Tim Walz vs J.D. Vance: como os vices de Kamala e Trump estão disputando os votos da população rural


O governador de Minnesota e companheiro de chapa de Kamala Harris pode ser a solução democrata contra o domínio republicano em relação aos votos da população rural americana

Por Daniel Gateno

Longe dos centros urbanos americanos e do estilo de vida fornecido pelas grandes cidades, à população rural dos Estados Unidos se voltou a Donald Trump e o Partido Republicano para representar os seus interesses. A inclinação cada vez maior dos eleitores rurais dividiu ainda mais a linha entre o que significa ser republicano e democrata. Mas um homem simpático de meia idade que gosta de caçar e pescar e veio de uma pequena cidade rural do Estado de Nebraska pode ser o antídoto democrata nestas eleições.

Tim Walz, o governador de Minnesota e companheiro de chapa de Kamala Harris, viralizou nas redes sociais e ganhou projeção política por adotar uma nova linha de ataque ao chamar o ex-presidente americano Donald Trump e seu candidato à vice, J.D. Vance, de “estranhos”. Mas o impacto de Walz na chapa democrata pode ser muito maior.

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O político é um veterano da Guarda Nacional, foi professor de escola pública, treinador de futebol americano e representou um distrito notadamente republicano em Minnesota no Congresso americano de 2007 a 2019. Ele acredita que o seu histórico o credencia para conversar com a população rural americana, um eleitorado com tendências conservadoras que sofre com a falta de emprego e educação e está se afastando cada vez mais do Partido Democrata.

O candidato a vice-presidente e governador de Minnesota, Tim Walz, participa de uma feira em Falcon Heights, Minnesota  Foto: Stephen Maturen/AFP
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O candidato a vice busca fazer um contraste com seu oponente, o senador J.D. Vance, um republicano que também tem origens rurais e se tornou conhecido em 2016 quando lançou a autobiografia “Era uma vez um sonho: a história de uma família da classe operária e da crise da sociedade americana”. Com o livro, que virou best-seller do The New York Times, Vance se tornou uma espécie de porta-voz da realidade da classe trabalhadora rural americana e do movimento que levou à vitória de Donald Trump em 2016.

J.D Vance e Tim Walz representam a população rural de formas totalmente diferentes, avalia Lisa Pruitt, professora de direito da Universidade da Califórnia e especialista em população rural americana.

“É bastante surpreendente que ambos tenham raízes rurais dadas as suas distâncias ideológicas. Eles vêm de lugares diferentes e têm atitudes distintas em relação à vida rural”, destaca Pruitt.

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O candidato a vice-presidente pelo Partido Republicano J.D Vance participa de um comício de campanha em Boston, Estados Unidos  Foto: Josh Reynolds/AP

Disputa pelo mesmo eleitorado

Desde que foi escolhido como companheiro de chapa de Kamala, Walz tenta ressaltar as diferenças com Vance. Em um comício em Omaha, no Nebraska, Walz afirmou que Vance não representa a população rural dos Estados Unidos e não conhece Estados tradicionalmente republicanos, como Nebraska.

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“Walz conversa com o eleitor rural de uma forma que outros democratas não poderiam”, avalia Elizabeth Theiss-Morse, professora de ciências políticas da Universidade de Nebraska-Lincoln, em entrevista ao Estadão. “Ele tem um jeito autêntico que pode contribuir com a população rural”.

O governador de Minnesota, Tim Walz, participa de uma reunião em St. Paul, Minnesota  Foto: Jenn Ackerman/NYT

Para J.D. Vance, a tarefa é mais “fácil” por ele ser republicano. “A parte rural dos Estados Unidos é muito conservadora, então Donald Trump e J.D. Vance são candidatos atraentes para esta população simplesmente porque são do Partido Republicano”, aponta Theiss-Morse.

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Vance ficou famoso antes mesmo de entrar na política. Após a publicação de seu best-seller, em 2016, ele foi frequentemente convidado a dar entrevistas para grandes emissoras americanas sobre sua infância difícil nos Estados de Ohio e Kentucky e o declínio de uma classe trabalhadora rural que se sente esquecida pelo Partido Democrata e gravitou para Trump.

Diferenças

O livro narra a infância pobre de Vance em Middletown, Ohio, onde sofreu com violência doméstica, presenciou abusos e teve que ser criado por seus avós por conta da dependência química de sua mãe. A família do político também tem raízes na região dos Apalaches, no Kentucky, um dos locais mais pobres dos Estados Unidos e que sofre com uma crise de opioides.

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Apesar de também ter tido uma infância na parte rural dos Estados Unidos, a realidade de Walz em Nebraska e Minnesota não poderia ser mais diferente.

“Existe uma desigualdade muito maior em termos de riqueza, renda e uma taxa de pobreza mais significativa na região dos Apalaches e também em Ohio do que em Nebraska e Minnesota”, destaca Lisa Pruitt, especialista em população rural americana.

O senador e candidato a vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, participa de um comício de campanha ao lado de sua esposa, Usha Vance Foto: Morry Gash/AP

A realidade vivida por Vance impactou a maneira como ele via os seus próprios vizinhos em sua infância. Em sua obra, “Era uma vez um sonho: a história de uma família da classe operária e da crise da sociedade americana”, Vance argumenta que a falta de responsabilidade pessoal das pessoas que moravam nas regiões em que ele cresceu era um dos motivos da pobreza e do envolvimento com drogas.

“Se você sente que está competindo com seus vizinhos por recursos e bens, o seu pensamento em relação a sua comunidade é diferente”, avalia a especialista.

Segundo Pruitt, Estados como Nebraska e Minnesota têm um padrão econômico mais alto do que nos Apalaches e Ohio. “Este padrão pode impactar as atitudes das pessoas em relação aos seus vizinhos. Por isso, as políticas de Tim Walz parecem ser mais generosas”, completa.

O candidato democrata a vice-presidente e governador de Minnesota, Tim Walz, conversa com uma multidão em uma feira em Falcon Heights  Foto: Clay Masters/AP

A vida rural de Tim Walz

Walz, de 60 anos, nasceu na cidade de West Point, em Nebraska, mas cresceu entre Valentine e Butte, povoado que conta com apenas 270 habitantes, segundo o censo americano. Seu pai, James Walz, um veterano da Guerra da Coreia, era diretor de escola primária e morreu de câncer de pulmão quando o governador tinha 17 anos.

Após conhecer a sua esposa, Gwen Whipple, Walz se mudou para Minnesota em 1994 e foi professor de um colégio público na cidade de Mankato. Em 2006, venceu o candidato incumbente republicano para representar o chamado primeiro distrito, em uma área rural do sul do Estado.

“Walz foi eleito durante uma onda democrata no Congresso em 2006 e manteve o seu posto durante o governo de Barack Obama e Donald Trump”, aponta Timothy Lynch, professor de ciências políticas da Universidade Saint Thomas, de Minneapolis, capital do Estado de Minnesota.

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, participa da Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago, Estados Unidos, ao lado de Tim Walz, seu companheiro de chapa  Foto: Erin Schaff/NYT

O companheiro de chapa de Kamala era visto como um democrata moderado, com posições palatáveis para a região rural conservadora que ele representava no Congresso americano. Ele era apoiado pela Associação Nacional de Rifles e foi incluído por uma revista especializada em uma lista de 20 políticos que proprietários de armas deveriam votar.

Mas em 2018, quando Walz se candidatou para o governo de Minnesota, algumas de suas posições mudaram. Ele foi acusado por eleitores do distrito que representava de ter se tornado um progressista.

Motivado por uma série de incidentes envolvendo tiroteios com armas de fogo nos Estados Unidos, Walz sancionou medidas de controle de armas em Minnesota após ser eleito em 2019. Com uma maioria democrata na legislatura estadual, o governador também assinou uma lei que fornecia crédito financeiro a famílias de baixa renda com filhos, criou um programa de licença remunerada, investiu em energia limpa, tornou as mensalidades universitárias gratuitas para certos estudantes e garantiu café da manhã e almoço para crianças em escolas públicas.

De acordo com Lynch, Walz não necessariamente mudou suas posições em todos os assuntos quando se tornou governador, mas existem diferenças em relação ao que se pode fazer como congressista e em um cargo executivo. “Os membros do Congresso podem ter uma atuação menos ideológica do que no governo do Estado. Walz estava focado no que poderia entregar para o distrito, por isso ele sobreviveu a ondas republicanas, como em 2016″.

O governador de Minnesota e companheiro de chapa de Kamala Harris, Tim Walz, participa da Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago, Estados Unidos  Foto: Ricky Carioti/The Washington Post

O especialista aponta que a experiência de Walz como congressista pode ser mais importante do que o seu tempo como governador para eleitores e também para a sua possível gestão como vice-presidente. “Walz ficou muito tempo no Congresso, ele pode contribuir no Senado para passar legislações importantes e já provou que consegue trabalhar com republicanos”.

Criticado pela suposta mudança ideológica, o companheiro de chapa de Kamala se defendeu ao afirmar que cuidar de sua comunidade não é uma característica progressista.

“Walz quer passar a mensagem de que todas as legislações progressistas que ele passou não são progressistas, mas sim bem rurais”, aponta Theiss-Morse, da Universidade de Nebraska-Lincoln. “Não existe nada mais característico da população rural do que cuidar de sua comunidade”.

Desafio para os democratas

Os democratas sabem que o domínio republicano nas comunidades rurais não será quebrado em apenas um ciclo eleitoral, mas em uma eleição que deve ser definida por pequenas margens, qualquer diminuição deste déficit pode ser importante para definir a vitória.

Segundo Theiss-Morse, o Partido Democrata está tentando transmitir uma mensagem diferente nesta campanha, ressaltando as ideias de liberdade e patriotismo, duas bandeiras que eram vinculadas ao Partido Republicano. “Nestas eleições os democratas querem transmitir que são um partido para todos e uma pessoa rural na chapa ajuda neste processo”.

Além de contribuir com seu histórico, Walz também está tentando atrair mais homens brancos da classe trabalhadora para o Partido Democrata. O governador ajudou na organização do grupo “Homens Brancos por Kamala”, que angariou 4,5 milhões de dólares para a campanha da democrata.

Mas colocar Walz na chapa não vai solucionar todos os problemas do partido com a comunidade rural, segundo Pruitt. “Os democratas precisam fazer mais campanha nas áreas rurais, precisam colocar mais pessoas para conversar com estas comunidades. Eles falharam em fazer isso desde que Barack Obama foi eleito, em 2008, e Walz não vai resolver todos os problemas sozinho”.

Longe dos centros urbanos americanos e do estilo de vida fornecido pelas grandes cidades, à população rural dos Estados Unidos se voltou a Donald Trump e o Partido Republicano para representar os seus interesses. A inclinação cada vez maior dos eleitores rurais dividiu ainda mais a linha entre o que significa ser republicano e democrata. Mas um homem simpático de meia idade que gosta de caçar e pescar e veio de uma pequena cidade rural do Estado de Nebraska pode ser o antídoto democrata nestas eleições.

Tim Walz, o governador de Minnesota e companheiro de chapa de Kamala Harris, viralizou nas redes sociais e ganhou projeção política por adotar uma nova linha de ataque ao chamar o ex-presidente americano Donald Trump e seu candidato à vice, J.D. Vance, de “estranhos”. Mas o impacto de Walz na chapa democrata pode ser muito maior.

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O político é um veterano da Guarda Nacional, foi professor de escola pública, treinador de futebol americano e representou um distrito notadamente republicano em Minnesota no Congresso americano de 2007 a 2019. Ele acredita que o seu histórico o credencia para conversar com a população rural americana, um eleitorado com tendências conservadoras que sofre com a falta de emprego e educação e está se afastando cada vez mais do Partido Democrata.

O candidato a vice-presidente e governador de Minnesota, Tim Walz, participa de uma feira em Falcon Heights, Minnesota  Foto: Stephen Maturen/AFP

O candidato a vice busca fazer um contraste com seu oponente, o senador J.D. Vance, um republicano que também tem origens rurais e se tornou conhecido em 2016 quando lançou a autobiografia “Era uma vez um sonho: a história de uma família da classe operária e da crise da sociedade americana”. Com o livro, que virou best-seller do The New York Times, Vance se tornou uma espécie de porta-voz da realidade da classe trabalhadora rural americana e do movimento que levou à vitória de Donald Trump em 2016.

J.D Vance e Tim Walz representam a população rural de formas totalmente diferentes, avalia Lisa Pruitt, professora de direito da Universidade da Califórnia e especialista em população rural americana.

“É bastante surpreendente que ambos tenham raízes rurais dadas as suas distâncias ideológicas. Eles vêm de lugares diferentes e têm atitudes distintas em relação à vida rural”, destaca Pruitt.

O candidato a vice-presidente pelo Partido Republicano J.D Vance participa de um comício de campanha em Boston, Estados Unidos  Foto: Josh Reynolds/AP

Disputa pelo mesmo eleitorado

Desde que foi escolhido como companheiro de chapa de Kamala, Walz tenta ressaltar as diferenças com Vance. Em um comício em Omaha, no Nebraska, Walz afirmou que Vance não representa a população rural dos Estados Unidos e não conhece Estados tradicionalmente republicanos, como Nebraska.

“Walz conversa com o eleitor rural de uma forma que outros democratas não poderiam”, avalia Elizabeth Theiss-Morse, professora de ciências políticas da Universidade de Nebraska-Lincoln, em entrevista ao Estadão. “Ele tem um jeito autêntico que pode contribuir com a população rural”.

O governador de Minnesota, Tim Walz, participa de uma reunião em St. Paul, Minnesota  Foto: Jenn Ackerman/NYT

Para J.D. Vance, a tarefa é mais “fácil” por ele ser republicano. “A parte rural dos Estados Unidos é muito conservadora, então Donald Trump e J.D. Vance são candidatos atraentes para esta população simplesmente porque são do Partido Republicano”, aponta Theiss-Morse.

Vance ficou famoso antes mesmo de entrar na política. Após a publicação de seu best-seller, em 2016, ele foi frequentemente convidado a dar entrevistas para grandes emissoras americanas sobre sua infância difícil nos Estados de Ohio e Kentucky e o declínio de uma classe trabalhadora rural que se sente esquecida pelo Partido Democrata e gravitou para Trump.

Diferenças

O livro narra a infância pobre de Vance em Middletown, Ohio, onde sofreu com violência doméstica, presenciou abusos e teve que ser criado por seus avós por conta da dependência química de sua mãe. A família do político também tem raízes na região dos Apalaches, no Kentucky, um dos locais mais pobres dos Estados Unidos e que sofre com uma crise de opioides.

Apesar de também ter tido uma infância na parte rural dos Estados Unidos, a realidade de Walz em Nebraska e Minnesota não poderia ser mais diferente.

“Existe uma desigualdade muito maior em termos de riqueza, renda e uma taxa de pobreza mais significativa na região dos Apalaches e também em Ohio do que em Nebraska e Minnesota”, destaca Lisa Pruitt, especialista em população rural americana.

O senador e candidato a vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, participa de um comício de campanha ao lado de sua esposa, Usha Vance Foto: Morry Gash/AP

A realidade vivida por Vance impactou a maneira como ele via os seus próprios vizinhos em sua infância. Em sua obra, “Era uma vez um sonho: a história de uma família da classe operária e da crise da sociedade americana”, Vance argumenta que a falta de responsabilidade pessoal das pessoas que moravam nas regiões em que ele cresceu era um dos motivos da pobreza e do envolvimento com drogas.

“Se você sente que está competindo com seus vizinhos por recursos e bens, o seu pensamento em relação a sua comunidade é diferente”, avalia a especialista.

Segundo Pruitt, Estados como Nebraska e Minnesota têm um padrão econômico mais alto do que nos Apalaches e Ohio. “Este padrão pode impactar as atitudes das pessoas em relação aos seus vizinhos. Por isso, as políticas de Tim Walz parecem ser mais generosas”, completa.

O candidato democrata a vice-presidente e governador de Minnesota, Tim Walz, conversa com uma multidão em uma feira em Falcon Heights  Foto: Clay Masters/AP

A vida rural de Tim Walz

Walz, de 60 anos, nasceu na cidade de West Point, em Nebraska, mas cresceu entre Valentine e Butte, povoado que conta com apenas 270 habitantes, segundo o censo americano. Seu pai, James Walz, um veterano da Guerra da Coreia, era diretor de escola primária e morreu de câncer de pulmão quando o governador tinha 17 anos.

Após conhecer a sua esposa, Gwen Whipple, Walz se mudou para Minnesota em 1994 e foi professor de um colégio público na cidade de Mankato. Em 2006, venceu o candidato incumbente republicano para representar o chamado primeiro distrito, em uma área rural do sul do Estado.

“Walz foi eleito durante uma onda democrata no Congresso em 2006 e manteve o seu posto durante o governo de Barack Obama e Donald Trump”, aponta Timothy Lynch, professor de ciências políticas da Universidade Saint Thomas, de Minneapolis, capital do Estado de Minnesota.

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, participa da Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago, Estados Unidos, ao lado de Tim Walz, seu companheiro de chapa  Foto: Erin Schaff/NYT

O companheiro de chapa de Kamala era visto como um democrata moderado, com posições palatáveis para a região rural conservadora que ele representava no Congresso americano. Ele era apoiado pela Associação Nacional de Rifles e foi incluído por uma revista especializada em uma lista de 20 políticos que proprietários de armas deveriam votar.

Mas em 2018, quando Walz se candidatou para o governo de Minnesota, algumas de suas posições mudaram. Ele foi acusado por eleitores do distrito que representava de ter se tornado um progressista.

Motivado por uma série de incidentes envolvendo tiroteios com armas de fogo nos Estados Unidos, Walz sancionou medidas de controle de armas em Minnesota após ser eleito em 2019. Com uma maioria democrata na legislatura estadual, o governador também assinou uma lei que fornecia crédito financeiro a famílias de baixa renda com filhos, criou um programa de licença remunerada, investiu em energia limpa, tornou as mensalidades universitárias gratuitas para certos estudantes e garantiu café da manhã e almoço para crianças em escolas públicas.

De acordo com Lynch, Walz não necessariamente mudou suas posições em todos os assuntos quando se tornou governador, mas existem diferenças em relação ao que se pode fazer como congressista e em um cargo executivo. “Os membros do Congresso podem ter uma atuação menos ideológica do que no governo do Estado. Walz estava focado no que poderia entregar para o distrito, por isso ele sobreviveu a ondas republicanas, como em 2016″.

O governador de Minnesota e companheiro de chapa de Kamala Harris, Tim Walz, participa da Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago, Estados Unidos  Foto: Ricky Carioti/The Washington Post

O especialista aponta que a experiência de Walz como congressista pode ser mais importante do que o seu tempo como governador para eleitores e também para a sua possível gestão como vice-presidente. “Walz ficou muito tempo no Congresso, ele pode contribuir no Senado para passar legislações importantes e já provou que consegue trabalhar com republicanos”.

Criticado pela suposta mudança ideológica, o companheiro de chapa de Kamala se defendeu ao afirmar que cuidar de sua comunidade não é uma característica progressista.

“Walz quer passar a mensagem de que todas as legislações progressistas que ele passou não são progressistas, mas sim bem rurais”, aponta Theiss-Morse, da Universidade de Nebraska-Lincoln. “Não existe nada mais característico da população rural do que cuidar de sua comunidade”.

Desafio para os democratas

Os democratas sabem que o domínio republicano nas comunidades rurais não será quebrado em apenas um ciclo eleitoral, mas em uma eleição que deve ser definida por pequenas margens, qualquer diminuição deste déficit pode ser importante para definir a vitória.

Segundo Theiss-Morse, o Partido Democrata está tentando transmitir uma mensagem diferente nesta campanha, ressaltando as ideias de liberdade e patriotismo, duas bandeiras que eram vinculadas ao Partido Republicano. “Nestas eleições os democratas querem transmitir que são um partido para todos e uma pessoa rural na chapa ajuda neste processo”.

Além de contribuir com seu histórico, Walz também está tentando atrair mais homens brancos da classe trabalhadora para o Partido Democrata. O governador ajudou na organização do grupo “Homens Brancos por Kamala”, que angariou 4,5 milhões de dólares para a campanha da democrata.

Mas colocar Walz na chapa não vai solucionar todos os problemas do partido com a comunidade rural, segundo Pruitt. “Os democratas precisam fazer mais campanha nas áreas rurais, precisam colocar mais pessoas para conversar com estas comunidades. Eles falharam em fazer isso desde que Barack Obama foi eleito, em 2008, e Walz não vai resolver todos os problemas sozinho”.

Longe dos centros urbanos americanos e do estilo de vida fornecido pelas grandes cidades, à população rural dos Estados Unidos se voltou a Donald Trump e o Partido Republicano para representar os seus interesses. A inclinação cada vez maior dos eleitores rurais dividiu ainda mais a linha entre o que significa ser republicano e democrata. Mas um homem simpático de meia idade que gosta de caçar e pescar e veio de uma pequena cidade rural do Estado de Nebraska pode ser o antídoto democrata nestas eleições.

Tim Walz, o governador de Minnesota e companheiro de chapa de Kamala Harris, viralizou nas redes sociais e ganhou projeção política por adotar uma nova linha de ataque ao chamar o ex-presidente americano Donald Trump e seu candidato à vice, J.D. Vance, de “estranhos”. Mas o impacto de Walz na chapa democrata pode ser muito maior.

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O político é um veterano da Guarda Nacional, foi professor de escola pública, treinador de futebol americano e representou um distrito notadamente republicano em Minnesota no Congresso americano de 2007 a 2019. Ele acredita que o seu histórico o credencia para conversar com a população rural americana, um eleitorado com tendências conservadoras que sofre com a falta de emprego e educação e está se afastando cada vez mais do Partido Democrata.

O candidato a vice-presidente e governador de Minnesota, Tim Walz, participa de uma feira em Falcon Heights, Minnesota  Foto: Stephen Maturen/AFP

O candidato a vice busca fazer um contraste com seu oponente, o senador J.D. Vance, um republicano que também tem origens rurais e se tornou conhecido em 2016 quando lançou a autobiografia “Era uma vez um sonho: a história de uma família da classe operária e da crise da sociedade americana”. Com o livro, que virou best-seller do The New York Times, Vance se tornou uma espécie de porta-voz da realidade da classe trabalhadora rural americana e do movimento que levou à vitória de Donald Trump em 2016.

J.D Vance e Tim Walz representam a população rural de formas totalmente diferentes, avalia Lisa Pruitt, professora de direito da Universidade da Califórnia e especialista em população rural americana.

“É bastante surpreendente que ambos tenham raízes rurais dadas as suas distâncias ideológicas. Eles vêm de lugares diferentes e têm atitudes distintas em relação à vida rural”, destaca Pruitt.

O candidato a vice-presidente pelo Partido Republicano J.D Vance participa de um comício de campanha em Boston, Estados Unidos  Foto: Josh Reynolds/AP

Disputa pelo mesmo eleitorado

Desde que foi escolhido como companheiro de chapa de Kamala, Walz tenta ressaltar as diferenças com Vance. Em um comício em Omaha, no Nebraska, Walz afirmou que Vance não representa a população rural dos Estados Unidos e não conhece Estados tradicionalmente republicanos, como Nebraska.

“Walz conversa com o eleitor rural de uma forma que outros democratas não poderiam”, avalia Elizabeth Theiss-Morse, professora de ciências políticas da Universidade de Nebraska-Lincoln, em entrevista ao Estadão. “Ele tem um jeito autêntico que pode contribuir com a população rural”.

O governador de Minnesota, Tim Walz, participa de uma reunião em St. Paul, Minnesota  Foto: Jenn Ackerman/NYT

Para J.D. Vance, a tarefa é mais “fácil” por ele ser republicano. “A parte rural dos Estados Unidos é muito conservadora, então Donald Trump e J.D. Vance são candidatos atraentes para esta população simplesmente porque são do Partido Republicano”, aponta Theiss-Morse.

Vance ficou famoso antes mesmo de entrar na política. Após a publicação de seu best-seller, em 2016, ele foi frequentemente convidado a dar entrevistas para grandes emissoras americanas sobre sua infância difícil nos Estados de Ohio e Kentucky e o declínio de uma classe trabalhadora rural que se sente esquecida pelo Partido Democrata e gravitou para Trump.

Diferenças

O livro narra a infância pobre de Vance em Middletown, Ohio, onde sofreu com violência doméstica, presenciou abusos e teve que ser criado por seus avós por conta da dependência química de sua mãe. A família do político também tem raízes na região dos Apalaches, no Kentucky, um dos locais mais pobres dos Estados Unidos e que sofre com uma crise de opioides.

Apesar de também ter tido uma infância na parte rural dos Estados Unidos, a realidade de Walz em Nebraska e Minnesota não poderia ser mais diferente.

“Existe uma desigualdade muito maior em termos de riqueza, renda e uma taxa de pobreza mais significativa na região dos Apalaches e também em Ohio do que em Nebraska e Minnesota”, destaca Lisa Pruitt, especialista em população rural americana.

O senador e candidato a vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, participa de um comício de campanha ao lado de sua esposa, Usha Vance Foto: Morry Gash/AP

A realidade vivida por Vance impactou a maneira como ele via os seus próprios vizinhos em sua infância. Em sua obra, “Era uma vez um sonho: a história de uma família da classe operária e da crise da sociedade americana”, Vance argumenta que a falta de responsabilidade pessoal das pessoas que moravam nas regiões em que ele cresceu era um dos motivos da pobreza e do envolvimento com drogas.

“Se você sente que está competindo com seus vizinhos por recursos e bens, o seu pensamento em relação a sua comunidade é diferente”, avalia a especialista.

Segundo Pruitt, Estados como Nebraska e Minnesota têm um padrão econômico mais alto do que nos Apalaches e Ohio. “Este padrão pode impactar as atitudes das pessoas em relação aos seus vizinhos. Por isso, as políticas de Tim Walz parecem ser mais generosas”, completa.

O candidato democrata a vice-presidente e governador de Minnesota, Tim Walz, conversa com uma multidão em uma feira em Falcon Heights  Foto: Clay Masters/AP

A vida rural de Tim Walz

Walz, de 60 anos, nasceu na cidade de West Point, em Nebraska, mas cresceu entre Valentine e Butte, povoado que conta com apenas 270 habitantes, segundo o censo americano. Seu pai, James Walz, um veterano da Guerra da Coreia, era diretor de escola primária e morreu de câncer de pulmão quando o governador tinha 17 anos.

Após conhecer a sua esposa, Gwen Whipple, Walz se mudou para Minnesota em 1994 e foi professor de um colégio público na cidade de Mankato. Em 2006, venceu o candidato incumbente republicano para representar o chamado primeiro distrito, em uma área rural do sul do Estado.

“Walz foi eleito durante uma onda democrata no Congresso em 2006 e manteve o seu posto durante o governo de Barack Obama e Donald Trump”, aponta Timothy Lynch, professor de ciências políticas da Universidade Saint Thomas, de Minneapolis, capital do Estado de Minnesota.

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, participa da Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago, Estados Unidos, ao lado de Tim Walz, seu companheiro de chapa  Foto: Erin Schaff/NYT

O companheiro de chapa de Kamala era visto como um democrata moderado, com posições palatáveis para a região rural conservadora que ele representava no Congresso americano. Ele era apoiado pela Associação Nacional de Rifles e foi incluído por uma revista especializada em uma lista de 20 políticos que proprietários de armas deveriam votar.

Mas em 2018, quando Walz se candidatou para o governo de Minnesota, algumas de suas posições mudaram. Ele foi acusado por eleitores do distrito que representava de ter se tornado um progressista.

Motivado por uma série de incidentes envolvendo tiroteios com armas de fogo nos Estados Unidos, Walz sancionou medidas de controle de armas em Minnesota após ser eleito em 2019. Com uma maioria democrata na legislatura estadual, o governador também assinou uma lei que fornecia crédito financeiro a famílias de baixa renda com filhos, criou um programa de licença remunerada, investiu em energia limpa, tornou as mensalidades universitárias gratuitas para certos estudantes e garantiu café da manhã e almoço para crianças em escolas públicas.

De acordo com Lynch, Walz não necessariamente mudou suas posições em todos os assuntos quando se tornou governador, mas existem diferenças em relação ao que se pode fazer como congressista e em um cargo executivo. “Os membros do Congresso podem ter uma atuação menos ideológica do que no governo do Estado. Walz estava focado no que poderia entregar para o distrito, por isso ele sobreviveu a ondas republicanas, como em 2016″.

O governador de Minnesota e companheiro de chapa de Kamala Harris, Tim Walz, participa da Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago, Estados Unidos  Foto: Ricky Carioti/The Washington Post

O especialista aponta que a experiência de Walz como congressista pode ser mais importante do que o seu tempo como governador para eleitores e também para a sua possível gestão como vice-presidente. “Walz ficou muito tempo no Congresso, ele pode contribuir no Senado para passar legislações importantes e já provou que consegue trabalhar com republicanos”.

Criticado pela suposta mudança ideológica, o companheiro de chapa de Kamala se defendeu ao afirmar que cuidar de sua comunidade não é uma característica progressista.

“Walz quer passar a mensagem de que todas as legislações progressistas que ele passou não são progressistas, mas sim bem rurais”, aponta Theiss-Morse, da Universidade de Nebraska-Lincoln. “Não existe nada mais característico da população rural do que cuidar de sua comunidade”.

Desafio para os democratas

Os democratas sabem que o domínio republicano nas comunidades rurais não será quebrado em apenas um ciclo eleitoral, mas em uma eleição que deve ser definida por pequenas margens, qualquer diminuição deste déficit pode ser importante para definir a vitória.

Segundo Theiss-Morse, o Partido Democrata está tentando transmitir uma mensagem diferente nesta campanha, ressaltando as ideias de liberdade e patriotismo, duas bandeiras que eram vinculadas ao Partido Republicano. “Nestas eleições os democratas querem transmitir que são um partido para todos e uma pessoa rural na chapa ajuda neste processo”.

Além de contribuir com seu histórico, Walz também está tentando atrair mais homens brancos da classe trabalhadora para o Partido Democrata. O governador ajudou na organização do grupo “Homens Brancos por Kamala”, que angariou 4,5 milhões de dólares para a campanha da democrata.

Mas colocar Walz na chapa não vai solucionar todos os problemas do partido com a comunidade rural, segundo Pruitt. “Os democratas precisam fazer mais campanha nas áreas rurais, precisam colocar mais pessoas para conversar com estas comunidades. Eles falharam em fazer isso desde que Barack Obama foi eleito, em 2008, e Walz não vai resolver todos os problemas sozinho”.

Longe dos centros urbanos americanos e do estilo de vida fornecido pelas grandes cidades, à população rural dos Estados Unidos se voltou a Donald Trump e o Partido Republicano para representar os seus interesses. A inclinação cada vez maior dos eleitores rurais dividiu ainda mais a linha entre o que significa ser republicano e democrata. Mas um homem simpático de meia idade que gosta de caçar e pescar e veio de uma pequena cidade rural do Estado de Nebraska pode ser o antídoto democrata nestas eleições.

Tim Walz, o governador de Minnesota e companheiro de chapa de Kamala Harris, viralizou nas redes sociais e ganhou projeção política por adotar uma nova linha de ataque ao chamar o ex-presidente americano Donald Trump e seu candidato à vice, J.D. Vance, de “estranhos”. Mas o impacto de Walz na chapa democrata pode ser muito maior.

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O político é um veterano da Guarda Nacional, foi professor de escola pública, treinador de futebol americano e representou um distrito notadamente republicano em Minnesota no Congresso americano de 2007 a 2019. Ele acredita que o seu histórico o credencia para conversar com a população rural americana, um eleitorado com tendências conservadoras que sofre com a falta de emprego e educação e está se afastando cada vez mais do Partido Democrata.

O candidato a vice-presidente e governador de Minnesota, Tim Walz, participa de uma feira em Falcon Heights, Minnesota  Foto: Stephen Maturen/AFP

O candidato a vice busca fazer um contraste com seu oponente, o senador J.D. Vance, um republicano que também tem origens rurais e se tornou conhecido em 2016 quando lançou a autobiografia “Era uma vez um sonho: a história de uma família da classe operária e da crise da sociedade americana”. Com o livro, que virou best-seller do The New York Times, Vance se tornou uma espécie de porta-voz da realidade da classe trabalhadora rural americana e do movimento que levou à vitória de Donald Trump em 2016.

J.D Vance e Tim Walz representam a população rural de formas totalmente diferentes, avalia Lisa Pruitt, professora de direito da Universidade da Califórnia e especialista em população rural americana.

“É bastante surpreendente que ambos tenham raízes rurais dadas as suas distâncias ideológicas. Eles vêm de lugares diferentes e têm atitudes distintas em relação à vida rural”, destaca Pruitt.

O candidato a vice-presidente pelo Partido Republicano J.D Vance participa de um comício de campanha em Boston, Estados Unidos  Foto: Josh Reynolds/AP

Disputa pelo mesmo eleitorado

Desde que foi escolhido como companheiro de chapa de Kamala, Walz tenta ressaltar as diferenças com Vance. Em um comício em Omaha, no Nebraska, Walz afirmou que Vance não representa a população rural dos Estados Unidos e não conhece Estados tradicionalmente republicanos, como Nebraska.

“Walz conversa com o eleitor rural de uma forma que outros democratas não poderiam”, avalia Elizabeth Theiss-Morse, professora de ciências políticas da Universidade de Nebraska-Lincoln, em entrevista ao Estadão. “Ele tem um jeito autêntico que pode contribuir com a população rural”.

O governador de Minnesota, Tim Walz, participa de uma reunião em St. Paul, Minnesota  Foto: Jenn Ackerman/NYT

Para J.D. Vance, a tarefa é mais “fácil” por ele ser republicano. “A parte rural dos Estados Unidos é muito conservadora, então Donald Trump e J.D. Vance são candidatos atraentes para esta população simplesmente porque são do Partido Republicano”, aponta Theiss-Morse.

Vance ficou famoso antes mesmo de entrar na política. Após a publicação de seu best-seller, em 2016, ele foi frequentemente convidado a dar entrevistas para grandes emissoras americanas sobre sua infância difícil nos Estados de Ohio e Kentucky e o declínio de uma classe trabalhadora rural que se sente esquecida pelo Partido Democrata e gravitou para Trump.

Diferenças

O livro narra a infância pobre de Vance em Middletown, Ohio, onde sofreu com violência doméstica, presenciou abusos e teve que ser criado por seus avós por conta da dependência química de sua mãe. A família do político também tem raízes na região dos Apalaches, no Kentucky, um dos locais mais pobres dos Estados Unidos e que sofre com uma crise de opioides.

Apesar de também ter tido uma infância na parte rural dos Estados Unidos, a realidade de Walz em Nebraska e Minnesota não poderia ser mais diferente.

“Existe uma desigualdade muito maior em termos de riqueza, renda e uma taxa de pobreza mais significativa na região dos Apalaches e também em Ohio do que em Nebraska e Minnesota”, destaca Lisa Pruitt, especialista em população rural americana.

O senador e candidato a vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, participa de um comício de campanha ao lado de sua esposa, Usha Vance Foto: Morry Gash/AP

A realidade vivida por Vance impactou a maneira como ele via os seus próprios vizinhos em sua infância. Em sua obra, “Era uma vez um sonho: a história de uma família da classe operária e da crise da sociedade americana”, Vance argumenta que a falta de responsabilidade pessoal das pessoas que moravam nas regiões em que ele cresceu era um dos motivos da pobreza e do envolvimento com drogas.

“Se você sente que está competindo com seus vizinhos por recursos e bens, o seu pensamento em relação a sua comunidade é diferente”, avalia a especialista.

Segundo Pruitt, Estados como Nebraska e Minnesota têm um padrão econômico mais alto do que nos Apalaches e Ohio. “Este padrão pode impactar as atitudes das pessoas em relação aos seus vizinhos. Por isso, as políticas de Tim Walz parecem ser mais generosas”, completa.

O candidato democrata a vice-presidente e governador de Minnesota, Tim Walz, conversa com uma multidão em uma feira em Falcon Heights  Foto: Clay Masters/AP

A vida rural de Tim Walz

Walz, de 60 anos, nasceu na cidade de West Point, em Nebraska, mas cresceu entre Valentine e Butte, povoado que conta com apenas 270 habitantes, segundo o censo americano. Seu pai, James Walz, um veterano da Guerra da Coreia, era diretor de escola primária e morreu de câncer de pulmão quando o governador tinha 17 anos.

Após conhecer a sua esposa, Gwen Whipple, Walz se mudou para Minnesota em 1994 e foi professor de um colégio público na cidade de Mankato. Em 2006, venceu o candidato incumbente republicano para representar o chamado primeiro distrito, em uma área rural do sul do Estado.

“Walz foi eleito durante uma onda democrata no Congresso em 2006 e manteve o seu posto durante o governo de Barack Obama e Donald Trump”, aponta Timothy Lynch, professor de ciências políticas da Universidade Saint Thomas, de Minneapolis, capital do Estado de Minnesota.

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, participa da Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago, Estados Unidos, ao lado de Tim Walz, seu companheiro de chapa  Foto: Erin Schaff/NYT

O companheiro de chapa de Kamala era visto como um democrata moderado, com posições palatáveis para a região rural conservadora que ele representava no Congresso americano. Ele era apoiado pela Associação Nacional de Rifles e foi incluído por uma revista especializada em uma lista de 20 políticos que proprietários de armas deveriam votar.

Mas em 2018, quando Walz se candidatou para o governo de Minnesota, algumas de suas posições mudaram. Ele foi acusado por eleitores do distrito que representava de ter se tornado um progressista.

Motivado por uma série de incidentes envolvendo tiroteios com armas de fogo nos Estados Unidos, Walz sancionou medidas de controle de armas em Minnesota após ser eleito em 2019. Com uma maioria democrata na legislatura estadual, o governador também assinou uma lei que fornecia crédito financeiro a famílias de baixa renda com filhos, criou um programa de licença remunerada, investiu em energia limpa, tornou as mensalidades universitárias gratuitas para certos estudantes e garantiu café da manhã e almoço para crianças em escolas públicas.

De acordo com Lynch, Walz não necessariamente mudou suas posições em todos os assuntos quando se tornou governador, mas existem diferenças em relação ao que se pode fazer como congressista e em um cargo executivo. “Os membros do Congresso podem ter uma atuação menos ideológica do que no governo do Estado. Walz estava focado no que poderia entregar para o distrito, por isso ele sobreviveu a ondas republicanas, como em 2016″.

O governador de Minnesota e companheiro de chapa de Kamala Harris, Tim Walz, participa da Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago, Estados Unidos  Foto: Ricky Carioti/The Washington Post

O especialista aponta que a experiência de Walz como congressista pode ser mais importante do que o seu tempo como governador para eleitores e também para a sua possível gestão como vice-presidente. “Walz ficou muito tempo no Congresso, ele pode contribuir no Senado para passar legislações importantes e já provou que consegue trabalhar com republicanos”.

Criticado pela suposta mudança ideológica, o companheiro de chapa de Kamala se defendeu ao afirmar que cuidar de sua comunidade não é uma característica progressista.

“Walz quer passar a mensagem de que todas as legislações progressistas que ele passou não são progressistas, mas sim bem rurais”, aponta Theiss-Morse, da Universidade de Nebraska-Lincoln. “Não existe nada mais característico da população rural do que cuidar de sua comunidade”.

Desafio para os democratas

Os democratas sabem que o domínio republicano nas comunidades rurais não será quebrado em apenas um ciclo eleitoral, mas em uma eleição que deve ser definida por pequenas margens, qualquer diminuição deste déficit pode ser importante para definir a vitória.

Segundo Theiss-Morse, o Partido Democrata está tentando transmitir uma mensagem diferente nesta campanha, ressaltando as ideias de liberdade e patriotismo, duas bandeiras que eram vinculadas ao Partido Republicano. “Nestas eleições os democratas querem transmitir que são um partido para todos e uma pessoa rural na chapa ajuda neste processo”.

Além de contribuir com seu histórico, Walz também está tentando atrair mais homens brancos da classe trabalhadora para o Partido Democrata. O governador ajudou na organização do grupo “Homens Brancos por Kamala”, que angariou 4,5 milhões de dólares para a campanha da democrata.

Mas colocar Walz na chapa não vai solucionar todos os problemas do partido com a comunidade rural, segundo Pruitt. “Os democratas precisam fazer mais campanha nas áreas rurais, precisam colocar mais pessoas para conversar com estas comunidades. Eles falharam em fazer isso desde que Barack Obama foi eleito, em 2008, e Walz não vai resolver todos os problemas sozinho”.

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