Equipes de resgate e voluntários de diversas partes do mundo devem chegar à Turquia e Síria nesta terça-feira, 7, onde as buscas por sobreviventes soterrados após o pior terremoto das últimas décadas destruir milhares de edifícios nos dois países. Socorristas dos dois países trabalham de forma incessante, muitas vezes sem o equipamento necessário e enfrentando temperaturas negativas na tentativa de alcançar as vítimas soterradas antes que seja tarde demais.
O “período de ouro” para resgatar vítimas com vida é de um a três dias após um terremoto, disse Lody Korua, especialista em busca e resgate da Indonésia que se voluntaria para operações de resposta a terremotos a mais de 15 anos. Mesmo assim, segundo ele, a logística pode ser muito complicada.
“As pessoas que estamos resgatando estão feridas – elas estão sob os escombros e não sabemos a que profundidade”, explicou. “Eles estão presos, talvez com as pernas esmagadas pela estrutura desmoronada, com ossos quebrados, e não conseguem gritar por socorro”.
Na tentativa de acelerar os trabalhos de busca no lado turco da fronteira, o presidente Recep Tayyip Erdogan declarou estado de emergência nas 10 províncias afetadas pelo terremoto pelos próximos três meses. Com a medida, o presidente pretende enviar mais de 50 mil trabalhadores humanitários à região e liberar 100 bilhões de liras turcas (R$ 27,3 bilhões) em ajuda financeira. “Decidimos declarar estado de emergência para assegurar que nosso trabalho [de resgate] possa acontecer de maneira rápida”, afirmou Erdogan em um discurso exibido na televisão.
Mas nem mesmo todo o recurso pode ser suficiente para evitar o agravamento da catástrofe considerando os limites da resistência humana em suportar o período de confinamento. De acordo com David Lewis, coordenador de uma equipe internacional de busca e resgate urbano para a agência de bombeiros e resgate em New South Wales, na Austrália, alguns sobreviventes foram encontrados após quatro (e até mais) após terremotos, mas a quantidade de tempo que uma pessoa pode sobreviver sob escombros depende de várias variáveis, incluindo a temperatura, o acesso a comida e água e a maneira como ficaram presos.
Na avaliação do especialista, o fato do terremoto ter acontecido durante a madrugada ― o maior tremor, de 7,8 de magnitude foi registrado às 4h17 no horário local ―, a maioria das pessoas que agora estão soterradas provavelmente estava dormindo quando as casas e apartamentos caíram. A única esperança seria que houvesse “um vazio e não um teto ou um andar superior caindo sobre você.”
Frio congelante
Apesar da corrida contra o tempo das equipes de resgate, o rigoroso inverno na região da fronteira entre Turquia e Síria dificulta a situação. Ao mesmo tempo em que é um fator que aumenta a urgência de se resgatar os sobreviventes, as temperaturas negativas impõem um risco adicional aos socorristas, que em muitos locais não possuem equipamentos totalmente adequados.
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De acordo com o Serviço Meteorológico turco, a temperatura deve cair para quase -3ºC nesta terça-feira, com previsão de neve ou chuva por pelo menos três dias durante a semana. As equipes de resgate devem “correr contra o tempo e [contra] a hipotermia” para encontrar qualquer um que permaneça preso sob os escombros, disse Mikdat Kadioglu, professor de meteorologia e gerenciamento de desastres na Universidade Técnica de Istambul.
Muitas das pessoas presas sob os escombros usavam apenas roupas de dormir quando o terremoto ocorreu. Muitos dos resgatados estavam descalços. Além disso, milhares de sobreviventes ficaram presos no escuro, em busca de abrigo e em temperaturas quase congelantes.
Durante a noite de segunda-feira, algumas pessoas que sobreviveram ao terremoto se abrigaram do frio e da chuva em seus carros, ou se aqueceram com fogueiras feitas com os escombros de prédios danificados.
Mesmo antes do desastre, grupos de ajuda já haviam sinalizado preocupações sobre como as temperaturas congelantes afetariam as pessoas no norte da Síria, para onde fugiram milhões de deslocados devido aos anos de guerra civil. É o único lugar no país que permanece fora do controle do governo. Muitas dessas pessoas deslocadas estão se abrigando em tendas, ruínas antigas e qualquer outro lugar que possam encontrar depois que suas antigas casas foram destruídas.
O colapso econômico causado pela guerra tornou impossível para muitos deles conseguir uma refeição decente. A crise de combustível deste inverno já fez muitos tremerem nas camas, sem aquecimento.
Capacidade de integração e logística
A eficácia das equipes de resgate que chegam para reforçar as operações na zona atingida pelo terremoto depende em parte de quão bem elas se coordenarão e da rapidez com que chegam. Mas a área é remota e relativamente difícil de acessar, disse Yosuke Okita, especialista em gerenciamento de emergências internacionais da Universidade Keio, no Japão.
Se pequenos aeroportos na área não tiverem capacidade para transportar equipes de busca e resgate e seus equipamentos pesados, as equipes precisarão voar para aeroportos maiores e viajar para a zona do terremoto de caminhão, disse Okita. Encontrar caminhões também pode ser difícil, acrescentou, e algumas estradas para a área atingida estão bloqueadas.
A ONU apontou nesta terça-feira, 7, dificuldades em levar ajuda da Turquia para a Síria após terremoto. “A própria operação transfronteiriça foi afetada”, disse o porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) da ONU, Jens Laerke, em entrevista coletiva em Genebra.
As organizações humanitárias estão tentando levar ajuda à população síria, especialmente à área rebelde de Idlib, no noroeste do país. Quase toda a ajuda humanitária que chega ao noroeste vem da Turquia através de Bab al-Hawa, a única passagem de fronteira, garantida por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU.
Quando chegarem aos dois países, os socorristas que entrarem em edifícios parcialmente destruídos ainda estarão trabalhando em ambientes perigosos.
Muitos dos edifícios na zona do terremoto parecem ser estruturas de alvenaria e concreto levemente reforçado com várias décadas, disse Jerome F. Hajjar, engenheiro estrutural da Northeastern University especializado em terremotos.
Isso significa que eles podem ser vulneráveis a um colapso ainda maior no caso de um grande tremor secundário ou de um incêndio causado por um vazamento de gás. “Isso só torna a situação ainda mais desafiadora”, disse o professor Hajjar./ NYT, WPOST E AFP