Depois de passar uma semana escrevendo a partir de Israel e da Cisjordânia, fiquei com a impressão de que as perspectivas de uma solução de dois Estados praticamente deixaram de existir. Mas ninguém quer declará-la formalmente morta e sepultada, isso porque excluí-la categoricamente teria ramificações muito graves.
Logo, diplomatas, políticos e organizações liberais judaicas fingem que ainda resta algum sinal de vida na proposta. Eu também. Mas todos nós sabemos que a opção de dois Estados não está no hospital –está na UTI. Apenas uma cura milagrosa poderá salvá-la agora.
Infelizmente, porém, o simples fato da solução de dois Estados estar desaparecendo, não quer dizer que a solução de um Estado –com Israel sozinha controlando para sempre a Cisjordânia, Jerusalém e o território de Israel pré-1967— se tornará automaticamente a solução padrão evidente. De maneira alguma. Quanto mais você examinar como judeus israelenses e árabes palestinos vêm convivendo entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, mais entenderá três coisas importantes.
Primeiro que, apesar dos enfrentamentos episódicos, essas comunidades altamente diversas, muitas vezes antagônicas, mas profundamente interligadas, estão em equilíbrio aproximado desde o acordo de Oslo de 1993 graças a uma combinação das operações de repressão do aparelho de segurança de Israel, à operação da Autoridade Palestina, ao crescimento econômico e a toda uma série de concessões pragmáticas e autocontenção exercida diariamente por todas as partes.
Mas você também perceberá que várias transformações demográficas, tecnológicas, políticas e sociais em curso há anos alcançam pontos de inflexão que estão tensionando todos os equilíbrios entre judeus e judeus, judeus e árabes israelenses, judeus e palestinos e palestinos e palestinos que têm conservado esta região razoavelmente estável até agora.
Quando digo isso, me refiro ao esvanecimento do processo de paz e das perspectivas de uma solução de dois Estados, à expansão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, à corrupção e fragmentação da Autoridade Palestina e à presença crescente do TikTok e outras redes sociais. Apenas nos últimos 12 meses, segundo a organização israelense de direitos humanos B’Tselem, cerca de 20 israelenses e mais de 150 palestinos morreram em incidentes de violência.
Acho que não se passou um dia nesta viagem em que eu não tenha lido sobre ou visto vídeos de palestino abatido a tiros por soldados israelenses ou de israelenses abalroados ou esfaqueados por palestinos. Essa pornografia bélica é nova, onipresente e incrivelmente eficaz em incutir o ódio em clipes de 15 segundos que mantêm todo o mundo num estado permanente de medo e raiva.
Pós-eleições
E tudo isso foi antes da vitória apertada de Binyamin Netanyahu na eleição recente em Israel, levando ao que em breve será a coalizão governista mais ultranacionalista e ultrarreligiosa na história do país. Minha regra: qualquer partido que se presta a ser descrito com “ultra” antes de seu nome não é coisa boa nesta região.
Tudo isso nos leva a entender que Israel terá que praticar muita autodisciplina para preservar a estabilidade. Todas as partes precisam, mas o país é soberano deste reino inteiro. Sem autocontenção, o resultado não será uma solução estável de um Estado, com o mosaico de judeus israelenses, cidadãos palestinos israelenses e palestinos da Cisjordânia todos vivendo em harmonia, não.
Sem autocontenção, Netanyahu e seus parceiros de coalizão podem enterrar a solução de dois e um Estado no mesmo túmulo. Isso nos deixaria com a solução de Uma Grande Confusão.
Para mim, esse é o resultado mais provável agora –uma confusão total que deixará Israel não mais sendo uma base firme de estabilidade para a região e para seu aliado americano, mas um caldeirão de instabilidade e uma fonte de ansiedade para o governo dos Estados Unidos.
Leia Também:
A que se deve esse receio? Ao fato de que os novos parceiros de Netanyahu representam o exato oposto da autocontenção. Quatro dos cinco líderes principais dos partidos que compõem o governo de coalizão que está para assumir --Netanyahu, Aryeh Deri, Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir— já foram presos, indiciados, condenados ou serviram penas de prisão por corrupção ou incitamento ao racismo. Não são pessoas conhecidas por pararem no farol vermelho.
Além disso, a previsão é que Netanyahu nomeie o ultranacionalista e antiárabe Ben-Gvir, líder do partido do Poder Judaico, como ministro da Segurança Nacional, colocando-o a cargo não apenas da Polícia de Israel, mas também de outros órgãos de implementação da lei, incluindo a Polícia de Fronteira, que é muito ativa na Cisjordânia ocupada. Ben-Gvir poderá facilmente instrumentalizar esses órgãos para ser usados contra as populações árabe israelense e palestina.
Netanyahu também deve chamar Smotrich para ser o ministro das Finanças e pretende entregar a ele e seu partido, Sionismo Religioso, a responsabilidade pela Administração Civil, que sempre ficou a cargo do Ministério da Defesa e tem o poder de expandir os assentamentos judaicos, impor novas limitações à vida cotidiana dos palestinos e aplicar a lei, incluindo as demolições de casas.
Smotrich e Ben-Gvir são fanáticos religiosos que promovem a presença judaica no Monte do Templo, que é sagrado para os muçulmanos. O policiamento do local é realizado pela polícia israelense, que está prestes a ficar sob o controle de Ben-Gvir. Você está entendendo?
Basicamente, Netanyahu vem dizendo às autoridades americanas, aos judeus americanos e aos aliados árabes de Israel que, apesar de estar encarregando raposas de cuidar de galinheiros e distribuindo fósforos e gasolina a piromaníacos, seu poder e astúcia pessoais conseguirão tomar o lugar dos freios institucionais e impedir seus parceiros extremistas de empurrar o país do topo do penhasco.
Conflitos
Teremos que esperar para ver. Estou totalmente cético. Enquanto isso, deixe-me levá-lo numa tour rápida da paisagem política e mostrar quantos equilíbrios estão sendo pressionados e por que Israel hoje precisaria desesperadamente do governo mais pragmático e contido que pudesse produzir –mas terá o exato oposto.
Uma de minhas primeiras escalas nesta viagem foi na comunidade judaica no coração da área palestina de Hebron, perto do túmulo de Abraão, Isaac e Jacó, sagrado para judeus e muçulmanos. Alguns dias antes de minha visita, ocorreram vários enfrentamentos controversos nesse local entre soldados israelenses, que se identificavam claramente com o novo governo de direita, e judeus israelenses de esquerda que estavam lá para demonstrar solidariedade aos palestinos vivendo sob a ocupação, conforme reportagem do The Times of Israel.
Em um incidente que foi captado em vídeo, um soldado abordou um manifestante judeu e lhe deu um soco no rosto. Em outro registro, um soldado que enfrenta outros manifestantes diz: “Ben-Givr vai botar ordem neste lugar. É isso. Vocês perderam. A brincadeira acabou.”
Segundo o jornal, esse soldado usava “patch fixado com velcro nas costas de seu colete militar com os dizeres: ‘Um tiro. Uma morte. Sem remorso. Eu decido.’ e adesivos que não sejam os que mostram o logotipo de uma unidade militar ou a bandeira israelense são contra as regras militares”.
Mas é no que aconteceu a seguir que a história entre judeus se complica. O Exército israelense condenou o soldado que provocou os manifestantes a dez dias de detenção numa prisão militar. O chefe do Estado-Maior militar, general Aviv Kochavi, disse que os soldados captados no vídeo agiram “contrariamente aos valores das forças armadas de Israel”.
Isso levou Ben-Gvir a criticar o Exército por enviar uma “mensagem prejudicial” aos soldados. “Não podemos deixar que os anarquistas que nos denigrem interminavelmente vençam”, tuitou.
Kochavi então divulgou um comunicado: “Não vamos permitir que nenhum político, da direita ou da esquerda, interfira nas decisões de comando ou utilize o Exército para promover uma pauta política.”
No meio disso tudo –e não estou inventando--, o filho de Netanyahu, Yair, retuitou um post aconselhando Kochavi a “enfiar no traseiro sua carta vergonhosa e seu ‘governamentalês’ fingido”. O ex-primeiro ministro israelense manteve silêncio por dois dias antes de divulgar uma declaração em apoio ao Exército.
Fui acompanhado em Hebron pelo porta-voz da comunidade judaica local, Yishai Fleisher, alguns dias após o incidente. Ele se disse aliviado porque judeus linha dura como Ben-Gvir estão voltando ao poder, substituindo os que ele considera fracos. “A Israel que conhecemos está de volta –ou seja, o Estado judaico durão que protege a minoria étnica judaica nesta região está de volta”, diz.
Simplesmente não consigo imaginar como esse novo relacionamento entre Ben-Gvir, as forças armadas e polícia israelense e ativistas judeus e palestinos chegará a um equilíbrio.
Crescimento da extrema direita
Pense agora na complexidade atual das relações entre judeus israelenses e os cidadãos árabes palestinos de Israel. Comece por aqui: em 2019 um árabe israelense, Samer Haj-Yehia, foi nomeado presidente do Banco Leumi, o maior banco do país em termos de valor de mercado. Sim, você leu certo. O presidente do banco mais importante é um árabe israelense –com doutorado em economia do MIT e diplomas de contabilidade e direito da Universidade Hebraica.
Acho isso espantoso e acho que indica que Israel é uma democracia. Os árabes israelenses compõem 21% da população, quase 20% de seus médicos, 25% de seus enfermeiros e quase metade de seus farmacêuticos. Mais de 20% dos alunos do Technion, o MIT de Israel, são árabes israelenses.
Todas essas são boas notícias, mas há um porém: à medida que mais e mais árabes israelenses entram para a classe média e alta, mais deles estão deixando seus bairros e cidades árabes tradicionais e mudando-se para lugares de maioria judaica como Tel Aviv e Herzliya, com escolas, ruas e opções habitacionais muito melhores. Mas essa é também uma nova fonte de tensão, na medida em que as duas comunidades se encontram com mais frequência em mais contextos.
Por exemplo, é muito mais comum que judeus ouçam a língua árabe sendo falada em sua farmácia ou loja local. Há duas semanas, uma influenciadora israelenses sugeriu a seus seguidores que saiam de uma loja em Israel se os balconistas falarem árabe entre eles e não hebraico.
Os cidadãos palestinos de Israel “estão mais integrados, trabalhando, contribuindo e reivindicando mais”, explicou Thabet Abu Rass, co-diretor executivo da ONG Abraham Initiatives, sediada em Lod e que promove o entendimento entre judeus e árabes. Os árabes israelenses “estão presentes em toda parte agora. Hoje, há dezenas de milhares de pontos de encontro e eles podem virar explosivos ou podem celebrar a diversidade”, diz.
Em maio de 2021, essas tensões explodiram durante mais um choque militar entre Israel e Gaza, controlada pelo Hamas, que começou após protestos em Jerusalém e depois da polícia israelense tomar o Monte do Templo. Residentes árabes de cidades mistas judaico-árabes como Lod e Acre atacaram e incendiaram bens de judeus, incluindo várias sinagogas.
Em retaliação, extremistas de direita judeus combateram tanto residentes árabes quanto membros da polícia israelense. Em Bat Yam, subúrbio de Tel Aviv, uma multidão arrastou um motorista árabe de seu carro e o espancou violentamente.
Essa violência, em especial a queima de sinagogas num Estado judaico, levou grande número de judeus israelenses de centro-direita a se deslocar para a extrema direita nacionalista, dando a Ben-Gvir o poder que ele tem hoje.
Mesmo assim, quando me sentei com vários dos colegas árabes israelenses de Abu Rass, todos deixaram claro que, nas palavras dele, “a dualidade de identidade está se tornando algo normal: ‘sou um palestino que vive em Israel. Este é meu Estado e também minha pátria. Tenho um sentimento de fazer parte e ser dono daqui”.
Em outras palavras, essa integração crescente de árabes israelenses —não apenas seus protestos violentos ocasionais— também impulsiona a ascensão da direita chauvinista de Israel. É por isso que os anúncios de campanha de Ben-Gvir foram tão eficazes na mobilização de seus partidários ultranacionalistas e tão desencorajadores para os árabes israelenses. Os anúncios mostravam a imagem dele ao lado da pergunta: “Mi Po Ba’alei HaBayit? — quem são os donos das terras aqui?”
Essa pergunta está ficando mais definida a cada dia que passa. Tomando Israel, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza juntos, “judeus compõem menos de 47% das pessoas que vivem a oeste do rio Jordão”, divulgou o The Times of Israel em agosto, citando um demógrafo israelense eminente que alertou, conforme o jornal, “do perigo democrático para o qual o país está deslizando pelo fato de possivelmente tornar-se uma minoria governante na região”
Em suma, continuar a ser Ba’alei HaBayit –ou seja, os donos— será cada vez mais difícil para os judeus árabes. E, pelo fato de os partidos ultranacionalistas israelenses rejeitarem uma partilha de poder com os árabes israelenses ou palestinos da Cisjordânia, tendo cada vez mais a pensar que a alternativa à solução de dois Estados não será uma solução de um Estado estável. Será a solução de uma grande confusão.
O poder do Judiciário
Existe, porém, uma barreira institucional grande às intenções de Ben-Gvir e Smotrich de se tornarem os Ba’alei HaBayit exclusivos. É a Suprema Corte de Israel e seus procuradores-gerais independentes, tidos em alto conceito em todo o mundo, e sua capacidade de limitar os excessos do governo.
Em sua campanha para impor agendas políticas ultranacionalistas e agendas religiosas ultraortodoxas a todas as comunidades judaicas e árabes seculares no país, precisam reduzir o poder dos tribunais. Nesse ponto seus interesses coincidem com os de Netanyahu, que quer derrubar seu julgamento em curso por acusações de corrupção.
É por isso que se prevê que o governo prestes a ser instalado aprove uma nova lei para permitir que uma maioria simples dos 120 parlamentares prevaleça sobre os tribunais, dando ao Executivo superioridade sobre o Judiciário.
Essa complexidade toda é aumentada pelo fato lamentável de que, para cada árabe israelense que está avançando na vida na Israel moderna, há outro que está sendo deixado para trás. Isso se aplica especialmente às comunidades beduínas do sul do país, onde a infraestrutura e as escolas públicas são relegadas ao descaso há muito tempo.
Mas esses árabes israelenses não estão sozinhos nos degraus inferiores da pirâmide educacional. Um número enorme de judeus ultraortodoxos também são pobres e incapazes de participar da economia avançada de Israel. Isso ocorre porque seus rabinos se recusam a permitir que eles sejam devidamente educados em matemática, ciência e inglês. Só é autorizado o estudo da Torá.
David Ben-David, economista da Universidade de Tel Aviv que dirige a Instituição Shoresh de Pesquisas Socioeconômicas, explica que metade da população israelense –principalmente judeus ultraortodoxos e árabes— é pobre e improdutiva demais para pagar impostos.
Em suma, dado o poder aumentado dos partidos ultraortodoxos no governo de Netanyahu, algumas das partes menos economicamente produtivas da sociedade israelense vão agora, mais e mais, dizer às partes mais produtivas como estas devem viver, em mais e mais áreas.
Se isso chegar a um extremo, disse Ben-David, “haverá uma parcela crescente de pessoas altamente qualificadas e instruídas –o tipo de pessoas de que mais precisamos— que vão decidir sair do país”.
Cisjordânia
Finalmente, há a questão dos palestinos da Cisjordânia, que estão à base da pirâmide do poder, e suas relações uns com os outros e com os judeus israelenses. Também essas relações estão sendo transformadas.
Uma razão por que tantos israelenses têm conseguido ignorar a Cisjordânia, com seus 3 milhões de palestinos sob ocupação, é que a Autoridade Palestina, sob o presidente Mahmoud Abbas, é financiada por doadores externos e por impostos palestinos –e porque os serviços de segurança dos dois territórios têm cooperado para coibir os ataques palestinos a colonos israelenses e dentro de Israel.
Tudo isso está se desfazendo. Abbas está velho –completou 87 anos— e a corrupção corre solta em sua administração. As forças de segurança da Palestina estão desgastadas. Recentemente, alguns de seus integrantes simplesmente tiraram seus uniformes e se juntaram a grupos de resistência contra Israel. Com isso, a capacidade do país em conservar o controle da segurança na Cisjordânia a um custo relativamente baixo está diminuindo.
Hoje, quase todas as noites, unidades militares israelenses precisam entrar e sair atirando de cidades como Jenin e Nablus para capturar ou executar palestinos que Israel diz que estiveram envolvidos no planejamento ou realização de ataques contra judeus.
Enquanto isso, há armas em toda parte, contrabandeadas da Jordânia, do Egito ou Líbano ou vendidas a palestinos no mercado negro depois de ser roubadas de bases do Exército israelense. Durante um almoço em Ramallah, um empresário palestino me disse: “Neste momento posso comprar uma arma de fogo mais facilmente do que consigo chamar um encanador para fazer um conserto”.
Como me explicou o pesquisador palestino Khalil Shikaki, “nos últimos cinco anos ocorreu uma grande transformação na sociedade palestina entre os jovens de 15 a 25 anos –uma radicalização de maneiras que nunca antes vimos. Eles são completamente diferentes de seus pais e avôs. Não confiam mais na Autoridade Palestina, que enxergam como colaboradores, e acham que a única coisa que os israelenses entendem é a linguagem da força.”
Os membros dessa geração jovem, que não são religiosos, vivem nas redes sociais, especialmente no TikTok, e compartilham vídeos de forças israelenses tratando palestinos com brutalidade e às vezes os matando, se enfurecem em 15 segundos e então saem isoladamente ou em grupinhos para atacar um israelense. E hoje, eles frequentemente se filmam em vídeo enquanto o estão fazendo. Dois ou três jovens palestinos são mortos desse modo várias vezes por mês, alimentando um acervo online crescente de vídeos que induzem à fúria.
Parcerias
De todas as entrevistas que fiz nesta viagem, a que calou mais fundo para mim foi com Mansour Abbas, representante do partido islâmico árabe israelense, o primeiro partido árabe israelense a tornar-se parceiro pleno numa coalizão governante liderada por judeus isralenses –o governo de união nacional formado em 2021 e encabeçado por Yair Lapid e Naftali Bennett, que Netanyahu acaba de derrubar.
Mansour Abbas já declarou abertamente: “O Estado de Israel nasceu como Estado judaico e assim vai permanecer”. Antes de Lapid e Bennett formarem seu governo, Netanyahu tentou convencer Abbas a apoiar sua coalizão, mas seus parceiros ultranacionalistas disseram que não serviriam no mesmo gabinete que um muçulmano árabe israelense.
Assim, na eleição mais recente, Netanyahu mudou de rumo e usou a presença de Abbas no gabinete de Bennett e Lapid para inflamar o sentimento antiárabe entre judeus israelenses, que o ajudou a vencer nas urnas.
Abbas me disse: “Perguntei a Bibi: ‘Por que você está me acusando de ser membro da Irmandade Muçulmana e terrorista?’.” Netanyahu lhe teria dito que era uma questão de política. Ele precisava de votos.
Abbas é um observador arguto do cenário israelense. Ele explicou que, como cresceu como membro da minoria muçulmana num vilarejo árabe de maioria cristã e drusa, aprendeu desde jovem que, em Israel, “há diversidade não apenas entre árabes e judeus, mas também no interior do setor árabe e do setor judaico”.
Devido a isso, falou, ele acabou por acreditar que “todos nós temos muitas identidades –religiosas e nacionais. Podemos conviver com nossas identidades, se tentarmos. Chamo a isso ‘uma abordagem civilizada’ baseada em valores. Estudei ciência política na Universidade de Haifa. Aprendi o termo ‘como administrar um conflito’. Mas existe outro termo: ‘Como administrar uma parceria’. Prefiro o conflito no interior de uma parceria, não fora dela.”
Por isso, explicou, “trabalho pelas parcerias e torço por transformações”.
Para encerrar um texto sobre a verdadeira complexidade da situação, não posso pensar de uma maneira mais apta que citar um islâmico palestino israelense falando a judeus israelenses sobre o espírito de parceria necessário para preservar Israel como pátria judaica e uma democracia para todos seus cidadãos –seja em dois Estados ou em um.