The Economist: Como pôr fim à agonia do Oriente Médio


Um possível acordo de paz entre Israel e Arábia Saudita que leve a libertação dos reféns na Faixa de Gaza e a criação de um Estado palestino pode contribuir para a esperança de paz na região

Por The Economist
Atualização:

Nos meses posteriores ao grupo terrorista Hamas ter cometido a pior atrocidade contra judeus desde o Holocausto, a violência se espalhou pelo Oriente Médio. No total, dez países estão agora presos em conflitos. Em Gaza, soldados israelenses e do Hamas estão matando uns aos outros, até mesmo diante do risco de 2 milhões de pessoas enfrentarem desnutrição severa. Na fronteira com o Líbano, Israel e o grupo radical xiita Hezbollah estão em uma guerra de baixa intensidade. A milícia houthi, no Iêmen, está atacando navios de carga, o que tem agravado a crise financeira no Egito e despertou retaliações militares de Reino Unido e Estados Unidos. A morte de três soldados americanos na Jordânia em 28 de janeiro por milícias no Iraque poderia provocar um choque entre Washington e o Irã, o patrocinador do ‘eixo da resistência’.

É fácil de se desesperar diante disso, mas há uma saída. Em meio a intensos esforços diplomáticos liderados pelos Estados Unidos e a Arábia Saudita, um acordo revolucionário está tomando forma. A novidade nele embutida, nós apuramos, consiste em usar a libertação dos reféns em mãos do Hamas para recomeçar do zero a política israelense; usar esse recomeço para abrir o caminho rumo à criação de um Estado palestino; usar o compromisso de Israel com a solução de dois Estados para criar as bases de um acordo com os sauditas, no qual o reconhecimento mútuo entre Riad e Tel-Aviv é respaldado por garantias de segurança americanas. Fontes cientes do acordo dizem que as chances de um acordo é de 50%, e com isso a chance de um acordo entre israelenses e sauditas também é de 50%. O sucesso, evidentemente, está longe de estar garantido, mas promete uma nova arquitetura econômica e de segurança no Oriente Médio.

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Uma razão para otimismo reside no fato de Israel talvez querer uma interrupção da ofensiva em Gaza. Muitos israelenses estão desesperados para trazer os reféns de volta para casa, e a guerra não os libertará. Além disso, Israel avançou rumo a seus objetivos militares. O Hamas perdeu metade de seu território e metade de seus combatentes (segundo o Exército de Israel). Além disso, possivelmente perdeu um terço de sua rede de túneis e muitos de seus líderes (mas não o principal). de agora em diante, Israel terá ganhos cada vez menores, acompanhados de um número cada vez maior de mortes de civis e o subsequente dano à sua reputação internacional.

Tanques israelenses fiscalizam a fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza em meio a guerra com o grupo terrorista Hamas  Foto: Jack Guez/ AFP

Outra razão para esperança é que Estados Unidos, Egito, as monarquias do Golfo e a Arábia Saudita têm bons motivos para trabalhar juntos. Com o espalhamento da guerra no Oriente Médio, todos esses países perceberam a extensão completa da influência maligna do Irã. Por meio de seus agentes regionais, armados com drones e mísseis, o Irã está tentando semear o caos regional, ao mesmo tempo em que tenta evitar uma guerra direta com Israel ou os Estados Unidos. Todos esses atores querem impedir o regime carniceiro do Irã de emergir como uma potência regional, capaz de ameaçar Israel e o Golfo, tomando o comércio mundial como refém. Isso faria da capacidade de dissuasão dos Estados Unidos uma piada. Ninguém quer ver uma guerra danosa opondo israelenses e americanos ao Irã. A paz é o único caminho para sair dessa crise.

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O plano começa com uma pausa humanitária negociada pelos Estados Unidos, Catar e Egito. A primeira trégua, em novembro, durou apenas sete dias; esta, no entanto, duraria um ou dois meses e libertaria todos ou a maioria dos reféns ainda em poder do Hamas em fases. O acordo poderia servir de recomeço à política israelense e ajudar a opinião pública local a deixar para trás o terror de 7 de outubro. Os Estados Unidos e a Arábia Saudita estão pedindo a Israel um compromisso com a criação de um Estado Palestino, e prová-lo, por exemplo, com o congelamento da expansão dos assentamentos na Cisjordânia.

O próximo passo, segundo apuramos, envolve Mohamed Bin Salman, o autocrático mas modernizador líder saudita. Antes de 7 de outubro, ele estava negociando um acordo para reconhecer Israel em troca de um acordo de defesa com os Estados Unidos. De fato, uma das razões prováveis para o ataque do Hamas era sabotar esse pacto. Contra todas as probabilidades, a Arábia Saudita ainda está lutando por esse caminho. Contra todas as probabilidades, a Arábia Saudita ainda luta por esta visão. Um acordo marcaria o maior compromisso árabe com a paz em três décadas. Também vincularia Israel e ofereceria aos palestinos um compromisso concreto para a criação de um Estado. Com o tempo, isto poderá evoluir para uma aliança regional liderada pelos EUA para conter o Irã.

Líderes dos países do Golfo participam de uma reunião em Doha, no Catar  Foto: Abdulla Al-Neyadi/AFP
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Restam dois grandes obstáculos no caminho: o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, e o líder do Hamas Yahya Sinwar, arquiteto dos atentados de outubro. Netanyahu foi a vida toda um cético sobre a criação de um Estado palestino. Ele também satisfez os objetivos violentos de colonos radicais. Entretanto, segundo pesquisas de opinião, apenas 15% dos israelenses defendem sua permanência no cargo após a guerra. Um longo cessar-fogo e a libertação de reféns podem criar uma abertura para seus rivais. Benny Gantz, por exemplo, poderia se livrar do gabinete de guerra com honra. O próximo líder de Israel pode ser alguém capaz de dizer ao seu povo que a melhor base para sua segurança não é a guerra interminável, mas alianças fortes e um caminho para a paz.

O presidente Joe Biden poderia acelerar essa transição tentando passar por cima dos objetivos de Netanyahu — assim como tantas vezes o próprio Bibi fez o mesmo com líderes americanos. Para isso, ele deveria abrir uma embaixada em Jerusalém para os palestinos, assim como Donald Trump fez com Israel. Ele também deve definir como os Estados Unidos veem os parâmetros para um Estado palestino e, se Israel se recusar obstinadamente a agir, deve estar pronto para reconhecê-lo.

E sobre Sinwar, o outro obstáculo? Acredita-se que ele esteja escondido no subsolo de algum lugar no sul da Faixa de Gaza, com soldados israelenses sobre sua cabeça. Ainda que ele tenha provocado uma catástrofe em Gaza, ele proclamará vitória simplesmente sobrevivendo. É possível que a ala mais fanática e violenta do Hamas emerja do fim do cessar-fogo como a força dominante em Gaza e requeira a liderança ampla dos palestinos. Com o apoio do Irã, Sinwar pode muito bem atacar Israel, provocar retaliações e, assim, sabotar o progresso rumo à paz.

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Para vencer esse obstáculo, Israel deve seguir desmantelando a ampla rede de túneis do Hamas e manter a presença militar em Gaza por algum tempo. Isso vai desapontar quem defende uma retirada imediata. Mas deve ficar claro para Israel que, uma vez que as garantias de segurança estiverem asseguradas e o Hamas estiver longe do poder, a retirada será concluída.

Além disso, Sinwar precisa ser exilado em outro país, como o Catar, por exemplo, assim como Yasser Arafat foi para o Líbano e depois para a Tunísia. Ele provavelmente insistirá em ficar em Gaza, o que reforçaria o quão necessário é estabelecer tropas internacionais de paz no local, incluindo soldados de países árabes, encarregados de dar segurança e criar as condições para o surgimento de um governo moderado.

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Para que tudo isso seja possível, é preciso uma vontade política urgente. Quanto mais Israel reprimir seus colonos na Cisjordânia, mas seu compromisso com um Estado palestino é crível, e mais margem de manobra terá para enfraquecer o radicalismo do Hamas em Gaza.

Quanto mais os países árabes estiverem dispostos a gastar dinheiro e oferecer segurança, mais confiantes os israelenses e palestinos comuns ficarão em relação à mudança. E quanto mais os Estados Unidos pressionarem todos os lados, melhor. A paz e a estabilidade no Oriente Médio sempre serão conquistadas com dificuldade. Mas o mundo deve aproveitar essa chance, porque o magnetismo pela guerra na região é implacável.

Nos meses posteriores ao grupo terrorista Hamas ter cometido a pior atrocidade contra judeus desde o Holocausto, a violência se espalhou pelo Oriente Médio. No total, dez países estão agora presos em conflitos. Em Gaza, soldados israelenses e do Hamas estão matando uns aos outros, até mesmo diante do risco de 2 milhões de pessoas enfrentarem desnutrição severa. Na fronteira com o Líbano, Israel e o grupo radical xiita Hezbollah estão em uma guerra de baixa intensidade. A milícia houthi, no Iêmen, está atacando navios de carga, o que tem agravado a crise financeira no Egito e despertou retaliações militares de Reino Unido e Estados Unidos. A morte de três soldados americanos na Jordânia em 28 de janeiro por milícias no Iraque poderia provocar um choque entre Washington e o Irã, o patrocinador do ‘eixo da resistência’.

É fácil de se desesperar diante disso, mas há uma saída. Em meio a intensos esforços diplomáticos liderados pelos Estados Unidos e a Arábia Saudita, um acordo revolucionário está tomando forma. A novidade nele embutida, nós apuramos, consiste em usar a libertação dos reféns em mãos do Hamas para recomeçar do zero a política israelense; usar esse recomeço para abrir o caminho rumo à criação de um Estado palestino; usar o compromisso de Israel com a solução de dois Estados para criar as bases de um acordo com os sauditas, no qual o reconhecimento mútuo entre Riad e Tel-Aviv é respaldado por garantias de segurança americanas. Fontes cientes do acordo dizem que as chances de um acordo é de 50%, e com isso a chance de um acordo entre israelenses e sauditas também é de 50%. O sucesso, evidentemente, está longe de estar garantido, mas promete uma nova arquitetura econômica e de segurança no Oriente Médio.

Uma razão para otimismo reside no fato de Israel talvez querer uma interrupção da ofensiva em Gaza. Muitos israelenses estão desesperados para trazer os reféns de volta para casa, e a guerra não os libertará. Além disso, Israel avançou rumo a seus objetivos militares. O Hamas perdeu metade de seu território e metade de seus combatentes (segundo o Exército de Israel). Além disso, possivelmente perdeu um terço de sua rede de túneis e muitos de seus líderes (mas não o principal). de agora em diante, Israel terá ganhos cada vez menores, acompanhados de um número cada vez maior de mortes de civis e o subsequente dano à sua reputação internacional.

Tanques israelenses fiscalizam a fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza em meio a guerra com o grupo terrorista Hamas  Foto: Jack Guez/ AFP

Outra razão para esperança é que Estados Unidos, Egito, as monarquias do Golfo e a Arábia Saudita têm bons motivos para trabalhar juntos. Com o espalhamento da guerra no Oriente Médio, todos esses países perceberam a extensão completa da influência maligna do Irã. Por meio de seus agentes regionais, armados com drones e mísseis, o Irã está tentando semear o caos regional, ao mesmo tempo em que tenta evitar uma guerra direta com Israel ou os Estados Unidos. Todos esses atores querem impedir o regime carniceiro do Irã de emergir como uma potência regional, capaz de ameaçar Israel e o Golfo, tomando o comércio mundial como refém. Isso faria da capacidade de dissuasão dos Estados Unidos uma piada. Ninguém quer ver uma guerra danosa opondo israelenses e americanos ao Irã. A paz é o único caminho para sair dessa crise.

O plano começa com uma pausa humanitária negociada pelos Estados Unidos, Catar e Egito. A primeira trégua, em novembro, durou apenas sete dias; esta, no entanto, duraria um ou dois meses e libertaria todos ou a maioria dos reféns ainda em poder do Hamas em fases. O acordo poderia servir de recomeço à política israelense e ajudar a opinião pública local a deixar para trás o terror de 7 de outubro. Os Estados Unidos e a Arábia Saudita estão pedindo a Israel um compromisso com a criação de um Estado Palestino, e prová-lo, por exemplo, com o congelamento da expansão dos assentamentos na Cisjordânia.

O próximo passo, segundo apuramos, envolve Mohamed Bin Salman, o autocrático mas modernizador líder saudita. Antes de 7 de outubro, ele estava negociando um acordo para reconhecer Israel em troca de um acordo de defesa com os Estados Unidos. De fato, uma das razões prováveis para o ataque do Hamas era sabotar esse pacto. Contra todas as probabilidades, a Arábia Saudita ainda está lutando por esse caminho. Contra todas as probabilidades, a Arábia Saudita ainda luta por esta visão. Um acordo marcaria o maior compromisso árabe com a paz em três décadas. Também vincularia Israel e ofereceria aos palestinos um compromisso concreto para a criação de um Estado. Com o tempo, isto poderá evoluir para uma aliança regional liderada pelos EUA para conter o Irã.

Líderes dos países do Golfo participam de uma reunião em Doha, no Catar  Foto: Abdulla Al-Neyadi/AFP

Restam dois grandes obstáculos no caminho: o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, e o líder do Hamas Yahya Sinwar, arquiteto dos atentados de outubro. Netanyahu foi a vida toda um cético sobre a criação de um Estado palestino. Ele também satisfez os objetivos violentos de colonos radicais. Entretanto, segundo pesquisas de opinião, apenas 15% dos israelenses defendem sua permanência no cargo após a guerra. Um longo cessar-fogo e a libertação de reféns podem criar uma abertura para seus rivais. Benny Gantz, por exemplo, poderia se livrar do gabinete de guerra com honra. O próximo líder de Israel pode ser alguém capaz de dizer ao seu povo que a melhor base para sua segurança não é a guerra interminável, mas alianças fortes e um caminho para a paz.

O presidente Joe Biden poderia acelerar essa transição tentando passar por cima dos objetivos de Netanyahu — assim como tantas vezes o próprio Bibi fez o mesmo com líderes americanos. Para isso, ele deveria abrir uma embaixada em Jerusalém para os palestinos, assim como Donald Trump fez com Israel. Ele também deve definir como os Estados Unidos veem os parâmetros para um Estado palestino e, se Israel se recusar obstinadamente a agir, deve estar pronto para reconhecê-lo.

E sobre Sinwar, o outro obstáculo? Acredita-se que ele esteja escondido no subsolo de algum lugar no sul da Faixa de Gaza, com soldados israelenses sobre sua cabeça. Ainda que ele tenha provocado uma catástrofe em Gaza, ele proclamará vitória simplesmente sobrevivendo. É possível que a ala mais fanática e violenta do Hamas emerja do fim do cessar-fogo como a força dominante em Gaza e requeira a liderança ampla dos palestinos. Com o apoio do Irã, Sinwar pode muito bem atacar Israel, provocar retaliações e, assim, sabotar o progresso rumo à paz.

Para vencer esse obstáculo, Israel deve seguir desmantelando a ampla rede de túneis do Hamas e manter a presença militar em Gaza por algum tempo. Isso vai desapontar quem defende uma retirada imediata. Mas deve ficar claro para Israel que, uma vez que as garantias de segurança estiverem asseguradas e o Hamas estiver longe do poder, a retirada será concluída.

Além disso, Sinwar precisa ser exilado em outro país, como o Catar, por exemplo, assim como Yasser Arafat foi para o Líbano e depois para a Tunísia. Ele provavelmente insistirá em ficar em Gaza, o que reforçaria o quão necessário é estabelecer tropas internacionais de paz no local, incluindo soldados de países árabes, encarregados de dar segurança e criar as condições para o surgimento de um governo moderado.

Para que tudo isso seja possível, é preciso uma vontade política urgente. Quanto mais Israel reprimir seus colonos na Cisjordânia, mas seu compromisso com um Estado palestino é crível, e mais margem de manobra terá para enfraquecer o radicalismo do Hamas em Gaza.

Quanto mais os países árabes estiverem dispostos a gastar dinheiro e oferecer segurança, mais confiantes os israelenses e palestinos comuns ficarão em relação à mudança. E quanto mais os Estados Unidos pressionarem todos os lados, melhor. A paz e a estabilidade no Oriente Médio sempre serão conquistadas com dificuldade. Mas o mundo deve aproveitar essa chance, porque o magnetismo pela guerra na região é implacável.

Nos meses posteriores ao grupo terrorista Hamas ter cometido a pior atrocidade contra judeus desde o Holocausto, a violência se espalhou pelo Oriente Médio. No total, dez países estão agora presos em conflitos. Em Gaza, soldados israelenses e do Hamas estão matando uns aos outros, até mesmo diante do risco de 2 milhões de pessoas enfrentarem desnutrição severa. Na fronteira com o Líbano, Israel e o grupo radical xiita Hezbollah estão em uma guerra de baixa intensidade. A milícia houthi, no Iêmen, está atacando navios de carga, o que tem agravado a crise financeira no Egito e despertou retaliações militares de Reino Unido e Estados Unidos. A morte de três soldados americanos na Jordânia em 28 de janeiro por milícias no Iraque poderia provocar um choque entre Washington e o Irã, o patrocinador do ‘eixo da resistência’.

É fácil de se desesperar diante disso, mas há uma saída. Em meio a intensos esforços diplomáticos liderados pelos Estados Unidos e a Arábia Saudita, um acordo revolucionário está tomando forma. A novidade nele embutida, nós apuramos, consiste em usar a libertação dos reféns em mãos do Hamas para recomeçar do zero a política israelense; usar esse recomeço para abrir o caminho rumo à criação de um Estado palestino; usar o compromisso de Israel com a solução de dois Estados para criar as bases de um acordo com os sauditas, no qual o reconhecimento mútuo entre Riad e Tel-Aviv é respaldado por garantias de segurança americanas. Fontes cientes do acordo dizem que as chances de um acordo é de 50%, e com isso a chance de um acordo entre israelenses e sauditas também é de 50%. O sucesso, evidentemente, está longe de estar garantido, mas promete uma nova arquitetura econômica e de segurança no Oriente Médio.

Uma razão para otimismo reside no fato de Israel talvez querer uma interrupção da ofensiva em Gaza. Muitos israelenses estão desesperados para trazer os reféns de volta para casa, e a guerra não os libertará. Além disso, Israel avançou rumo a seus objetivos militares. O Hamas perdeu metade de seu território e metade de seus combatentes (segundo o Exército de Israel). Além disso, possivelmente perdeu um terço de sua rede de túneis e muitos de seus líderes (mas não o principal). de agora em diante, Israel terá ganhos cada vez menores, acompanhados de um número cada vez maior de mortes de civis e o subsequente dano à sua reputação internacional.

Tanques israelenses fiscalizam a fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza em meio a guerra com o grupo terrorista Hamas  Foto: Jack Guez/ AFP

Outra razão para esperança é que Estados Unidos, Egito, as monarquias do Golfo e a Arábia Saudita têm bons motivos para trabalhar juntos. Com o espalhamento da guerra no Oriente Médio, todos esses países perceberam a extensão completa da influência maligna do Irã. Por meio de seus agentes regionais, armados com drones e mísseis, o Irã está tentando semear o caos regional, ao mesmo tempo em que tenta evitar uma guerra direta com Israel ou os Estados Unidos. Todos esses atores querem impedir o regime carniceiro do Irã de emergir como uma potência regional, capaz de ameaçar Israel e o Golfo, tomando o comércio mundial como refém. Isso faria da capacidade de dissuasão dos Estados Unidos uma piada. Ninguém quer ver uma guerra danosa opondo israelenses e americanos ao Irã. A paz é o único caminho para sair dessa crise.

O plano começa com uma pausa humanitária negociada pelos Estados Unidos, Catar e Egito. A primeira trégua, em novembro, durou apenas sete dias; esta, no entanto, duraria um ou dois meses e libertaria todos ou a maioria dos reféns ainda em poder do Hamas em fases. O acordo poderia servir de recomeço à política israelense e ajudar a opinião pública local a deixar para trás o terror de 7 de outubro. Os Estados Unidos e a Arábia Saudita estão pedindo a Israel um compromisso com a criação de um Estado Palestino, e prová-lo, por exemplo, com o congelamento da expansão dos assentamentos na Cisjordânia.

O próximo passo, segundo apuramos, envolve Mohamed Bin Salman, o autocrático mas modernizador líder saudita. Antes de 7 de outubro, ele estava negociando um acordo para reconhecer Israel em troca de um acordo de defesa com os Estados Unidos. De fato, uma das razões prováveis para o ataque do Hamas era sabotar esse pacto. Contra todas as probabilidades, a Arábia Saudita ainda está lutando por esse caminho. Contra todas as probabilidades, a Arábia Saudita ainda luta por esta visão. Um acordo marcaria o maior compromisso árabe com a paz em três décadas. Também vincularia Israel e ofereceria aos palestinos um compromisso concreto para a criação de um Estado. Com o tempo, isto poderá evoluir para uma aliança regional liderada pelos EUA para conter o Irã.

Líderes dos países do Golfo participam de uma reunião em Doha, no Catar  Foto: Abdulla Al-Neyadi/AFP

Restam dois grandes obstáculos no caminho: o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, e o líder do Hamas Yahya Sinwar, arquiteto dos atentados de outubro. Netanyahu foi a vida toda um cético sobre a criação de um Estado palestino. Ele também satisfez os objetivos violentos de colonos radicais. Entretanto, segundo pesquisas de opinião, apenas 15% dos israelenses defendem sua permanência no cargo após a guerra. Um longo cessar-fogo e a libertação de reféns podem criar uma abertura para seus rivais. Benny Gantz, por exemplo, poderia se livrar do gabinete de guerra com honra. O próximo líder de Israel pode ser alguém capaz de dizer ao seu povo que a melhor base para sua segurança não é a guerra interminável, mas alianças fortes e um caminho para a paz.

O presidente Joe Biden poderia acelerar essa transição tentando passar por cima dos objetivos de Netanyahu — assim como tantas vezes o próprio Bibi fez o mesmo com líderes americanos. Para isso, ele deveria abrir uma embaixada em Jerusalém para os palestinos, assim como Donald Trump fez com Israel. Ele também deve definir como os Estados Unidos veem os parâmetros para um Estado palestino e, se Israel se recusar obstinadamente a agir, deve estar pronto para reconhecê-lo.

E sobre Sinwar, o outro obstáculo? Acredita-se que ele esteja escondido no subsolo de algum lugar no sul da Faixa de Gaza, com soldados israelenses sobre sua cabeça. Ainda que ele tenha provocado uma catástrofe em Gaza, ele proclamará vitória simplesmente sobrevivendo. É possível que a ala mais fanática e violenta do Hamas emerja do fim do cessar-fogo como a força dominante em Gaza e requeira a liderança ampla dos palestinos. Com o apoio do Irã, Sinwar pode muito bem atacar Israel, provocar retaliações e, assim, sabotar o progresso rumo à paz.

Para vencer esse obstáculo, Israel deve seguir desmantelando a ampla rede de túneis do Hamas e manter a presença militar em Gaza por algum tempo. Isso vai desapontar quem defende uma retirada imediata. Mas deve ficar claro para Israel que, uma vez que as garantias de segurança estiverem asseguradas e o Hamas estiver longe do poder, a retirada será concluída.

Além disso, Sinwar precisa ser exilado em outro país, como o Catar, por exemplo, assim como Yasser Arafat foi para o Líbano e depois para a Tunísia. Ele provavelmente insistirá em ficar em Gaza, o que reforçaria o quão necessário é estabelecer tropas internacionais de paz no local, incluindo soldados de países árabes, encarregados de dar segurança e criar as condições para o surgimento de um governo moderado.

Para que tudo isso seja possível, é preciso uma vontade política urgente. Quanto mais Israel reprimir seus colonos na Cisjordânia, mas seu compromisso com um Estado palestino é crível, e mais margem de manobra terá para enfraquecer o radicalismo do Hamas em Gaza.

Quanto mais os países árabes estiverem dispostos a gastar dinheiro e oferecer segurança, mais confiantes os israelenses e palestinos comuns ficarão em relação à mudança. E quanto mais os Estados Unidos pressionarem todos os lados, melhor. A paz e a estabilidade no Oriente Médio sempre serão conquistadas com dificuldade. Mas o mundo deve aproveitar essa chance, porque o magnetismo pela guerra na região é implacável.

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