veredicto da sociedade sobre uma cultura em que a desinformação viral prejudica vidas e destrói reputações. “A fala é gratuita, mas você tem de pagar por mentiras”, disse Mark Bankston, advogado de Lewis e Heslin, ao júri na semana passada. “Este é um caso sobre a criação de mudanças.”
No centro do julgamento estava um episódio de junho de 2017 do programa Sunday Night With Megyn Kelly, da NBC, que apresentou o perfil de Jones. Na transmissão, Heslin protestou contra a negação de Jones sobre o ataque. Ele relembrou seus últimos momentos com Jesse, dizendo: “Eu segurei meu filho com um buraco de bala na cabeça”.
Depois, Jones e Owen Shroyer, um apresentador do Infowars, exibiram programas sugerindo que Heslin havia mentido. “Haverá um esclarecimento de Heslin ou Megyn Kelly?” disse Shroyer no Infowars./AP e NYT