WASHINGTON POST - Os níveis de radiação da usina nuclear de Chernobyl estão “bastante normais” após a saída das tropas russas nesta sexta-feira, 1º, de acordo com o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi. Um dia após os relatos de que o local foi devolvido aos ucranianos, nenhuma tropa russa estava perto da usina, informou a Agência Estatal de Gerenciamento da Zona de Exclusão da Ucrânia.
A empresa estatal de energia atômica da Ucrânia, Energoatom, disse em um comunicado no Telegram que todos os equipamentos tecnológicos da usina e os sistemas de monitoramento de radiação estavam “funcionando normalmente” nesta sexta-feira.
A usina de Chernobyl, cenário de um grande desastre em 1986, foi uma das primeiras instalações estratégicas apreendidas pelas tropas russas no início da guerra contra a Ucrânia em fevereiro. A captura provocou alarme internacional e levantou temores de um acidente nuclear.
Rafael Grossi, que visitou uma usina nuclear ucraniana no início desta semana e viajou para a Rússia nesta sexta-feira para conversar com funcionários de alto escalão, considerou a retirada russa de Chernobyl “sem dúvida, um passo na direção certa”.
“Temos dito que a usina precisava ser operada por seus próprios operadores (…) em circunstâncias normais, que obviamente não estavam presentes quando você tinha tropas estrangeiras”, disse Grossi.
Em uma entrevista coletiva nesta sexta, ele ainda afirmou que a AIEA enviaria uma missão “muito, muito em breve” a Chernobyl. Grossi considerou os níveis de radiação observados após a invasão “bastante normais”, exceto por um lugar em específico com radiação mais alta devido ao movimento dos veículos pesados, que levantam poeira radioativa.
A visita exigirá rotas seguras para circular pela zona de conflito. A AIEA também planeja estabelecer um “mecanismo de assistência rápida”, que em caso de emergência em uma instalação nuclear poderia enviar rapidamente uma equipe para avaliar e ajudar.
A AIEA também disse que não conseguiu confirmar relatos de que tropas russas receberam “altas doses de radiação” enquanto estavam estacionadas na zona de exclusão de Chernobyl. A agência disse que estava “buscando mais informações para fornecer uma avaliação independente da situação”.
As consequências da guerra em Chernobyl
As tropas russas estavam se retirando em direção à fronteira ucraniana com Belarus depois de anunciar planos de deixar a usina, disse a Energoatom em comunicado nesta quinta-feira, 31. Elas também pareceram se retirar da cidade satélite de Slavutich, acrescentou a Energoatom, onde vivem muitos funcionários de Chernobyl. As alegações não puderam ser verificadas de forma independente pela imprensa.
A zona de Chernobyl, um dos lugares mais contaminados radioativamente do mundo, permanece fechada desde 1986, embora um pequeno número de pessoas ainda viva na área – principalmente ucranianos idosos que se recusaram a se retirar ou retornaram após a evacuação da área.
Grandes quantidades de material radioativo contaminaram a terra ao redor da central nuclear de Chernobyl após o desastre de 1986. Hoje, uma “zona de exclusão”, onde a contaminação radioativa é mais alta, cobre cerca de mil milhas quadradas ao redor do local.
O prédio que continha o reator explodido de 1986 foi coberto em 2017 com um enorme escudo destinado a conter a radiação que ainda emana da usina. Robôs dentro da fábrica trabalham para desmontar o reator destruído e coletar resíduos radioativos. Espera-se que demore até 2064 para terminar o desmonte seguro dos reatores.