The Economist: Como o risco do nacional-conservadorismo cresce nas novas dinâmicas globais


O nacional-conservadorismo é perigoso e está se espalhando pelo mundo; progressistas precisam encontrar uma maneira de impedi-lo

Por The Economist

Nos anos 80, Ronald Reagan e Margaret Thatcher construíram um novo conservadorismo em torno de mercados e liberdades. Hoje, Donald Trump, Viktor Orbán e uma trupe heterogênea de políticos ocidentais demoliram aquela ortodoxia, construindo em seu lugar um conservadorismo estatizante e “antilacração”, que coloca soberania nacional acima do indivíduo. Esses nacional-conservadores são cada vez mais parte de um movimento global com redes próprias de pensadores e líderes ligados por uma ideologia em comum. Eles se sentem donos do conservadorismo hoje — e podem estar certos.

Apesar do nome, o nacional-conservadorismo não poderia ser mais diferente das ideia de Reagan e Thatcher. Em vez de céticos em relação ao Estado grande, os nacional-conservadores consideram que as pessoas comuns são assoladas por forças globais impessoais e que o Estado é seu salvador.

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Ao contrário de Reagan e Thatcher, eles odeiam combinar soberanias em organizações multilaterais, suspeitam que os livres mercados são manipulados por elites e são hostis à imigração. Eles desprezam qualquer pluralismo, especialmente o multicultural. Nacional-conservadores são obcecados em desmantelar instituições que consideram manchadas por lacrações e globalismos.

O candidato presidencial republicano e ex-presidente dos EUA, Donald Trump, realiza um comício de campanha na Coastal Carolina University antes das primárias presidenciais republicanas da Carolina do Sul em Conway, Carolina do Sul, EUA, em 10 de fevereiro de 2024.  Foto: Sam Wolfe / REUTERS

Em vez de ostentar uma crença solar no progresso, os nacional-conservadores são possuídos por um declinarismo. William Buckley, um pensador à moda antiga, gracejou certa vez afirmando que “Um conservador é alguém que fica atravessado no caminho da história, gritando ‘pare’”. Em comparação, os nacional-conservadores são revolucionários. Eles não veem o Ocidente como a cidade iluminada no topo da colina, mas como Roma antes da queda: decadente, depravada e prestes a ruir em meio a uma invasão bárbara. Não contentes com o progresso que resiste, eles querem destruir também o liberalismo clássico.

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Alguns esperam que todo esse movimento vá se dissipar. Nacional-conservadores são incoerentes demais para representar uma ameaça, afirmam. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, apoia a Ucrânia. O partido polonês Lei e Justiça (PLJ) é antigay; na França, Marine Le Pen é permissiva.

Além disso, obsessão com soberania nacional pioraria a situação das pessoas conforme o comércio colapsa, o crescimento econômico empaca e os direitos civis são tolhidos. Eleitores certamente escolheriam restaurar o mundo fabricado pelo liberalismo.

Essa visão é imperdoavelmente complacente. O nacional-conservadorismo é a política do ressentimento: se políticas produzem resultados ruins, seus líderes colocarão a culpa em globalistas e imigrantes, e essa alegação apenas prova o quanto há de errado com o mundo.

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Apesar de todas as suas contradições, os nacional-conservadores foram capazes de se unir em torno de sua hostilidade em relação a inimigos em comum, incluindo migrantes (especialmente muçulmanos), globalistas e todos os seus supostos cúmplices. Nove meses antes da eleição americana, Trump já está minando a Otan.

Nacional-conservadores também merecem ser levados a sério em razão de seus prospectos eleitorais. Trump lidera as pesquisas nos Estados Unidos. A previsão é que a extrema direita desempenhe bem nas eleições para o Parlamento Europeu, em junho. Na Alemanha, em dezembro, o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha alcançou um pico-recorde, de 23%, nas pesquisas. Antecipando uma derrota eleitoral para Rishi Sunak, tories estridentemente pró-Brexit e anti-imigração conspiram para tomar controle de seu partido. Em 2027, Le Pen poderia muito bem se tornar presidente da França.

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E nacional-conservadores importam porque, quando eles conseguem ascender ao poder, tudo muda. Ao encarregar-se de capturar instituições do Estado, incluindo tribunais, universidades e a imprensa independente, eles cimentam seu controle. Foi isso o que o partido Fidesz, de Orbán, fez na Hungria. Nos EUA, Trump tem sido explícito a respeito de suas pretensões autocráticas. Pessoas que trabalham para ele formularam minutas de memorandos que definem um programa para capturar a burocracia federal.

O então presidente dos EUA, Donald Trump, recebe o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban na Casa Branca, em Washington, na segunda-feira, 13 de maio de 2019.  Foto: Manuel Balce Ceneta / AP

Uma vez que as instituições ficam enfraquecidas, pode ser difícil restaurá-las. Na Polônia, o PLJ teve a mesma agenda, antes de ser retirado do poder, em eleições, no ano passado. A coalizão de centro-direita que o derrotou agora enfrenta dificuldades para afirmar seu controle.

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Como, então, conservadores à moda antiga e progressistas clássicos devem lidar com o nacional-conservadorismo? Uma resposta é levar as queixas legítimas das pessoas a sério. Cidadãos de muitos países ocidentais consideram imigração ilegal uma fonte de desordem e gasto de dinheiro público. Eles se preocupam com a possibilidade de seus filhos ficarem mais pobres. Temem perder seus empregos para novas tecnologias.

Acreditam que instituições como universidades e a imprensa foram capturadas por elites hostis, iliberais e esquerdistas. Consideram os globalistas que prosperaram nas décadas recentes membros de uma casta egoísta e arrogante, de pessoas que gostam de acreditar que ascenderam ao topo em um sistema meritocrático quando, na realidade, herdaram seu sucesso.

Essas queixas têm seus méritos, e desdenhar delas apenas confirma o grau de alienação que impregnou as elites. Em vez disso, progressistas e conservadores à moda antiga precisam de políticas para lidar com elas. Imigração legal fica mais fácil quando a ilegal é combatida. Regras de planejamento restritivas excluem jovens do mercado de imóveis. Lojas fechadas precisam ser resgatadas.

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Para ter a sociedade verdadeiramente aberta que afirmam desejar, os progressistas têm de pressionar para que instituições intelectuais de elite — grandes empresas, jornais e universidades — encarnem os princípios do liberalismo em vez de sucumbir à censura e ao pensamento de grupo. Apesar de todas as esquerdas e direitas iliberais serem inimigas mortais, suas algazarras de alta octanagem a respeito de lacrações sustentam-se mutuamente.

Marine Le Pen (esq.), presidente do grupo "Rassemblement National" (RN) na Assembleia Nacional, e Jean-Philippe Tanguy, deputado do "Rassemblement National", chegam para assistir ao discurso de Ano Novo do presidente do "Rassemblement National" em Paris, em 15 de janeiro de 2024. Foto: BERTRAND GUAY / AFP

Para diminuir o medo nacional-conservador de que o modo de vida das pessoas está sob ameaça, os progressistas também precisam fincar suas reivindicações em algumas ideias de seus oponentes. Em vez de sinalizar virtudes, deveriam reconhecer que também podem ser iliberais.

Se forem reticentes demais na defesa de princípios como liberdade de expressão e de direitos individuais contra os excessos da esquerda, os progressistas fatalmente minarão sua capacidade de defendê-los contra a direita. Em vez de ceder o poder dos mitos e símbolos nacionais para políticos oportunistas, os progressistas precisam superar seu constrangimento com o patriotismo, o amor natural de um indivíduo por seu país.

A grande força do liberalismo é sua adaptabilidade. Os movimentos abolicionista e feminista arrebentaram com a ideia de que certas pessoas são mais importantes que outras. Argumentos socialistas por equidade e dignidade humana ajudaram a criar o Estado de bem-estar social. Argumentos libertários por liberdade e eficiência levaram a mercados mais livres e a um limite sobre o poder do Estado. O liberalismo também é capaz de se adaptar ao nacional-conservadorismo. Mas neste momento, está ficando para trás. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Nos anos 80, Ronald Reagan e Margaret Thatcher construíram um novo conservadorismo em torno de mercados e liberdades. Hoje, Donald Trump, Viktor Orbán e uma trupe heterogênea de políticos ocidentais demoliram aquela ortodoxia, construindo em seu lugar um conservadorismo estatizante e “antilacração”, que coloca soberania nacional acima do indivíduo. Esses nacional-conservadores são cada vez mais parte de um movimento global com redes próprias de pensadores e líderes ligados por uma ideologia em comum. Eles se sentem donos do conservadorismo hoje — e podem estar certos.

Apesar do nome, o nacional-conservadorismo não poderia ser mais diferente das ideia de Reagan e Thatcher. Em vez de céticos em relação ao Estado grande, os nacional-conservadores consideram que as pessoas comuns são assoladas por forças globais impessoais e que o Estado é seu salvador.

Ao contrário de Reagan e Thatcher, eles odeiam combinar soberanias em organizações multilaterais, suspeitam que os livres mercados são manipulados por elites e são hostis à imigração. Eles desprezam qualquer pluralismo, especialmente o multicultural. Nacional-conservadores são obcecados em desmantelar instituições que consideram manchadas por lacrações e globalismos.

O candidato presidencial republicano e ex-presidente dos EUA, Donald Trump, realiza um comício de campanha na Coastal Carolina University antes das primárias presidenciais republicanas da Carolina do Sul em Conway, Carolina do Sul, EUA, em 10 de fevereiro de 2024.  Foto: Sam Wolfe / REUTERS

Em vez de ostentar uma crença solar no progresso, os nacional-conservadores são possuídos por um declinarismo. William Buckley, um pensador à moda antiga, gracejou certa vez afirmando que “Um conservador é alguém que fica atravessado no caminho da história, gritando ‘pare’”. Em comparação, os nacional-conservadores são revolucionários. Eles não veem o Ocidente como a cidade iluminada no topo da colina, mas como Roma antes da queda: decadente, depravada e prestes a ruir em meio a uma invasão bárbara. Não contentes com o progresso que resiste, eles querem destruir também o liberalismo clássico.

Alguns esperam que todo esse movimento vá se dissipar. Nacional-conservadores são incoerentes demais para representar uma ameaça, afirmam. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, apoia a Ucrânia. O partido polonês Lei e Justiça (PLJ) é antigay; na França, Marine Le Pen é permissiva.

Além disso, obsessão com soberania nacional pioraria a situação das pessoas conforme o comércio colapsa, o crescimento econômico empaca e os direitos civis são tolhidos. Eleitores certamente escolheriam restaurar o mundo fabricado pelo liberalismo.

Essa visão é imperdoavelmente complacente. O nacional-conservadorismo é a política do ressentimento: se políticas produzem resultados ruins, seus líderes colocarão a culpa em globalistas e imigrantes, e essa alegação apenas prova o quanto há de errado com o mundo.

Apesar de todas as suas contradições, os nacional-conservadores foram capazes de se unir em torno de sua hostilidade em relação a inimigos em comum, incluindo migrantes (especialmente muçulmanos), globalistas e todos os seus supostos cúmplices. Nove meses antes da eleição americana, Trump já está minando a Otan.

Nacional-conservadores também merecem ser levados a sério em razão de seus prospectos eleitorais. Trump lidera as pesquisas nos Estados Unidos. A previsão é que a extrema direita desempenhe bem nas eleições para o Parlamento Europeu, em junho. Na Alemanha, em dezembro, o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha alcançou um pico-recorde, de 23%, nas pesquisas. Antecipando uma derrota eleitoral para Rishi Sunak, tories estridentemente pró-Brexit e anti-imigração conspiram para tomar controle de seu partido. Em 2027, Le Pen poderia muito bem se tornar presidente da França.

E nacional-conservadores importam porque, quando eles conseguem ascender ao poder, tudo muda. Ao encarregar-se de capturar instituições do Estado, incluindo tribunais, universidades e a imprensa independente, eles cimentam seu controle. Foi isso o que o partido Fidesz, de Orbán, fez na Hungria. Nos EUA, Trump tem sido explícito a respeito de suas pretensões autocráticas. Pessoas que trabalham para ele formularam minutas de memorandos que definem um programa para capturar a burocracia federal.

O então presidente dos EUA, Donald Trump, recebe o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban na Casa Branca, em Washington, na segunda-feira, 13 de maio de 2019.  Foto: Manuel Balce Ceneta / AP

Uma vez que as instituições ficam enfraquecidas, pode ser difícil restaurá-las. Na Polônia, o PLJ teve a mesma agenda, antes de ser retirado do poder, em eleições, no ano passado. A coalizão de centro-direita que o derrotou agora enfrenta dificuldades para afirmar seu controle.

Como, então, conservadores à moda antiga e progressistas clássicos devem lidar com o nacional-conservadorismo? Uma resposta é levar as queixas legítimas das pessoas a sério. Cidadãos de muitos países ocidentais consideram imigração ilegal uma fonte de desordem e gasto de dinheiro público. Eles se preocupam com a possibilidade de seus filhos ficarem mais pobres. Temem perder seus empregos para novas tecnologias.

Acreditam que instituições como universidades e a imprensa foram capturadas por elites hostis, iliberais e esquerdistas. Consideram os globalistas que prosperaram nas décadas recentes membros de uma casta egoísta e arrogante, de pessoas que gostam de acreditar que ascenderam ao topo em um sistema meritocrático quando, na realidade, herdaram seu sucesso.

Essas queixas têm seus méritos, e desdenhar delas apenas confirma o grau de alienação que impregnou as elites. Em vez disso, progressistas e conservadores à moda antiga precisam de políticas para lidar com elas. Imigração legal fica mais fácil quando a ilegal é combatida. Regras de planejamento restritivas excluem jovens do mercado de imóveis. Lojas fechadas precisam ser resgatadas.

Para ter a sociedade verdadeiramente aberta que afirmam desejar, os progressistas têm de pressionar para que instituições intelectuais de elite — grandes empresas, jornais e universidades — encarnem os princípios do liberalismo em vez de sucumbir à censura e ao pensamento de grupo. Apesar de todas as esquerdas e direitas iliberais serem inimigas mortais, suas algazarras de alta octanagem a respeito de lacrações sustentam-se mutuamente.

Marine Le Pen (esq.), presidente do grupo "Rassemblement National" (RN) na Assembleia Nacional, e Jean-Philippe Tanguy, deputado do "Rassemblement National", chegam para assistir ao discurso de Ano Novo do presidente do "Rassemblement National" em Paris, em 15 de janeiro de 2024. Foto: BERTRAND GUAY / AFP

Para diminuir o medo nacional-conservador de que o modo de vida das pessoas está sob ameaça, os progressistas também precisam fincar suas reivindicações em algumas ideias de seus oponentes. Em vez de sinalizar virtudes, deveriam reconhecer que também podem ser iliberais.

Se forem reticentes demais na defesa de princípios como liberdade de expressão e de direitos individuais contra os excessos da esquerda, os progressistas fatalmente minarão sua capacidade de defendê-los contra a direita. Em vez de ceder o poder dos mitos e símbolos nacionais para políticos oportunistas, os progressistas precisam superar seu constrangimento com o patriotismo, o amor natural de um indivíduo por seu país.

A grande força do liberalismo é sua adaptabilidade. Os movimentos abolicionista e feminista arrebentaram com a ideia de que certas pessoas são mais importantes que outras. Argumentos socialistas por equidade e dignidade humana ajudaram a criar o Estado de bem-estar social. Argumentos libertários por liberdade e eficiência levaram a mercados mais livres e a um limite sobre o poder do Estado. O liberalismo também é capaz de se adaptar ao nacional-conservadorismo. Mas neste momento, está ficando para trás. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Nos anos 80, Ronald Reagan e Margaret Thatcher construíram um novo conservadorismo em torno de mercados e liberdades. Hoje, Donald Trump, Viktor Orbán e uma trupe heterogênea de políticos ocidentais demoliram aquela ortodoxia, construindo em seu lugar um conservadorismo estatizante e “antilacração”, que coloca soberania nacional acima do indivíduo. Esses nacional-conservadores são cada vez mais parte de um movimento global com redes próprias de pensadores e líderes ligados por uma ideologia em comum. Eles se sentem donos do conservadorismo hoje — e podem estar certos.

Apesar do nome, o nacional-conservadorismo não poderia ser mais diferente das ideia de Reagan e Thatcher. Em vez de céticos em relação ao Estado grande, os nacional-conservadores consideram que as pessoas comuns são assoladas por forças globais impessoais e que o Estado é seu salvador.

Ao contrário de Reagan e Thatcher, eles odeiam combinar soberanias em organizações multilaterais, suspeitam que os livres mercados são manipulados por elites e são hostis à imigração. Eles desprezam qualquer pluralismo, especialmente o multicultural. Nacional-conservadores são obcecados em desmantelar instituições que consideram manchadas por lacrações e globalismos.

O candidato presidencial republicano e ex-presidente dos EUA, Donald Trump, realiza um comício de campanha na Coastal Carolina University antes das primárias presidenciais republicanas da Carolina do Sul em Conway, Carolina do Sul, EUA, em 10 de fevereiro de 2024.  Foto: Sam Wolfe / REUTERS

Em vez de ostentar uma crença solar no progresso, os nacional-conservadores são possuídos por um declinarismo. William Buckley, um pensador à moda antiga, gracejou certa vez afirmando que “Um conservador é alguém que fica atravessado no caminho da história, gritando ‘pare’”. Em comparação, os nacional-conservadores são revolucionários. Eles não veem o Ocidente como a cidade iluminada no topo da colina, mas como Roma antes da queda: decadente, depravada e prestes a ruir em meio a uma invasão bárbara. Não contentes com o progresso que resiste, eles querem destruir também o liberalismo clássico.

Alguns esperam que todo esse movimento vá se dissipar. Nacional-conservadores são incoerentes demais para representar uma ameaça, afirmam. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, apoia a Ucrânia. O partido polonês Lei e Justiça (PLJ) é antigay; na França, Marine Le Pen é permissiva.

Além disso, obsessão com soberania nacional pioraria a situação das pessoas conforme o comércio colapsa, o crescimento econômico empaca e os direitos civis são tolhidos. Eleitores certamente escolheriam restaurar o mundo fabricado pelo liberalismo.

Essa visão é imperdoavelmente complacente. O nacional-conservadorismo é a política do ressentimento: se políticas produzem resultados ruins, seus líderes colocarão a culpa em globalistas e imigrantes, e essa alegação apenas prova o quanto há de errado com o mundo.

Apesar de todas as suas contradições, os nacional-conservadores foram capazes de se unir em torno de sua hostilidade em relação a inimigos em comum, incluindo migrantes (especialmente muçulmanos), globalistas e todos os seus supostos cúmplices. Nove meses antes da eleição americana, Trump já está minando a Otan.

Nacional-conservadores também merecem ser levados a sério em razão de seus prospectos eleitorais. Trump lidera as pesquisas nos Estados Unidos. A previsão é que a extrema direita desempenhe bem nas eleições para o Parlamento Europeu, em junho. Na Alemanha, em dezembro, o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha alcançou um pico-recorde, de 23%, nas pesquisas. Antecipando uma derrota eleitoral para Rishi Sunak, tories estridentemente pró-Brexit e anti-imigração conspiram para tomar controle de seu partido. Em 2027, Le Pen poderia muito bem se tornar presidente da França.

E nacional-conservadores importam porque, quando eles conseguem ascender ao poder, tudo muda. Ao encarregar-se de capturar instituições do Estado, incluindo tribunais, universidades e a imprensa independente, eles cimentam seu controle. Foi isso o que o partido Fidesz, de Orbán, fez na Hungria. Nos EUA, Trump tem sido explícito a respeito de suas pretensões autocráticas. Pessoas que trabalham para ele formularam minutas de memorandos que definem um programa para capturar a burocracia federal.

O então presidente dos EUA, Donald Trump, recebe o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban na Casa Branca, em Washington, na segunda-feira, 13 de maio de 2019.  Foto: Manuel Balce Ceneta / AP

Uma vez que as instituições ficam enfraquecidas, pode ser difícil restaurá-las. Na Polônia, o PLJ teve a mesma agenda, antes de ser retirado do poder, em eleições, no ano passado. A coalizão de centro-direita que o derrotou agora enfrenta dificuldades para afirmar seu controle.

Como, então, conservadores à moda antiga e progressistas clássicos devem lidar com o nacional-conservadorismo? Uma resposta é levar as queixas legítimas das pessoas a sério. Cidadãos de muitos países ocidentais consideram imigração ilegal uma fonte de desordem e gasto de dinheiro público. Eles se preocupam com a possibilidade de seus filhos ficarem mais pobres. Temem perder seus empregos para novas tecnologias.

Acreditam que instituições como universidades e a imprensa foram capturadas por elites hostis, iliberais e esquerdistas. Consideram os globalistas que prosperaram nas décadas recentes membros de uma casta egoísta e arrogante, de pessoas que gostam de acreditar que ascenderam ao topo em um sistema meritocrático quando, na realidade, herdaram seu sucesso.

Essas queixas têm seus méritos, e desdenhar delas apenas confirma o grau de alienação que impregnou as elites. Em vez disso, progressistas e conservadores à moda antiga precisam de políticas para lidar com elas. Imigração legal fica mais fácil quando a ilegal é combatida. Regras de planejamento restritivas excluem jovens do mercado de imóveis. Lojas fechadas precisam ser resgatadas.

Para ter a sociedade verdadeiramente aberta que afirmam desejar, os progressistas têm de pressionar para que instituições intelectuais de elite — grandes empresas, jornais e universidades — encarnem os princípios do liberalismo em vez de sucumbir à censura e ao pensamento de grupo. Apesar de todas as esquerdas e direitas iliberais serem inimigas mortais, suas algazarras de alta octanagem a respeito de lacrações sustentam-se mutuamente.

Marine Le Pen (esq.), presidente do grupo "Rassemblement National" (RN) na Assembleia Nacional, e Jean-Philippe Tanguy, deputado do "Rassemblement National", chegam para assistir ao discurso de Ano Novo do presidente do "Rassemblement National" em Paris, em 15 de janeiro de 2024. Foto: BERTRAND GUAY / AFP

Para diminuir o medo nacional-conservador de que o modo de vida das pessoas está sob ameaça, os progressistas também precisam fincar suas reivindicações em algumas ideias de seus oponentes. Em vez de sinalizar virtudes, deveriam reconhecer que também podem ser iliberais.

Se forem reticentes demais na defesa de princípios como liberdade de expressão e de direitos individuais contra os excessos da esquerda, os progressistas fatalmente minarão sua capacidade de defendê-los contra a direita. Em vez de ceder o poder dos mitos e símbolos nacionais para políticos oportunistas, os progressistas precisam superar seu constrangimento com o patriotismo, o amor natural de um indivíduo por seu país.

A grande força do liberalismo é sua adaptabilidade. Os movimentos abolicionista e feminista arrebentaram com a ideia de que certas pessoas são mais importantes que outras. Argumentos socialistas por equidade e dignidade humana ajudaram a criar o Estado de bem-estar social. Argumentos libertários por liberdade e eficiência levaram a mercados mais livres e a um limite sobre o poder do Estado. O liberalismo também é capaz de se adaptar ao nacional-conservadorismo. Mas neste momento, está ficando para trás. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Nos anos 80, Ronald Reagan e Margaret Thatcher construíram um novo conservadorismo em torno de mercados e liberdades. Hoje, Donald Trump, Viktor Orbán e uma trupe heterogênea de políticos ocidentais demoliram aquela ortodoxia, construindo em seu lugar um conservadorismo estatizante e “antilacração”, que coloca soberania nacional acima do indivíduo. Esses nacional-conservadores são cada vez mais parte de um movimento global com redes próprias de pensadores e líderes ligados por uma ideologia em comum. Eles se sentem donos do conservadorismo hoje — e podem estar certos.

Apesar do nome, o nacional-conservadorismo não poderia ser mais diferente das ideia de Reagan e Thatcher. Em vez de céticos em relação ao Estado grande, os nacional-conservadores consideram que as pessoas comuns são assoladas por forças globais impessoais e que o Estado é seu salvador.

Ao contrário de Reagan e Thatcher, eles odeiam combinar soberanias em organizações multilaterais, suspeitam que os livres mercados são manipulados por elites e são hostis à imigração. Eles desprezam qualquer pluralismo, especialmente o multicultural. Nacional-conservadores são obcecados em desmantelar instituições que consideram manchadas por lacrações e globalismos.

O candidato presidencial republicano e ex-presidente dos EUA, Donald Trump, realiza um comício de campanha na Coastal Carolina University antes das primárias presidenciais republicanas da Carolina do Sul em Conway, Carolina do Sul, EUA, em 10 de fevereiro de 2024.  Foto: Sam Wolfe / REUTERS

Em vez de ostentar uma crença solar no progresso, os nacional-conservadores são possuídos por um declinarismo. William Buckley, um pensador à moda antiga, gracejou certa vez afirmando que “Um conservador é alguém que fica atravessado no caminho da história, gritando ‘pare’”. Em comparação, os nacional-conservadores são revolucionários. Eles não veem o Ocidente como a cidade iluminada no topo da colina, mas como Roma antes da queda: decadente, depravada e prestes a ruir em meio a uma invasão bárbara. Não contentes com o progresso que resiste, eles querem destruir também o liberalismo clássico.

Alguns esperam que todo esse movimento vá se dissipar. Nacional-conservadores são incoerentes demais para representar uma ameaça, afirmam. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, apoia a Ucrânia. O partido polonês Lei e Justiça (PLJ) é antigay; na França, Marine Le Pen é permissiva.

Além disso, obsessão com soberania nacional pioraria a situação das pessoas conforme o comércio colapsa, o crescimento econômico empaca e os direitos civis são tolhidos. Eleitores certamente escolheriam restaurar o mundo fabricado pelo liberalismo.

Essa visão é imperdoavelmente complacente. O nacional-conservadorismo é a política do ressentimento: se políticas produzem resultados ruins, seus líderes colocarão a culpa em globalistas e imigrantes, e essa alegação apenas prova o quanto há de errado com o mundo.

Apesar de todas as suas contradições, os nacional-conservadores foram capazes de se unir em torno de sua hostilidade em relação a inimigos em comum, incluindo migrantes (especialmente muçulmanos), globalistas e todos os seus supostos cúmplices. Nove meses antes da eleição americana, Trump já está minando a Otan.

Nacional-conservadores também merecem ser levados a sério em razão de seus prospectos eleitorais. Trump lidera as pesquisas nos Estados Unidos. A previsão é que a extrema direita desempenhe bem nas eleições para o Parlamento Europeu, em junho. Na Alemanha, em dezembro, o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha alcançou um pico-recorde, de 23%, nas pesquisas. Antecipando uma derrota eleitoral para Rishi Sunak, tories estridentemente pró-Brexit e anti-imigração conspiram para tomar controle de seu partido. Em 2027, Le Pen poderia muito bem se tornar presidente da França.

E nacional-conservadores importam porque, quando eles conseguem ascender ao poder, tudo muda. Ao encarregar-se de capturar instituições do Estado, incluindo tribunais, universidades e a imprensa independente, eles cimentam seu controle. Foi isso o que o partido Fidesz, de Orbán, fez na Hungria. Nos EUA, Trump tem sido explícito a respeito de suas pretensões autocráticas. Pessoas que trabalham para ele formularam minutas de memorandos que definem um programa para capturar a burocracia federal.

O então presidente dos EUA, Donald Trump, recebe o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban na Casa Branca, em Washington, na segunda-feira, 13 de maio de 2019.  Foto: Manuel Balce Ceneta / AP

Uma vez que as instituições ficam enfraquecidas, pode ser difícil restaurá-las. Na Polônia, o PLJ teve a mesma agenda, antes de ser retirado do poder, em eleições, no ano passado. A coalizão de centro-direita que o derrotou agora enfrenta dificuldades para afirmar seu controle.

Como, então, conservadores à moda antiga e progressistas clássicos devem lidar com o nacional-conservadorismo? Uma resposta é levar as queixas legítimas das pessoas a sério. Cidadãos de muitos países ocidentais consideram imigração ilegal uma fonte de desordem e gasto de dinheiro público. Eles se preocupam com a possibilidade de seus filhos ficarem mais pobres. Temem perder seus empregos para novas tecnologias.

Acreditam que instituições como universidades e a imprensa foram capturadas por elites hostis, iliberais e esquerdistas. Consideram os globalistas que prosperaram nas décadas recentes membros de uma casta egoísta e arrogante, de pessoas que gostam de acreditar que ascenderam ao topo em um sistema meritocrático quando, na realidade, herdaram seu sucesso.

Essas queixas têm seus méritos, e desdenhar delas apenas confirma o grau de alienação que impregnou as elites. Em vez disso, progressistas e conservadores à moda antiga precisam de políticas para lidar com elas. Imigração legal fica mais fácil quando a ilegal é combatida. Regras de planejamento restritivas excluem jovens do mercado de imóveis. Lojas fechadas precisam ser resgatadas.

Para ter a sociedade verdadeiramente aberta que afirmam desejar, os progressistas têm de pressionar para que instituições intelectuais de elite — grandes empresas, jornais e universidades — encarnem os princípios do liberalismo em vez de sucumbir à censura e ao pensamento de grupo. Apesar de todas as esquerdas e direitas iliberais serem inimigas mortais, suas algazarras de alta octanagem a respeito de lacrações sustentam-se mutuamente.

Marine Le Pen (esq.), presidente do grupo "Rassemblement National" (RN) na Assembleia Nacional, e Jean-Philippe Tanguy, deputado do "Rassemblement National", chegam para assistir ao discurso de Ano Novo do presidente do "Rassemblement National" em Paris, em 15 de janeiro de 2024. Foto: BERTRAND GUAY / AFP

Para diminuir o medo nacional-conservador de que o modo de vida das pessoas está sob ameaça, os progressistas também precisam fincar suas reivindicações em algumas ideias de seus oponentes. Em vez de sinalizar virtudes, deveriam reconhecer que também podem ser iliberais.

Se forem reticentes demais na defesa de princípios como liberdade de expressão e de direitos individuais contra os excessos da esquerda, os progressistas fatalmente minarão sua capacidade de defendê-los contra a direita. Em vez de ceder o poder dos mitos e símbolos nacionais para políticos oportunistas, os progressistas precisam superar seu constrangimento com o patriotismo, o amor natural de um indivíduo por seu país.

A grande força do liberalismo é sua adaptabilidade. Os movimentos abolicionista e feminista arrebentaram com a ideia de que certas pessoas são mais importantes que outras. Argumentos socialistas por equidade e dignidade humana ajudaram a criar o Estado de bem-estar social. Argumentos libertários por liberdade e eficiência levaram a mercados mais livres e a um limite sobre o poder do Estado. O liberalismo também é capaz de se adaptar ao nacional-conservadorismo. Mas neste momento, está ficando para trás. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Nos anos 80, Ronald Reagan e Margaret Thatcher construíram um novo conservadorismo em torno de mercados e liberdades. Hoje, Donald Trump, Viktor Orbán e uma trupe heterogênea de políticos ocidentais demoliram aquela ortodoxia, construindo em seu lugar um conservadorismo estatizante e “antilacração”, que coloca soberania nacional acima do indivíduo. Esses nacional-conservadores são cada vez mais parte de um movimento global com redes próprias de pensadores e líderes ligados por uma ideologia em comum. Eles se sentem donos do conservadorismo hoje — e podem estar certos.

Apesar do nome, o nacional-conservadorismo não poderia ser mais diferente das ideia de Reagan e Thatcher. Em vez de céticos em relação ao Estado grande, os nacional-conservadores consideram que as pessoas comuns são assoladas por forças globais impessoais e que o Estado é seu salvador.

Ao contrário de Reagan e Thatcher, eles odeiam combinar soberanias em organizações multilaterais, suspeitam que os livres mercados são manipulados por elites e são hostis à imigração. Eles desprezam qualquer pluralismo, especialmente o multicultural. Nacional-conservadores são obcecados em desmantelar instituições que consideram manchadas por lacrações e globalismos.

O candidato presidencial republicano e ex-presidente dos EUA, Donald Trump, realiza um comício de campanha na Coastal Carolina University antes das primárias presidenciais republicanas da Carolina do Sul em Conway, Carolina do Sul, EUA, em 10 de fevereiro de 2024.  Foto: Sam Wolfe / REUTERS

Em vez de ostentar uma crença solar no progresso, os nacional-conservadores são possuídos por um declinarismo. William Buckley, um pensador à moda antiga, gracejou certa vez afirmando que “Um conservador é alguém que fica atravessado no caminho da história, gritando ‘pare’”. Em comparação, os nacional-conservadores são revolucionários. Eles não veem o Ocidente como a cidade iluminada no topo da colina, mas como Roma antes da queda: decadente, depravada e prestes a ruir em meio a uma invasão bárbara. Não contentes com o progresso que resiste, eles querem destruir também o liberalismo clássico.

Alguns esperam que todo esse movimento vá se dissipar. Nacional-conservadores são incoerentes demais para representar uma ameaça, afirmam. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, apoia a Ucrânia. O partido polonês Lei e Justiça (PLJ) é antigay; na França, Marine Le Pen é permissiva.

Além disso, obsessão com soberania nacional pioraria a situação das pessoas conforme o comércio colapsa, o crescimento econômico empaca e os direitos civis são tolhidos. Eleitores certamente escolheriam restaurar o mundo fabricado pelo liberalismo.

Essa visão é imperdoavelmente complacente. O nacional-conservadorismo é a política do ressentimento: se políticas produzem resultados ruins, seus líderes colocarão a culpa em globalistas e imigrantes, e essa alegação apenas prova o quanto há de errado com o mundo.

Apesar de todas as suas contradições, os nacional-conservadores foram capazes de se unir em torno de sua hostilidade em relação a inimigos em comum, incluindo migrantes (especialmente muçulmanos), globalistas e todos os seus supostos cúmplices. Nove meses antes da eleição americana, Trump já está minando a Otan.

Nacional-conservadores também merecem ser levados a sério em razão de seus prospectos eleitorais. Trump lidera as pesquisas nos Estados Unidos. A previsão é que a extrema direita desempenhe bem nas eleições para o Parlamento Europeu, em junho. Na Alemanha, em dezembro, o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha alcançou um pico-recorde, de 23%, nas pesquisas. Antecipando uma derrota eleitoral para Rishi Sunak, tories estridentemente pró-Brexit e anti-imigração conspiram para tomar controle de seu partido. Em 2027, Le Pen poderia muito bem se tornar presidente da França.

E nacional-conservadores importam porque, quando eles conseguem ascender ao poder, tudo muda. Ao encarregar-se de capturar instituições do Estado, incluindo tribunais, universidades e a imprensa independente, eles cimentam seu controle. Foi isso o que o partido Fidesz, de Orbán, fez na Hungria. Nos EUA, Trump tem sido explícito a respeito de suas pretensões autocráticas. Pessoas que trabalham para ele formularam minutas de memorandos que definem um programa para capturar a burocracia federal.

O então presidente dos EUA, Donald Trump, recebe o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban na Casa Branca, em Washington, na segunda-feira, 13 de maio de 2019.  Foto: Manuel Balce Ceneta / AP

Uma vez que as instituições ficam enfraquecidas, pode ser difícil restaurá-las. Na Polônia, o PLJ teve a mesma agenda, antes de ser retirado do poder, em eleições, no ano passado. A coalizão de centro-direita que o derrotou agora enfrenta dificuldades para afirmar seu controle.

Como, então, conservadores à moda antiga e progressistas clássicos devem lidar com o nacional-conservadorismo? Uma resposta é levar as queixas legítimas das pessoas a sério. Cidadãos de muitos países ocidentais consideram imigração ilegal uma fonte de desordem e gasto de dinheiro público. Eles se preocupam com a possibilidade de seus filhos ficarem mais pobres. Temem perder seus empregos para novas tecnologias.

Acreditam que instituições como universidades e a imprensa foram capturadas por elites hostis, iliberais e esquerdistas. Consideram os globalistas que prosperaram nas décadas recentes membros de uma casta egoísta e arrogante, de pessoas que gostam de acreditar que ascenderam ao topo em um sistema meritocrático quando, na realidade, herdaram seu sucesso.

Essas queixas têm seus méritos, e desdenhar delas apenas confirma o grau de alienação que impregnou as elites. Em vez disso, progressistas e conservadores à moda antiga precisam de políticas para lidar com elas. Imigração legal fica mais fácil quando a ilegal é combatida. Regras de planejamento restritivas excluem jovens do mercado de imóveis. Lojas fechadas precisam ser resgatadas.

Para ter a sociedade verdadeiramente aberta que afirmam desejar, os progressistas têm de pressionar para que instituições intelectuais de elite — grandes empresas, jornais e universidades — encarnem os princípios do liberalismo em vez de sucumbir à censura e ao pensamento de grupo. Apesar de todas as esquerdas e direitas iliberais serem inimigas mortais, suas algazarras de alta octanagem a respeito de lacrações sustentam-se mutuamente.

Marine Le Pen (esq.), presidente do grupo "Rassemblement National" (RN) na Assembleia Nacional, e Jean-Philippe Tanguy, deputado do "Rassemblement National", chegam para assistir ao discurso de Ano Novo do presidente do "Rassemblement National" em Paris, em 15 de janeiro de 2024. Foto: BERTRAND GUAY / AFP

Para diminuir o medo nacional-conservador de que o modo de vida das pessoas está sob ameaça, os progressistas também precisam fincar suas reivindicações em algumas ideias de seus oponentes. Em vez de sinalizar virtudes, deveriam reconhecer que também podem ser iliberais.

Se forem reticentes demais na defesa de princípios como liberdade de expressão e de direitos individuais contra os excessos da esquerda, os progressistas fatalmente minarão sua capacidade de defendê-los contra a direita. Em vez de ceder o poder dos mitos e símbolos nacionais para políticos oportunistas, os progressistas precisam superar seu constrangimento com o patriotismo, o amor natural de um indivíduo por seu país.

A grande força do liberalismo é sua adaptabilidade. Os movimentos abolicionista e feminista arrebentaram com a ideia de que certas pessoas são mais importantes que outras. Argumentos socialistas por equidade e dignidade humana ajudaram a criar o Estado de bem-estar social. Argumentos libertários por liberdade e eficiência levaram a mercados mais livres e a um limite sobre o poder do Estado. O liberalismo também é capaz de se adaptar ao nacional-conservadorismo. Mas neste momento, está ficando para trás. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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