The Economist: Mais unida com a guerra, União Europeia enfrenta desafio vital de manter coesão


Desde que teve início a invasão russa à Ucrânia, os 27 Estados-membros do bloco agiram como um só

Por The Economist
Atualização:

Ela pode ser chamada de União Europeia, mas com frequência enfrentou dificuldades para fazer jus a este nome. Não nas semanas recentes. Desde que teve início a invasão russa à Ucrânia, em 24 de fevereiro, os 27 Estados-membros da UE agiram como um só. Coesa em seus objetivos e coordenada em suas ações, a Europa tem frutificado em seu novo papel como uma potência de primeiro nível. Ainda assim, os efeitos unificadores do impulso original estão começando a desvanecer. A exigência da Ucrânia de que a Europa faça muito mais para ajudá-la é um teste preliminar para a unidade do bloco à medida que a guerra se arrasta.

A velocidade e a determinação com as quais a Europa agiu inicialmente espantaram até os mais veteranos em Bruxelas. Crises anteriores – seja o miasma na zona do euro, uma década atrás, ou a resposta do bloco à covid-19 – mostraram que pode levar meses, talvez anos, para que a união opere efetivamente. A visão de bombas massacrando civis às portas do bloco, em contraste, chocou a UE e a fez agir.

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Diferenças em ênfases persistem, o que é inevitável em um clube de democracias. Mas repetidas reuniões de líderes – a terceira em um mês foi realizada na quinta-feira com a presença do presidente americano, Joe Biden – resultaram em uma Europa que toma seguidas medidas decisivas.

Joe Biden (2° à esq.) conversa com líderes da UE, da Otan e do G-7 em Bruxelas  Foto: Henry Nicholls/AFP

Foram encontrados fundos para fornecer armas para a Ucrânia. Qualquer ucraniano em busca de abrigo na UE pode entrar. Talvez mais importante, duras sanções foram aplicadas quando a guerra irrompeu. Dado que EUA e Europa não estão dispostos a intervir militarmente, essas são as principais ferramentas. Poucos esperavam grande coisa, já que qualquer um dos 27 Estados-membros poderia ter vetado sanções.

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A Europa chegou a um consenso, em vez de um acordo total, antes de mover-se adiante. A unidade foi forjada apesar de discordâncias a respeito do quanto amarrar a Rússia para isolá-la. Os “sancionistas” pressionaram por um embargo mais estrito, incluindo uma proibição às importações de petróleo e gás natural.

Países como a Polônia e os Estados bálticos preocupam-se com a possibilidade de serem os próximos a ser atacados pela Rússia; e afirmam que estariam dispostos a viver sob luz de velas se isso impedir o fluxo de dinheiro a Moscou. Países mais hesitantes, incluindo Alemanha e Itália, têm relutado em cortar o fornecimento de energia russa do qual dependem.

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Em parte graças à indignação da opinião pública, o grupo hesitante se viu obrigado a apoiar medidas duras, que ninguém considerava factíveis – apesar de ainda não representarem um embargo da energia russa. Serguei Lavrov, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, admitiu esta semana que a magnitude das medidas surpreenderam o Kremlin.

No entanto, discórdias antigas persistem. A Polônia está pedindo um banimento total no comércio com a Rússia. A Alemanha continua se opondo firmemente. “Sanções não deveriam prejudicar os Estados europeus mais que a liderança russa”, afirmou o chanceler alemão, Olaf Scholz, na quarta-feira – como ocorre com frequência em debates da UE, outros países que concordam evitam expor publicamente seus argumentos. Uma sensação familiar de impasse agora persiste.

Seu navegador não suporta esse video.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que Washington chegou à conclusão de que o exército russo cometeu ‘crimes de guerra na Ucrânia’.

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Como resultado, ucranianos que anteriormente louvavam os benefícios da unidade europeia passaram a questioná-la. “O que vimos no início da guerra foi a ascensão da UE como um poderoso jogador, capaz de ocasionar mudanças”, afirma Dmitro Kuleba, chanceler da Ucrânia. “O que vimos nos dez dias recentes na UE é um retorno à sua antiga normalidade, na qual o bloco é incapaz de decidir por ações fortes e ágeis.”

Kuleba, que falou com a Economist a partir de um local não revelado na Ucrânia, vê sinais iniciais de uma “fadiga a sanções” na Europa. Algumas das medidas decididas em acordo parecem menos eficazes, agora que brechas foram encontradas. O congelamento das reservas do Banco Central russo no exterior, por exemplo, foi moldado de maneira que permitiu à Rússia continuar cumprindo suas obrigações de dívida e afastou o calote técnico.

Há outros pontos de atrito. A Ucrânia solicitou sua adesão à UE. Países do leste tendem a permitir sua entrada no bloco. Mas membros fundadores, como França e Alemanha, insistiram que a UE ofereça apenas garantias vagas de que a Ucrânia pertence à “família europeia”.

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Isolamento

A UE poderia ser forçada a impor mais sanções – se a Rússia usar, digamos, armas químicas ou cometer outros ultrajes em batalha. Estados-membros, e o bloco como um todo, estão se esforçando para enviar armas à Ucrânia – Kuleba, como esperado, quer mais quantidades e mais rapidamente.

Independentemente da maneira como a guerra evoluir, a situação de segurança na Europa tende a continuar tensa. Assim sendo, todos os lados se esforçam como podem para apaziguar brigas que poderiam azedar o ambiente de unidade.

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Alguns precisarão de respostas prontamente. Mais de 3 milhões de ucranianos já buscaram refúgio na UE, por exemplo. Quase dois terços deles estão na Polônia, que tem tido dificuldade para lidar com a situação. Um fluxo menor de refugiados sírios e afegãos causou debates longos e ácidos em 2015. Desta vez, de qualquer modo, a Polônia receberá ajuda.

Outros desentendimentos estão emergindo. Muitos a respeito de dinheiro, agravados por sombrias perspectivas econômicas. A França está entre os que sugerem que o custo das sanções e de uma defesa mais forte deveriam ser financiados por um fundo conjunto similar ao que a UE levantou para lidar com a covid-19. No norte “frugal”, predomina o ceticismo. Em algum ponto, ocorrerá uma briga a respeito de quando reinstituir as regras de austeridade no orçamento da UE suspensas em razão da pandemia.

A Polônia está exigindo fundos da UE que foram congelados em razão de preocupações a respeito de o país ter minado seu Judiciário. Muitos países-membros preferem defender os princípios do “estado de direito”, com ou sem guerra.

Futuro

Políticas duradouras que pareciam definidas podem ser examinadas sob uma nova luz após a guerra. A Europa será capaz de cortar emissões de carbono tão rapidamente, dado o choque no fornecimento de energia ocasionado pela guerra? A França está afeita a avançar com sua ideia de “autonomia estratégica”, um conceito nebuloso que inclui a Europa depender menos da Otan para sua defesa. O Leste Europeu ainda considera a Otan – e, portanto, os EUA – a guardiã de suas fronteiras.

A frustração de Kuleba em razão de novas ondas de sanções europeias não serem previstas é compreensível. Mas os atuais desentendimentos no coração da UE refletem diferenças de opinião legítimas, não querelas sem sentido. O impulso de unidade da Europa conferiu ao continente uma relevância belicosa raramente vista. Em um mês de guerra, a UE serviu bem ao seu propósito. Mas agora deve se esforçar para fazer mais./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

© 2022 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

Ela pode ser chamada de União Europeia, mas com frequência enfrentou dificuldades para fazer jus a este nome. Não nas semanas recentes. Desde que teve início a invasão russa à Ucrânia, em 24 de fevereiro, os 27 Estados-membros da UE agiram como um só. Coesa em seus objetivos e coordenada em suas ações, a Europa tem frutificado em seu novo papel como uma potência de primeiro nível. Ainda assim, os efeitos unificadores do impulso original estão começando a desvanecer. A exigência da Ucrânia de que a Europa faça muito mais para ajudá-la é um teste preliminar para a unidade do bloco à medida que a guerra se arrasta.

A velocidade e a determinação com as quais a Europa agiu inicialmente espantaram até os mais veteranos em Bruxelas. Crises anteriores – seja o miasma na zona do euro, uma década atrás, ou a resposta do bloco à covid-19 – mostraram que pode levar meses, talvez anos, para que a união opere efetivamente. A visão de bombas massacrando civis às portas do bloco, em contraste, chocou a UE e a fez agir.

Diferenças em ênfases persistem, o que é inevitável em um clube de democracias. Mas repetidas reuniões de líderes – a terceira em um mês foi realizada na quinta-feira com a presença do presidente americano, Joe Biden – resultaram em uma Europa que toma seguidas medidas decisivas.

Joe Biden (2° à esq.) conversa com líderes da UE, da Otan e do G-7 em Bruxelas  Foto: Henry Nicholls/AFP

Foram encontrados fundos para fornecer armas para a Ucrânia. Qualquer ucraniano em busca de abrigo na UE pode entrar. Talvez mais importante, duras sanções foram aplicadas quando a guerra irrompeu. Dado que EUA e Europa não estão dispostos a intervir militarmente, essas são as principais ferramentas. Poucos esperavam grande coisa, já que qualquer um dos 27 Estados-membros poderia ter vetado sanções.

A Europa chegou a um consenso, em vez de um acordo total, antes de mover-se adiante. A unidade foi forjada apesar de discordâncias a respeito do quanto amarrar a Rússia para isolá-la. Os “sancionistas” pressionaram por um embargo mais estrito, incluindo uma proibição às importações de petróleo e gás natural.

Países como a Polônia e os Estados bálticos preocupam-se com a possibilidade de serem os próximos a ser atacados pela Rússia; e afirmam que estariam dispostos a viver sob luz de velas se isso impedir o fluxo de dinheiro a Moscou. Países mais hesitantes, incluindo Alemanha e Itália, têm relutado em cortar o fornecimento de energia russa do qual dependem.

Em parte graças à indignação da opinião pública, o grupo hesitante se viu obrigado a apoiar medidas duras, que ninguém considerava factíveis – apesar de ainda não representarem um embargo da energia russa. Serguei Lavrov, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, admitiu esta semana que a magnitude das medidas surpreenderam o Kremlin.

No entanto, discórdias antigas persistem. A Polônia está pedindo um banimento total no comércio com a Rússia. A Alemanha continua se opondo firmemente. “Sanções não deveriam prejudicar os Estados europeus mais que a liderança russa”, afirmou o chanceler alemão, Olaf Scholz, na quarta-feira – como ocorre com frequência em debates da UE, outros países que concordam evitam expor publicamente seus argumentos. Uma sensação familiar de impasse agora persiste.

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O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que Washington chegou à conclusão de que o exército russo cometeu ‘crimes de guerra na Ucrânia’.

Como resultado, ucranianos que anteriormente louvavam os benefícios da unidade europeia passaram a questioná-la. “O que vimos no início da guerra foi a ascensão da UE como um poderoso jogador, capaz de ocasionar mudanças”, afirma Dmitro Kuleba, chanceler da Ucrânia. “O que vimos nos dez dias recentes na UE é um retorno à sua antiga normalidade, na qual o bloco é incapaz de decidir por ações fortes e ágeis.”

Kuleba, que falou com a Economist a partir de um local não revelado na Ucrânia, vê sinais iniciais de uma “fadiga a sanções” na Europa. Algumas das medidas decididas em acordo parecem menos eficazes, agora que brechas foram encontradas. O congelamento das reservas do Banco Central russo no exterior, por exemplo, foi moldado de maneira que permitiu à Rússia continuar cumprindo suas obrigações de dívida e afastou o calote técnico.

Há outros pontos de atrito. A Ucrânia solicitou sua adesão à UE. Países do leste tendem a permitir sua entrada no bloco. Mas membros fundadores, como França e Alemanha, insistiram que a UE ofereça apenas garantias vagas de que a Ucrânia pertence à “família europeia”.

Isolamento

A UE poderia ser forçada a impor mais sanções – se a Rússia usar, digamos, armas químicas ou cometer outros ultrajes em batalha. Estados-membros, e o bloco como um todo, estão se esforçando para enviar armas à Ucrânia – Kuleba, como esperado, quer mais quantidades e mais rapidamente.

Independentemente da maneira como a guerra evoluir, a situação de segurança na Europa tende a continuar tensa. Assim sendo, todos os lados se esforçam como podem para apaziguar brigas que poderiam azedar o ambiente de unidade.

Alguns precisarão de respostas prontamente. Mais de 3 milhões de ucranianos já buscaram refúgio na UE, por exemplo. Quase dois terços deles estão na Polônia, que tem tido dificuldade para lidar com a situação. Um fluxo menor de refugiados sírios e afegãos causou debates longos e ácidos em 2015. Desta vez, de qualquer modo, a Polônia receberá ajuda.

Outros desentendimentos estão emergindo. Muitos a respeito de dinheiro, agravados por sombrias perspectivas econômicas. A França está entre os que sugerem que o custo das sanções e de uma defesa mais forte deveriam ser financiados por um fundo conjunto similar ao que a UE levantou para lidar com a covid-19. No norte “frugal”, predomina o ceticismo. Em algum ponto, ocorrerá uma briga a respeito de quando reinstituir as regras de austeridade no orçamento da UE suspensas em razão da pandemia.

A Polônia está exigindo fundos da UE que foram congelados em razão de preocupações a respeito de o país ter minado seu Judiciário. Muitos países-membros preferem defender os princípios do “estado de direito”, com ou sem guerra.

Futuro

Políticas duradouras que pareciam definidas podem ser examinadas sob uma nova luz após a guerra. A Europa será capaz de cortar emissões de carbono tão rapidamente, dado o choque no fornecimento de energia ocasionado pela guerra? A França está afeita a avançar com sua ideia de “autonomia estratégica”, um conceito nebuloso que inclui a Europa depender menos da Otan para sua defesa. O Leste Europeu ainda considera a Otan – e, portanto, os EUA – a guardiã de suas fronteiras.

A frustração de Kuleba em razão de novas ondas de sanções europeias não serem previstas é compreensível. Mas os atuais desentendimentos no coração da UE refletem diferenças de opinião legítimas, não querelas sem sentido. O impulso de unidade da Europa conferiu ao continente uma relevância belicosa raramente vista. Em um mês de guerra, a UE serviu bem ao seu propósito. Mas agora deve se esforçar para fazer mais./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

© 2022 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

Ela pode ser chamada de União Europeia, mas com frequência enfrentou dificuldades para fazer jus a este nome. Não nas semanas recentes. Desde que teve início a invasão russa à Ucrânia, em 24 de fevereiro, os 27 Estados-membros da UE agiram como um só. Coesa em seus objetivos e coordenada em suas ações, a Europa tem frutificado em seu novo papel como uma potência de primeiro nível. Ainda assim, os efeitos unificadores do impulso original estão começando a desvanecer. A exigência da Ucrânia de que a Europa faça muito mais para ajudá-la é um teste preliminar para a unidade do bloco à medida que a guerra se arrasta.

A velocidade e a determinação com as quais a Europa agiu inicialmente espantaram até os mais veteranos em Bruxelas. Crises anteriores – seja o miasma na zona do euro, uma década atrás, ou a resposta do bloco à covid-19 – mostraram que pode levar meses, talvez anos, para que a união opere efetivamente. A visão de bombas massacrando civis às portas do bloco, em contraste, chocou a UE e a fez agir.

Diferenças em ênfases persistem, o que é inevitável em um clube de democracias. Mas repetidas reuniões de líderes – a terceira em um mês foi realizada na quinta-feira com a presença do presidente americano, Joe Biden – resultaram em uma Europa que toma seguidas medidas decisivas.

Joe Biden (2° à esq.) conversa com líderes da UE, da Otan e do G-7 em Bruxelas  Foto: Henry Nicholls/AFP

Foram encontrados fundos para fornecer armas para a Ucrânia. Qualquer ucraniano em busca de abrigo na UE pode entrar. Talvez mais importante, duras sanções foram aplicadas quando a guerra irrompeu. Dado que EUA e Europa não estão dispostos a intervir militarmente, essas são as principais ferramentas. Poucos esperavam grande coisa, já que qualquer um dos 27 Estados-membros poderia ter vetado sanções.

A Europa chegou a um consenso, em vez de um acordo total, antes de mover-se adiante. A unidade foi forjada apesar de discordâncias a respeito do quanto amarrar a Rússia para isolá-la. Os “sancionistas” pressionaram por um embargo mais estrito, incluindo uma proibição às importações de petróleo e gás natural.

Países como a Polônia e os Estados bálticos preocupam-se com a possibilidade de serem os próximos a ser atacados pela Rússia; e afirmam que estariam dispostos a viver sob luz de velas se isso impedir o fluxo de dinheiro a Moscou. Países mais hesitantes, incluindo Alemanha e Itália, têm relutado em cortar o fornecimento de energia russa do qual dependem.

Em parte graças à indignação da opinião pública, o grupo hesitante se viu obrigado a apoiar medidas duras, que ninguém considerava factíveis – apesar de ainda não representarem um embargo da energia russa. Serguei Lavrov, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, admitiu esta semana que a magnitude das medidas surpreenderam o Kremlin.

No entanto, discórdias antigas persistem. A Polônia está pedindo um banimento total no comércio com a Rússia. A Alemanha continua se opondo firmemente. “Sanções não deveriam prejudicar os Estados europeus mais que a liderança russa”, afirmou o chanceler alemão, Olaf Scholz, na quarta-feira – como ocorre com frequência em debates da UE, outros países que concordam evitam expor publicamente seus argumentos. Uma sensação familiar de impasse agora persiste.

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O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que Washington chegou à conclusão de que o exército russo cometeu ‘crimes de guerra na Ucrânia’.

Como resultado, ucranianos que anteriormente louvavam os benefícios da unidade europeia passaram a questioná-la. “O que vimos no início da guerra foi a ascensão da UE como um poderoso jogador, capaz de ocasionar mudanças”, afirma Dmitro Kuleba, chanceler da Ucrânia. “O que vimos nos dez dias recentes na UE é um retorno à sua antiga normalidade, na qual o bloco é incapaz de decidir por ações fortes e ágeis.”

Kuleba, que falou com a Economist a partir de um local não revelado na Ucrânia, vê sinais iniciais de uma “fadiga a sanções” na Europa. Algumas das medidas decididas em acordo parecem menos eficazes, agora que brechas foram encontradas. O congelamento das reservas do Banco Central russo no exterior, por exemplo, foi moldado de maneira que permitiu à Rússia continuar cumprindo suas obrigações de dívida e afastou o calote técnico.

Há outros pontos de atrito. A Ucrânia solicitou sua adesão à UE. Países do leste tendem a permitir sua entrada no bloco. Mas membros fundadores, como França e Alemanha, insistiram que a UE ofereça apenas garantias vagas de que a Ucrânia pertence à “família europeia”.

Isolamento

A UE poderia ser forçada a impor mais sanções – se a Rússia usar, digamos, armas químicas ou cometer outros ultrajes em batalha. Estados-membros, e o bloco como um todo, estão se esforçando para enviar armas à Ucrânia – Kuleba, como esperado, quer mais quantidades e mais rapidamente.

Independentemente da maneira como a guerra evoluir, a situação de segurança na Europa tende a continuar tensa. Assim sendo, todos os lados se esforçam como podem para apaziguar brigas que poderiam azedar o ambiente de unidade.

Alguns precisarão de respostas prontamente. Mais de 3 milhões de ucranianos já buscaram refúgio na UE, por exemplo. Quase dois terços deles estão na Polônia, que tem tido dificuldade para lidar com a situação. Um fluxo menor de refugiados sírios e afegãos causou debates longos e ácidos em 2015. Desta vez, de qualquer modo, a Polônia receberá ajuda.

Outros desentendimentos estão emergindo. Muitos a respeito de dinheiro, agravados por sombrias perspectivas econômicas. A França está entre os que sugerem que o custo das sanções e de uma defesa mais forte deveriam ser financiados por um fundo conjunto similar ao que a UE levantou para lidar com a covid-19. No norte “frugal”, predomina o ceticismo. Em algum ponto, ocorrerá uma briga a respeito de quando reinstituir as regras de austeridade no orçamento da UE suspensas em razão da pandemia.

A Polônia está exigindo fundos da UE que foram congelados em razão de preocupações a respeito de o país ter minado seu Judiciário. Muitos países-membros preferem defender os princípios do “estado de direito”, com ou sem guerra.

Futuro

Políticas duradouras que pareciam definidas podem ser examinadas sob uma nova luz após a guerra. A Europa será capaz de cortar emissões de carbono tão rapidamente, dado o choque no fornecimento de energia ocasionado pela guerra? A França está afeita a avançar com sua ideia de “autonomia estratégica”, um conceito nebuloso que inclui a Europa depender menos da Otan para sua defesa. O Leste Europeu ainda considera a Otan – e, portanto, os EUA – a guardiã de suas fronteiras.

A frustração de Kuleba em razão de novas ondas de sanções europeias não serem previstas é compreensível. Mas os atuais desentendimentos no coração da UE refletem diferenças de opinião legítimas, não querelas sem sentido. O impulso de unidade da Europa conferiu ao continente uma relevância belicosa raramente vista. Em um mês de guerra, a UE serviu bem ao seu propósito. Mas agora deve se esforçar para fazer mais./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

© 2022 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

Ela pode ser chamada de União Europeia, mas com frequência enfrentou dificuldades para fazer jus a este nome. Não nas semanas recentes. Desde que teve início a invasão russa à Ucrânia, em 24 de fevereiro, os 27 Estados-membros da UE agiram como um só. Coesa em seus objetivos e coordenada em suas ações, a Europa tem frutificado em seu novo papel como uma potência de primeiro nível. Ainda assim, os efeitos unificadores do impulso original estão começando a desvanecer. A exigência da Ucrânia de que a Europa faça muito mais para ajudá-la é um teste preliminar para a unidade do bloco à medida que a guerra se arrasta.

A velocidade e a determinação com as quais a Europa agiu inicialmente espantaram até os mais veteranos em Bruxelas. Crises anteriores – seja o miasma na zona do euro, uma década atrás, ou a resposta do bloco à covid-19 – mostraram que pode levar meses, talvez anos, para que a união opere efetivamente. A visão de bombas massacrando civis às portas do bloco, em contraste, chocou a UE e a fez agir.

Diferenças em ênfases persistem, o que é inevitável em um clube de democracias. Mas repetidas reuniões de líderes – a terceira em um mês foi realizada na quinta-feira com a presença do presidente americano, Joe Biden – resultaram em uma Europa que toma seguidas medidas decisivas.

Joe Biden (2° à esq.) conversa com líderes da UE, da Otan e do G-7 em Bruxelas  Foto: Henry Nicholls/AFP

Foram encontrados fundos para fornecer armas para a Ucrânia. Qualquer ucraniano em busca de abrigo na UE pode entrar. Talvez mais importante, duras sanções foram aplicadas quando a guerra irrompeu. Dado que EUA e Europa não estão dispostos a intervir militarmente, essas são as principais ferramentas. Poucos esperavam grande coisa, já que qualquer um dos 27 Estados-membros poderia ter vetado sanções.

A Europa chegou a um consenso, em vez de um acordo total, antes de mover-se adiante. A unidade foi forjada apesar de discordâncias a respeito do quanto amarrar a Rússia para isolá-la. Os “sancionistas” pressionaram por um embargo mais estrito, incluindo uma proibição às importações de petróleo e gás natural.

Países como a Polônia e os Estados bálticos preocupam-se com a possibilidade de serem os próximos a ser atacados pela Rússia; e afirmam que estariam dispostos a viver sob luz de velas se isso impedir o fluxo de dinheiro a Moscou. Países mais hesitantes, incluindo Alemanha e Itália, têm relutado em cortar o fornecimento de energia russa do qual dependem.

Em parte graças à indignação da opinião pública, o grupo hesitante se viu obrigado a apoiar medidas duras, que ninguém considerava factíveis – apesar de ainda não representarem um embargo da energia russa. Serguei Lavrov, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, admitiu esta semana que a magnitude das medidas surpreenderam o Kremlin.

No entanto, discórdias antigas persistem. A Polônia está pedindo um banimento total no comércio com a Rússia. A Alemanha continua se opondo firmemente. “Sanções não deveriam prejudicar os Estados europeus mais que a liderança russa”, afirmou o chanceler alemão, Olaf Scholz, na quarta-feira – como ocorre com frequência em debates da UE, outros países que concordam evitam expor publicamente seus argumentos. Uma sensação familiar de impasse agora persiste.

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Como resultado, ucranianos que anteriormente louvavam os benefícios da unidade europeia passaram a questioná-la. “O que vimos no início da guerra foi a ascensão da UE como um poderoso jogador, capaz de ocasionar mudanças”, afirma Dmitro Kuleba, chanceler da Ucrânia. “O que vimos nos dez dias recentes na UE é um retorno à sua antiga normalidade, na qual o bloco é incapaz de decidir por ações fortes e ágeis.”

Kuleba, que falou com a Economist a partir de um local não revelado na Ucrânia, vê sinais iniciais de uma “fadiga a sanções” na Europa. Algumas das medidas decididas em acordo parecem menos eficazes, agora que brechas foram encontradas. O congelamento das reservas do Banco Central russo no exterior, por exemplo, foi moldado de maneira que permitiu à Rússia continuar cumprindo suas obrigações de dívida e afastou o calote técnico.

Há outros pontos de atrito. A Ucrânia solicitou sua adesão à UE. Países do leste tendem a permitir sua entrada no bloco. Mas membros fundadores, como França e Alemanha, insistiram que a UE ofereça apenas garantias vagas de que a Ucrânia pertence à “família europeia”.

Isolamento

A UE poderia ser forçada a impor mais sanções – se a Rússia usar, digamos, armas químicas ou cometer outros ultrajes em batalha. Estados-membros, e o bloco como um todo, estão se esforçando para enviar armas à Ucrânia – Kuleba, como esperado, quer mais quantidades e mais rapidamente.

Independentemente da maneira como a guerra evoluir, a situação de segurança na Europa tende a continuar tensa. Assim sendo, todos os lados se esforçam como podem para apaziguar brigas que poderiam azedar o ambiente de unidade.

Alguns precisarão de respostas prontamente. Mais de 3 milhões de ucranianos já buscaram refúgio na UE, por exemplo. Quase dois terços deles estão na Polônia, que tem tido dificuldade para lidar com a situação. Um fluxo menor de refugiados sírios e afegãos causou debates longos e ácidos em 2015. Desta vez, de qualquer modo, a Polônia receberá ajuda.

Outros desentendimentos estão emergindo. Muitos a respeito de dinheiro, agravados por sombrias perspectivas econômicas. A França está entre os que sugerem que o custo das sanções e de uma defesa mais forte deveriam ser financiados por um fundo conjunto similar ao que a UE levantou para lidar com a covid-19. No norte “frugal”, predomina o ceticismo. Em algum ponto, ocorrerá uma briga a respeito de quando reinstituir as regras de austeridade no orçamento da UE suspensas em razão da pandemia.

A Polônia está exigindo fundos da UE que foram congelados em razão de preocupações a respeito de o país ter minado seu Judiciário. Muitos países-membros preferem defender os princípios do “estado de direito”, com ou sem guerra.

Futuro

Políticas duradouras que pareciam definidas podem ser examinadas sob uma nova luz após a guerra. A Europa será capaz de cortar emissões de carbono tão rapidamente, dado o choque no fornecimento de energia ocasionado pela guerra? A França está afeita a avançar com sua ideia de “autonomia estratégica”, um conceito nebuloso que inclui a Europa depender menos da Otan para sua defesa. O Leste Europeu ainda considera a Otan – e, portanto, os EUA – a guardiã de suas fronteiras.

A frustração de Kuleba em razão de novas ondas de sanções europeias não serem previstas é compreensível. Mas os atuais desentendimentos no coração da UE refletem diferenças de opinião legítimas, não querelas sem sentido. O impulso de unidade da Europa conferiu ao continente uma relevância belicosa raramente vista. Em um mês de guerra, a UE serviu bem ao seu propósito. Mas agora deve se esforçar para fazer mais./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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