Totó Riina, o chefão de 1,58m que superou o do cinema


Capo que inspirou filme de sucesso, morreu na prisão, orgulhoso por ter matado centenas e ter criado o maior grupo mafioso da Itália

Por Marcelo Godoy

Era baixo – tinha 1,58 metro de altura – e gostava de um velho ditado no dialeto siciliano: ’U cummannari è megghiu ri futtiri. A frase dita na língua dos ‘uomini d’onore’, os homens honrados da Máfia, pode ser traduzida de forma educada como “comandar é melhor do que sexo”. Totò Riina, o boss mafioso que morreu ontem em um hospital penitenciário de Parma, desafiou o Estado italiano, matou centenas de desafetos, fossem políticos, magistrados, militares ou mafiosos rivais. Tudo em nome do poder. De seu poder.

Chefão Salvatore Totó Riina, em foto de 1993, morreu aos 87 anos na prisão Foto: AP Photo/Giulio Broglio

A estatura lhe valera o apelido ’U Curtu – o Baixo. Com ele, a Máfia deixou de se dividir em “famílias”, como a dos Inzerillo, para se tornar a organização de Riina, formada pelo que Tommaso Buscetta, o mais famosos dos delatores da Máfia, chamou de “agrupamentos” – para desqualificá-lo, Riina dizia que Buscetta “tinha mulheres demais”.

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+ Totó Riina, um dos líderes mais temidos da Cosa Nostra, morre aos 87 anos

’U Curtu manteve-se fiel a sua história até o fim. Em 2013, no cárcere da Opera, em Milão, o chefão passeava com Alberto Lorusso, chefe da Sacra Corona Unita – a máfia da Puglia, no sul da Itália – quando disse: “Eu não me arrependo. Posso ficar preso 3 mil anos. Eu sou Salvatore Riina e entrarei para a história como Salvatore Riina.” Cumpria então 26 sentenças que o condenaram à prisão perpétua.

Contou então ao colega que uma vez “uma mulher portentosa chegou diante de mim quase nua e eu fingi que não entendi nada”. “Eu disse para ela: ‘Eu sou um macho desgraçado, por que você me chamou?” Riina, então com 83 anos, dizia querer uma nova onda de atentados no país, como os da estratégia militarista da Máfia dos anos 1980 e 1990.

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Ela havia levado o governo italiano a ocupar a Sicília com tropas do Exército em 1992, decisão tomada depois dos atentados que fizeram voar pelos ares os juízes Giovanni Falcone e Paolo Borselino. Os dois foram responsáveis pela até então mais bem sucedida investigação feita contra a Máfia. “Faço Di Matteo (o procurador da República Nino Di Matteo) acabar pior do que o Falcone”, disse Riina ao colega de cela.

O chefão falava de si como de um personagem. “Totò Riina era assim, sem compaixão, porque nasceu da lei da selva... Comecei do zero.” O camponês nascido em 1930, em Corleone, mantinha a velha desconfiança – chamava antigos companheiros de “carabineiros”, para acusá-los de conivência com a polícia. E se dizia desiludido com o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, de quem teria recebido dinheiro. “Pensava que ele (Berlusconi) fosse mandar fuzilar os magistrados.” E confessava ao colega de cela que, se fosse solto, mataria Berlusconi. “Temos esse direito.”

Riina permanecia, para a procuradoria antimáfia, o mesmo homem que construíra o caminho em direção ao poder. Segundo o historiador Salvatore Lupo, só na 2.ª Guerra da Máfia (1981-1982), que consolidou seu poder e o de seus comparsas, morreram de 500 a 1mil pessoas. É difícil contar os mortos, pois muitos foram dissolvidos em ácido ou concretados em fundações de prédios.

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A guerra começou com os assassinatos do capo Stefano Bontate e de Salvatore Inzerillo, ligado à família Gambino de Nova York. Riina e os seus acusavam os rivais de ganhar dinheiro sozinhos com o tráfico de drogas. A matança atravessou o Atlântico, Pietro Inzerillo, irmão de Salvatore, foi encontrado com um saco de dólares dentro da boca. A mensagem era clara: “Você quis papar muito dinheiro”. A matança só acabou quando os Inzerillos se refugiaram nos Estados Unidos, com a promessa de nunca mais pisarem na Sicília.

Entre suas vítimas famosas, o presidente das região da Sicília, o democrata-cristão Piersanti Matarella, o deputado comunista Pio la Torre, o general dos carabineiros Alberto Dalla Chiesa, os parentes de Buscetta, de Inzerillo e de Bontate. Mesmo preso, em 1993, mandou executar atentados terroristas, como o do carro-bomba na Galeria degli Uffizi, em Florença, que deixou 5 mortos.

Quanto mais poder demonstrava ter, mais frágil se tornava sua posição e a dos sicilianos. A legislação antimáfia e o regime de cárcere duro, inaugurado logo após a morte do juiz Borselino, começaram a romper a lei do silêncio e a proteção do mundo político da qual desfrutava a organização.

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Os arrependidos – delatores – se multiplicaram. Até Giovanni Brusca, filho de um de seus maiores amigos, o delataria. Por fim, a Máfia perderia espaço na criminalidade: acabaria ultrapassada pela ’Ndrangheta, da vizinha Calábria, hoje a mais potente organização criminosa do mundo.

Era baixo – tinha 1,58 metro de altura – e gostava de um velho ditado no dialeto siciliano: ’U cummannari è megghiu ri futtiri. A frase dita na língua dos ‘uomini d’onore’, os homens honrados da Máfia, pode ser traduzida de forma educada como “comandar é melhor do que sexo”. Totò Riina, o boss mafioso que morreu ontem em um hospital penitenciário de Parma, desafiou o Estado italiano, matou centenas de desafetos, fossem políticos, magistrados, militares ou mafiosos rivais. Tudo em nome do poder. De seu poder.

Chefão Salvatore Totó Riina, em foto de 1993, morreu aos 87 anos na prisão Foto: AP Photo/Giulio Broglio

A estatura lhe valera o apelido ’U Curtu – o Baixo. Com ele, a Máfia deixou de se dividir em “famílias”, como a dos Inzerillo, para se tornar a organização de Riina, formada pelo que Tommaso Buscetta, o mais famosos dos delatores da Máfia, chamou de “agrupamentos” – para desqualificá-lo, Riina dizia que Buscetta “tinha mulheres demais”.

+ Totó Riina, um dos líderes mais temidos da Cosa Nostra, morre aos 87 anos

’U Curtu manteve-se fiel a sua história até o fim. Em 2013, no cárcere da Opera, em Milão, o chefão passeava com Alberto Lorusso, chefe da Sacra Corona Unita – a máfia da Puglia, no sul da Itália – quando disse: “Eu não me arrependo. Posso ficar preso 3 mil anos. Eu sou Salvatore Riina e entrarei para a história como Salvatore Riina.” Cumpria então 26 sentenças que o condenaram à prisão perpétua.

Contou então ao colega que uma vez “uma mulher portentosa chegou diante de mim quase nua e eu fingi que não entendi nada”. “Eu disse para ela: ‘Eu sou um macho desgraçado, por que você me chamou?” Riina, então com 83 anos, dizia querer uma nova onda de atentados no país, como os da estratégia militarista da Máfia dos anos 1980 e 1990.

Ela havia levado o governo italiano a ocupar a Sicília com tropas do Exército em 1992, decisão tomada depois dos atentados que fizeram voar pelos ares os juízes Giovanni Falcone e Paolo Borselino. Os dois foram responsáveis pela até então mais bem sucedida investigação feita contra a Máfia. “Faço Di Matteo (o procurador da República Nino Di Matteo) acabar pior do que o Falcone”, disse Riina ao colega de cela.

O chefão falava de si como de um personagem. “Totò Riina era assim, sem compaixão, porque nasceu da lei da selva... Comecei do zero.” O camponês nascido em 1930, em Corleone, mantinha a velha desconfiança – chamava antigos companheiros de “carabineiros”, para acusá-los de conivência com a polícia. E se dizia desiludido com o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, de quem teria recebido dinheiro. “Pensava que ele (Berlusconi) fosse mandar fuzilar os magistrados.” E confessava ao colega de cela que, se fosse solto, mataria Berlusconi. “Temos esse direito.”

Riina permanecia, para a procuradoria antimáfia, o mesmo homem que construíra o caminho em direção ao poder. Segundo o historiador Salvatore Lupo, só na 2.ª Guerra da Máfia (1981-1982), que consolidou seu poder e o de seus comparsas, morreram de 500 a 1mil pessoas. É difícil contar os mortos, pois muitos foram dissolvidos em ácido ou concretados em fundações de prédios.

A guerra começou com os assassinatos do capo Stefano Bontate e de Salvatore Inzerillo, ligado à família Gambino de Nova York. Riina e os seus acusavam os rivais de ganhar dinheiro sozinhos com o tráfico de drogas. A matança atravessou o Atlântico, Pietro Inzerillo, irmão de Salvatore, foi encontrado com um saco de dólares dentro da boca. A mensagem era clara: “Você quis papar muito dinheiro”. A matança só acabou quando os Inzerillos se refugiaram nos Estados Unidos, com a promessa de nunca mais pisarem na Sicília.

Entre suas vítimas famosas, o presidente das região da Sicília, o democrata-cristão Piersanti Matarella, o deputado comunista Pio la Torre, o general dos carabineiros Alberto Dalla Chiesa, os parentes de Buscetta, de Inzerillo e de Bontate. Mesmo preso, em 1993, mandou executar atentados terroristas, como o do carro-bomba na Galeria degli Uffizi, em Florença, que deixou 5 mortos.

Quanto mais poder demonstrava ter, mais frágil se tornava sua posição e a dos sicilianos. A legislação antimáfia e o regime de cárcere duro, inaugurado logo após a morte do juiz Borselino, começaram a romper a lei do silêncio e a proteção do mundo político da qual desfrutava a organização.

Os arrependidos – delatores – se multiplicaram. Até Giovanni Brusca, filho de um de seus maiores amigos, o delataria. Por fim, a Máfia perderia espaço na criminalidade: acabaria ultrapassada pela ’Ndrangheta, da vizinha Calábria, hoje a mais potente organização criminosa do mundo.

Era baixo – tinha 1,58 metro de altura – e gostava de um velho ditado no dialeto siciliano: ’U cummannari è megghiu ri futtiri. A frase dita na língua dos ‘uomini d’onore’, os homens honrados da Máfia, pode ser traduzida de forma educada como “comandar é melhor do que sexo”. Totò Riina, o boss mafioso que morreu ontem em um hospital penitenciário de Parma, desafiou o Estado italiano, matou centenas de desafetos, fossem políticos, magistrados, militares ou mafiosos rivais. Tudo em nome do poder. De seu poder.

Chefão Salvatore Totó Riina, em foto de 1993, morreu aos 87 anos na prisão Foto: AP Photo/Giulio Broglio

A estatura lhe valera o apelido ’U Curtu – o Baixo. Com ele, a Máfia deixou de se dividir em “famílias”, como a dos Inzerillo, para se tornar a organização de Riina, formada pelo que Tommaso Buscetta, o mais famosos dos delatores da Máfia, chamou de “agrupamentos” – para desqualificá-lo, Riina dizia que Buscetta “tinha mulheres demais”.

+ Totó Riina, um dos líderes mais temidos da Cosa Nostra, morre aos 87 anos

’U Curtu manteve-se fiel a sua história até o fim. Em 2013, no cárcere da Opera, em Milão, o chefão passeava com Alberto Lorusso, chefe da Sacra Corona Unita – a máfia da Puglia, no sul da Itália – quando disse: “Eu não me arrependo. Posso ficar preso 3 mil anos. Eu sou Salvatore Riina e entrarei para a história como Salvatore Riina.” Cumpria então 26 sentenças que o condenaram à prisão perpétua.

Contou então ao colega que uma vez “uma mulher portentosa chegou diante de mim quase nua e eu fingi que não entendi nada”. “Eu disse para ela: ‘Eu sou um macho desgraçado, por que você me chamou?” Riina, então com 83 anos, dizia querer uma nova onda de atentados no país, como os da estratégia militarista da Máfia dos anos 1980 e 1990.

Ela havia levado o governo italiano a ocupar a Sicília com tropas do Exército em 1992, decisão tomada depois dos atentados que fizeram voar pelos ares os juízes Giovanni Falcone e Paolo Borselino. Os dois foram responsáveis pela até então mais bem sucedida investigação feita contra a Máfia. “Faço Di Matteo (o procurador da República Nino Di Matteo) acabar pior do que o Falcone”, disse Riina ao colega de cela.

O chefão falava de si como de um personagem. “Totò Riina era assim, sem compaixão, porque nasceu da lei da selva... Comecei do zero.” O camponês nascido em 1930, em Corleone, mantinha a velha desconfiança – chamava antigos companheiros de “carabineiros”, para acusá-los de conivência com a polícia. E se dizia desiludido com o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, de quem teria recebido dinheiro. “Pensava que ele (Berlusconi) fosse mandar fuzilar os magistrados.” E confessava ao colega de cela que, se fosse solto, mataria Berlusconi. “Temos esse direito.”

Riina permanecia, para a procuradoria antimáfia, o mesmo homem que construíra o caminho em direção ao poder. Segundo o historiador Salvatore Lupo, só na 2.ª Guerra da Máfia (1981-1982), que consolidou seu poder e o de seus comparsas, morreram de 500 a 1mil pessoas. É difícil contar os mortos, pois muitos foram dissolvidos em ácido ou concretados em fundações de prédios.

A guerra começou com os assassinatos do capo Stefano Bontate e de Salvatore Inzerillo, ligado à família Gambino de Nova York. Riina e os seus acusavam os rivais de ganhar dinheiro sozinhos com o tráfico de drogas. A matança atravessou o Atlântico, Pietro Inzerillo, irmão de Salvatore, foi encontrado com um saco de dólares dentro da boca. A mensagem era clara: “Você quis papar muito dinheiro”. A matança só acabou quando os Inzerillos se refugiaram nos Estados Unidos, com a promessa de nunca mais pisarem na Sicília.

Entre suas vítimas famosas, o presidente das região da Sicília, o democrata-cristão Piersanti Matarella, o deputado comunista Pio la Torre, o general dos carabineiros Alberto Dalla Chiesa, os parentes de Buscetta, de Inzerillo e de Bontate. Mesmo preso, em 1993, mandou executar atentados terroristas, como o do carro-bomba na Galeria degli Uffizi, em Florença, que deixou 5 mortos.

Quanto mais poder demonstrava ter, mais frágil se tornava sua posição e a dos sicilianos. A legislação antimáfia e o regime de cárcere duro, inaugurado logo após a morte do juiz Borselino, começaram a romper a lei do silêncio e a proteção do mundo político da qual desfrutava a organização.

Os arrependidos – delatores – se multiplicaram. Até Giovanni Brusca, filho de um de seus maiores amigos, o delataria. Por fim, a Máfia perderia espaço na criminalidade: acabaria ultrapassada pela ’Ndrangheta, da vizinha Calábria, hoje a mais potente organização criminosa do mundo.

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