Menos de um mês depois que Israel lançou sua campanha de vacinação contra a covid-19, cerca de 2,4 milhões de seus cidadãos - 28% de sua população - receberam a primeira ou a segunda dose.
O país está bastante à frente do resto do mundo. Os Emirados Árabes Unidos, em segundo lugar em termos de vacinação por pessoa, vacinaram 19% da população. Em terceiro, o Bahrain ainda não passou dos 10%, de acordo com dados do site Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford, na Inglaterra.
O feito de Israel é impressionante e conta com algumas vantagens exclusivas. Comece com o fato de que seus 9 milhões de cidadãos estão espalhados por apenas 21 mil km² (sem incluir os territórios ocupados).
Portanto, a logística é relativamente simples, mesmo para a vacina Pfizer-BioNTech, que precisa ser mantida em temperaturas baixíssimas durante trânsito. As doses podem ser transportadas do armazém principal perto de Tel Aviv para os centros de vacinação em toda a região em questão de horas.
A estrutura única do sistema de saúde de Israel também ajuda. O governo oferece cobertura universal por meio de quatro organizações oficiais de seguro saúde, que devem aceitar qualquer cidadão. O financiamento delas é determinado pelo número de associados que cada uma têm, então elas competem entre si para atraí-los. Isso torna as organizações relutantes em reduzir os serviços.
Para conter os custos, elas têm investido pesadamente em digitalização e medicina preventiva, com o objetivo de evitar que os associados precisem de tratamentos caros. Em outras palavras, essas organizações são bem apropriadas para vacinar com rapidez e eficiência e são incentivadas a aplicar doses antes das concorrentes.
A pequena população de Israel torna seu trabalho mais fácil. O país também pagou muito mais do que o preço normal por uma remessa antecipada de 4 milhões de doses da vacina Pfizer-BioNTech.
Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro, argumenta que o custo extra para adquirir as doses será compensado pelo benefício econômico de suspender mais cedo as restrições relacionadas à covid-19. (Israel está atualmente em seu terceiro lockdown nacional.) Para Netanyahu, também existem compensações políticas. Israel realizará uma eleição em 23 de março e ele enfrenta uma concorrência formidável.
Mas várias dificuldades permanecem ao lidar com a covid-19. No início de fevereiro, a primeira remessa da vacina Pfizer-BioNTech terá se esgotado. Nessa altura, Israel espera começar a vacinar adultos com menos de 60 anos. O país assinou contratos com outros grandes fabricantes de vacinas, como Moderna e AstraZeneca, mas não está claro se conseguirá continuar com seu ritmo acelerado.
Enquanto isso, há desafios em outros aspectos do esforço de Israel para conter o vírus. As pessoas estão cada vez mais ignorando as restrições do governo. "Se o lockdown não tiver êxito e a taxa de infecções continuar a aumentar, os hospitais continuarão lotados”, disse Ran Balicer, epidemiologista que assessora o governo. Ralicer avalia que, com a maioria da população idosa de alto risco vacinada na primeira fase, a taxa de transição entre novas infecções e casos graves em hospitais pode cair pela metade.
Depois, há a questão do que fazer em relação aos palestinos. Aqueles que são cidadãos de Israel ou que vivem na parte leste de Jerusalém terão o mesmo acesso à vacina que os cidadãos judeus de Israel. Mas nos territórios ocupados a vacinação ainda não começou.
De acordo com os acordos de Oslo, o atendimento à saúde dos palestinos na Cisjordânia e em Gaza é responsabilidade da Autoridade Palestina autônoma, que está planejando seu próprio programa de vacinação (e está mal equipada para concretizá-lo).
Ainda assim, uma vez que os colonos israelenses na Cisjordânia estejam vacinados, enquanto seus vizinhos palestinos continuam tendo dificuldades, Israel enfrentará pressão para compartilhar as doses.