O terremoto que abalou a Turquia e a Síria na segunda-feira, 6, alcançou a marca de mais letal da década após o número de mortos ultrapassar os 15 mil na noite desta quarta-feira, 8. Equipes de resgate locais, reforçadas pela ajuda da comunidade internacional, correm contra o tempo para encontrar sobreviventes embaixo dos escombros dos milhares de prédios que colapsaram nos dois lados da fronteira ― uma missão dificultada pelo rigoroso inverno, enquanto o prazo considerado crítico para encontrar pessoas com vida se esgota.
O governo de Recep Tayyip Erdogan afirmou que já foram confirmadas as mortes de 12.391 em decorrência do terremoto no país. O restante dos mortos reconhecidos até o momento vem da Síria. O governo oficial e o grupo voluntário dos Capacetes Brancos, que atuam nas áreas dominadas por forças rebeldes, confirmam que 2.992 pessoas perderam a vida em eventos relacionados ao terremoto.
O número de mortos e feridos cresce à medida que as equipes de resgate encontram os corpos sob os escombros nas regiões atingidas. Na manhã desta quarta-feira, mais de 45 mil pessoas ficaram feridas nos dois países, e mais de 8 mil foram retiradas de escombros apenas na Turquia. O evento extremo é o mais letal desde 2011, quando um terremoto provocou um tsunami no Japão, matando cerca de 20 mil pessoas.
A Turquia tem cerca de 60.000 funcionários humanitários na zona atingida pelo terremoto, mas com uma devastação tão generalizada, muitos ainda esperam por ajuda. Na terça-feira começaram a chegar as primeiras equipes de emergência estrangeiras.
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A União Europeia mobilizou 1.185 socorristas e 79 cães farejadores e trabalha com associações humanitárias na Síria para financiar operações de assistência. O governo dos Estados Unidos prevê a chegada de duas equipes de emergência nesta quarta-feira e também trabalha com ONGs locais na Síria para socorrer as vítimas. Mas o prazo vai se esgotando.
Em entrevista ao The New York Times, o especialista em busca e resgate Lody Korua, da Indonésia, que se voluntaria para operações de resposta a terremotos a mais de 15 anos, afirmou que o “período de ouro” para resgatar vítimas com vida é de um a três dias após um terremoto. Mesmo assim, segundo ele, tudo depende das questões logísticas e ambientais.
“As pessoas que estamos resgatando estão feridas – elas estão sob os escombros e não sabemos a que profundidade”, explicou. “Eles estão presos, talvez com as pernas esmagadas pela estrutura desmoronada, com ossos quebrados, e não conseguem gritar por socorro”.
As equipes de resgate devem “correr contra o tempo e [contra] a hipotermia” para encontrar qualquer um que permaneça preso sob os escombros, disse Mikdat Kadioglu, professor de meteorologia e gerenciamento de desastres na Universidade Técnica de Istambul.
Muitas das pessoas presas sob os escombros usavam apenas roupas de dormir quando o terremoto ocorreu. Muitos dos resgatados estavam descalços. Além disso, milhares de sobreviventes ficaram presos no escuro, em busca de abrigo e em temperaturas quase congelantes.
Cenas marcantes
Em meio a dificuldade das buscas, cenas de esperança e tristeza têm se alternado na cobertura cotidiana dos fatos nos dois países. Na terça-feira, a palavra “milagroso” foi utilizada para descrever o resgate de um bebê recém-nascido, cuja mãe deu à luz sob os escombros de uma construção na Síria. A criança foi levada a um hospital onde recebeu atendimento médico, mas a família toda, incluindo a mãe, faleceu.
Em contrapartida, a foto de Mesut Hancer, um homem turco morador da cidade de Kahramanmaras, permaneceu sentado ao lado do prédio onde morava, segurando a mão da filha, Irmak, que morreu sob os escombros.
Terremoto
A tragédia aconteceu às 4h17 de segunda-feira, 6, (22h10 do domingo em Brasília). O epicentro foi próximo a Gaziantepe, cidade turca de aproximadamente 2 milhões de habitantes perto da fronteira com a Síria. O número de vítimas deve aumentar à medida que equipes de resgate vasculham montes de destroços em cidades e vilas da região.
O terremoto devastador foi seguido por vários tremores secundários, alguns potentes, que provocaram pânico entre milhares de moradores, que temem retornar para suas casas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que 23 milhões de pessoas foram “expostas” às consequências do terremoto, “incluindo cinco milhões de pessoas vulneráveis”./ NYT, AP e AFP