The Economist: Israel superou guerras, secas e pobreza; agora, aos 75 anos, maior ameaça é interna


Coalizão de Binyamin Netanyahu depende cada vez mais de partidos religiosos de direita envolvidos no movimento de colonos

Israel está comemorando seu 75.º aniversário e vale a pena reservar um momento para admirar como o país triunfou contra todas as adversidades. Antes de declarar independência, em 1948, seus generais advertiram que o país teria apenas 50% de chances de sobrevivência.

Hoje, Israel é imensamente rico, democrático e está mais seguro do que na maior parte de sua história – quer dizer, se desconsiderarmos os territórios que ocupa. Israel superou guerras, secas e pobreza com poucos dotes naturais, além da coragem humana. É uma exceção no Oriente Médio, um centro de inovação e um dos vencedores da globalização.

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No entanto, Israel enfrentará um conjunto diferente de oportunidades e ameaças nas próximas décadas. Dá para ver uma amostra disso no tumulto das últimas semanas: uma crise constitucional sobre a independência do Judiciário desencadeada pelo governo de direita de Binyamin Netanyahu; um misterioso vácuo de poder na estagnada Cisjordânia; e as regras da velha ordem liderada pelos americanos sendo destruídas à medida que Arábia Saudita, Irã e China fecham novos acordos.

Manifestantes usam banner gigante em protesto contra Binyamin Netanyahu em Tel-Aviv  Foto: Ariel Schalit/AP

No século 20, o risco de invasão ameaçava a sobrevivência de Israel. No 21, o perigo é que as divisões internas eliminem a força e a agilidade de que necessita para prosperar.

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Depois de 1948, o país construiu uma democracia liberal – e combativa – com tribunais ferozmente independentes, apesar da falta de uma Constituição escrita. Depois de flertar com o socialismo, abraçou os mercados.

Em 1980, seu PIB per capita era cerca de metade do da Alemanha. Agora é 12% maior. Israel é 11 vezes mais rico que o Egito. E tem mais startups de tecnologia do que o restante do Oriente Médio e mais prêmios Nobel do que a China.

O país navegou habilmente por mudanças geopolíticas. Após a Guerra Fria, absorveu 1 milhão de migrantes judeus da União Soviética, mantendo ao mesmo tempo sua relação especial com os EUA.

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Capacidade de união

Como a maioria dos lugares bem-sucedidos, Israel se aliou à competição e à mudança disruptiva com capacidade de união quando os riscos são altos. Sua vantagem militar sobre os vizinhos árabes, muito mais numerosos, reflete tecnologia superior e também um Exército de mais de 400 mil reservistas motivados.

Como as mudanças climáticas intensificaram as secas, o país criou uma rede de dessalinização estatal que fornece metade de sua água. Ao longo de seus dias mais sombrios e polarizados – a guerra do Yom Kippur, de 1973; sua desastrosa invasão do Líbano, em 1982; o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin em 1995, e todas as infindáveis negociações de paz fracassadas com os palestinos –, o país conseguiu se adaptar e encontrar uma nova acomodação política e social.

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A engenhosidade e resiliência de Israel serão testadas novamente por três novas tendências. Em primeiro lugar, a demografia. O país é jovem: sua população pode aumentar de 10 milhões, agora, para 20 milhões, em 2065.

Mas está cada vez mais dividido. A coalizão de Netanyahu depende de partidos religiosos de extrema direita envolvidos no crescente movimento de colonos. Por isso, quer limitar a independência dos tribunais, os quais considera pouco representativos.

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Enquanto isso, a proporção de cidadãos ultraortodoxos, um grupo com menos probabilidade de trabalhar, prestar serviço militar ou frequentar escolas convencionais, aumentará de 13% ,agora, para 32%, em 2065. Isso fragmentará ainda mais o eleitorado, deslocará a política para a direita e pressionará o caráter liberal-democrático de Israel.

Com o tempo, os valores dos cidadãos ultraortodoxos podem evoluir à medida que mais deles frequentam escolas convencionais ou entram no mercado de trabalho. Mas, se o afastamento de Israel dos valores liberais continuar, isso colocará em risco sua prosperidade. Seus programadores, investidores e criativos podem se mudar para outro lugar.

A segunda grande mudança é o declínio da importância global dos palestinos, 3 milhões dos quais vivem na Cisjordânia sob uma ocupação “temporária” de Israel, e 2 milhões dos quais estão em Gaza. No século 20, os presidentes americanos se esforçaram muito para tentar negociar um acordo de paz, supondo que seria a chave para proteger Israel e liberar o potencial do moribundo Oriente Médio.

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Protesto contra as reformas do premiê Netanyahu em Tel-Aviv Foto: Ariel Schalit/AP

Agora, o mundo desistiu e seguiu em frente. Para Israel, pode parecer uma bênção. É improvável que o país seja forçado por potências externas a fazer grandes concessões em território ou construção de assentamentos, mesmo que tenha construído laços políticos, econômicos e de defesa com mais Estados árabes por meio dos Acordos de Abraham, assinados em 2020.

No entanto, a longo prazo, é difícil ver como o abandono dos palestinos possa ser benéfico para Israel. A diferença econômica cresce cada vez mais: o PIB per capita na Cisjordânia é 94% menor do que em Israel e está no mesmo nível de Papua Nova Guiné.

A Autoridade Palestina está entrando em colapso: seus líderes, idosos, suspenderam as eleições e perderam a legitimidade. Os linha-dura israelenses aceitaram a contragosto os benefícios do desenvolvimento econômico mútuo, mesmo negando os direitos políticos aos palestinos.

Agora, os partidos de direita ascendentes de Israel querem isolar e empobrecer a Cisjordânia. Esta e a ainda mais miserável Gaza podem acabar como pequenos Estados falidos, comprometendo a segurança e a posição moral de Israel.

Estado de apartheid

A mudança final é o advento de um mundo multipolar. Os EUA foram o primeiro país a reconhecer Israel, em 1948, e têm sido seu fiel aliado. Um equilíbrio de poder global mais distribuído criará novas oportunidades para Israel, como vínculos com os vizinhos árabes e com a China e a Índia, que pouco se importam com os palestinos.

Israel já comercializa mais mercadorias com a Ásia do que com os EUA. O problema é que os EUA ainda fornecem 66% de suas importações de armas e uma garantia de segurança de fato que impede ataques, incluindo do Irã.

No atual caminho político iliberal de Israel, o apoio público na América vai enfraquecer e se tornar mais partidário: um em cada quatro judeus americanos diz que Israel é um Estado de apartheid.

O primeiro primeiro-ministro de Israel, David Ben-Gurion, escreveu em seu diário que o “destino de Israel está nas mãos de suas forças de defesa”. Hoje também se encontra com seu sistema político. É fácil imaginar um ciclo virtuoso que permita que Israel prospere nas próximas décadas.

A chave é um novo acordo político que diminua o poder dos extremistas e seja flexível o suficiente para absorver as tensões das mudanças demográficas. É por isso que Israel deve estabelecer uma convenção constitucional que codifique os poderes do Parlamento e dos tribunais e encoraje um realinhamento partidário que dê mais peso à sua maioria de centro – o que exigiria a saída de Netanyahu, que divide opiniões.

Políticas mais moderadas abririam a possibilidade de uma postura mais justa e pragmática em relação aos palestinos e reduziriam o risco de distanciamento em relação aos EUA. Israel controla seu próprio destino. Está na hora de agir.

© 2023 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

Israel está comemorando seu 75.º aniversário e vale a pena reservar um momento para admirar como o país triunfou contra todas as adversidades. Antes de declarar independência, em 1948, seus generais advertiram que o país teria apenas 50% de chances de sobrevivência.

Hoje, Israel é imensamente rico, democrático e está mais seguro do que na maior parte de sua história – quer dizer, se desconsiderarmos os territórios que ocupa. Israel superou guerras, secas e pobreza com poucos dotes naturais, além da coragem humana. É uma exceção no Oriente Médio, um centro de inovação e um dos vencedores da globalização.

No entanto, Israel enfrentará um conjunto diferente de oportunidades e ameaças nas próximas décadas. Dá para ver uma amostra disso no tumulto das últimas semanas: uma crise constitucional sobre a independência do Judiciário desencadeada pelo governo de direita de Binyamin Netanyahu; um misterioso vácuo de poder na estagnada Cisjordânia; e as regras da velha ordem liderada pelos americanos sendo destruídas à medida que Arábia Saudita, Irã e China fecham novos acordos.

Manifestantes usam banner gigante em protesto contra Binyamin Netanyahu em Tel-Aviv  Foto: Ariel Schalit/AP

No século 20, o risco de invasão ameaçava a sobrevivência de Israel. No 21, o perigo é que as divisões internas eliminem a força e a agilidade de que necessita para prosperar.

Depois de 1948, o país construiu uma democracia liberal – e combativa – com tribunais ferozmente independentes, apesar da falta de uma Constituição escrita. Depois de flertar com o socialismo, abraçou os mercados.

Em 1980, seu PIB per capita era cerca de metade do da Alemanha. Agora é 12% maior. Israel é 11 vezes mais rico que o Egito. E tem mais startups de tecnologia do que o restante do Oriente Médio e mais prêmios Nobel do que a China.

O país navegou habilmente por mudanças geopolíticas. Após a Guerra Fria, absorveu 1 milhão de migrantes judeus da União Soviética, mantendo ao mesmo tempo sua relação especial com os EUA.

Capacidade de união

Como a maioria dos lugares bem-sucedidos, Israel se aliou à competição e à mudança disruptiva com capacidade de união quando os riscos são altos. Sua vantagem militar sobre os vizinhos árabes, muito mais numerosos, reflete tecnologia superior e também um Exército de mais de 400 mil reservistas motivados.

Como as mudanças climáticas intensificaram as secas, o país criou uma rede de dessalinização estatal que fornece metade de sua água. Ao longo de seus dias mais sombrios e polarizados – a guerra do Yom Kippur, de 1973; sua desastrosa invasão do Líbano, em 1982; o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin em 1995, e todas as infindáveis negociações de paz fracassadas com os palestinos –, o país conseguiu se adaptar e encontrar uma nova acomodação política e social.

A engenhosidade e resiliência de Israel serão testadas novamente por três novas tendências. Em primeiro lugar, a demografia. O país é jovem: sua população pode aumentar de 10 milhões, agora, para 20 milhões, em 2065.

Mas está cada vez mais dividido. A coalizão de Netanyahu depende de partidos religiosos de extrema direita envolvidos no crescente movimento de colonos. Por isso, quer limitar a independência dos tribunais, os quais considera pouco representativos.

Enquanto isso, a proporção de cidadãos ultraortodoxos, um grupo com menos probabilidade de trabalhar, prestar serviço militar ou frequentar escolas convencionais, aumentará de 13% ,agora, para 32%, em 2065. Isso fragmentará ainda mais o eleitorado, deslocará a política para a direita e pressionará o caráter liberal-democrático de Israel.

Com o tempo, os valores dos cidadãos ultraortodoxos podem evoluir à medida que mais deles frequentam escolas convencionais ou entram no mercado de trabalho. Mas, se o afastamento de Israel dos valores liberais continuar, isso colocará em risco sua prosperidade. Seus programadores, investidores e criativos podem se mudar para outro lugar.

A segunda grande mudança é o declínio da importância global dos palestinos, 3 milhões dos quais vivem na Cisjordânia sob uma ocupação “temporária” de Israel, e 2 milhões dos quais estão em Gaza. No século 20, os presidentes americanos se esforçaram muito para tentar negociar um acordo de paz, supondo que seria a chave para proteger Israel e liberar o potencial do moribundo Oriente Médio.

Protesto contra as reformas do premiê Netanyahu em Tel-Aviv Foto: Ariel Schalit/AP

Agora, o mundo desistiu e seguiu em frente. Para Israel, pode parecer uma bênção. É improvável que o país seja forçado por potências externas a fazer grandes concessões em território ou construção de assentamentos, mesmo que tenha construído laços políticos, econômicos e de defesa com mais Estados árabes por meio dos Acordos de Abraham, assinados em 2020.

No entanto, a longo prazo, é difícil ver como o abandono dos palestinos possa ser benéfico para Israel. A diferença econômica cresce cada vez mais: o PIB per capita na Cisjordânia é 94% menor do que em Israel e está no mesmo nível de Papua Nova Guiné.

A Autoridade Palestina está entrando em colapso: seus líderes, idosos, suspenderam as eleições e perderam a legitimidade. Os linha-dura israelenses aceitaram a contragosto os benefícios do desenvolvimento econômico mútuo, mesmo negando os direitos políticos aos palestinos.

Agora, os partidos de direita ascendentes de Israel querem isolar e empobrecer a Cisjordânia. Esta e a ainda mais miserável Gaza podem acabar como pequenos Estados falidos, comprometendo a segurança e a posição moral de Israel.

Estado de apartheid

A mudança final é o advento de um mundo multipolar. Os EUA foram o primeiro país a reconhecer Israel, em 1948, e têm sido seu fiel aliado. Um equilíbrio de poder global mais distribuído criará novas oportunidades para Israel, como vínculos com os vizinhos árabes e com a China e a Índia, que pouco se importam com os palestinos.

Israel já comercializa mais mercadorias com a Ásia do que com os EUA. O problema é que os EUA ainda fornecem 66% de suas importações de armas e uma garantia de segurança de fato que impede ataques, incluindo do Irã.

No atual caminho político iliberal de Israel, o apoio público na América vai enfraquecer e se tornar mais partidário: um em cada quatro judeus americanos diz que Israel é um Estado de apartheid.

O primeiro primeiro-ministro de Israel, David Ben-Gurion, escreveu em seu diário que o “destino de Israel está nas mãos de suas forças de defesa”. Hoje também se encontra com seu sistema político. É fácil imaginar um ciclo virtuoso que permita que Israel prospere nas próximas décadas.

A chave é um novo acordo político que diminua o poder dos extremistas e seja flexível o suficiente para absorver as tensões das mudanças demográficas. É por isso que Israel deve estabelecer uma convenção constitucional que codifique os poderes do Parlamento e dos tribunais e encoraje um realinhamento partidário que dê mais peso à sua maioria de centro – o que exigiria a saída de Netanyahu, que divide opiniões.

Políticas mais moderadas abririam a possibilidade de uma postura mais justa e pragmática em relação aos palestinos e reduziriam o risco de distanciamento em relação aos EUA. Israel controla seu próprio destino. Está na hora de agir.

© 2023 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

Israel está comemorando seu 75.º aniversário e vale a pena reservar um momento para admirar como o país triunfou contra todas as adversidades. Antes de declarar independência, em 1948, seus generais advertiram que o país teria apenas 50% de chances de sobrevivência.

Hoje, Israel é imensamente rico, democrático e está mais seguro do que na maior parte de sua história – quer dizer, se desconsiderarmos os territórios que ocupa. Israel superou guerras, secas e pobreza com poucos dotes naturais, além da coragem humana. É uma exceção no Oriente Médio, um centro de inovação e um dos vencedores da globalização.

No entanto, Israel enfrentará um conjunto diferente de oportunidades e ameaças nas próximas décadas. Dá para ver uma amostra disso no tumulto das últimas semanas: uma crise constitucional sobre a independência do Judiciário desencadeada pelo governo de direita de Binyamin Netanyahu; um misterioso vácuo de poder na estagnada Cisjordânia; e as regras da velha ordem liderada pelos americanos sendo destruídas à medida que Arábia Saudita, Irã e China fecham novos acordos.

Manifestantes usam banner gigante em protesto contra Binyamin Netanyahu em Tel-Aviv  Foto: Ariel Schalit/AP

No século 20, o risco de invasão ameaçava a sobrevivência de Israel. No 21, o perigo é que as divisões internas eliminem a força e a agilidade de que necessita para prosperar.

Depois de 1948, o país construiu uma democracia liberal – e combativa – com tribunais ferozmente independentes, apesar da falta de uma Constituição escrita. Depois de flertar com o socialismo, abraçou os mercados.

Em 1980, seu PIB per capita era cerca de metade do da Alemanha. Agora é 12% maior. Israel é 11 vezes mais rico que o Egito. E tem mais startups de tecnologia do que o restante do Oriente Médio e mais prêmios Nobel do que a China.

O país navegou habilmente por mudanças geopolíticas. Após a Guerra Fria, absorveu 1 milhão de migrantes judeus da União Soviética, mantendo ao mesmo tempo sua relação especial com os EUA.

Capacidade de união

Como a maioria dos lugares bem-sucedidos, Israel se aliou à competição e à mudança disruptiva com capacidade de união quando os riscos são altos. Sua vantagem militar sobre os vizinhos árabes, muito mais numerosos, reflete tecnologia superior e também um Exército de mais de 400 mil reservistas motivados.

Como as mudanças climáticas intensificaram as secas, o país criou uma rede de dessalinização estatal que fornece metade de sua água. Ao longo de seus dias mais sombrios e polarizados – a guerra do Yom Kippur, de 1973; sua desastrosa invasão do Líbano, em 1982; o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin em 1995, e todas as infindáveis negociações de paz fracassadas com os palestinos –, o país conseguiu se adaptar e encontrar uma nova acomodação política e social.

A engenhosidade e resiliência de Israel serão testadas novamente por três novas tendências. Em primeiro lugar, a demografia. O país é jovem: sua população pode aumentar de 10 milhões, agora, para 20 milhões, em 2065.

Mas está cada vez mais dividido. A coalizão de Netanyahu depende de partidos religiosos de extrema direita envolvidos no crescente movimento de colonos. Por isso, quer limitar a independência dos tribunais, os quais considera pouco representativos.

Enquanto isso, a proporção de cidadãos ultraortodoxos, um grupo com menos probabilidade de trabalhar, prestar serviço militar ou frequentar escolas convencionais, aumentará de 13% ,agora, para 32%, em 2065. Isso fragmentará ainda mais o eleitorado, deslocará a política para a direita e pressionará o caráter liberal-democrático de Israel.

Com o tempo, os valores dos cidadãos ultraortodoxos podem evoluir à medida que mais deles frequentam escolas convencionais ou entram no mercado de trabalho. Mas, se o afastamento de Israel dos valores liberais continuar, isso colocará em risco sua prosperidade. Seus programadores, investidores e criativos podem se mudar para outro lugar.

A segunda grande mudança é o declínio da importância global dos palestinos, 3 milhões dos quais vivem na Cisjordânia sob uma ocupação “temporária” de Israel, e 2 milhões dos quais estão em Gaza. No século 20, os presidentes americanos se esforçaram muito para tentar negociar um acordo de paz, supondo que seria a chave para proteger Israel e liberar o potencial do moribundo Oriente Médio.

Protesto contra as reformas do premiê Netanyahu em Tel-Aviv Foto: Ariel Schalit/AP

Agora, o mundo desistiu e seguiu em frente. Para Israel, pode parecer uma bênção. É improvável que o país seja forçado por potências externas a fazer grandes concessões em território ou construção de assentamentos, mesmo que tenha construído laços políticos, econômicos e de defesa com mais Estados árabes por meio dos Acordos de Abraham, assinados em 2020.

No entanto, a longo prazo, é difícil ver como o abandono dos palestinos possa ser benéfico para Israel. A diferença econômica cresce cada vez mais: o PIB per capita na Cisjordânia é 94% menor do que em Israel e está no mesmo nível de Papua Nova Guiné.

A Autoridade Palestina está entrando em colapso: seus líderes, idosos, suspenderam as eleições e perderam a legitimidade. Os linha-dura israelenses aceitaram a contragosto os benefícios do desenvolvimento econômico mútuo, mesmo negando os direitos políticos aos palestinos.

Agora, os partidos de direita ascendentes de Israel querem isolar e empobrecer a Cisjordânia. Esta e a ainda mais miserável Gaza podem acabar como pequenos Estados falidos, comprometendo a segurança e a posição moral de Israel.

Estado de apartheid

A mudança final é o advento de um mundo multipolar. Os EUA foram o primeiro país a reconhecer Israel, em 1948, e têm sido seu fiel aliado. Um equilíbrio de poder global mais distribuído criará novas oportunidades para Israel, como vínculos com os vizinhos árabes e com a China e a Índia, que pouco se importam com os palestinos.

Israel já comercializa mais mercadorias com a Ásia do que com os EUA. O problema é que os EUA ainda fornecem 66% de suas importações de armas e uma garantia de segurança de fato que impede ataques, incluindo do Irã.

No atual caminho político iliberal de Israel, o apoio público na América vai enfraquecer e se tornar mais partidário: um em cada quatro judeus americanos diz que Israel é um Estado de apartheid.

O primeiro primeiro-ministro de Israel, David Ben-Gurion, escreveu em seu diário que o “destino de Israel está nas mãos de suas forças de defesa”. Hoje também se encontra com seu sistema político. É fácil imaginar um ciclo virtuoso que permita que Israel prospere nas próximas décadas.

A chave é um novo acordo político que diminua o poder dos extremistas e seja flexível o suficiente para absorver as tensões das mudanças demográficas. É por isso que Israel deve estabelecer uma convenção constitucional que codifique os poderes do Parlamento e dos tribunais e encoraje um realinhamento partidário que dê mais peso à sua maioria de centro – o que exigiria a saída de Netanyahu, que divide opiniões.

Políticas mais moderadas abririam a possibilidade de uma postura mais justa e pragmática em relação aos palestinos e reduziriam o risco de distanciamento em relação aos EUA. Israel controla seu próprio destino. Está na hora de agir.

© 2023 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

Israel está comemorando seu 75.º aniversário e vale a pena reservar um momento para admirar como o país triunfou contra todas as adversidades. Antes de declarar independência, em 1948, seus generais advertiram que o país teria apenas 50% de chances de sobrevivência.

Hoje, Israel é imensamente rico, democrático e está mais seguro do que na maior parte de sua história – quer dizer, se desconsiderarmos os territórios que ocupa. Israel superou guerras, secas e pobreza com poucos dotes naturais, além da coragem humana. É uma exceção no Oriente Médio, um centro de inovação e um dos vencedores da globalização.

No entanto, Israel enfrentará um conjunto diferente de oportunidades e ameaças nas próximas décadas. Dá para ver uma amostra disso no tumulto das últimas semanas: uma crise constitucional sobre a independência do Judiciário desencadeada pelo governo de direita de Binyamin Netanyahu; um misterioso vácuo de poder na estagnada Cisjordânia; e as regras da velha ordem liderada pelos americanos sendo destruídas à medida que Arábia Saudita, Irã e China fecham novos acordos.

Manifestantes usam banner gigante em protesto contra Binyamin Netanyahu em Tel-Aviv  Foto: Ariel Schalit/AP

No século 20, o risco de invasão ameaçava a sobrevivência de Israel. No 21, o perigo é que as divisões internas eliminem a força e a agilidade de que necessita para prosperar.

Depois de 1948, o país construiu uma democracia liberal – e combativa – com tribunais ferozmente independentes, apesar da falta de uma Constituição escrita. Depois de flertar com o socialismo, abraçou os mercados.

Em 1980, seu PIB per capita era cerca de metade do da Alemanha. Agora é 12% maior. Israel é 11 vezes mais rico que o Egito. E tem mais startups de tecnologia do que o restante do Oriente Médio e mais prêmios Nobel do que a China.

O país navegou habilmente por mudanças geopolíticas. Após a Guerra Fria, absorveu 1 milhão de migrantes judeus da União Soviética, mantendo ao mesmo tempo sua relação especial com os EUA.

Capacidade de união

Como a maioria dos lugares bem-sucedidos, Israel se aliou à competição e à mudança disruptiva com capacidade de união quando os riscos são altos. Sua vantagem militar sobre os vizinhos árabes, muito mais numerosos, reflete tecnologia superior e também um Exército de mais de 400 mil reservistas motivados.

Como as mudanças climáticas intensificaram as secas, o país criou uma rede de dessalinização estatal que fornece metade de sua água. Ao longo de seus dias mais sombrios e polarizados – a guerra do Yom Kippur, de 1973; sua desastrosa invasão do Líbano, em 1982; o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin em 1995, e todas as infindáveis negociações de paz fracassadas com os palestinos –, o país conseguiu se adaptar e encontrar uma nova acomodação política e social.

A engenhosidade e resiliência de Israel serão testadas novamente por três novas tendências. Em primeiro lugar, a demografia. O país é jovem: sua população pode aumentar de 10 milhões, agora, para 20 milhões, em 2065.

Mas está cada vez mais dividido. A coalizão de Netanyahu depende de partidos religiosos de extrema direita envolvidos no crescente movimento de colonos. Por isso, quer limitar a independência dos tribunais, os quais considera pouco representativos.

Enquanto isso, a proporção de cidadãos ultraortodoxos, um grupo com menos probabilidade de trabalhar, prestar serviço militar ou frequentar escolas convencionais, aumentará de 13% ,agora, para 32%, em 2065. Isso fragmentará ainda mais o eleitorado, deslocará a política para a direita e pressionará o caráter liberal-democrático de Israel.

Com o tempo, os valores dos cidadãos ultraortodoxos podem evoluir à medida que mais deles frequentam escolas convencionais ou entram no mercado de trabalho. Mas, se o afastamento de Israel dos valores liberais continuar, isso colocará em risco sua prosperidade. Seus programadores, investidores e criativos podem se mudar para outro lugar.

A segunda grande mudança é o declínio da importância global dos palestinos, 3 milhões dos quais vivem na Cisjordânia sob uma ocupação “temporária” de Israel, e 2 milhões dos quais estão em Gaza. No século 20, os presidentes americanos se esforçaram muito para tentar negociar um acordo de paz, supondo que seria a chave para proteger Israel e liberar o potencial do moribundo Oriente Médio.

Protesto contra as reformas do premiê Netanyahu em Tel-Aviv Foto: Ariel Schalit/AP

Agora, o mundo desistiu e seguiu em frente. Para Israel, pode parecer uma bênção. É improvável que o país seja forçado por potências externas a fazer grandes concessões em território ou construção de assentamentos, mesmo que tenha construído laços políticos, econômicos e de defesa com mais Estados árabes por meio dos Acordos de Abraham, assinados em 2020.

No entanto, a longo prazo, é difícil ver como o abandono dos palestinos possa ser benéfico para Israel. A diferença econômica cresce cada vez mais: o PIB per capita na Cisjordânia é 94% menor do que em Israel e está no mesmo nível de Papua Nova Guiné.

A Autoridade Palestina está entrando em colapso: seus líderes, idosos, suspenderam as eleições e perderam a legitimidade. Os linha-dura israelenses aceitaram a contragosto os benefícios do desenvolvimento econômico mútuo, mesmo negando os direitos políticos aos palestinos.

Agora, os partidos de direita ascendentes de Israel querem isolar e empobrecer a Cisjordânia. Esta e a ainda mais miserável Gaza podem acabar como pequenos Estados falidos, comprometendo a segurança e a posição moral de Israel.

Estado de apartheid

A mudança final é o advento de um mundo multipolar. Os EUA foram o primeiro país a reconhecer Israel, em 1948, e têm sido seu fiel aliado. Um equilíbrio de poder global mais distribuído criará novas oportunidades para Israel, como vínculos com os vizinhos árabes e com a China e a Índia, que pouco se importam com os palestinos.

Israel já comercializa mais mercadorias com a Ásia do que com os EUA. O problema é que os EUA ainda fornecem 66% de suas importações de armas e uma garantia de segurança de fato que impede ataques, incluindo do Irã.

No atual caminho político iliberal de Israel, o apoio público na América vai enfraquecer e se tornar mais partidário: um em cada quatro judeus americanos diz que Israel é um Estado de apartheid.

O primeiro primeiro-ministro de Israel, David Ben-Gurion, escreveu em seu diário que o “destino de Israel está nas mãos de suas forças de defesa”. Hoje também se encontra com seu sistema político. É fácil imaginar um ciclo virtuoso que permita que Israel prospere nas próximas décadas.

A chave é um novo acordo político que diminua o poder dos extremistas e seja flexível o suficiente para absorver as tensões das mudanças demográficas. É por isso que Israel deve estabelecer uma convenção constitucional que codifique os poderes do Parlamento e dos tribunais e encoraje um realinhamento partidário que dê mais peso à sua maioria de centro – o que exigiria a saída de Netanyahu, que divide opiniões.

Políticas mais moderadas abririam a possibilidade de uma postura mais justa e pragmática em relação aos palestinos e reduziriam o risco de distanciamento em relação aos EUA. Israel controla seu próprio destino. Está na hora de agir.

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