The Economist: Como impedir que Vladimir Putin invada a Ucrânia


Enquanto o atual presidente russo estiver no comando, a Rússia continuará sendo um perigo para seus vizinhos

Por The Economist

LONDRES - União Soviética deixou de existir. Mikhail Gorbachev, seu último líder, disse que, mesmo que o futuro fosse incerto, pelo menos “nós tínhamos abandonado a prática de interferir nos assuntos internos dos outros e usar tropas no exterior”.

Militares ucranianos entram em formação em trincheira na cidade de Avdiika, no front do conflito com separatistas Foto: Brendan Hoffman/The New York Times

Trinta anos depois, a Rússia, sucessora da União Soviética, está mais uma vez envolvida em uma conversa sobre interferência externa. Com Vladimir Putin, o país é comandado por um homem que lamenta o fim da URSS. Putin ressente-se da maneira como dois Estados eslavos, Ucrânia e Belarus, escaparam do controle de Moscou

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Recentemente, ele reafirmou um grande grau de influência sobre Belarus, depois que o déspota acusado de fraude eleitoral pediu ajuda a ele. E está reunindo soldados na fronteira da Ucrânia – mais de 100 mil – com acesso a linhas de abastecimento, hospitais de campanha e reforços. A inteligência americana teme que ele possa invadir a Ucrânia. O que pode ser feito para detê-lo?

As Forças Armadas da Ucrânia, apesar de estarem melhores do que quando Putin começou a abocanhar pedaços do país, em 2014, não são fortes para impedir uma invasão. Não há chance de os países da Otan intervirem militarmente para defender a Ucrânia. Eles não querem, e nem deveriam, uma guerra com uma Rússia com armas nucleares. Contudo, há modos de aumentar os custos da invasão para Putin.

Alguns modos são econômicos. Joe Biden, presidente dos EUA, conversou com Putin no início de dezembro. Ele diz ter ameaçado sanções econômicas severas à Rússia caso ela atacasse a Ucrânia novamente – o país já anexou a Crimeia e ajudou rebeldes pró-Rússia em um conflito na Bacia do Don, no leste da Ucrânia. 

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Fala-se ainda de retirar a Rússia do Swift, sistema que permite pagamentos internacionais. Isso prejudicaria a Rússia, mas é uma má ideia, pois atrapalharia outras economias e daria início a uma corrida por parte de outros regimes autocráticos. A mesma dissuasão poderia ser alcançada, com menos efeitos colaterais, ameaçando banir instituições financeiras russas individualmente. Enquanto isso, os EUA devem se apresentar como uma frente unida com os aliados europeus. Para começar, a Alemanha não deveria aprovar o Nord Stream 2, gasoduto russo recém-construído que ignora a Ucrânia.

Militares ucranianosalinhados em trincheira próxima ao front Foto: Brendan Hoffman/The New York Times

Um segundo meio é militar. Embora a Rússia pudesse facilmente invadir a Ucrânia, ocupar um país por longo período é outra história, como os EUA descobriram no Iraque. A Ucrânia precisa se tornar indigesta. Para ajudar isso acontecer, o Ocidente deveria fornecer mais ajuda financeira e armas defensivas ao país. As ações de Putin desde 2014 garantiram que grande parte dos ucranianos, mesmo a maioria daqueles de etnia russa, resistisse ao controle russo.

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Ao mesmo tempo, os diplomatas do Ocidente devem buscar maneiras de atenuar o conflito iminente. Isso é complicado, porque as exigências de Putin não são nem razoáveis, nem verdadeiras. Ele diz que a Otan representa uma ameaça. Não é verdade. Ele faz essa alegação porque uma Ucrânia funcional e democrática em sua fronteira desacredita seu sistema autoritário. E porque seu discurso sobre defender a Rússia de inimigos externos imaginários é uma boa maneira de conquistar apoio. Em pesquisa recente, apenas 4% dos russos disseram que as tensões no leste da Ucrânia eram culpa da Rússia, enquanto metade culpava os EUA e a Otan.

Biden está certo em conversar com Putin e deveria continuar fazendo isso. Ele deveria tentar encontrar maneiras para proteger a reputação de Putin e fazê-lo recuar. Já que Putin controla como suas ações são retratadas na TV russa, isso não seria impossível. Biden poderia deixar claro, mais uma vez, que a Ucrânia não está prestes a ingressar na Otan, por exemplo, embora ele não devesse conceder um veto formal à Rússia.

Putin quer que os EUA façam com que a Ucrânia ponha em prática a visão dele do pacto de Minsk, um acordo de paz imposto à Ucrânia sob a mira de uma arma depois que as forças russas derrotaram os ucranianos há sete anos. Ele espera criar um Estado federal na Ucrânia, com a Rússia dando as cartas no leste, controlando parte da fronteira e tendo uma grande influência na política externa. 

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Mesmo quando sob fogo inimigo, os soldados ucranianos estão sob ordens estritas de não responder a menos que seja absolutamente necessário Foto: Brendan Hoffman/The New York Times

A Ucrânia resistiu a isso cercando a Bacia do Don, não fazendo nenhum esforço para recuperar seu território perdido e forjando um Estado unitário e descentralizado que, na prática, o exclui. Após muitas mortes e o deslocamento de 1,5 milhão de pessoas, a reintegração da região à Ucrânia é atualmente quase impossível, e muitos ucranianos não querem mais isso, embora não digam em voz alta.

Não há uma solução simples para essa confusão, então a melhor estratégia é continuar conversando, com duas ressalvas. Primeiro, o governo ucraniano deve estar presente no diálogo. Putin não deve ser encorajado a tratar o país como uma marionete do Ocidente, já que ele não é. 

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Segundo, o objetivo deve ser tornar desinteressante para Putin até mesmo uma guerra menor. Ele talvez calcule que tem mais a ganhar e menos a perder ao ameaçar a Ucrânia, em vez de invadi-la. Mas ele é especialista em encontrar pretextos para pequenos atos de agressão, os quais nega descaradamente estar cometendo, mesmo quando eles são mostrados pelas telas de TV. Enquanto Putin estiver no comando, a Rússia continuará sendo um perigo para seus vizinhos. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

LONDRES - União Soviética deixou de existir. Mikhail Gorbachev, seu último líder, disse que, mesmo que o futuro fosse incerto, pelo menos “nós tínhamos abandonado a prática de interferir nos assuntos internos dos outros e usar tropas no exterior”.

Militares ucranianos entram em formação em trincheira na cidade de Avdiika, no front do conflito com separatistas Foto: Brendan Hoffman/The New York Times

Trinta anos depois, a Rússia, sucessora da União Soviética, está mais uma vez envolvida em uma conversa sobre interferência externa. Com Vladimir Putin, o país é comandado por um homem que lamenta o fim da URSS. Putin ressente-se da maneira como dois Estados eslavos, Ucrânia e Belarus, escaparam do controle de Moscou

Recentemente, ele reafirmou um grande grau de influência sobre Belarus, depois que o déspota acusado de fraude eleitoral pediu ajuda a ele. E está reunindo soldados na fronteira da Ucrânia – mais de 100 mil – com acesso a linhas de abastecimento, hospitais de campanha e reforços. A inteligência americana teme que ele possa invadir a Ucrânia. O que pode ser feito para detê-lo?

As Forças Armadas da Ucrânia, apesar de estarem melhores do que quando Putin começou a abocanhar pedaços do país, em 2014, não são fortes para impedir uma invasão. Não há chance de os países da Otan intervirem militarmente para defender a Ucrânia. Eles não querem, e nem deveriam, uma guerra com uma Rússia com armas nucleares. Contudo, há modos de aumentar os custos da invasão para Putin.

Alguns modos são econômicos. Joe Biden, presidente dos EUA, conversou com Putin no início de dezembro. Ele diz ter ameaçado sanções econômicas severas à Rússia caso ela atacasse a Ucrânia novamente – o país já anexou a Crimeia e ajudou rebeldes pró-Rússia em um conflito na Bacia do Don, no leste da Ucrânia. 

Fala-se ainda de retirar a Rússia do Swift, sistema que permite pagamentos internacionais. Isso prejudicaria a Rússia, mas é uma má ideia, pois atrapalharia outras economias e daria início a uma corrida por parte de outros regimes autocráticos. A mesma dissuasão poderia ser alcançada, com menos efeitos colaterais, ameaçando banir instituições financeiras russas individualmente. Enquanto isso, os EUA devem se apresentar como uma frente unida com os aliados europeus. Para começar, a Alemanha não deveria aprovar o Nord Stream 2, gasoduto russo recém-construído que ignora a Ucrânia.

Militares ucranianosalinhados em trincheira próxima ao front Foto: Brendan Hoffman/The New York Times

Um segundo meio é militar. Embora a Rússia pudesse facilmente invadir a Ucrânia, ocupar um país por longo período é outra história, como os EUA descobriram no Iraque. A Ucrânia precisa se tornar indigesta. Para ajudar isso acontecer, o Ocidente deveria fornecer mais ajuda financeira e armas defensivas ao país. As ações de Putin desde 2014 garantiram que grande parte dos ucranianos, mesmo a maioria daqueles de etnia russa, resistisse ao controle russo.

Ao mesmo tempo, os diplomatas do Ocidente devem buscar maneiras de atenuar o conflito iminente. Isso é complicado, porque as exigências de Putin não são nem razoáveis, nem verdadeiras. Ele diz que a Otan representa uma ameaça. Não é verdade. Ele faz essa alegação porque uma Ucrânia funcional e democrática em sua fronteira desacredita seu sistema autoritário. E porque seu discurso sobre defender a Rússia de inimigos externos imaginários é uma boa maneira de conquistar apoio. Em pesquisa recente, apenas 4% dos russos disseram que as tensões no leste da Ucrânia eram culpa da Rússia, enquanto metade culpava os EUA e a Otan.

Biden está certo em conversar com Putin e deveria continuar fazendo isso. Ele deveria tentar encontrar maneiras para proteger a reputação de Putin e fazê-lo recuar. Já que Putin controla como suas ações são retratadas na TV russa, isso não seria impossível. Biden poderia deixar claro, mais uma vez, que a Ucrânia não está prestes a ingressar na Otan, por exemplo, embora ele não devesse conceder um veto formal à Rússia.

Putin quer que os EUA façam com que a Ucrânia ponha em prática a visão dele do pacto de Minsk, um acordo de paz imposto à Ucrânia sob a mira de uma arma depois que as forças russas derrotaram os ucranianos há sete anos. Ele espera criar um Estado federal na Ucrânia, com a Rússia dando as cartas no leste, controlando parte da fronteira e tendo uma grande influência na política externa. 

Mesmo quando sob fogo inimigo, os soldados ucranianos estão sob ordens estritas de não responder a menos que seja absolutamente necessário Foto: Brendan Hoffman/The New York Times

A Ucrânia resistiu a isso cercando a Bacia do Don, não fazendo nenhum esforço para recuperar seu território perdido e forjando um Estado unitário e descentralizado que, na prática, o exclui. Após muitas mortes e o deslocamento de 1,5 milhão de pessoas, a reintegração da região à Ucrânia é atualmente quase impossível, e muitos ucranianos não querem mais isso, embora não digam em voz alta.

Não há uma solução simples para essa confusão, então a melhor estratégia é continuar conversando, com duas ressalvas. Primeiro, o governo ucraniano deve estar presente no diálogo. Putin não deve ser encorajado a tratar o país como uma marionete do Ocidente, já que ele não é. 

Segundo, o objetivo deve ser tornar desinteressante para Putin até mesmo uma guerra menor. Ele talvez calcule que tem mais a ganhar e menos a perder ao ameaçar a Ucrânia, em vez de invadi-la. Mas ele é especialista em encontrar pretextos para pequenos atos de agressão, os quais nega descaradamente estar cometendo, mesmo quando eles são mostrados pelas telas de TV. Enquanto Putin estiver no comando, a Rússia continuará sendo um perigo para seus vizinhos. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

LONDRES - União Soviética deixou de existir. Mikhail Gorbachev, seu último líder, disse que, mesmo que o futuro fosse incerto, pelo menos “nós tínhamos abandonado a prática de interferir nos assuntos internos dos outros e usar tropas no exterior”.

Militares ucranianos entram em formação em trincheira na cidade de Avdiika, no front do conflito com separatistas Foto: Brendan Hoffman/The New York Times

Trinta anos depois, a Rússia, sucessora da União Soviética, está mais uma vez envolvida em uma conversa sobre interferência externa. Com Vladimir Putin, o país é comandado por um homem que lamenta o fim da URSS. Putin ressente-se da maneira como dois Estados eslavos, Ucrânia e Belarus, escaparam do controle de Moscou

Recentemente, ele reafirmou um grande grau de influência sobre Belarus, depois que o déspota acusado de fraude eleitoral pediu ajuda a ele. E está reunindo soldados na fronteira da Ucrânia – mais de 100 mil – com acesso a linhas de abastecimento, hospitais de campanha e reforços. A inteligência americana teme que ele possa invadir a Ucrânia. O que pode ser feito para detê-lo?

As Forças Armadas da Ucrânia, apesar de estarem melhores do que quando Putin começou a abocanhar pedaços do país, em 2014, não são fortes para impedir uma invasão. Não há chance de os países da Otan intervirem militarmente para defender a Ucrânia. Eles não querem, e nem deveriam, uma guerra com uma Rússia com armas nucleares. Contudo, há modos de aumentar os custos da invasão para Putin.

Alguns modos são econômicos. Joe Biden, presidente dos EUA, conversou com Putin no início de dezembro. Ele diz ter ameaçado sanções econômicas severas à Rússia caso ela atacasse a Ucrânia novamente – o país já anexou a Crimeia e ajudou rebeldes pró-Rússia em um conflito na Bacia do Don, no leste da Ucrânia. 

Fala-se ainda de retirar a Rússia do Swift, sistema que permite pagamentos internacionais. Isso prejudicaria a Rússia, mas é uma má ideia, pois atrapalharia outras economias e daria início a uma corrida por parte de outros regimes autocráticos. A mesma dissuasão poderia ser alcançada, com menos efeitos colaterais, ameaçando banir instituições financeiras russas individualmente. Enquanto isso, os EUA devem se apresentar como uma frente unida com os aliados europeus. Para começar, a Alemanha não deveria aprovar o Nord Stream 2, gasoduto russo recém-construído que ignora a Ucrânia.

Militares ucranianosalinhados em trincheira próxima ao front Foto: Brendan Hoffman/The New York Times

Um segundo meio é militar. Embora a Rússia pudesse facilmente invadir a Ucrânia, ocupar um país por longo período é outra história, como os EUA descobriram no Iraque. A Ucrânia precisa se tornar indigesta. Para ajudar isso acontecer, o Ocidente deveria fornecer mais ajuda financeira e armas defensivas ao país. As ações de Putin desde 2014 garantiram que grande parte dos ucranianos, mesmo a maioria daqueles de etnia russa, resistisse ao controle russo.

Ao mesmo tempo, os diplomatas do Ocidente devem buscar maneiras de atenuar o conflito iminente. Isso é complicado, porque as exigências de Putin não são nem razoáveis, nem verdadeiras. Ele diz que a Otan representa uma ameaça. Não é verdade. Ele faz essa alegação porque uma Ucrânia funcional e democrática em sua fronteira desacredita seu sistema autoritário. E porque seu discurso sobre defender a Rússia de inimigos externos imaginários é uma boa maneira de conquistar apoio. Em pesquisa recente, apenas 4% dos russos disseram que as tensões no leste da Ucrânia eram culpa da Rússia, enquanto metade culpava os EUA e a Otan.

Biden está certo em conversar com Putin e deveria continuar fazendo isso. Ele deveria tentar encontrar maneiras para proteger a reputação de Putin e fazê-lo recuar. Já que Putin controla como suas ações são retratadas na TV russa, isso não seria impossível. Biden poderia deixar claro, mais uma vez, que a Ucrânia não está prestes a ingressar na Otan, por exemplo, embora ele não devesse conceder um veto formal à Rússia.

Putin quer que os EUA façam com que a Ucrânia ponha em prática a visão dele do pacto de Minsk, um acordo de paz imposto à Ucrânia sob a mira de uma arma depois que as forças russas derrotaram os ucranianos há sete anos. Ele espera criar um Estado federal na Ucrânia, com a Rússia dando as cartas no leste, controlando parte da fronteira e tendo uma grande influência na política externa. 

Mesmo quando sob fogo inimigo, os soldados ucranianos estão sob ordens estritas de não responder a menos que seja absolutamente necessário Foto: Brendan Hoffman/The New York Times

A Ucrânia resistiu a isso cercando a Bacia do Don, não fazendo nenhum esforço para recuperar seu território perdido e forjando um Estado unitário e descentralizado que, na prática, o exclui. Após muitas mortes e o deslocamento de 1,5 milhão de pessoas, a reintegração da região à Ucrânia é atualmente quase impossível, e muitos ucranianos não querem mais isso, embora não digam em voz alta.

Não há uma solução simples para essa confusão, então a melhor estratégia é continuar conversando, com duas ressalvas. Primeiro, o governo ucraniano deve estar presente no diálogo. Putin não deve ser encorajado a tratar o país como uma marionete do Ocidente, já que ele não é. 

Segundo, o objetivo deve ser tornar desinteressante para Putin até mesmo uma guerra menor. Ele talvez calcule que tem mais a ganhar e menos a perder ao ameaçar a Ucrânia, em vez de invadi-la. Mas ele é especialista em encontrar pretextos para pequenos atos de agressão, os quais nega descaradamente estar cometendo, mesmo quando eles são mostrados pelas telas de TV. Enquanto Putin estiver no comando, a Rússia continuará sendo um perigo para seus vizinhos. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

LONDRES - União Soviética deixou de existir. Mikhail Gorbachev, seu último líder, disse que, mesmo que o futuro fosse incerto, pelo menos “nós tínhamos abandonado a prática de interferir nos assuntos internos dos outros e usar tropas no exterior”.

Militares ucranianos entram em formação em trincheira na cidade de Avdiika, no front do conflito com separatistas Foto: Brendan Hoffman/The New York Times

Trinta anos depois, a Rússia, sucessora da União Soviética, está mais uma vez envolvida em uma conversa sobre interferência externa. Com Vladimir Putin, o país é comandado por um homem que lamenta o fim da URSS. Putin ressente-se da maneira como dois Estados eslavos, Ucrânia e Belarus, escaparam do controle de Moscou

Recentemente, ele reafirmou um grande grau de influência sobre Belarus, depois que o déspota acusado de fraude eleitoral pediu ajuda a ele. E está reunindo soldados na fronteira da Ucrânia – mais de 100 mil – com acesso a linhas de abastecimento, hospitais de campanha e reforços. A inteligência americana teme que ele possa invadir a Ucrânia. O que pode ser feito para detê-lo?

As Forças Armadas da Ucrânia, apesar de estarem melhores do que quando Putin começou a abocanhar pedaços do país, em 2014, não são fortes para impedir uma invasão. Não há chance de os países da Otan intervirem militarmente para defender a Ucrânia. Eles não querem, e nem deveriam, uma guerra com uma Rússia com armas nucleares. Contudo, há modos de aumentar os custos da invasão para Putin.

Alguns modos são econômicos. Joe Biden, presidente dos EUA, conversou com Putin no início de dezembro. Ele diz ter ameaçado sanções econômicas severas à Rússia caso ela atacasse a Ucrânia novamente – o país já anexou a Crimeia e ajudou rebeldes pró-Rússia em um conflito na Bacia do Don, no leste da Ucrânia. 

Fala-se ainda de retirar a Rússia do Swift, sistema que permite pagamentos internacionais. Isso prejudicaria a Rússia, mas é uma má ideia, pois atrapalharia outras economias e daria início a uma corrida por parte de outros regimes autocráticos. A mesma dissuasão poderia ser alcançada, com menos efeitos colaterais, ameaçando banir instituições financeiras russas individualmente. Enquanto isso, os EUA devem se apresentar como uma frente unida com os aliados europeus. Para começar, a Alemanha não deveria aprovar o Nord Stream 2, gasoduto russo recém-construído que ignora a Ucrânia.

Militares ucranianosalinhados em trincheira próxima ao front Foto: Brendan Hoffman/The New York Times

Um segundo meio é militar. Embora a Rússia pudesse facilmente invadir a Ucrânia, ocupar um país por longo período é outra história, como os EUA descobriram no Iraque. A Ucrânia precisa se tornar indigesta. Para ajudar isso acontecer, o Ocidente deveria fornecer mais ajuda financeira e armas defensivas ao país. As ações de Putin desde 2014 garantiram que grande parte dos ucranianos, mesmo a maioria daqueles de etnia russa, resistisse ao controle russo.

Ao mesmo tempo, os diplomatas do Ocidente devem buscar maneiras de atenuar o conflito iminente. Isso é complicado, porque as exigências de Putin não são nem razoáveis, nem verdadeiras. Ele diz que a Otan representa uma ameaça. Não é verdade. Ele faz essa alegação porque uma Ucrânia funcional e democrática em sua fronteira desacredita seu sistema autoritário. E porque seu discurso sobre defender a Rússia de inimigos externos imaginários é uma boa maneira de conquistar apoio. Em pesquisa recente, apenas 4% dos russos disseram que as tensões no leste da Ucrânia eram culpa da Rússia, enquanto metade culpava os EUA e a Otan.

Biden está certo em conversar com Putin e deveria continuar fazendo isso. Ele deveria tentar encontrar maneiras para proteger a reputação de Putin e fazê-lo recuar. Já que Putin controla como suas ações são retratadas na TV russa, isso não seria impossível. Biden poderia deixar claro, mais uma vez, que a Ucrânia não está prestes a ingressar na Otan, por exemplo, embora ele não devesse conceder um veto formal à Rússia.

Putin quer que os EUA façam com que a Ucrânia ponha em prática a visão dele do pacto de Minsk, um acordo de paz imposto à Ucrânia sob a mira de uma arma depois que as forças russas derrotaram os ucranianos há sete anos. Ele espera criar um Estado federal na Ucrânia, com a Rússia dando as cartas no leste, controlando parte da fronteira e tendo uma grande influência na política externa. 

Mesmo quando sob fogo inimigo, os soldados ucranianos estão sob ordens estritas de não responder a menos que seja absolutamente necessário Foto: Brendan Hoffman/The New York Times

A Ucrânia resistiu a isso cercando a Bacia do Don, não fazendo nenhum esforço para recuperar seu território perdido e forjando um Estado unitário e descentralizado que, na prática, o exclui. Após muitas mortes e o deslocamento de 1,5 milhão de pessoas, a reintegração da região à Ucrânia é atualmente quase impossível, e muitos ucranianos não querem mais isso, embora não digam em voz alta.

Não há uma solução simples para essa confusão, então a melhor estratégia é continuar conversando, com duas ressalvas. Primeiro, o governo ucraniano deve estar presente no diálogo. Putin não deve ser encorajado a tratar o país como uma marionete do Ocidente, já que ele não é. 

Segundo, o objetivo deve ser tornar desinteressante para Putin até mesmo uma guerra menor. Ele talvez calcule que tem mais a ganhar e menos a perder ao ameaçar a Ucrânia, em vez de invadi-la. Mas ele é especialista em encontrar pretextos para pequenos atos de agressão, os quais nega descaradamente estar cometendo, mesmo quando eles são mostrados pelas telas de TV. Enquanto Putin estiver no comando, a Rússia continuará sendo um perigo para seus vizinhos. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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