O governador de Minnesota, Tim Walz, é uma ótima escolha para vice na chapa de Kamala Harris, trazendo sagacidade legislativa e política e uma nova perspectiva para a composição. O único aspecto negativo: não está claro se esse movimento ajudará Harris tanto assim eleitoralmente.
O animador a respeito de Walz é seu histórico de políticas e a maneira que ele fala sobre isso. Depois das eleições de 2022, os democratas de Minnesota assumiram controle total do governo do Estado. Mas por pouco: eles tinham uma margem de apenas um assento no Senado Estadual e outra vantagem pequena na Câmara. O que não os impediu. A legislatura aprovou e Walz sancionou uma série de leis progressistas, incluindo provisões que tornaram o café da manhã e o almoço gratuitos para todos os estudantes, permitiram a imigrantes indocumentados obter carteira de motorista, criaram um programa familiar de licença remunerada e permitiram que fundos estaduais ajudassem pessoas de baixa renda a comprar residências.
Não quero dar todo o crédito ao governador. A legislatura estadual também desempenhou uma função importantíssima. Mas muitos governadores democratas em Estados tradicionalmente controlados por seu partido (como a governadora de Nova York, Kathy Hochul) parecem deleitar-se em conter iniciativas de legisladores estaduais progressistas.
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Em contraste, Walz ficou extasiado a respeito de aplicar uma agenda progressista em um Estado nem de perto tão democrata quanto Nova York. E durante sua campanha informal ao longo das semanas recentes para se tornar vice de Harris, Walz não se distanciou de seu histórico na esquerda do Partido Democrata. Em vez disso, o governador de Minnesota argumentou, corretamente, que muitas ideias progressistas, como oferecer refeições gratuitas para todos os estudantes, são boas e práticas. Conforme colocou Walz, “A gente não ganha eleição para poupar capital político — a gente ganha eleição para queimar capital político e melhorar vidas”.
Walz foi o mais progressista possível no contexto no qual governou. E foi recompensado por isso. O que constitui um bom precedente para o Partido Democrata estabelecer. Frequentemente demais ativistas e líderes partidários rotulam um político como astro em ascensão e presidente ou vice em potencial porque ele é um ótimo orador, registra altos índices em pesquisas ou tem conexões com doadores. Mas a parte mais importante da política é a prática política. E, apesar de provavelmente haver um limite sobre quanto progressismo os eleitores aceitarão, eu considero que o Partido Democrata não está nem perto desse limite, particularmente em Estados controlados pelos democratas.
O governador do Kentucky, Andy Beshear, também foi o mais progressista que pôde no Estado profundamente republicano que lidera. Também teria me alegrado se ele tivesse sido selecionado.
Em contraste, o governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, que também foi considerado, com frequência adotou ações conservadoras desnecessárias politicamente. Assim como o senador Mark Kelly, do Arizona. Não estou certo se essas políticas são as únicas razões pelas quais Harris não os escolheu. (Houve uma controvérsia sobre acusações de assédio sexual contra um graduado assessor que tinha trabalhado no governo de Shapiro. E Kelly não animou os democratas tanto quanto Walz nas consultas informais sobre quem viria a ocupar a vice na chapa de Harris ocorridas nas semanas recentes.)
Walz também trará uma nova perspectiva tanto à campanha quanto à Casa Branca se ele e Harris forem eleitos. Em um partido dominado por advogados e moradores de áreas urbanas, o governador de Minnesota vem das cidades pequenas de Nebraska e foi professor de estudos sociais para alunos do ensino médio e treinador de futebol americano antes de entrar na política.
Muitos acadêmicos e analistas eleitorais argumentam que há pouca evidência de que candidatos à vice-presidência façam muita diferença, mesmo em seus Estados-natais. O que foi um argumento contra escolher Shapiro ou Kelly em detrimento de Walz por Arizona e Pensilvânia serem Estados indefinidos, ao contrário de Minnesota. Essa evidência histórica também sugere que Walz não mobilizará muitos eleitores e que os meios de comunicação exageram o papel dos candidatos à vice nos resultados das eleições.
O argumento eleitoral a favor de Walz é que ele ajudará a manter e talvez incrementará a unidade e o entusiasmo que temos visto entre os democratas desde que Harris substituiu o presidente Joe Biden na candidatura do partido. Suspeito que as chamadas por Zoom com milhares de pessoas, os US$ 200 milhões em novas doações de campanha, os comícios lotados e outros sinais de energia positiva no partido desde a ascensão de Harris ajudaram a melhorar seus números nas pesquisas, que estão significativamente melhores que os do presidente estiveram.
Walz é bem quisto por progressistas e ativistas trabalhistas, assim como por muito centristas. Em contraste, escolher Shapiro ameaçava a unidade do partido.
O argumento eleitoral contra Walz é que os democratas precisam realmente vencer em Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, portanto deveriam ter escolhido alguém oriundo de um desses Estados. Antes da seleção de Walz, o especialista em dados Nate Silver estimou que Harris receberia 0,4 ponto porcentual adicional em Pensilvânia se concorresse juntamente com uma pessoa desse Estado. Outros analistas colocam um pouco acima esse índice, em torno de 2%.
Esses efeitos são muito sutis. Mas Biden venceu na Pensilvânia por apenas 1,2% em 2020. Em Wisconsin (0,6%) e Michigan (2,8%) a disputa também foi muito apertada.
Shapiro tem alguns lados negativos tanto em políticas quanto eleitoralmente. O governador de Wisconsin, Tony Evers, tem 72 anos, o que não é ideal para um partido que tenta seguir adiante após ter um candidato presidencial que os eleitores consideravam velho demais. Como Walz, porém, a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, sempre criou e sancionou muitas grandes legislações e é popular em todo o partido. Ela tem 52 anos.
Whitmer afirmou repetidamente que não queria ser considerada para ocupar a vice. Mas imagino se Harris estaria realmente aberta para ela, por causa da visão, entre muitos estrategistas democratas e comentaristas de esquerda, de que o país não está pronto para uma chapa presidencial inteiramente feminina. Caso tenha se recusado a considerar Whitmer em razão de seu gênero, Harris cometeu um erro.
Se Whitmer não foi uma opção real (seja por decisão própria ou pela vontade de Harris), Walz foi uma ótima escolha. E essa seleção pressagia coisas boas para a campanha de Harris e seu governo. Antes das semanas recentes Walz não vinha figurando no topo das listas de governadores e senadores democratas promissores. É provável que Harris e sua equipe tenham percebido o entusiasmo se desenvolver em torno de Walz e preferido ele em vez de Kelly ou Shapiro.
Kelly e Shapiro eram os favoritos dos democratas de centro — os mesmos indivíduos que defendiam fortemente as capacidades políticas de Biden mesmo enquanto o presidente ficava cada vez mais impopular. Harris substituiu não apenas Biden, mas também as estratégias políticas antiquadas do presidente e de grande parte do establishment democrata. Com sorte, a escolha de Walz terá sido a primeira de muitas decisões tomadas por Harris que colocarão o Partido Democrata em um novo rumo muito necessário./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO