Tripulantes russos em um misterioso iate de luxo de US$ 700 milhões, que autoridades dos Estados Unidos suspeitam ser do presidente russo Vladimir Putin, deixaram seus empregos e a cidade costeira da Toscana de maneira repentina. A informação é de líderes sindicais e trabalhadores locais da Toscana, onde o superiate passa por uma reforma há algumas semanas.
Os membros da tripulação estavam no pequeno porto de Marina di Carrara desde setembro de 2020, quando o iate de 140 metros, nomeado Scheherazade, chegou a um estaleiro menos de quatro meses após ser construído. Nenhum proprietário foi identificado publicamente.
“Eles foram substituídos por uma equipe britânica”, disse Paolo Gozzani, líder local da Confederação Geral do Trabalho da Itália, nesta quarta-feira, 23. “Não sei e não me importo se o iate é de fato de Putin ou não, mas me preocupo com as repercussões sobre os trabalhadores do estaleiro se a polícia apreender ou confiscar o navio.”
Trabalhadores e visitantes regulares do salão privado confirmaram que os russos supervisionavam rotineiramente o trabalho feito no iate e tomavam bebidas no bar ou jogavam sinuca lá à noite. O iate, estimado pelo site SuperYachtFan em cerca de US$ 700 milhões, tem dois heliportos, uma piscina com cobertura retrátil que se converte em pista de dança e academia.
Esta semana, a equipe de pesquisa de Aleksei Navalni, líder da oposição russa, publicou um vídeo no qual afirmava, com base em um manifesto da tripulação de 2020, que uma dúzia de tripulantes russos do Scheherazade trabalhavam ou tinham uma conexão com o Serviço Federal de Proteção da Rússia. A equipe chegou à conclusão de que o iate deve pertencer a Putin ou a alguns de seus assessores mais próximos.
A propriedade real do Scheherazade está escondida por várias empresas de fachada. Autoridades norte-americanas disseram neste mês que encontraram indicações iniciais de que ele estava ligado a Putin, mas não detalharam as informações que tinham.
Em entrevista ao The New York Times este mês, o capitão do iate, Guy Bennett-Pearce, se recusou a revelar o nome do proprietário, mas negou que Putin fosse o proprietário ou que ele já esteve no iate. Bennett-Pearce disse nesta quinta-feira que não comentaria mais até que uma investigação das autoridades italianas fosse concluída.
Saiba mais sobre a caça aos iates
A polícia financeira da Itália está investigando a propriedade de Scheherazade há semanas. Os investigadores se recusaram a comentar o caso, mas afirmaram que a investigação continua.
Em um discurso ao Parlamento da Itália esta semana, o presidente ucraniano Volodmir Zelenski apelou a Itália a impedir que os russos passem férias no país e a congelar seus ativos, contas bancárias e iates, “desde o Scheherazade até os menores”.
As autoridades italianas bloquearam mais de 800 milhões de euros em ativos de oligarcas russos na lista de sanções europeias, incluindo vilas na Sardenha, Toscana, Ligúria e na região do Lago Como, e três iates. /THE NEW YORK TIMES