Teste de míssil russo alimenta temores americanos


Governo Biden acredita que, isolada, Moscou pode se tornar cada vez mais provocativa em relação ao Ocidente

Por David E. Sanger

WASHINGTON - A medida calculada do presidente russo, Vladimir Putin, de testar o lançamento de um novo míssil balístico intercontinental na quarta-feira, 20, alimentou uma preocupação crescente dentro do governo Biden: a de que a Rússia, hoje tão isolada do resto do mundo, se torne cada vez mais provocativa em relação ao Ocidente.

Mesmo antes do lançamento do míssil, autoridades americanas e líderes estrangeiros avaliavam se o sucesso em cortar a Rússia de grande parte da economia global, tornando-a um pária diplomático, poderia alimentar ainda mais a disposição de Putin de afirmar a força de seu país. O lançamento do míssil Sarmat com capacidade nuclear foi apenas o exemplo mais recente de como ele tentou lembrar ao mundo suas capacidades – no espaço, no ciberespaço e ao longo da costa da Europa – apesar dos primeiros contratempos em solo ucraniano.

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“Ele está agora em sua própria lógica de guerra”, disse o chanceler Karl Nehammer, da Áustria, na semana passada, depois de se encontrar com Putin na Rússia. Ele descreveu o presidente russo como mais determinado do que nunca a combater o que vê como uma crescente ameaça do Ocidente e a recapturar a esfera de influência da Rússia na Europa Oriental.

William J. Burns, diretor da CIA, disse na semana passada que “todos os dias, Putin demonstra que os poderes em declínio podem ser pelo menos tão perturbadores quanto os em ascensão”, acrescentando que seu “apetite ao risco cresceu à medida que seu controle sobre a Rússia se fortaleceu”.

O presidente russo, Vladimir Putin, participa de reunião do Conselho de Segurança da ONU; EUA temem que Moscou se torne cada vez mais provocativa Foto: Nikhail Klimentyev/Sputnik
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Em particular, as autoridades americanas foram mais diretas sobre o potencial de um líder russo isolado atacar de maneiras ainda mais desestabilizadoras. “Tivemos tanto sucesso em desconectar Putin do sistema global que ele tem ainda mais incentivo para combatê-lo”, disse um alto funcionário de inteligência ao The New York Times. “E se ele ficar cada vez mais desesperado, pode tentar coisas que não parecem racionais.”

Segundo avaliações entregues à Casa Branca, Putin acredita que está vencendo a guerra, disse um alto funcionário americano sob condição de anonimato.

Ele claramente está agindo como um vencedor. Não é de surpreender que Putin não tenha recuado diante das sanções econômicas e outras medidas contra o seu país. Ele muitas vezes ignorou as sanções ocidentais, argumentando que poderia facilmente contorná-las.

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“Já podemos dizer com confiança que esta política em relação à Rússia falhou”, disse Putin na segunda-feira. “A estratégia de uma blitzkrieg econômica falhou.”

Putin foi imediatamente contrariado por sua própria chefe do banco central, Elvira Nabiullina. “No momento, talvez esse problema ainda não seja tão forte, porque ainda há reservas na economia”, disse ela. “Mas vemos que as sanções estão sendo reforçadas quase todos os dias”, continuou, acrescentando que “o período durante o qual a economia pode viver de reservas é finito”.

Mas essa realidade aparentemente ainda não se impôs. Na verdade, Putin se tornou mais beligerante, concentrando novas ofensivas contra Mariupol enquanto as forças russas buscam proteger toda a região de Donbas nas próximas semanas. Ele insistiu com visitantes como Nehammer que continua determinado a alcançar seus objetivos.

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Embora as baixas russas tenham sido altas e as ambições de Putin tenham diminuído na Ucrânia, as avaliações da inteligência americana concluíram que o presidente russo acredita que os esforços do Ocidente para puni-lo e conter o poder da Rússia fracassarão com o tempo. Com a ajuda da China, Índia e outras nações da Ásia, ele parece acreditar que pode evitar o verdadeiro isolamento, assim como fez após a anexação da Crimeia em 2014.

Agora, as autoridades americanas estão se preparando para o que cada vez mais parece um confronto longo e desgastante, e encontraram repetidos lembretes de Putin de que o mundo está mexendo com uma potência de armas nucleares e deve agir com cuidado.

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Na quarta-feira, depois de avisar o Pentágono de que um teste de míssil estava chegando - uma exigência do novo tratado START, que tem quatro anos restantes - Putin declarou que o lançamento deve “dar o que pensar para aqueles que, no calor de retórica agressiva frenética, tentem ameaçar nosso país.”

Na verdade, o míssil, se implantado, aumentaria apenas marginalmente as capacidades da Rússia. Mas o lançamento foi uma questão de tempo e simbolismo: ocorreu em meio às recentes advertências públicas, inclusive de Burns, de que havia uma chance pequena, mas crescente, de que Putin pudesse recorrer a ataques com armas químicas ou até mesmo a uma demonstração de detonação nuclear.

Se Putin voltar suas atenções para os Estados Unidos ou seus aliados, a suposição sempre foi de que a Rússia faria uso de seu arsenal cibernético para retaliar os efeitos das sanções sobre a economia russa. Mas oito semanas depois do conflito, não houve ataques cibernéticos significativos além do ruído de fundo habitual da ciberatividade diária russa nas redes americanas, incluindo ataques de ransomware.

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Autoridades dos EUA vêm alertando empresas financeiras, concessionárias de serviços públicos e outros há seis meses para se prepararem, e há um crescente corpo de evidências de que o Comando Cibernético dos EUA e seus equivalentes no Reino Unido e em outros lugares tomaram ações preventivas modestas contra as agências de inteligência russas que são mais ativas no ciberespaço.

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Desde sábado, civis não conseguiam sair da cidade por este dispositivo por falta de acordo entre Ucrânia e Rússia.

“Se os russos atacarem o Ocidente, a Otan ou os Estados Unidos, é uma decisão preocupante que tem consequências terríveis para ambos os lados”, disse Chris Inglis, primeiro diretor nacional de cibernética dos Estados Unidos, em um evento organizado pelo Conselho de Relações Estrangeiras.

Inglis disse que as agências governamentais e empresas americanas receberam amplo “aviso estratégico” e estavam em uma posição muito melhor para repelir ou se recuperar de tais ataques do que estariam há um ano.

Mas, apesar de todas essas ameaças, a posição americana tem sido continuar aumentando a pressão sobre Putin – de sanções a isolamento diplomático e fornecimento de armas mais poderosas aos militares ucranianos. “A Ucrânia já venceu a batalha por Kiev”, disse um funcionário do governo. Ele acrescentou que o governo “continuaria a fornecer à Ucrânia uma enorme quantidade de armas, treinamento e informações” para que “pudesse continuar vencendo”.

Está longe de ser claro se os ucranianos continuarão vencendo agora que a luta se afastou do cenário urbano de Kiev para um terreno mais familiar em Donbas.

A posição pública do governo americano é que nenhuma das sanções é permanente e que elas foram cuidadosamente elaboradas para que possam ser usadas a qualquer momento como fonte de alavancagem na resolução diplomática da guerra. Presumivelmente, isso exigiria que a Rússia retirasse todas as suas forças da Ucrânia e cessasse as hostilidades de uma forma que o secretário de Estado americano, Antony J. Blinken, chama de “irreversível”.

No momento, não há perspectiva disso no horizonte. Os ataques, observou recentemente um funcionário do governo, são mais bárbaros do que nunca e parecem prestes a aumentar. Mas os efeitos das sanções também parecem se tornar mais severos.

Falando no Instituto de Tecnologia da Geórgia na semana passada, Burns, ex-embaixador americano em Moscou, disse que Putin era “um apóstolo da vingança” que acredita que o Ocidente “aproveitou o momento de fraqueza histórica da Rússia na década de 1990″. Ele acrescentou que o pequeno círculo de conselheiros de Putin hesitaria em “questionar seu julgamento ou sua crença teimosa, quase mística, de que seu destino é restaurar a esfera de influência da Rússia”.

Isso significa fazer com que o Ocidente se afaste das fronteiras da Rússia e interromper a expansão da OTAN, que pode em breve se espalhar para a Finlândia e a Suécia, países visitados por um alto oficial de defesa americano esta semana para discutir uma possível adesão à aliança ocidental.

No início da guerra na Ucrânia, Putin colocou publicamente suas forças nucleares em estado de alerta mais alto como um sinal do poder da Rússia, embora Burns tenha dito que não há evidências de que as forças realmente tenham estado em alerta máximo.

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A ofensiva russa é contra o leste da Ucrânia, uma região parcialmente sob o controle de separatistas pró-russos e onde se intensificaram os combates.

O teste do míssil Sarmat, em desenvolvimento há anos, foi outro sinal misto. Embora Putin o tenha descrito como “capaz de superar todos os meios modernos de defesa antimísseis”, especialistas em armas dizem que isso é uma hipérbole. Mas a hipérbole se encaixa em um padrão.

Os historiadores da Guerra Fria apontam que pouco disso é novo. George F. Kennan, o arquiteto da “estratégia de contenção” – o esforço para limitar o poder soviético – sempre alertou que a contenção tinha seus limites. “Sua preocupação”, disse Michael Beschloss, historiador presidencial que escreveu extensivamente sobre aquela época, era que “se eles se tornarem uma nação pária, você não terá muita influência sobre eles”.

Nos próximos meses, isso também pode se tornar uma preocupação do presidente Biden.

WASHINGTON - A medida calculada do presidente russo, Vladimir Putin, de testar o lançamento de um novo míssil balístico intercontinental na quarta-feira, 20, alimentou uma preocupação crescente dentro do governo Biden: a de que a Rússia, hoje tão isolada do resto do mundo, se torne cada vez mais provocativa em relação ao Ocidente.

Mesmo antes do lançamento do míssil, autoridades americanas e líderes estrangeiros avaliavam se o sucesso em cortar a Rússia de grande parte da economia global, tornando-a um pária diplomático, poderia alimentar ainda mais a disposição de Putin de afirmar a força de seu país. O lançamento do míssil Sarmat com capacidade nuclear foi apenas o exemplo mais recente de como ele tentou lembrar ao mundo suas capacidades – no espaço, no ciberespaço e ao longo da costa da Europa – apesar dos primeiros contratempos em solo ucraniano.

“Ele está agora em sua própria lógica de guerra”, disse o chanceler Karl Nehammer, da Áustria, na semana passada, depois de se encontrar com Putin na Rússia. Ele descreveu o presidente russo como mais determinado do que nunca a combater o que vê como uma crescente ameaça do Ocidente e a recapturar a esfera de influência da Rússia na Europa Oriental.

William J. Burns, diretor da CIA, disse na semana passada que “todos os dias, Putin demonstra que os poderes em declínio podem ser pelo menos tão perturbadores quanto os em ascensão”, acrescentando que seu “apetite ao risco cresceu à medida que seu controle sobre a Rússia se fortaleceu”.

O presidente russo, Vladimir Putin, participa de reunião do Conselho de Segurança da ONU; EUA temem que Moscou se torne cada vez mais provocativa Foto: Nikhail Klimentyev/Sputnik

Em particular, as autoridades americanas foram mais diretas sobre o potencial de um líder russo isolado atacar de maneiras ainda mais desestabilizadoras. “Tivemos tanto sucesso em desconectar Putin do sistema global que ele tem ainda mais incentivo para combatê-lo”, disse um alto funcionário de inteligência ao The New York Times. “E se ele ficar cada vez mais desesperado, pode tentar coisas que não parecem racionais.”

Segundo avaliações entregues à Casa Branca, Putin acredita que está vencendo a guerra, disse um alto funcionário americano sob condição de anonimato.

Ele claramente está agindo como um vencedor. Não é de surpreender que Putin não tenha recuado diante das sanções econômicas e outras medidas contra o seu país. Ele muitas vezes ignorou as sanções ocidentais, argumentando que poderia facilmente contorná-las.

“Já podemos dizer com confiança que esta política em relação à Rússia falhou”, disse Putin na segunda-feira. “A estratégia de uma blitzkrieg econômica falhou.”

Putin foi imediatamente contrariado por sua própria chefe do banco central, Elvira Nabiullina. “No momento, talvez esse problema ainda não seja tão forte, porque ainda há reservas na economia”, disse ela. “Mas vemos que as sanções estão sendo reforçadas quase todos os dias”, continuou, acrescentando que “o período durante o qual a economia pode viver de reservas é finito”.

Mas essa realidade aparentemente ainda não se impôs. Na verdade, Putin se tornou mais beligerante, concentrando novas ofensivas contra Mariupol enquanto as forças russas buscam proteger toda a região de Donbas nas próximas semanas. Ele insistiu com visitantes como Nehammer que continua determinado a alcançar seus objetivos.

Embora as baixas russas tenham sido altas e as ambições de Putin tenham diminuído na Ucrânia, as avaliações da inteligência americana concluíram que o presidente russo acredita que os esforços do Ocidente para puni-lo e conter o poder da Rússia fracassarão com o tempo. Com a ajuda da China, Índia e outras nações da Ásia, ele parece acreditar que pode evitar o verdadeiro isolamento, assim como fez após a anexação da Crimeia em 2014.

Agora, as autoridades americanas estão se preparando para o que cada vez mais parece um confronto longo e desgastante, e encontraram repetidos lembretes de Putin de que o mundo está mexendo com uma potência de armas nucleares e deve agir com cuidado.

Na quarta-feira, depois de avisar o Pentágono de que um teste de míssil estava chegando - uma exigência do novo tratado START, que tem quatro anos restantes - Putin declarou que o lançamento deve “dar o que pensar para aqueles que, no calor de retórica agressiva frenética, tentem ameaçar nosso país.”

Na verdade, o míssil, se implantado, aumentaria apenas marginalmente as capacidades da Rússia. Mas o lançamento foi uma questão de tempo e simbolismo: ocorreu em meio às recentes advertências públicas, inclusive de Burns, de que havia uma chance pequena, mas crescente, de que Putin pudesse recorrer a ataques com armas químicas ou até mesmo a uma demonstração de detonação nuclear.

Se Putin voltar suas atenções para os Estados Unidos ou seus aliados, a suposição sempre foi de que a Rússia faria uso de seu arsenal cibernético para retaliar os efeitos das sanções sobre a economia russa. Mas oito semanas depois do conflito, não houve ataques cibernéticos significativos além do ruído de fundo habitual da ciberatividade diária russa nas redes americanas, incluindo ataques de ransomware.

Autoridades dos EUA vêm alertando empresas financeiras, concessionárias de serviços públicos e outros há seis meses para se prepararem, e há um crescente corpo de evidências de que o Comando Cibernético dos EUA e seus equivalentes no Reino Unido e em outros lugares tomaram ações preventivas modestas contra as agências de inteligência russas que são mais ativas no ciberespaço.

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Desde sábado, civis não conseguiam sair da cidade por este dispositivo por falta de acordo entre Ucrânia e Rússia.

“Se os russos atacarem o Ocidente, a Otan ou os Estados Unidos, é uma decisão preocupante que tem consequências terríveis para ambos os lados”, disse Chris Inglis, primeiro diretor nacional de cibernética dos Estados Unidos, em um evento organizado pelo Conselho de Relações Estrangeiras.

Inglis disse que as agências governamentais e empresas americanas receberam amplo “aviso estratégico” e estavam em uma posição muito melhor para repelir ou se recuperar de tais ataques do que estariam há um ano.

Mas, apesar de todas essas ameaças, a posição americana tem sido continuar aumentando a pressão sobre Putin – de sanções a isolamento diplomático e fornecimento de armas mais poderosas aos militares ucranianos. “A Ucrânia já venceu a batalha por Kiev”, disse um funcionário do governo. Ele acrescentou que o governo “continuaria a fornecer à Ucrânia uma enorme quantidade de armas, treinamento e informações” para que “pudesse continuar vencendo”.

Está longe de ser claro se os ucranianos continuarão vencendo agora que a luta se afastou do cenário urbano de Kiev para um terreno mais familiar em Donbas.

A posição pública do governo americano é que nenhuma das sanções é permanente e que elas foram cuidadosamente elaboradas para que possam ser usadas a qualquer momento como fonte de alavancagem na resolução diplomática da guerra. Presumivelmente, isso exigiria que a Rússia retirasse todas as suas forças da Ucrânia e cessasse as hostilidades de uma forma que o secretário de Estado americano, Antony J. Blinken, chama de “irreversível”.

No momento, não há perspectiva disso no horizonte. Os ataques, observou recentemente um funcionário do governo, são mais bárbaros do que nunca e parecem prestes a aumentar. Mas os efeitos das sanções também parecem se tornar mais severos.

Falando no Instituto de Tecnologia da Geórgia na semana passada, Burns, ex-embaixador americano em Moscou, disse que Putin era “um apóstolo da vingança” que acredita que o Ocidente “aproveitou o momento de fraqueza histórica da Rússia na década de 1990″. Ele acrescentou que o pequeno círculo de conselheiros de Putin hesitaria em “questionar seu julgamento ou sua crença teimosa, quase mística, de que seu destino é restaurar a esfera de influência da Rússia”.

Isso significa fazer com que o Ocidente se afaste das fronteiras da Rússia e interromper a expansão da OTAN, que pode em breve se espalhar para a Finlândia e a Suécia, países visitados por um alto oficial de defesa americano esta semana para discutir uma possível adesão à aliança ocidental.

No início da guerra na Ucrânia, Putin colocou publicamente suas forças nucleares em estado de alerta mais alto como um sinal do poder da Rússia, embora Burns tenha dito que não há evidências de que as forças realmente tenham estado em alerta máximo.

Seu navegador não suporta esse video.

A ofensiva russa é contra o leste da Ucrânia, uma região parcialmente sob o controle de separatistas pró-russos e onde se intensificaram os combates.

O teste do míssil Sarmat, em desenvolvimento há anos, foi outro sinal misto. Embora Putin o tenha descrito como “capaz de superar todos os meios modernos de defesa antimísseis”, especialistas em armas dizem que isso é uma hipérbole. Mas a hipérbole se encaixa em um padrão.

Os historiadores da Guerra Fria apontam que pouco disso é novo. George F. Kennan, o arquiteto da “estratégia de contenção” – o esforço para limitar o poder soviético – sempre alertou que a contenção tinha seus limites. “Sua preocupação”, disse Michael Beschloss, historiador presidencial que escreveu extensivamente sobre aquela época, era que “se eles se tornarem uma nação pária, você não terá muita influência sobre eles”.

Nos próximos meses, isso também pode se tornar uma preocupação do presidente Biden.

WASHINGTON - A medida calculada do presidente russo, Vladimir Putin, de testar o lançamento de um novo míssil balístico intercontinental na quarta-feira, 20, alimentou uma preocupação crescente dentro do governo Biden: a de que a Rússia, hoje tão isolada do resto do mundo, se torne cada vez mais provocativa em relação ao Ocidente.

Mesmo antes do lançamento do míssil, autoridades americanas e líderes estrangeiros avaliavam se o sucesso em cortar a Rússia de grande parte da economia global, tornando-a um pária diplomático, poderia alimentar ainda mais a disposição de Putin de afirmar a força de seu país. O lançamento do míssil Sarmat com capacidade nuclear foi apenas o exemplo mais recente de como ele tentou lembrar ao mundo suas capacidades – no espaço, no ciberespaço e ao longo da costa da Europa – apesar dos primeiros contratempos em solo ucraniano.

“Ele está agora em sua própria lógica de guerra”, disse o chanceler Karl Nehammer, da Áustria, na semana passada, depois de se encontrar com Putin na Rússia. Ele descreveu o presidente russo como mais determinado do que nunca a combater o que vê como uma crescente ameaça do Ocidente e a recapturar a esfera de influência da Rússia na Europa Oriental.

William J. Burns, diretor da CIA, disse na semana passada que “todos os dias, Putin demonstra que os poderes em declínio podem ser pelo menos tão perturbadores quanto os em ascensão”, acrescentando que seu “apetite ao risco cresceu à medida que seu controle sobre a Rússia se fortaleceu”.

O presidente russo, Vladimir Putin, participa de reunião do Conselho de Segurança da ONU; EUA temem que Moscou se torne cada vez mais provocativa Foto: Nikhail Klimentyev/Sputnik

Em particular, as autoridades americanas foram mais diretas sobre o potencial de um líder russo isolado atacar de maneiras ainda mais desestabilizadoras. “Tivemos tanto sucesso em desconectar Putin do sistema global que ele tem ainda mais incentivo para combatê-lo”, disse um alto funcionário de inteligência ao The New York Times. “E se ele ficar cada vez mais desesperado, pode tentar coisas que não parecem racionais.”

Segundo avaliações entregues à Casa Branca, Putin acredita que está vencendo a guerra, disse um alto funcionário americano sob condição de anonimato.

Ele claramente está agindo como um vencedor. Não é de surpreender que Putin não tenha recuado diante das sanções econômicas e outras medidas contra o seu país. Ele muitas vezes ignorou as sanções ocidentais, argumentando que poderia facilmente contorná-las.

“Já podemos dizer com confiança que esta política em relação à Rússia falhou”, disse Putin na segunda-feira. “A estratégia de uma blitzkrieg econômica falhou.”

Putin foi imediatamente contrariado por sua própria chefe do banco central, Elvira Nabiullina. “No momento, talvez esse problema ainda não seja tão forte, porque ainda há reservas na economia”, disse ela. “Mas vemos que as sanções estão sendo reforçadas quase todos os dias”, continuou, acrescentando que “o período durante o qual a economia pode viver de reservas é finito”.

Mas essa realidade aparentemente ainda não se impôs. Na verdade, Putin se tornou mais beligerante, concentrando novas ofensivas contra Mariupol enquanto as forças russas buscam proteger toda a região de Donbas nas próximas semanas. Ele insistiu com visitantes como Nehammer que continua determinado a alcançar seus objetivos.

Embora as baixas russas tenham sido altas e as ambições de Putin tenham diminuído na Ucrânia, as avaliações da inteligência americana concluíram que o presidente russo acredita que os esforços do Ocidente para puni-lo e conter o poder da Rússia fracassarão com o tempo. Com a ajuda da China, Índia e outras nações da Ásia, ele parece acreditar que pode evitar o verdadeiro isolamento, assim como fez após a anexação da Crimeia em 2014.

Agora, as autoridades americanas estão se preparando para o que cada vez mais parece um confronto longo e desgastante, e encontraram repetidos lembretes de Putin de que o mundo está mexendo com uma potência de armas nucleares e deve agir com cuidado.

Na quarta-feira, depois de avisar o Pentágono de que um teste de míssil estava chegando - uma exigência do novo tratado START, que tem quatro anos restantes - Putin declarou que o lançamento deve “dar o que pensar para aqueles que, no calor de retórica agressiva frenética, tentem ameaçar nosso país.”

Na verdade, o míssil, se implantado, aumentaria apenas marginalmente as capacidades da Rússia. Mas o lançamento foi uma questão de tempo e simbolismo: ocorreu em meio às recentes advertências públicas, inclusive de Burns, de que havia uma chance pequena, mas crescente, de que Putin pudesse recorrer a ataques com armas químicas ou até mesmo a uma demonstração de detonação nuclear.

Se Putin voltar suas atenções para os Estados Unidos ou seus aliados, a suposição sempre foi de que a Rússia faria uso de seu arsenal cibernético para retaliar os efeitos das sanções sobre a economia russa. Mas oito semanas depois do conflito, não houve ataques cibernéticos significativos além do ruído de fundo habitual da ciberatividade diária russa nas redes americanas, incluindo ataques de ransomware.

Autoridades dos EUA vêm alertando empresas financeiras, concessionárias de serviços públicos e outros há seis meses para se prepararem, e há um crescente corpo de evidências de que o Comando Cibernético dos EUA e seus equivalentes no Reino Unido e em outros lugares tomaram ações preventivas modestas contra as agências de inteligência russas que são mais ativas no ciberespaço.

Seu navegador não suporta esse video.

Desde sábado, civis não conseguiam sair da cidade por este dispositivo por falta de acordo entre Ucrânia e Rússia.

“Se os russos atacarem o Ocidente, a Otan ou os Estados Unidos, é uma decisão preocupante que tem consequências terríveis para ambos os lados”, disse Chris Inglis, primeiro diretor nacional de cibernética dos Estados Unidos, em um evento organizado pelo Conselho de Relações Estrangeiras.

Inglis disse que as agências governamentais e empresas americanas receberam amplo “aviso estratégico” e estavam em uma posição muito melhor para repelir ou se recuperar de tais ataques do que estariam há um ano.

Mas, apesar de todas essas ameaças, a posição americana tem sido continuar aumentando a pressão sobre Putin – de sanções a isolamento diplomático e fornecimento de armas mais poderosas aos militares ucranianos. “A Ucrânia já venceu a batalha por Kiev”, disse um funcionário do governo. Ele acrescentou que o governo “continuaria a fornecer à Ucrânia uma enorme quantidade de armas, treinamento e informações” para que “pudesse continuar vencendo”.

Está longe de ser claro se os ucranianos continuarão vencendo agora que a luta se afastou do cenário urbano de Kiev para um terreno mais familiar em Donbas.

A posição pública do governo americano é que nenhuma das sanções é permanente e que elas foram cuidadosamente elaboradas para que possam ser usadas a qualquer momento como fonte de alavancagem na resolução diplomática da guerra. Presumivelmente, isso exigiria que a Rússia retirasse todas as suas forças da Ucrânia e cessasse as hostilidades de uma forma que o secretário de Estado americano, Antony J. Blinken, chama de “irreversível”.

No momento, não há perspectiva disso no horizonte. Os ataques, observou recentemente um funcionário do governo, são mais bárbaros do que nunca e parecem prestes a aumentar. Mas os efeitos das sanções também parecem se tornar mais severos.

Falando no Instituto de Tecnologia da Geórgia na semana passada, Burns, ex-embaixador americano em Moscou, disse que Putin era “um apóstolo da vingança” que acredita que o Ocidente “aproveitou o momento de fraqueza histórica da Rússia na década de 1990″. Ele acrescentou que o pequeno círculo de conselheiros de Putin hesitaria em “questionar seu julgamento ou sua crença teimosa, quase mística, de que seu destino é restaurar a esfera de influência da Rússia”.

Isso significa fazer com que o Ocidente se afaste das fronteiras da Rússia e interromper a expansão da OTAN, que pode em breve se espalhar para a Finlândia e a Suécia, países visitados por um alto oficial de defesa americano esta semana para discutir uma possível adesão à aliança ocidental.

No início da guerra na Ucrânia, Putin colocou publicamente suas forças nucleares em estado de alerta mais alto como um sinal do poder da Rússia, embora Burns tenha dito que não há evidências de que as forças realmente tenham estado em alerta máximo.

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A ofensiva russa é contra o leste da Ucrânia, uma região parcialmente sob o controle de separatistas pró-russos e onde se intensificaram os combates.

O teste do míssil Sarmat, em desenvolvimento há anos, foi outro sinal misto. Embora Putin o tenha descrito como “capaz de superar todos os meios modernos de defesa antimísseis”, especialistas em armas dizem que isso é uma hipérbole. Mas a hipérbole se encaixa em um padrão.

Os historiadores da Guerra Fria apontam que pouco disso é novo. George F. Kennan, o arquiteto da “estratégia de contenção” – o esforço para limitar o poder soviético – sempre alertou que a contenção tinha seus limites. “Sua preocupação”, disse Michael Beschloss, historiador presidencial que escreveu extensivamente sobre aquela época, era que “se eles se tornarem uma nação pária, você não terá muita influência sobre eles”.

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