The Economist: Na guerra da Ucrânia, coalizão de aliados contra a Rússia terá tempos difíceis pela frente


À medida que o conflito se arrasta, sustentar apoio europeu a Joe Biden vai ficando mais difícil

Por The Economist

O erro de cálculo de Vladimir Putin a respeito da Ucrânia – que marca o fim de uma era – foi resultado de três equívocos que definiram sua missão. O primeiro foi que o governo da Ucrânia cairia rapidamente. Outro, que seu Exército modernizado predominaria. O último, que os Estados Unidos, em declínio irreversível, não eram mais capazes de liderar. Para se sair vencedor, Putin teria de ter acertado apenas uma dessas premissas.

Os primeiros dois equívocos causaram surpresa geral. O terceiro ocasionou interesse geral, entre aliados e rivais. Nos anos recentes, os EUA pareceram menos comprometidos com as instituições que o país criou após a 2.ª Guerra, em grande medida como resultado de sua ocupação desastrosa do Iraque após os ataques de 11 de setembro de 2001.

Barack Obama escolheu “resetar” as relações com a Rússia depois de sua invasão à Geórgia, em 2008, e fracassou em impor um limite contra o uso de armas químicas na Síria. Donald Trump acusou os aliados dos EUA de se aproveitar do país e qualificou a Otan como “obsoleta”. Depois da humilhante retirada dos EUA do Afeganistão, no verão passado, Putin pareceu ter concluído que Joe Biden seria incapaz ou relutante em ajudar a Ucrânia.

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Soldados ucranianos examinam destroços de ataque russo ao centro de Kiev  Foto: Marko Djurica/ Reuters

Hoje, enquanto Biden está na Europa para cúpulas da Otan, do G-7 e da União Europeia, fica evidente que os EUA frustraram a expectativa de Putin, ao atuar de maneira inovadora, ágil e resoluta. Os EUA compreendem que a segurança da Europa está em jogo na Ucrânia. A dúvida que resta é se esse sucesso sobreviverá aos testes adiante. Nos EUA, um partidarismo político destrutivo emerge novamente. Na Europa, a coalizão que os americanos costuraram tão cuidadosamente começa a se desgastar.

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Desgastes no seio europeu

A inovação americana começou antes da guerra, com a publicação sem precedentes de dados de inteligência. Juntamente com o Reino Unido, o governo Biden revelou alertas detalhados e atualizados a respeito da concentração das tropas russas nas fronteiras da Ucrânia, de possíveis provocações e sobre o plano russo de ataque e instalação de um governo fantoche. Isso furtou de Putin seu poder de confundir, que lhe serviu tão bem na captura da Crimeia, em 2014. Esse fluxo de dados continuou durante a guerra. Informações obtidas em comunicações interceptadas, por aeronaves da Otan e via satélite são rapidamente transmitidas para as forças ucranianas, que as usam para estabelecer alvos.

Essa agilidade foi exibida quando os EUA mudaram de curso na fase inicial da guerra. Putin não era o único pensando que Kiev cairia numa questão de dias. O governo Biden ofereceu a Volodmir Zelenski proteção para deixar a capital. O presidente da Ucrânia respondeu que ficaria em Kiev mesmo enquanto suas forças repeliam paraquedistas russos. Os EUA e seus aliados reagiram enviando mais armas e impondo novas sanções.

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A determinação da Otan

E a Otan demonstrou determinação. Em 2019, o presidente francês, Emmanuel Macron, alertou que a aliança estava sofrendo “morte cerebral”. Hoje, a Otan está reforçando seu flanco oriental. A Alemanha, seu segundo membro mais rico, reverteu décadas de políticas de defesa tímidas concordando em fornecer armas aos ucranianos e se comprometendo em aumentar gastos na área. Em sua convicta liderança da Otan, a diplomacia americana retornou das profundezas dos anos Trump.

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O fato de a guerra estar durando tanto é um atestado do apoio de Biden. Mas à medida que o conflito se arrasta, sustentar esse apoio vai ficando mais difícil. Nos EUA, alguns republicanos decidiram culpar Biden pela guerra, argumentando, por mais implausível que possa parecer, que a real causa da invasão russa foi a retirada americana de Cabul e a anuência dos EUA em relação ao gasoduto alemão vindo da Rússia. Eles acusam Biden de ter sido fraco.

A ameaça da polarização nos EUA

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No longo prazo, o partidarismo é uma grande ameaça à influência americana no exterior. O melhor contragolpe de Biden aos críticos é dedicar seus esforços em lidar com o outro problema político, muito mais urgente, que se situa na Europa. Este é o primeiro sinal de desgaste na coalizão que ajuda a Ucrânia a resistir ao Exército russo.

A Ucrânia diz que lhe faltam armas. Houve promessas de envios, incluindo do Reino Unido, mas os carregamentos poderiam chegar tarde demais. A Ucrânia também reclama que a distinção da Otan entre armamento de defesa, como mísseis antitanque, e de ataque, como caças, não faz sentido quando o invasor se dedica à destruição. Fontes diplomáticas acusam Alemanha e Hungria de, individualmente, obstruir novas sanções.

Tudo isso está virando um problema urgente. Mariupol, uma cidade de 400 mil habitantes antes da invasão, está sendo reduzida a cinzas pela artilharia russa. Civis, incluindo crianças, foram deportados para a Rússia. Biden alertou que Putin pode estar prestes a usar armas químicas ou biológicas. À medida que as atrocidades russas se intensificarem, a Ucrânia precisará de mais ajuda. Depois de se reunir com os chefes de governo europeus, Biden terá de enrijecer a determinação deles. Se ele fracassar em unir seus aliados, seu bom trabalho terá sido em vão. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que Washington chegou à conclusão de que o exército russo cometeu ‘crimes de guerra na Ucrânia’.

O erro de cálculo de Vladimir Putin a respeito da Ucrânia – que marca o fim de uma era – foi resultado de três equívocos que definiram sua missão. O primeiro foi que o governo da Ucrânia cairia rapidamente. Outro, que seu Exército modernizado predominaria. O último, que os Estados Unidos, em declínio irreversível, não eram mais capazes de liderar. Para se sair vencedor, Putin teria de ter acertado apenas uma dessas premissas.

Os primeiros dois equívocos causaram surpresa geral. O terceiro ocasionou interesse geral, entre aliados e rivais. Nos anos recentes, os EUA pareceram menos comprometidos com as instituições que o país criou após a 2.ª Guerra, em grande medida como resultado de sua ocupação desastrosa do Iraque após os ataques de 11 de setembro de 2001.

Barack Obama escolheu “resetar” as relações com a Rússia depois de sua invasão à Geórgia, em 2008, e fracassou em impor um limite contra o uso de armas químicas na Síria. Donald Trump acusou os aliados dos EUA de se aproveitar do país e qualificou a Otan como “obsoleta”. Depois da humilhante retirada dos EUA do Afeganistão, no verão passado, Putin pareceu ter concluído que Joe Biden seria incapaz ou relutante em ajudar a Ucrânia.

Soldados ucranianos examinam destroços de ataque russo ao centro de Kiev  Foto: Marko Djurica/ Reuters

Hoje, enquanto Biden está na Europa para cúpulas da Otan, do G-7 e da União Europeia, fica evidente que os EUA frustraram a expectativa de Putin, ao atuar de maneira inovadora, ágil e resoluta. Os EUA compreendem que a segurança da Europa está em jogo na Ucrânia. A dúvida que resta é se esse sucesso sobreviverá aos testes adiante. Nos EUA, um partidarismo político destrutivo emerge novamente. Na Europa, a coalizão que os americanos costuraram tão cuidadosamente começa a se desgastar.

Desgastes no seio europeu

A inovação americana começou antes da guerra, com a publicação sem precedentes de dados de inteligência. Juntamente com o Reino Unido, o governo Biden revelou alertas detalhados e atualizados a respeito da concentração das tropas russas nas fronteiras da Ucrânia, de possíveis provocações e sobre o plano russo de ataque e instalação de um governo fantoche. Isso furtou de Putin seu poder de confundir, que lhe serviu tão bem na captura da Crimeia, em 2014. Esse fluxo de dados continuou durante a guerra. Informações obtidas em comunicações interceptadas, por aeronaves da Otan e via satélite são rapidamente transmitidas para as forças ucranianas, que as usam para estabelecer alvos.

Essa agilidade foi exibida quando os EUA mudaram de curso na fase inicial da guerra. Putin não era o único pensando que Kiev cairia numa questão de dias. O governo Biden ofereceu a Volodmir Zelenski proteção para deixar a capital. O presidente da Ucrânia respondeu que ficaria em Kiev mesmo enquanto suas forças repeliam paraquedistas russos. Os EUA e seus aliados reagiram enviando mais armas e impondo novas sanções.

A determinação da Otan

E a Otan demonstrou determinação. Em 2019, o presidente francês, Emmanuel Macron, alertou que a aliança estava sofrendo “morte cerebral”. Hoje, a Otan está reforçando seu flanco oriental. A Alemanha, seu segundo membro mais rico, reverteu décadas de políticas de defesa tímidas concordando em fornecer armas aos ucranianos e se comprometendo em aumentar gastos na área. Em sua convicta liderança da Otan, a diplomacia americana retornou das profundezas dos anos Trump.

O fato de a guerra estar durando tanto é um atestado do apoio de Biden. Mas à medida que o conflito se arrasta, sustentar esse apoio vai ficando mais difícil. Nos EUA, alguns republicanos decidiram culpar Biden pela guerra, argumentando, por mais implausível que possa parecer, que a real causa da invasão russa foi a retirada americana de Cabul e a anuência dos EUA em relação ao gasoduto alemão vindo da Rússia. Eles acusam Biden de ter sido fraco.

A ameaça da polarização nos EUA

No longo prazo, o partidarismo é uma grande ameaça à influência americana no exterior. O melhor contragolpe de Biden aos críticos é dedicar seus esforços em lidar com o outro problema político, muito mais urgente, que se situa na Europa. Este é o primeiro sinal de desgaste na coalizão que ajuda a Ucrânia a resistir ao Exército russo.

A Ucrânia diz que lhe faltam armas. Houve promessas de envios, incluindo do Reino Unido, mas os carregamentos poderiam chegar tarde demais. A Ucrânia também reclama que a distinção da Otan entre armamento de defesa, como mísseis antitanque, e de ataque, como caças, não faz sentido quando o invasor se dedica à destruição. Fontes diplomáticas acusam Alemanha e Hungria de, individualmente, obstruir novas sanções.

Tudo isso está virando um problema urgente. Mariupol, uma cidade de 400 mil habitantes antes da invasão, está sendo reduzida a cinzas pela artilharia russa. Civis, incluindo crianças, foram deportados para a Rússia. Biden alertou que Putin pode estar prestes a usar armas químicas ou biológicas. À medida que as atrocidades russas se intensificarem, a Ucrânia precisará de mais ajuda. Depois de se reunir com os chefes de governo europeus, Biden terá de enrijecer a determinação deles. Se ele fracassar em unir seus aliados, seu bom trabalho terá sido em vão. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que Washington chegou à conclusão de que o exército russo cometeu ‘crimes de guerra na Ucrânia’.

O erro de cálculo de Vladimir Putin a respeito da Ucrânia – que marca o fim de uma era – foi resultado de três equívocos que definiram sua missão. O primeiro foi que o governo da Ucrânia cairia rapidamente. Outro, que seu Exército modernizado predominaria. O último, que os Estados Unidos, em declínio irreversível, não eram mais capazes de liderar. Para se sair vencedor, Putin teria de ter acertado apenas uma dessas premissas.

Os primeiros dois equívocos causaram surpresa geral. O terceiro ocasionou interesse geral, entre aliados e rivais. Nos anos recentes, os EUA pareceram menos comprometidos com as instituições que o país criou após a 2.ª Guerra, em grande medida como resultado de sua ocupação desastrosa do Iraque após os ataques de 11 de setembro de 2001.

Barack Obama escolheu “resetar” as relações com a Rússia depois de sua invasão à Geórgia, em 2008, e fracassou em impor um limite contra o uso de armas químicas na Síria. Donald Trump acusou os aliados dos EUA de se aproveitar do país e qualificou a Otan como “obsoleta”. Depois da humilhante retirada dos EUA do Afeganistão, no verão passado, Putin pareceu ter concluído que Joe Biden seria incapaz ou relutante em ajudar a Ucrânia.

Soldados ucranianos examinam destroços de ataque russo ao centro de Kiev  Foto: Marko Djurica/ Reuters

Hoje, enquanto Biden está na Europa para cúpulas da Otan, do G-7 e da União Europeia, fica evidente que os EUA frustraram a expectativa de Putin, ao atuar de maneira inovadora, ágil e resoluta. Os EUA compreendem que a segurança da Europa está em jogo na Ucrânia. A dúvida que resta é se esse sucesso sobreviverá aos testes adiante. Nos EUA, um partidarismo político destrutivo emerge novamente. Na Europa, a coalizão que os americanos costuraram tão cuidadosamente começa a se desgastar.

Desgastes no seio europeu

A inovação americana começou antes da guerra, com a publicação sem precedentes de dados de inteligência. Juntamente com o Reino Unido, o governo Biden revelou alertas detalhados e atualizados a respeito da concentração das tropas russas nas fronteiras da Ucrânia, de possíveis provocações e sobre o plano russo de ataque e instalação de um governo fantoche. Isso furtou de Putin seu poder de confundir, que lhe serviu tão bem na captura da Crimeia, em 2014. Esse fluxo de dados continuou durante a guerra. Informações obtidas em comunicações interceptadas, por aeronaves da Otan e via satélite são rapidamente transmitidas para as forças ucranianas, que as usam para estabelecer alvos.

Essa agilidade foi exibida quando os EUA mudaram de curso na fase inicial da guerra. Putin não era o único pensando que Kiev cairia numa questão de dias. O governo Biden ofereceu a Volodmir Zelenski proteção para deixar a capital. O presidente da Ucrânia respondeu que ficaria em Kiev mesmo enquanto suas forças repeliam paraquedistas russos. Os EUA e seus aliados reagiram enviando mais armas e impondo novas sanções.

A determinação da Otan

E a Otan demonstrou determinação. Em 2019, o presidente francês, Emmanuel Macron, alertou que a aliança estava sofrendo “morte cerebral”. Hoje, a Otan está reforçando seu flanco oriental. A Alemanha, seu segundo membro mais rico, reverteu décadas de políticas de defesa tímidas concordando em fornecer armas aos ucranianos e se comprometendo em aumentar gastos na área. Em sua convicta liderança da Otan, a diplomacia americana retornou das profundezas dos anos Trump.

O fato de a guerra estar durando tanto é um atestado do apoio de Biden. Mas à medida que o conflito se arrasta, sustentar esse apoio vai ficando mais difícil. Nos EUA, alguns republicanos decidiram culpar Biden pela guerra, argumentando, por mais implausível que possa parecer, que a real causa da invasão russa foi a retirada americana de Cabul e a anuência dos EUA em relação ao gasoduto alemão vindo da Rússia. Eles acusam Biden de ter sido fraco.

A ameaça da polarização nos EUA

No longo prazo, o partidarismo é uma grande ameaça à influência americana no exterior. O melhor contragolpe de Biden aos críticos é dedicar seus esforços em lidar com o outro problema político, muito mais urgente, que se situa na Europa. Este é o primeiro sinal de desgaste na coalizão que ajuda a Ucrânia a resistir ao Exército russo.

A Ucrânia diz que lhe faltam armas. Houve promessas de envios, incluindo do Reino Unido, mas os carregamentos poderiam chegar tarde demais. A Ucrânia também reclama que a distinção da Otan entre armamento de defesa, como mísseis antitanque, e de ataque, como caças, não faz sentido quando o invasor se dedica à destruição. Fontes diplomáticas acusam Alemanha e Hungria de, individualmente, obstruir novas sanções.

Tudo isso está virando um problema urgente. Mariupol, uma cidade de 400 mil habitantes antes da invasão, está sendo reduzida a cinzas pela artilharia russa. Civis, incluindo crianças, foram deportados para a Rússia. Biden alertou que Putin pode estar prestes a usar armas químicas ou biológicas. À medida que as atrocidades russas se intensificarem, a Ucrânia precisará de mais ajuda. Depois de se reunir com os chefes de governo europeus, Biden terá de enrijecer a determinação deles. Se ele fracassar em unir seus aliados, seu bom trabalho terá sido em vão. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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