O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, afirmou que a missão de inspeção na central nuclear ucraniana de Zaporizhzhia - maior da Europa, ocupada por tropas russas desde a primeira fase da guerra na Ucrânia - será mantida, apesar das novas atividades militares denunciadas por Kiev e Moscou. Ao menos três pessoas morreram na cidade-satélite de Engerdoar, onde está localizada a usina, durante confronto entre tropas russas e ucranianas, e a operadora da usina paralisou o funcionamento de um de seus reatores como medida preventiva a bombardeios russos.
“Houve atividade militar, inclusive esta manhã, há alguns minutos, mas não paramos, nos movimentamos”, disse o diplomata argentino que dirige a agência antes de partir para a central. O grupo chegou ao local na manhã desta quinta. “Começaremos a avaliar imediatamente a situação de segurança na central”, acrescentou.
Em um comunicado, o Ministério da Defesa da Rússia denunciou o avanço de unidades ucranianas, que teriam atravessado o rio Dniepr, que separa as posições dos dois países na região, a três quilômetros da central, motivando os ataques. “Às 06h00 (00h00 em Brasília), dois grupos de sabotadores do Exército ucraniano, que podem chegar a 60 pessoas, desembarcaram a bordo de sete barcos”, afirmou o ministério, que afirmou ter adotado “medidas para destruir o inimigo”, diz a nota.
Autoridades ucranianas, por sua vez, acusaram as tropas russas de bombardearem o trajeto que deve ser seguido pela missão da AIEA e a cidade onde está fica a central. A delegação da agência da ONU “não pode prosseguir o deslocamento para central por razões de segurança”, disse o prefeito de Enerdogar, Dmitro Orlov, que está no exílio. Apesar da declaração, a delegação da agência saiu da cidade de Zaporizhzhia às 08h15 (02h15 em Brasília).
“Sabemos que há uma área cinzenta em que acaba a última linha de defesa ucraniana e começa a primeira linha das forças de ocupação russas, onde os riscos são significativos”, disse Grossi antes do início do deslocamento. E completou: “Acredito que temos que seguir adiante. Temos uma missão muito importante a cumprir”.
Reator desativado
Um dos seis reatores da central nuclear de Zaporizhzhia foi temporariamente desativado como medida preventiva devido aos bombardeios das tropas de Moscou, informou a operadora ucraniana da usina.
“Hoje, às 04h57 (22h57 de quarta-feira em Brasília), devido a outro bombardeio por parte das forças de ocupação russas no complexo da central nuclear de Zaporizhzhia, a proteção de emergência foi ativada e a unidade de energia operacional 5 desligada”, afirmou a Energoatom em um comunicado divulgado antes da chegada da missão da AIEA.
Os apelos por parte das autoridades para que haja um cessar-fogo nos arredores da usina têm aumentado pelo receio de uma catástrofe nuclear. Nesta quinta-feira, o pedido pelo fim das operações militares partiu do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
“É o momento de parar de brincar com o fogo e adotar medidas concretas para proteger esta instalação e outras similares de qualquer operação militar”, declarou o diretor geral do CICV, Robert Mardini, em Kiev. “O mínimo erro de cálculo poderia desencadear devastações que lamentaremos durante décadas”, acrescentou. /AFP e EFE