BUENOS AIRES - Um triplo feminicídio voltou a provocar comoção, neste domingo, 23, na Argentina, três dias depois do grande protesto contra a violência machista, que teve repercussão em cidades da América Latina e na Espanha. Um homem de 30 anos assassinou sua ex-companheira, a irmã dela e a avó das duas, e feriu gravemente uma bebê de 7 meses e um menino de 11 anos em Godoy Cruz, um bairro residencial na Província de Mendoza, 1,1 mil quilômetros a oeste de Buenos Aires
"O agressor já está preso", disse Roberto Muñoz, chefe da polícia local, a jornalistas. O ministro da Segurança de Mendoza, Gianni Venier, afirmou que o homem "também deixou o gás da casa aberto e uma vela acesa" com o objetivo de causar uma explosão. "Este psicopata estava em pleno uso de suas faculdades", afirmou.
O detido é um professor de artes marciais que manteve um relacionamento com uma das vítimas, uma mulher de 30 anos, segundo fontes ligadas à investigação. As outras duas mulheres assassinadas tinham 45 e 80 anos, sendo que a mais idosa estava "de cama", segundo o ministro. Um funcionário informou que o assassino também "tentou matar a bebê", cujo estado de saúde "é gravíssimo".
O diretor do hospital pediátrico de Mendoza, Raúl Rufeil, afirmou à emissora C5N que "a bebê e o menino estão (em estado) grave". "O garoto tem múltiplos ferimentos por arma branca, o mais grave no abdome, e está passando por cirurgia", disse Rufeil.
"A bebê foi ferida no pescoço e apresenta um corte no queixo com perfuração na cavidade bucal", aparente causado por arma de fogo, completou o diretor. De acordo com Rufeil, as crianças são irmãos e filhosde uma das vítimas.
O menino de 11 anos, testemunha dos assassinatos, conseguiu pedir ajuda por telefone outro parente, que comunicou as autoridades. Depois, mesmo ferido o garoto "se escondeu no porta malas de um carro", disse ministro. O agressor foi preso pouco nas imediações do hospital local. Ainda não está clara qual a relação entre o homem e os menores feridos.
Protestos. Na quarta-feira, milhares argentinos foram às ruas vestidos com roupas pretas e com cartazes dizendo que não aceitariam "nenhuma (mulher) a menos" depois de promoverem no mesmo dia a primeira greve nacional das mulheres contra a violência de gênero.
O dia de greve e a marcha foram uma resposta ao brutal assassinado de Lucía Pérez, de 16 anos, que foi drogada, estuprada e empalada até a morte no dia 8, em Mar del Plata, 400 quilômetros ao sul de Buenos Aires. Três homens foram presos por este crime.
No dia seguinte a mobilização, no entanto, outros dois ataques contra mulheres já tinham causado comoção no país. Em Mendoza, um homem matou sua irmã de 35 anos e em Mar del Plata uma jovem de 19 anos foi estuprada por dois homens que a obrigaram a entrar num veículo quando ela caminhava por uma rua em pleno dia, segundo relatou a vítima.
Os casos de feminicídio "estão crescendo e ficando mais perversos" afirmou na semana passada a vice-presidente da Corte Suprema, Elena Highton de Nolasco, ao se juntar à manifestação contra a violência de gênero reunião multidões no país sul-americano.
O Registro Nacional de feminicídios da própria corte indicou que 235 mulheres foram mortas em 2015 - em mais da metade dos casos, os agressores eram o parceiro ou ex-parceiro da vítima. Até agora, em 2016, foram 170 assassinatos de mulheres, de acordo com a ONG Casa del Encuentro. / AFP