Trabalhistas abandonam radicalismo e caminham para maior vitória da história no Reino Unido


O líder da legenda Keir Starmer expurgou a extrema esquerda de seu partido, negando aos seus representantes não apenas lugar nas cédulas das eleições de 4 de julho, mas também filiação ao partido

Por William Booth e Karla Adam

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, e seu governista Partido Conservador alertam os eleitores afirmando que, se o Partido Trabalhista ganhar a próxima eleição, seu país se tornará um “Estado socialista de partido único”. Pode soar assustador. Mas onde estão os socialistas?

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, anunciou para o país na quinta-feira que o antigo Partido Trabalhista morreu.

Saíram: as universidades gratuitas.

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Entrou: “a geração de riqueza”.

Com um foco implacável, ao longo de anos trabalhando em comissões complexas, interligadas e com frequência secretas, Starmer expurgou eficazmente a extrema esquerda de seu partido, negando aos seus representantes não apenas lugar nas cédulas das eleições de 4 de julho, mas também filiação à legenda.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de um compromisso de campanha em Southampton, Reino Unido  Foto: Kin Cheung/AP
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Manifesto

Na quinta-feira, Starmer lançou o manifesto de seu partido — todos os partidos britânicos chamam suas plataformas de “manifesto” — a quilômetros de distância das promessas eleitorais cinco anos atrás.

Bem-vindos a um “Partido Trabalhista transformado”, como Starmer definiu a legenda dúzias de vezes durante o discurso em Manchester no qual pronunciou o manifesto.

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Alguns críticos qualificaram Starmer como “persistente” e “implacável” ao observar sua tentativa de reinventar o Partido Trabalhista. Outros usam termos como “tedioso” ou “opaco”. Sua própria equipe de relações públicas empurra a narrativa dele ser o “Starmer sem drama” (que não soa tão bem quanto “Obama sem drama”).

Starmer não está fazendo uma campanha espalhafatosa. Nenhum showzinho. E isso é proposital. “Se você está 20 pontos à frente nas pesquisas, não há porque assustar os eleitores”, afirmou o diretor do instituto de análise britânico More in Common, Luke Tryl.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, posa para uma foto ao lado de um ônibus trabalhista em Manchester, Reino Unido  Foto: Stefan Rousseau/AP
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Sublinhando suas principais promessas, Starmer afirmou que o Partido Trabalhista terá foco em segurança, em vigilância de fronteiras e na economia — e em colocar mais policiais nas ruas para combater delitos menores e “comportamentos antissociais”, como beber e usar drogas em público.

O manifesto descreve planos de impulsionar a riqueza racionalizando regras, trabalhando proximamente com as empresas e colocando o dinheiro dos contribuintes — como o Fundo de Riqueza Soberana, de US$ 9 bilhões — em parcerias com indústrias importantes, para baixar o risco do investimento privado.

Starmer prometeu não aumentar impostos sobre renda, seguros nacionais e valor agregado — para as pessoas comuns. Mas afirmou que fechar brechas que permitem evitar impostos e novos tributos sobre pagamentos como mensalidades de escolas particulares poderiam gerar mais de US$ 10 bilhões.

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Ele usou repetidamente o termo “pessoas trabalhadoras”, não “os trabalhadores” aos quais seus antecessores se referiam. “Geração de riqueza é nossa prioridade número um; crescimento é o nosso principal empreendimento”, prometeu ele.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, posa para uma foto ao lado do líder da oposição, Keir Starmer, durante a abertura do Parlamento britânico  Foto: Hannah Mckay/AFP

Apoiadores tradicionais

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Alguns apoiadores tradicionais do Partido Trabalhista, como os sindicatos, expressaram preocupação, afirmando que o manifesto favorece muito mais o patrão do que o empregado.

Sunak, que prometeu US$ 22 bilhões em cortes de impostos se os conservadores vencerem a eleição, respondeu ao manifesto trabalhista postando, “Se você acha que eles vão ganhar, comece a economizar”. Ele afirmou que as promessas trabalhistas “ocasionariam os impostos mais altos na história”.

Starmer teve o discurso da quinta-feira interrompido por uma manifestante que acusou o líder trabalhista de defender “as mesmas velhas políticas dos conservadores” e abandonar os jovens.

Starmer declarou, “Nós deixamos de ser um partido de protesto cinco anos atrás. Nós queremos ser um partido de poder”, conforme a manifestante era retirada por agentes de segurança.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de uma coletiva de imprensa após um evento de campanha em Southampton, Reino Unido  Foto: Kin Cheung/AP

Na última eleição geral, em 2019, o então líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn — cujo vice afirmava que seu livro favorito era “O Capital”, de Karl Marx — prometeu cuidado domiciliar a idosos gratuito, incluindo serviços como fazer compras para os atendidos e arrumação de suas residências. Corbyn disse que seu partido nacionalizaria as ferrovias, o fornecimento de gás e eletricidade, o serviço postal, empresas de água e a internet de banda larga.

Corbyn perdeu de lavada para o brexiteer Boris Johnson. Starmer concluiu que o Partido Trabalhista deve retornar para o centro — e especialmente purgar o partido da “mancha do antissemitismo” criada quando vozes pró-palestinos viram ódio anti-Israel e contra os judeus.

Corbyn não foi apenas silenciado. Foi expulso do partido por Starmer e seus aliados centristas. Corbyn tentará agora reconquistar seu assento no Parlamento como independente.

Jeremy Corbyn, ex-líder do Partido Trabalhista, conversa com Keir Starmer, atual líder da legenda, em Londres, Reino Unido  Foto: Ben Stansall/AFP

Imagem

Starmer “desintoxicou a imagem trabalhista, colocou o foco em segurança nacional, campo em que havia preocupações sobre Corbyn, e é visto como fiscalmente responsável”, afirmou Tryl, do instituto More in Common. “Ele está tentando seduzir os conservadores brandos: ‘Olha, não tem problema vocês votarem no Partido Trabalhista, nós não faremos nada para subverter as coisas’.”

Starmer segue os passos de Tony Blair, o último trabalhista vencedor, que liderou seu partido em três mandatos consecutivos, algo sem precedentes na política britânica, servindo como primeiro-ministro de 1997 a 2007. Blair posicionou seu partido no “Novo Trabalhismo”, um movimento mais centrista que parecia similar aos democratas moderados e abertos ao diálogo sob o ex-presidente americano Bill Clinton, que era aliado de Blair.

Posteriormente, Blair tornou-se objeto de escárnio da extrema esquerda trabalhista, que se ressentia em razão do ex-primeiro-ministro ter envolvido o Reino Unido na longa guerra no Iraque e criticava seus apoiadores, ou “blairites”, qualificando-os como ”revanchistas”.

Anteriormente nesta campanha, Starmer surpreendeu alguns eleitores ao afirmar que ainda é socialista. (Quando jovem, ele trabalhou como editor de uma revista trotskista chamada Alternativas Socialistas.)

“Eu me descreveria como um socialista. Eu me descrevo como um progressista. Eu me descreveria como alguém que sempre põe o país em primeiro lugar e o partido, em segundo”, afirmou Starmer.

Sua vice, Rachel Reeves, não fica muito confortável com isso. Questionada sobre também ser socialista, ela respondeu que é social-democrata.

O diretor-executivo da firma de consultoria política Electoral Calculus, Martin Baxter, afirmou que Starmer pode estar tentando amparar sua base de esquerda com essa fala, ou pode acreditar que é realmente socialista, o que pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes.

“Socialista” não é um termo que todos os colegas usariam para descrever Starmer atualmente.”Keir Starmer sabe o que é um socialista?”, perguntou o jornal Trabalhador Socialista em uma manchete.

Agenda

Os conservadores afirmam que Starmer está escondendo sua verdadeira agenda.

Em seu discurso da quinta-feira, Starmer não mencionou a nacionalização de nenhuma indústria. Em vez disso, afirmou que seu governo criaria a empresa Great British Energy, uma estatal destinada a produzir energia mais limpa e mais verde — e uma empresa entre várias competidoras. Ele não falou nada sobre estatizar as ferrovias, mas seu manifesto afirma, “Nós priorizaremos os passageiros no serviço reformando as ferrovias e tornando-as propriedade pública. Faremos isso conforme contratos com operadores existentes expirarem ou forem rompidos por eventuais incumprimentos, sem custar nenhum centavo aos contribuintes em contrapartida”.

Sunak e Starmer foram entrevistados na noite da quarta-feira. Beth Rigby, da Sky News, introduziu seu interrogatório a Starmer disparando: “O sr. disse ao país que Jeremy Corbyn seria um grande primeiro-ministro. Então o expulsou do Partido Trabalhista. O sr. fez campanha por um segundo referendo sobre a UE. Mas agora nem fala da UE. E descartou todas as políticas de esquerda. (…) Sua curta carreira política é na realidade um catálogo de promessas quebradas e mudanças de posicionamento.”

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de uma entrevista em Londres, Reino Unido  Foto: Aaron Chown/AP

Starmer respondeu que colocou seu partido de volta nos trilhos responsavelmente após a eleição de 2019. “Quando você perde tão feio, você não olha para os eleitores e diz, ‘O que vocês acham que estão fazendo?’ Você olha para o seu partido e diz, ‘Nós temos que mudar’.”

Baxter notou que Starmer “parece sensato e não é repugnante” para muita gente, mas seu apoio não é profundo. “É motivado por um sentimento anticonservador.”

Até aqui, a grande margem de liderança do Partido Trabalhista nas pesquisas de intenção de voto parece mais um episódio em que os conservadores caminham para a derrota do que os trabalhistas rumando para a vitória.

Não obstante, o apoio ao Partido Trabalhista é amplo e consistente. Os trabalhistas figuram à frente dos conservadores em todas as faixas etárias abaixo dos 70 anos e passaram algum tempo 20 pontos adiante. Quando Blair ganhou de lavada, em 1997, o Partido Trabalhista liderava as pesquisas por apenas 13 pontos. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, e seu governista Partido Conservador alertam os eleitores afirmando que, se o Partido Trabalhista ganhar a próxima eleição, seu país se tornará um “Estado socialista de partido único”. Pode soar assustador. Mas onde estão os socialistas?

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, anunciou para o país na quinta-feira que o antigo Partido Trabalhista morreu.

Saíram: as universidades gratuitas.

Entrou: “a geração de riqueza”.

Com um foco implacável, ao longo de anos trabalhando em comissões complexas, interligadas e com frequência secretas, Starmer expurgou eficazmente a extrema esquerda de seu partido, negando aos seus representantes não apenas lugar nas cédulas das eleições de 4 de julho, mas também filiação à legenda.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de um compromisso de campanha em Southampton, Reino Unido  Foto: Kin Cheung/AP

Manifesto

Na quinta-feira, Starmer lançou o manifesto de seu partido — todos os partidos britânicos chamam suas plataformas de “manifesto” — a quilômetros de distância das promessas eleitorais cinco anos atrás.

Bem-vindos a um “Partido Trabalhista transformado”, como Starmer definiu a legenda dúzias de vezes durante o discurso em Manchester no qual pronunciou o manifesto.

Alguns críticos qualificaram Starmer como “persistente” e “implacável” ao observar sua tentativa de reinventar o Partido Trabalhista. Outros usam termos como “tedioso” ou “opaco”. Sua própria equipe de relações públicas empurra a narrativa dele ser o “Starmer sem drama” (que não soa tão bem quanto “Obama sem drama”).

Starmer não está fazendo uma campanha espalhafatosa. Nenhum showzinho. E isso é proposital. “Se você está 20 pontos à frente nas pesquisas, não há porque assustar os eleitores”, afirmou o diretor do instituto de análise britânico More in Common, Luke Tryl.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, posa para uma foto ao lado de um ônibus trabalhista em Manchester, Reino Unido  Foto: Stefan Rousseau/AP

Sublinhando suas principais promessas, Starmer afirmou que o Partido Trabalhista terá foco em segurança, em vigilância de fronteiras e na economia — e em colocar mais policiais nas ruas para combater delitos menores e “comportamentos antissociais”, como beber e usar drogas em público.

O manifesto descreve planos de impulsionar a riqueza racionalizando regras, trabalhando proximamente com as empresas e colocando o dinheiro dos contribuintes — como o Fundo de Riqueza Soberana, de US$ 9 bilhões — em parcerias com indústrias importantes, para baixar o risco do investimento privado.

Starmer prometeu não aumentar impostos sobre renda, seguros nacionais e valor agregado — para as pessoas comuns. Mas afirmou que fechar brechas que permitem evitar impostos e novos tributos sobre pagamentos como mensalidades de escolas particulares poderiam gerar mais de US$ 10 bilhões.

Ele usou repetidamente o termo “pessoas trabalhadoras”, não “os trabalhadores” aos quais seus antecessores se referiam. “Geração de riqueza é nossa prioridade número um; crescimento é o nosso principal empreendimento”, prometeu ele.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, posa para uma foto ao lado do líder da oposição, Keir Starmer, durante a abertura do Parlamento britânico  Foto: Hannah Mckay/AFP

Apoiadores tradicionais

Alguns apoiadores tradicionais do Partido Trabalhista, como os sindicatos, expressaram preocupação, afirmando que o manifesto favorece muito mais o patrão do que o empregado.

Sunak, que prometeu US$ 22 bilhões em cortes de impostos se os conservadores vencerem a eleição, respondeu ao manifesto trabalhista postando, “Se você acha que eles vão ganhar, comece a economizar”. Ele afirmou que as promessas trabalhistas “ocasionariam os impostos mais altos na história”.

Starmer teve o discurso da quinta-feira interrompido por uma manifestante que acusou o líder trabalhista de defender “as mesmas velhas políticas dos conservadores” e abandonar os jovens.

Starmer declarou, “Nós deixamos de ser um partido de protesto cinco anos atrás. Nós queremos ser um partido de poder”, conforme a manifestante era retirada por agentes de segurança.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de uma coletiva de imprensa após um evento de campanha em Southampton, Reino Unido  Foto: Kin Cheung/AP

Na última eleição geral, em 2019, o então líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn — cujo vice afirmava que seu livro favorito era “O Capital”, de Karl Marx — prometeu cuidado domiciliar a idosos gratuito, incluindo serviços como fazer compras para os atendidos e arrumação de suas residências. Corbyn disse que seu partido nacionalizaria as ferrovias, o fornecimento de gás e eletricidade, o serviço postal, empresas de água e a internet de banda larga.

Corbyn perdeu de lavada para o brexiteer Boris Johnson. Starmer concluiu que o Partido Trabalhista deve retornar para o centro — e especialmente purgar o partido da “mancha do antissemitismo” criada quando vozes pró-palestinos viram ódio anti-Israel e contra os judeus.

Corbyn não foi apenas silenciado. Foi expulso do partido por Starmer e seus aliados centristas. Corbyn tentará agora reconquistar seu assento no Parlamento como independente.

Jeremy Corbyn, ex-líder do Partido Trabalhista, conversa com Keir Starmer, atual líder da legenda, em Londres, Reino Unido  Foto: Ben Stansall/AFP

Imagem

Starmer “desintoxicou a imagem trabalhista, colocou o foco em segurança nacional, campo em que havia preocupações sobre Corbyn, e é visto como fiscalmente responsável”, afirmou Tryl, do instituto More in Common. “Ele está tentando seduzir os conservadores brandos: ‘Olha, não tem problema vocês votarem no Partido Trabalhista, nós não faremos nada para subverter as coisas’.”

Starmer segue os passos de Tony Blair, o último trabalhista vencedor, que liderou seu partido em três mandatos consecutivos, algo sem precedentes na política britânica, servindo como primeiro-ministro de 1997 a 2007. Blair posicionou seu partido no “Novo Trabalhismo”, um movimento mais centrista que parecia similar aos democratas moderados e abertos ao diálogo sob o ex-presidente americano Bill Clinton, que era aliado de Blair.

Posteriormente, Blair tornou-se objeto de escárnio da extrema esquerda trabalhista, que se ressentia em razão do ex-primeiro-ministro ter envolvido o Reino Unido na longa guerra no Iraque e criticava seus apoiadores, ou “blairites”, qualificando-os como ”revanchistas”.

Anteriormente nesta campanha, Starmer surpreendeu alguns eleitores ao afirmar que ainda é socialista. (Quando jovem, ele trabalhou como editor de uma revista trotskista chamada Alternativas Socialistas.)

“Eu me descreveria como um socialista. Eu me descrevo como um progressista. Eu me descreveria como alguém que sempre põe o país em primeiro lugar e o partido, em segundo”, afirmou Starmer.

Sua vice, Rachel Reeves, não fica muito confortável com isso. Questionada sobre também ser socialista, ela respondeu que é social-democrata.

O diretor-executivo da firma de consultoria política Electoral Calculus, Martin Baxter, afirmou que Starmer pode estar tentando amparar sua base de esquerda com essa fala, ou pode acreditar que é realmente socialista, o que pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes.

“Socialista” não é um termo que todos os colegas usariam para descrever Starmer atualmente.”Keir Starmer sabe o que é um socialista?”, perguntou o jornal Trabalhador Socialista em uma manchete.

Agenda

Os conservadores afirmam que Starmer está escondendo sua verdadeira agenda.

Em seu discurso da quinta-feira, Starmer não mencionou a nacionalização de nenhuma indústria. Em vez disso, afirmou que seu governo criaria a empresa Great British Energy, uma estatal destinada a produzir energia mais limpa e mais verde — e uma empresa entre várias competidoras. Ele não falou nada sobre estatizar as ferrovias, mas seu manifesto afirma, “Nós priorizaremos os passageiros no serviço reformando as ferrovias e tornando-as propriedade pública. Faremos isso conforme contratos com operadores existentes expirarem ou forem rompidos por eventuais incumprimentos, sem custar nenhum centavo aos contribuintes em contrapartida”.

Sunak e Starmer foram entrevistados na noite da quarta-feira. Beth Rigby, da Sky News, introduziu seu interrogatório a Starmer disparando: “O sr. disse ao país que Jeremy Corbyn seria um grande primeiro-ministro. Então o expulsou do Partido Trabalhista. O sr. fez campanha por um segundo referendo sobre a UE. Mas agora nem fala da UE. E descartou todas as políticas de esquerda. (…) Sua curta carreira política é na realidade um catálogo de promessas quebradas e mudanças de posicionamento.”

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de uma entrevista em Londres, Reino Unido  Foto: Aaron Chown/AP

Starmer respondeu que colocou seu partido de volta nos trilhos responsavelmente após a eleição de 2019. “Quando você perde tão feio, você não olha para os eleitores e diz, ‘O que vocês acham que estão fazendo?’ Você olha para o seu partido e diz, ‘Nós temos que mudar’.”

Baxter notou que Starmer “parece sensato e não é repugnante” para muita gente, mas seu apoio não é profundo. “É motivado por um sentimento anticonservador.”

Até aqui, a grande margem de liderança do Partido Trabalhista nas pesquisas de intenção de voto parece mais um episódio em que os conservadores caminham para a derrota do que os trabalhistas rumando para a vitória.

Não obstante, o apoio ao Partido Trabalhista é amplo e consistente. Os trabalhistas figuram à frente dos conservadores em todas as faixas etárias abaixo dos 70 anos e passaram algum tempo 20 pontos adiante. Quando Blair ganhou de lavada, em 1997, o Partido Trabalhista liderava as pesquisas por apenas 13 pontos. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, e seu governista Partido Conservador alertam os eleitores afirmando que, se o Partido Trabalhista ganhar a próxima eleição, seu país se tornará um “Estado socialista de partido único”. Pode soar assustador. Mas onde estão os socialistas?

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, anunciou para o país na quinta-feira que o antigo Partido Trabalhista morreu.

Saíram: as universidades gratuitas.

Entrou: “a geração de riqueza”.

Com um foco implacável, ao longo de anos trabalhando em comissões complexas, interligadas e com frequência secretas, Starmer expurgou eficazmente a extrema esquerda de seu partido, negando aos seus representantes não apenas lugar nas cédulas das eleições de 4 de julho, mas também filiação à legenda.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de um compromisso de campanha em Southampton, Reino Unido  Foto: Kin Cheung/AP

Manifesto

Na quinta-feira, Starmer lançou o manifesto de seu partido — todos os partidos britânicos chamam suas plataformas de “manifesto” — a quilômetros de distância das promessas eleitorais cinco anos atrás.

Bem-vindos a um “Partido Trabalhista transformado”, como Starmer definiu a legenda dúzias de vezes durante o discurso em Manchester no qual pronunciou o manifesto.

Alguns críticos qualificaram Starmer como “persistente” e “implacável” ao observar sua tentativa de reinventar o Partido Trabalhista. Outros usam termos como “tedioso” ou “opaco”. Sua própria equipe de relações públicas empurra a narrativa dele ser o “Starmer sem drama” (que não soa tão bem quanto “Obama sem drama”).

Starmer não está fazendo uma campanha espalhafatosa. Nenhum showzinho. E isso é proposital. “Se você está 20 pontos à frente nas pesquisas, não há porque assustar os eleitores”, afirmou o diretor do instituto de análise britânico More in Common, Luke Tryl.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, posa para uma foto ao lado de um ônibus trabalhista em Manchester, Reino Unido  Foto: Stefan Rousseau/AP

Sublinhando suas principais promessas, Starmer afirmou que o Partido Trabalhista terá foco em segurança, em vigilância de fronteiras e na economia — e em colocar mais policiais nas ruas para combater delitos menores e “comportamentos antissociais”, como beber e usar drogas em público.

O manifesto descreve planos de impulsionar a riqueza racionalizando regras, trabalhando proximamente com as empresas e colocando o dinheiro dos contribuintes — como o Fundo de Riqueza Soberana, de US$ 9 bilhões — em parcerias com indústrias importantes, para baixar o risco do investimento privado.

Starmer prometeu não aumentar impostos sobre renda, seguros nacionais e valor agregado — para as pessoas comuns. Mas afirmou que fechar brechas que permitem evitar impostos e novos tributos sobre pagamentos como mensalidades de escolas particulares poderiam gerar mais de US$ 10 bilhões.

Ele usou repetidamente o termo “pessoas trabalhadoras”, não “os trabalhadores” aos quais seus antecessores se referiam. “Geração de riqueza é nossa prioridade número um; crescimento é o nosso principal empreendimento”, prometeu ele.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, posa para uma foto ao lado do líder da oposição, Keir Starmer, durante a abertura do Parlamento britânico  Foto: Hannah Mckay/AFP

Apoiadores tradicionais

Alguns apoiadores tradicionais do Partido Trabalhista, como os sindicatos, expressaram preocupação, afirmando que o manifesto favorece muito mais o patrão do que o empregado.

Sunak, que prometeu US$ 22 bilhões em cortes de impostos se os conservadores vencerem a eleição, respondeu ao manifesto trabalhista postando, “Se você acha que eles vão ganhar, comece a economizar”. Ele afirmou que as promessas trabalhistas “ocasionariam os impostos mais altos na história”.

Starmer teve o discurso da quinta-feira interrompido por uma manifestante que acusou o líder trabalhista de defender “as mesmas velhas políticas dos conservadores” e abandonar os jovens.

Starmer declarou, “Nós deixamos de ser um partido de protesto cinco anos atrás. Nós queremos ser um partido de poder”, conforme a manifestante era retirada por agentes de segurança.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de uma coletiva de imprensa após um evento de campanha em Southampton, Reino Unido  Foto: Kin Cheung/AP

Na última eleição geral, em 2019, o então líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn — cujo vice afirmava que seu livro favorito era “O Capital”, de Karl Marx — prometeu cuidado domiciliar a idosos gratuito, incluindo serviços como fazer compras para os atendidos e arrumação de suas residências. Corbyn disse que seu partido nacionalizaria as ferrovias, o fornecimento de gás e eletricidade, o serviço postal, empresas de água e a internet de banda larga.

Corbyn perdeu de lavada para o brexiteer Boris Johnson. Starmer concluiu que o Partido Trabalhista deve retornar para o centro — e especialmente purgar o partido da “mancha do antissemitismo” criada quando vozes pró-palestinos viram ódio anti-Israel e contra os judeus.

Corbyn não foi apenas silenciado. Foi expulso do partido por Starmer e seus aliados centristas. Corbyn tentará agora reconquistar seu assento no Parlamento como independente.

Jeremy Corbyn, ex-líder do Partido Trabalhista, conversa com Keir Starmer, atual líder da legenda, em Londres, Reino Unido  Foto: Ben Stansall/AFP

Imagem

Starmer “desintoxicou a imagem trabalhista, colocou o foco em segurança nacional, campo em que havia preocupações sobre Corbyn, e é visto como fiscalmente responsável”, afirmou Tryl, do instituto More in Common. “Ele está tentando seduzir os conservadores brandos: ‘Olha, não tem problema vocês votarem no Partido Trabalhista, nós não faremos nada para subverter as coisas’.”

Starmer segue os passos de Tony Blair, o último trabalhista vencedor, que liderou seu partido em três mandatos consecutivos, algo sem precedentes na política britânica, servindo como primeiro-ministro de 1997 a 2007. Blair posicionou seu partido no “Novo Trabalhismo”, um movimento mais centrista que parecia similar aos democratas moderados e abertos ao diálogo sob o ex-presidente americano Bill Clinton, que era aliado de Blair.

Posteriormente, Blair tornou-se objeto de escárnio da extrema esquerda trabalhista, que se ressentia em razão do ex-primeiro-ministro ter envolvido o Reino Unido na longa guerra no Iraque e criticava seus apoiadores, ou “blairites”, qualificando-os como ”revanchistas”.

Anteriormente nesta campanha, Starmer surpreendeu alguns eleitores ao afirmar que ainda é socialista. (Quando jovem, ele trabalhou como editor de uma revista trotskista chamada Alternativas Socialistas.)

“Eu me descreveria como um socialista. Eu me descrevo como um progressista. Eu me descreveria como alguém que sempre põe o país em primeiro lugar e o partido, em segundo”, afirmou Starmer.

Sua vice, Rachel Reeves, não fica muito confortável com isso. Questionada sobre também ser socialista, ela respondeu que é social-democrata.

O diretor-executivo da firma de consultoria política Electoral Calculus, Martin Baxter, afirmou que Starmer pode estar tentando amparar sua base de esquerda com essa fala, ou pode acreditar que é realmente socialista, o que pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes.

“Socialista” não é um termo que todos os colegas usariam para descrever Starmer atualmente.”Keir Starmer sabe o que é um socialista?”, perguntou o jornal Trabalhador Socialista em uma manchete.

Agenda

Os conservadores afirmam que Starmer está escondendo sua verdadeira agenda.

Em seu discurso da quinta-feira, Starmer não mencionou a nacionalização de nenhuma indústria. Em vez disso, afirmou que seu governo criaria a empresa Great British Energy, uma estatal destinada a produzir energia mais limpa e mais verde — e uma empresa entre várias competidoras. Ele não falou nada sobre estatizar as ferrovias, mas seu manifesto afirma, “Nós priorizaremos os passageiros no serviço reformando as ferrovias e tornando-as propriedade pública. Faremos isso conforme contratos com operadores existentes expirarem ou forem rompidos por eventuais incumprimentos, sem custar nenhum centavo aos contribuintes em contrapartida”.

Sunak e Starmer foram entrevistados na noite da quarta-feira. Beth Rigby, da Sky News, introduziu seu interrogatório a Starmer disparando: “O sr. disse ao país que Jeremy Corbyn seria um grande primeiro-ministro. Então o expulsou do Partido Trabalhista. O sr. fez campanha por um segundo referendo sobre a UE. Mas agora nem fala da UE. E descartou todas as políticas de esquerda. (…) Sua curta carreira política é na realidade um catálogo de promessas quebradas e mudanças de posicionamento.”

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de uma entrevista em Londres, Reino Unido  Foto: Aaron Chown/AP

Starmer respondeu que colocou seu partido de volta nos trilhos responsavelmente após a eleição de 2019. “Quando você perde tão feio, você não olha para os eleitores e diz, ‘O que vocês acham que estão fazendo?’ Você olha para o seu partido e diz, ‘Nós temos que mudar’.”

Baxter notou que Starmer “parece sensato e não é repugnante” para muita gente, mas seu apoio não é profundo. “É motivado por um sentimento anticonservador.”

Até aqui, a grande margem de liderança do Partido Trabalhista nas pesquisas de intenção de voto parece mais um episódio em que os conservadores caminham para a derrota do que os trabalhistas rumando para a vitória.

Não obstante, o apoio ao Partido Trabalhista é amplo e consistente. Os trabalhistas figuram à frente dos conservadores em todas as faixas etárias abaixo dos 70 anos e passaram algum tempo 20 pontos adiante. Quando Blair ganhou de lavada, em 1997, o Partido Trabalhista liderava as pesquisas por apenas 13 pontos. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, e seu governista Partido Conservador alertam os eleitores afirmando que, se o Partido Trabalhista ganhar a próxima eleição, seu país se tornará um “Estado socialista de partido único”. Pode soar assustador. Mas onde estão os socialistas?

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, anunciou para o país na quinta-feira que o antigo Partido Trabalhista morreu.

Saíram: as universidades gratuitas.

Entrou: “a geração de riqueza”.

Com um foco implacável, ao longo de anos trabalhando em comissões complexas, interligadas e com frequência secretas, Starmer expurgou eficazmente a extrema esquerda de seu partido, negando aos seus representantes não apenas lugar nas cédulas das eleições de 4 de julho, mas também filiação à legenda.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de um compromisso de campanha em Southampton, Reino Unido  Foto: Kin Cheung/AP

Manifesto

Na quinta-feira, Starmer lançou o manifesto de seu partido — todos os partidos britânicos chamam suas plataformas de “manifesto” — a quilômetros de distância das promessas eleitorais cinco anos atrás.

Bem-vindos a um “Partido Trabalhista transformado”, como Starmer definiu a legenda dúzias de vezes durante o discurso em Manchester no qual pronunciou o manifesto.

Alguns críticos qualificaram Starmer como “persistente” e “implacável” ao observar sua tentativa de reinventar o Partido Trabalhista. Outros usam termos como “tedioso” ou “opaco”. Sua própria equipe de relações públicas empurra a narrativa dele ser o “Starmer sem drama” (que não soa tão bem quanto “Obama sem drama”).

Starmer não está fazendo uma campanha espalhafatosa. Nenhum showzinho. E isso é proposital. “Se você está 20 pontos à frente nas pesquisas, não há porque assustar os eleitores”, afirmou o diretor do instituto de análise britânico More in Common, Luke Tryl.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, posa para uma foto ao lado de um ônibus trabalhista em Manchester, Reino Unido  Foto: Stefan Rousseau/AP

Sublinhando suas principais promessas, Starmer afirmou que o Partido Trabalhista terá foco em segurança, em vigilância de fronteiras e na economia — e em colocar mais policiais nas ruas para combater delitos menores e “comportamentos antissociais”, como beber e usar drogas em público.

O manifesto descreve planos de impulsionar a riqueza racionalizando regras, trabalhando proximamente com as empresas e colocando o dinheiro dos contribuintes — como o Fundo de Riqueza Soberana, de US$ 9 bilhões — em parcerias com indústrias importantes, para baixar o risco do investimento privado.

Starmer prometeu não aumentar impostos sobre renda, seguros nacionais e valor agregado — para as pessoas comuns. Mas afirmou que fechar brechas que permitem evitar impostos e novos tributos sobre pagamentos como mensalidades de escolas particulares poderiam gerar mais de US$ 10 bilhões.

Ele usou repetidamente o termo “pessoas trabalhadoras”, não “os trabalhadores” aos quais seus antecessores se referiam. “Geração de riqueza é nossa prioridade número um; crescimento é o nosso principal empreendimento”, prometeu ele.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, posa para uma foto ao lado do líder da oposição, Keir Starmer, durante a abertura do Parlamento britânico  Foto: Hannah Mckay/AFP

Apoiadores tradicionais

Alguns apoiadores tradicionais do Partido Trabalhista, como os sindicatos, expressaram preocupação, afirmando que o manifesto favorece muito mais o patrão do que o empregado.

Sunak, que prometeu US$ 22 bilhões em cortes de impostos se os conservadores vencerem a eleição, respondeu ao manifesto trabalhista postando, “Se você acha que eles vão ganhar, comece a economizar”. Ele afirmou que as promessas trabalhistas “ocasionariam os impostos mais altos na história”.

Starmer teve o discurso da quinta-feira interrompido por uma manifestante que acusou o líder trabalhista de defender “as mesmas velhas políticas dos conservadores” e abandonar os jovens.

Starmer declarou, “Nós deixamos de ser um partido de protesto cinco anos atrás. Nós queremos ser um partido de poder”, conforme a manifestante era retirada por agentes de segurança.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de uma coletiva de imprensa após um evento de campanha em Southampton, Reino Unido  Foto: Kin Cheung/AP

Na última eleição geral, em 2019, o então líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn — cujo vice afirmava que seu livro favorito era “O Capital”, de Karl Marx — prometeu cuidado domiciliar a idosos gratuito, incluindo serviços como fazer compras para os atendidos e arrumação de suas residências. Corbyn disse que seu partido nacionalizaria as ferrovias, o fornecimento de gás e eletricidade, o serviço postal, empresas de água e a internet de banda larga.

Corbyn perdeu de lavada para o brexiteer Boris Johnson. Starmer concluiu que o Partido Trabalhista deve retornar para o centro — e especialmente purgar o partido da “mancha do antissemitismo” criada quando vozes pró-palestinos viram ódio anti-Israel e contra os judeus.

Corbyn não foi apenas silenciado. Foi expulso do partido por Starmer e seus aliados centristas. Corbyn tentará agora reconquistar seu assento no Parlamento como independente.

Jeremy Corbyn, ex-líder do Partido Trabalhista, conversa com Keir Starmer, atual líder da legenda, em Londres, Reino Unido  Foto: Ben Stansall/AFP

Imagem

Starmer “desintoxicou a imagem trabalhista, colocou o foco em segurança nacional, campo em que havia preocupações sobre Corbyn, e é visto como fiscalmente responsável”, afirmou Tryl, do instituto More in Common. “Ele está tentando seduzir os conservadores brandos: ‘Olha, não tem problema vocês votarem no Partido Trabalhista, nós não faremos nada para subverter as coisas’.”

Starmer segue os passos de Tony Blair, o último trabalhista vencedor, que liderou seu partido em três mandatos consecutivos, algo sem precedentes na política britânica, servindo como primeiro-ministro de 1997 a 2007. Blair posicionou seu partido no “Novo Trabalhismo”, um movimento mais centrista que parecia similar aos democratas moderados e abertos ao diálogo sob o ex-presidente americano Bill Clinton, que era aliado de Blair.

Posteriormente, Blair tornou-se objeto de escárnio da extrema esquerda trabalhista, que se ressentia em razão do ex-primeiro-ministro ter envolvido o Reino Unido na longa guerra no Iraque e criticava seus apoiadores, ou “blairites”, qualificando-os como ”revanchistas”.

Anteriormente nesta campanha, Starmer surpreendeu alguns eleitores ao afirmar que ainda é socialista. (Quando jovem, ele trabalhou como editor de uma revista trotskista chamada Alternativas Socialistas.)

“Eu me descreveria como um socialista. Eu me descrevo como um progressista. Eu me descreveria como alguém que sempre põe o país em primeiro lugar e o partido, em segundo”, afirmou Starmer.

Sua vice, Rachel Reeves, não fica muito confortável com isso. Questionada sobre também ser socialista, ela respondeu que é social-democrata.

O diretor-executivo da firma de consultoria política Electoral Calculus, Martin Baxter, afirmou que Starmer pode estar tentando amparar sua base de esquerda com essa fala, ou pode acreditar que é realmente socialista, o que pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes.

“Socialista” não é um termo que todos os colegas usariam para descrever Starmer atualmente.”Keir Starmer sabe o que é um socialista?”, perguntou o jornal Trabalhador Socialista em uma manchete.

Agenda

Os conservadores afirmam que Starmer está escondendo sua verdadeira agenda.

Em seu discurso da quinta-feira, Starmer não mencionou a nacionalização de nenhuma indústria. Em vez disso, afirmou que seu governo criaria a empresa Great British Energy, uma estatal destinada a produzir energia mais limpa e mais verde — e uma empresa entre várias competidoras. Ele não falou nada sobre estatizar as ferrovias, mas seu manifesto afirma, “Nós priorizaremos os passageiros no serviço reformando as ferrovias e tornando-as propriedade pública. Faremos isso conforme contratos com operadores existentes expirarem ou forem rompidos por eventuais incumprimentos, sem custar nenhum centavo aos contribuintes em contrapartida”.

Sunak e Starmer foram entrevistados na noite da quarta-feira. Beth Rigby, da Sky News, introduziu seu interrogatório a Starmer disparando: “O sr. disse ao país que Jeremy Corbyn seria um grande primeiro-ministro. Então o expulsou do Partido Trabalhista. O sr. fez campanha por um segundo referendo sobre a UE. Mas agora nem fala da UE. E descartou todas as políticas de esquerda. (…) Sua curta carreira política é na realidade um catálogo de promessas quebradas e mudanças de posicionamento.”

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de uma entrevista em Londres, Reino Unido  Foto: Aaron Chown/AP

Starmer respondeu que colocou seu partido de volta nos trilhos responsavelmente após a eleição de 2019. “Quando você perde tão feio, você não olha para os eleitores e diz, ‘O que vocês acham que estão fazendo?’ Você olha para o seu partido e diz, ‘Nós temos que mudar’.”

Baxter notou que Starmer “parece sensato e não é repugnante” para muita gente, mas seu apoio não é profundo. “É motivado por um sentimento anticonservador.”

Até aqui, a grande margem de liderança do Partido Trabalhista nas pesquisas de intenção de voto parece mais um episódio em que os conservadores caminham para a derrota do que os trabalhistas rumando para a vitória.

Não obstante, o apoio ao Partido Trabalhista é amplo e consistente. Os trabalhistas figuram à frente dos conservadores em todas as faixas etárias abaixo dos 70 anos e passaram algum tempo 20 pontos adiante. Quando Blair ganhou de lavada, em 1997, o Partido Trabalhista liderava as pesquisas por apenas 13 pontos. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, e seu governista Partido Conservador alertam os eleitores afirmando que, se o Partido Trabalhista ganhar a próxima eleição, seu país se tornará um “Estado socialista de partido único”. Pode soar assustador. Mas onde estão os socialistas?

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, anunciou para o país na quinta-feira que o antigo Partido Trabalhista morreu.

Saíram: as universidades gratuitas.

Entrou: “a geração de riqueza”.

Com um foco implacável, ao longo de anos trabalhando em comissões complexas, interligadas e com frequência secretas, Starmer expurgou eficazmente a extrema esquerda de seu partido, negando aos seus representantes não apenas lugar nas cédulas das eleições de 4 de julho, mas também filiação à legenda.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de um compromisso de campanha em Southampton, Reino Unido  Foto: Kin Cheung/AP

Manifesto

Na quinta-feira, Starmer lançou o manifesto de seu partido — todos os partidos britânicos chamam suas plataformas de “manifesto” — a quilômetros de distância das promessas eleitorais cinco anos atrás.

Bem-vindos a um “Partido Trabalhista transformado”, como Starmer definiu a legenda dúzias de vezes durante o discurso em Manchester no qual pronunciou o manifesto.

Alguns críticos qualificaram Starmer como “persistente” e “implacável” ao observar sua tentativa de reinventar o Partido Trabalhista. Outros usam termos como “tedioso” ou “opaco”. Sua própria equipe de relações públicas empurra a narrativa dele ser o “Starmer sem drama” (que não soa tão bem quanto “Obama sem drama”).

Starmer não está fazendo uma campanha espalhafatosa. Nenhum showzinho. E isso é proposital. “Se você está 20 pontos à frente nas pesquisas, não há porque assustar os eleitores”, afirmou o diretor do instituto de análise britânico More in Common, Luke Tryl.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, posa para uma foto ao lado de um ônibus trabalhista em Manchester, Reino Unido  Foto: Stefan Rousseau/AP

Sublinhando suas principais promessas, Starmer afirmou que o Partido Trabalhista terá foco em segurança, em vigilância de fronteiras e na economia — e em colocar mais policiais nas ruas para combater delitos menores e “comportamentos antissociais”, como beber e usar drogas em público.

O manifesto descreve planos de impulsionar a riqueza racionalizando regras, trabalhando proximamente com as empresas e colocando o dinheiro dos contribuintes — como o Fundo de Riqueza Soberana, de US$ 9 bilhões — em parcerias com indústrias importantes, para baixar o risco do investimento privado.

Starmer prometeu não aumentar impostos sobre renda, seguros nacionais e valor agregado — para as pessoas comuns. Mas afirmou que fechar brechas que permitem evitar impostos e novos tributos sobre pagamentos como mensalidades de escolas particulares poderiam gerar mais de US$ 10 bilhões.

Ele usou repetidamente o termo “pessoas trabalhadoras”, não “os trabalhadores” aos quais seus antecessores se referiam. “Geração de riqueza é nossa prioridade número um; crescimento é o nosso principal empreendimento”, prometeu ele.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, posa para uma foto ao lado do líder da oposição, Keir Starmer, durante a abertura do Parlamento britânico  Foto: Hannah Mckay/AFP

Apoiadores tradicionais

Alguns apoiadores tradicionais do Partido Trabalhista, como os sindicatos, expressaram preocupação, afirmando que o manifesto favorece muito mais o patrão do que o empregado.

Sunak, que prometeu US$ 22 bilhões em cortes de impostos se os conservadores vencerem a eleição, respondeu ao manifesto trabalhista postando, “Se você acha que eles vão ganhar, comece a economizar”. Ele afirmou que as promessas trabalhistas “ocasionariam os impostos mais altos na história”.

Starmer teve o discurso da quinta-feira interrompido por uma manifestante que acusou o líder trabalhista de defender “as mesmas velhas políticas dos conservadores” e abandonar os jovens.

Starmer declarou, “Nós deixamos de ser um partido de protesto cinco anos atrás. Nós queremos ser um partido de poder”, conforme a manifestante era retirada por agentes de segurança.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de uma coletiva de imprensa após um evento de campanha em Southampton, Reino Unido  Foto: Kin Cheung/AP

Na última eleição geral, em 2019, o então líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn — cujo vice afirmava que seu livro favorito era “O Capital”, de Karl Marx — prometeu cuidado domiciliar a idosos gratuito, incluindo serviços como fazer compras para os atendidos e arrumação de suas residências. Corbyn disse que seu partido nacionalizaria as ferrovias, o fornecimento de gás e eletricidade, o serviço postal, empresas de água e a internet de banda larga.

Corbyn perdeu de lavada para o brexiteer Boris Johnson. Starmer concluiu que o Partido Trabalhista deve retornar para o centro — e especialmente purgar o partido da “mancha do antissemitismo” criada quando vozes pró-palestinos viram ódio anti-Israel e contra os judeus.

Corbyn não foi apenas silenciado. Foi expulso do partido por Starmer e seus aliados centristas. Corbyn tentará agora reconquistar seu assento no Parlamento como independente.

Jeremy Corbyn, ex-líder do Partido Trabalhista, conversa com Keir Starmer, atual líder da legenda, em Londres, Reino Unido  Foto: Ben Stansall/AFP

Imagem

Starmer “desintoxicou a imagem trabalhista, colocou o foco em segurança nacional, campo em que havia preocupações sobre Corbyn, e é visto como fiscalmente responsável”, afirmou Tryl, do instituto More in Common. “Ele está tentando seduzir os conservadores brandos: ‘Olha, não tem problema vocês votarem no Partido Trabalhista, nós não faremos nada para subverter as coisas’.”

Starmer segue os passos de Tony Blair, o último trabalhista vencedor, que liderou seu partido em três mandatos consecutivos, algo sem precedentes na política britânica, servindo como primeiro-ministro de 1997 a 2007. Blair posicionou seu partido no “Novo Trabalhismo”, um movimento mais centrista que parecia similar aos democratas moderados e abertos ao diálogo sob o ex-presidente americano Bill Clinton, que era aliado de Blair.

Posteriormente, Blair tornou-se objeto de escárnio da extrema esquerda trabalhista, que se ressentia em razão do ex-primeiro-ministro ter envolvido o Reino Unido na longa guerra no Iraque e criticava seus apoiadores, ou “blairites”, qualificando-os como ”revanchistas”.

Anteriormente nesta campanha, Starmer surpreendeu alguns eleitores ao afirmar que ainda é socialista. (Quando jovem, ele trabalhou como editor de uma revista trotskista chamada Alternativas Socialistas.)

“Eu me descreveria como um socialista. Eu me descrevo como um progressista. Eu me descreveria como alguém que sempre põe o país em primeiro lugar e o partido, em segundo”, afirmou Starmer.

Sua vice, Rachel Reeves, não fica muito confortável com isso. Questionada sobre também ser socialista, ela respondeu que é social-democrata.

O diretor-executivo da firma de consultoria política Electoral Calculus, Martin Baxter, afirmou que Starmer pode estar tentando amparar sua base de esquerda com essa fala, ou pode acreditar que é realmente socialista, o que pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes.

“Socialista” não é um termo que todos os colegas usariam para descrever Starmer atualmente.”Keir Starmer sabe o que é um socialista?”, perguntou o jornal Trabalhador Socialista em uma manchete.

Agenda

Os conservadores afirmam que Starmer está escondendo sua verdadeira agenda.

Em seu discurso da quinta-feira, Starmer não mencionou a nacionalização de nenhuma indústria. Em vez disso, afirmou que seu governo criaria a empresa Great British Energy, uma estatal destinada a produzir energia mais limpa e mais verde — e uma empresa entre várias competidoras. Ele não falou nada sobre estatizar as ferrovias, mas seu manifesto afirma, “Nós priorizaremos os passageiros no serviço reformando as ferrovias e tornando-as propriedade pública. Faremos isso conforme contratos com operadores existentes expirarem ou forem rompidos por eventuais incumprimentos, sem custar nenhum centavo aos contribuintes em contrapartida”.

Sunak e Starmer foram entrevistados na noite da quarta-feira. Beth Rigby, da Sky News, introduziu seu interrogatório a Starmer disparando: “O sr. disse ao país que Jeremy Corbyn seria um grande primeiro-ministro. Então o expulsou do Partido Trabalhista. O sr. fez campanha por um segundo referendo sobre a UE. Mas agora nem fala da UE. E descartou todas as políticas de esquerda. (…) Sua curta carreira política é na realidade um catálogo de promessas quebradas e mudanças de posicionamento.”

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de uma entrevista em Londres, Reino Unido  Foto: Aaron Chown/AP

Starmer respondeu que colocou seu partido de volta nos trilhos responsavelmente após a eleição de 2019. “Quando você perde tão feio, você não olha para os eleitores e diz, ‘O que vocês acham que estão fazendo?’ Você olha para o seu partido e diz, ‘Nós temos que mudar’.”

Baxter notou que Starmer “parece sensato e não é repugnante” para muita gente, mas seu apoio não é profundo. “É motivado por um sentimento anticonservador.”

Até aqui, a grande margem de liderança do Partido Trabalhista nas pesquisas de intenção de voto parece mais um episódio em que os conservadores caminham para a derrota do que os trabalhistas rumando para a vitória.

Não obstante, o apoio ao Partido Trabalhista é amplo e consistente. Os trabalhistas figuram à frente dos conservadores em todas as faixas etárias abaixo dos 70 anos e passaram algum tempo 20 pontos adiante. Quando Blair ganhou de lavada, em 1997, o Partido Trabalhista liderava as pesquisas por apenas 13 pontos. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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