Análise|Trump, a indignação e a era moderna da violência política


A mais recente aparente tentativa de assassinato contra o ex-presidente republicano indica o quanto o cenário político americano foi moldado pela raiva despertada por ele e contra ele

Por Peter Baker

Poucos dias depois de o ex-presidente Donald Trump difamar imigrantes em rede nacional de televisão com histórias falsas a respeito de imigrantes haitianos comendo cães e gatos de estimação em uma cidade de Ohio, alguém começou a ameaçar explodir escolas, a prefeitura e outros prédios públicos, forçando o esvaziamento desses edifícios e provocando uma onda de medo.

Dias depois, disseram as autoridades, um homem que se descreveu online como um ex-apoiador de Trump descontente foi com um fuzil semiautomático até o campo de golfe do ex-presidente na Flórida, evidentemente procurando uma oportunidade de atirar. Ele foi frustrado apenas quando um agente do Serviço Secreto atento o avistou e abriu fogo primeiro.

E assim tem sido em 2024. No espaço de menos de uma semana, o antigo e possivelmente futuro comandante em chefe foi tanto uma inspiração aparente quanto um alvo aparente da violência política que cada vez mais vem moldando a política americana na era moderna. Ameaças de bomba e tentativas de assassinato agora se tornaram parte do cenário, chocantes e horríveis, mas não tanto a ponto de forçarem algum acerto de contas nacional real.

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“Uma das coisas que mais me preocupam agora é a normalização da violência política em nosso sistema político. Ela está aumentando”, disse em uma entrevista o democrata Jason Crow, deputado pelo Colorado e membro de uma força-tarefa bipartidária que já investigava a tentativa de assassinato de 13 de julho contra Trump. “Agora estamos no segundo [episódio] em um igual número de meses, o que só mostra até que ponto a coisa se tornou generalizada.”

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e a vice-presidente Kamala Harris emitiram declarações condenando o último incidente, mas a campanha continuou sem interrupções. Apenas quatro horas depois de Trump ter sido levado em uma carreata para longe do clube de golfe, para sua proteção, sua equipe financeira enviou um e-mail para sua lista de arrecadação de fundos com um botão para clicar e fazer uma doação. “Minha determinação só ficou mais forte depois de outro atentado contra minha vida!”, dizia Trump no e-mail. Os e-mails de arrecadação de fundos de Kamala também continuaram.

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Recentemente no debate da semana passada com Kamala, Trump culpou os democratas pelo tiroteio em um comício em Butler, Pensilvânia, que atingiu sua orelha em julho. Ele também atribuiu o atentado de domingo ao presidente e à vice-presidente, argumentando que o suspeito preso estava agindo em resposta aos ataques políticos deles.

“Ele acreditou na retórica de Biden e Harris e agiu de acordo com ela”, disse Trump à Fox News na segunda feira. “A retórica deles está fazendo com que eu seja alvo de tiros, quando sou eu quem vai salvar o país, e são eles que estão destruindo o país — tanto por dentro quanto de fora.”

Recentemente no debate da semana passada com Kamala, Trump culpou os democratas pelo tiroteio em um comício em Butler, Pensilvânia. Foto: AP Photo/Alex Brandon
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Mesmo quando ele reclamou que os democratas fizeram dele um alvo ao chamá-lo de ameaça à democracia, ele repetiu sua própria afirmação de que “essas são pessoas que querem destruir nosso país” e os chamou de “o inimigo interno”.

Elon Musk, o bilionário dono de uma rede social e um dos mais proeminentes e vocais apoiadores de Trump, causou um alvoroço com uma postagem que dizia: “E ninguém está tentando assassinar Biden/Kamala”.

‘Por que eles têm que fazer isso em plena luz do dia?’

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Mais tarde, ele apagou a publicação e disse que foi uma piada, mas a Casa Branca reagiu. “A violência só deve ser condenada, nunca encorajada ou usada como motivo de piada”, disse Andrew Bates, um porta-voz da Casa Branca. “Essa retórica é irresponsável”.

A história americana já foi marcada por períodos anteriores de violência política. Quatro presidentes em exercício foram mortos no cargo, e outro foi baleado e gravemente ferido. Um ex-presidente também foi baleado e sobreviveu, e muitos outros que moravam na Casa Branca foram alvos de atentados. Mas duas tentativas de assassinato de um ex-presidente realizadas em um intervalo de dois meses ainda chamam a atenção, especialmente no calor de uma eleição na qual ele é um dos principais candidatos para seu antigo cargo.

Talvez a analogia mais próxima seja quando o presidente Gerald R. Ford foi alvo de tiros duas vezes em pouco mais de duas semanas em 1975, mas sobreviveu ileso a ambas as vezes. Mais assustadoramente, porém, os esforços para matar Trump lembraram para muitos o ano de 1968, quando o reverendo Dr. Martin Luther King Jr. e Robert F. Kennedy foram mortos a tiros em um intervalo de dois meses. Esses assassinatos ocorreram durante um momento de violência mais ampla nas ruas americanas em meio a uma sensação de desgaste dos laços sociais, algo que também preocupa muitos líderes atualmente.

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No centro da erupção atual de violência política está Trump, uma figura que parece inspirar as pessoas a fazer ameaças ou tomar medidas tanto a seu favor quanto contra ele. Ele há muito favorece a linguagem da violência em seu discurso político, encorajando apoiadores a espancar provocadores, ameaçando atirar em saqueadores e imigrantes sem documentos, zombando de um ataque quase fatal ao marido da presidente da Câmara, uma democrata, e sugerindo que um general que ele considerou desleal fosse executado.

Autoridades policiais trabalham do lado de fora do Trump International Golf Club após a aparente tentativa de assassinato do candidato republicano. Foto: AP Photo/Lynne Sladky

Enquanto Trump insiste que seu discurso inflamado aos apoiadores em 6 de janeiro de 2021 não foi responsável pelo subsequente saque do Capitólio, ele resistiu aos apelos de conselheiros e de sua própria filha naquele dia para fazer mais para impedir o ataque. Ele até sugeriu que a multidão poderia ter razão em querer enforcar seu vice-presidente e, desde então, abraçou os agressores como patriotas a quem ele pode perdoar se for eleito novamente.

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Trump não para para refletir a respeito do impacto de suas próprias palavras. Na semana passada, suas falsas acusações contra imigrantes haitianos que comeriam animais de estimação feita durante seu debate com Kamala foram rapidamente seguidas por ameaças de bomba que viraram a vida de cabeça para baixo em Springfield, Ohio, e ele não fez nada para desencorajá-las.

Questionado por um repórter se ele denunciou as ameaças de bomba, ele objetou. “Não sei o que aconteceu com essas ameaças de bomba”, disse ele. “Sei que o lugar foi tomado por imigrantes ilegais, e é terrível que isso tenha acontecido.”

Os críticos de Trump às vezes também empregaram a linguagem da violência, embora não tão extensivamente e repetidamente nos mais altos escalões. Os aliados do ex-presidente distribuíram uma compilação de vídeos online de vários oponentes de Trump dizendo que gostariam de dar um soco em sua cara ou algo parecido. Algumas das vozes mais extremas nas redes sociais nas horas mais recentes zombaram ou minimizaram o quase incidente no campo de golfe da Flórida. Os aliados de Trump frequentemente criticam o que chamam de Síndrome de perturbação causada por Trump, a noção de que seus críticos o desprezam tanto a ponto de perderem a cabeça.

A raiva, é claro, tem sido há muito tempo a força animadora do tempo de Trump na política — tanto a raiva que ele desperta entre os apoiadores contra seus rivais quanto a raiva que ele gera entre os oponentes que passam a detestá-lo. As previsões de que ele poderia repensar isso depois de escapar por pouco da morte em Butler se mostraram efêmeras. Na metade de seu discurso de aceitação da candidatura na Convenção Nacional Republicana, cinco dias depois, ele estava de volta a si mesmo.

Mas é uma medida do quanto a violência política se tornou parte da cultura americana moderna — não aceita, talvez, mas cada vez mais esperada — o fato de o mais recente incidente talvez não fazer mais diferença do que o primeiro. O choque do tiroteio em Butler passou relativamente rápido, pois a atenção se voltou para outros desenvolvimentos. O choque deste novo atentado pode durar ainda menos./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Poucos dias depois de o ex-presidente Donald Trump difamar imigrantes em rede nacional de televisão com histórias falsas a respeito de imigrantes haitianos comendo cães e gatos de estimação em uma cidade de Ohio, alguém começou a ameaçar explodir escolas, a prefeitura e outros prédios públicos, forçando o esvaziamento desses edifícios e provocando uma onda de medo.

Dias depois, disseram as autoridades, um homem que se descreveu online como um ex-apoiador de Trump descontente foi com um fuzil semiautomático até o campo de golfe do ex-presidente na Flórida, evidentemente procurando uma oportunidade de atirar. Ele foi frustrado apenas quando um agente do Serviço Secreto atento o avistou e abriu fogo primeiro.

E assim tem sido em 2024. No espaço de menos de uma semana, o antigo e possivelmente futuro comandante em chefe foi tanto uma inspiração aparente quanto um alvo aparente da violência política que cada vez mais vem moldando a política americana na era moderna. Ameaças de bomba e tentativas de assassinato agora se tornaram parte do cenário, chocantes e horríveis, mas não tanto a ponto de forçarem algum acerto de contas nacional real.

“Uma das coisas que mais me preocupam agora é a normalização da violência política em nosso sistema político. Ela está aumentando”, disse em uma entrevista o democrata Jason Crow, deputado pelo Colorado e membro de uma força-tarefa bipartidária que já investigava a tentativa de assassinato de 13 de julho contra Trump. “Agora estamos no segundo [episódio] em um igual número de meses, o que só mostra até que ponto a coisa se tornou generalizada.”

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e a vice-presidente Kamala Harris emitiram declarações condenando o último incidente, mas a campanha continuou sem interrupções. Apenas quatro horas depois de Trump ter sido levado em uma carreata para longe do clube de golfe, para sua proteção, sua equipe financeira enviou um e-mail para sua lista de arrecadação de fundos com um botão para clicar e fazer uma doação. “Minha determinação só ficou mais forte depois de outro atentado contra minha vida!”, dizia Trump no e-mail. Os e-mails de arrecadação de fundos de Kamala também continuaram.

Recentemente no debate da semana passada com Kamala, Trump culpou os democratas pelo tiroteio em um comício em Butler, Pensilvânia, que atingiu sua orelha em julho. Ele também atribuiu o atentado de domingo ao presidente e à vice-presidente, argumentando que o suspeito preso estava agindo em resposta aos ataques políticos deles.

“Ele acreditou na retórica de Biden e Harris e agiu de acordo com ela”, disse Trump à Fox News na segunda feira. “A retórica deles está fazendo com que eu seja alvo de tiros, quando sou eu quem vai salvar o país, e são eles que estão destruindo o país — tanto por dentro quanto de fora.”

Recentemente no debate da semana passada com Kamala, Trump culpou os democratas pelo tiroteio em um comício em Butler, Pensilvânia. Foto: AP Photo/Alex Brandon

Mesmo quando ele reclamou que os democratas fizeram dele um alvo ao chamá-lo de ameaça à democracia, ele repetiu sua própria afirmação de que “essas são pessoas que querem destruir nosso país” e os chamou de “o inimigo interno”.

Elon Musk, o bilionário dono de uma rede social e um dos mais proeminentes e vocais apoiadores de Trump, causou um alvoroço com uma postagem que dizia: “E ninguém está tentando assassinar Biden/Kamala”.

‘Por que eles têm que fazer isso em plena luz do dia?’

Mais tarde, ele apagou a publicação e disse que foi uma piada, mas a Casa Branca reagiu. “A violência só deve ser condenada, nunca encorajada ou usada como motivo de piada”, disse Andrew Bates, um porta-voz da Casa Branca. “Essa retórica é irresponsável”.

A história americana já foi marcada por períodos anteriores de violência política. Quatro presidentes em exercício foram mortos no cargo, e outro foi baleado e gravemente ferido. Um ex-presidente também foi baleado e sobreviveu, e muitos outros que moravam na Casa Branca foram alvos de atentados. Mas duas tentativas de assassinato de um ex-presidente realizadas em um intervalo de dois meses ainda chamam a atenção, especialmente no calor de uma eleição na qual ele é um dos principais candidatos para seu antigo cargo.

Talvez a analogia mais próxima seja quando o presidente Gerald R. Ford foi alvo de tiros duas vezes em pouco mais de duas semanas em 1975, mas sobreviveu ileso a ambas as vezes. Mais assustadoramente, porém, os esforços para matar Trump lembraram para muitos o ano de 1968, quando o reverendo Dr. Martin Luther King Jr. e Robert F. Kennedy foram mortos a tiros em um intervalo de dois meses. Esses assassinatos ocorreram durante um momento de violência mais ampla nas ruas americanas em meio a uma sensação de desgaste dos laços sociais, algo que também preocupa muitos líderes atualmente.

No centro da erupção atual de violência política está Trump, uma figura que parece inspirar as pessoas a fazer ameaças ou tomar medidas tanto a seu favor quanto contra ele. Ele há muito favorece a linguagem da violência em seu discurso político, encorajando apoiadores a espancar provocadores, ameaçando atirar em saqueadores e imigrantes sem documentos, zombando de um ataque quase fatal ao marido da presidente da Câmara, uma democrata, e sugerindo que um general que ele considerou desleal fosse executado.

Autoridades policiais trabalham do lado de fora do Trump International Golf Club após a aparente tentativa de assassinato do candidato republicano. Foto: AP Photo/Lynne Sladky

Enquanto Trump insiste que seu discurso inflamado aos apoiadores em 6 de janeiro de 2021 não foi responsável pelo subsequente saque do Capitólio, ele resistiu aos apelos de conselheiros e de sua própria filha naquele dia para fazer mais para impedir o ataque. Ele até sugeriu que a multidão poderia ter razão em querer enforcar seu vice-presidente e, desde então, abraçou os agressores como patriotas a quem ele pode perdoar se for eleito novamente.

Trump não para para refletir a respeito do impacto de suas próprias palavras. Na semana passada, suas falsas acusações contra imigrantes haitianos que comeriam animais de estimação feita durante seu debate com Kamala foram rapidamente seguidas por ameaças de bomba que viraram a vida de cabeça para baixo em Springfield, Ohio, e ele não fez nada para desencorajá-las.

Questionado por um repórter se ele denunciou as ameaças de bomba, ele objetou. “Não sei o que aconteceu com essas ameaças de bomba”, disse ele. “Sei que o lugar foi tomado por imigrantes ilegais, e é terrível que isso tenha acontecido.”

Os críticos de Trump às vezes também empregaram a linguagem da violência, embora não tão extensivamente e repetidamente nos mais altos escalões. Os aliados do ex-presidente distribuíram uma compilação de vídeos online de vários oponentes de Trump dizendo que gostariam de dar um soco em sua cara ou algo parecido. Algumas das vozes mais extremas nas redes sociais nas horas mais recentes zombaram ou minimizaram o quase incidente no campo de golfe da Flórida. Os aliados de Trump frequentemente criticam o que chamam de Síndrome de perturbação causada por Trump, a noção de que seus críticos o desprezam tanto a ponto de perderem a cabeça.

A raiva, é claro, tem sido há muito tempo a força animadora do tempo de Trump na política — tanto a raiva que ele desperta entre os apoiadores contra seus rivais quanto a raiva que ele gera entre os oponentes que passam a detestá-lo. As previsões de que ele poderia repensar isso depois de escapar por pouco da morte em Butler se mostraram efêmeras. Na metade de seu discurso de aceitação da candidatura na Convenção Nacional Republicana, cinco dias depois, ele estava de volta a si mesmo.

Mas é uma medida do quanto a violência política se tornou parte da cultura americana moderna — não aceita, talvez, mas cada vez mais esperada — o fato de o mais recente incidente talvez não fazer mais diferença do que o primeiro. O choque do tiroteio em Butler passou relativamente rápido, pois a atenção se voltou para outros desenvolvimentos. O choque deste novo atentado pode durar ainda menos./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Poucos dias depois de o ex-presidente Donald Trump difamar imigrantes em rede nacional de televisão com histórias falsas a respeito de imigrantes haitianos comendo cães e gatos de estimação em uma cidade de Ohio, alguém começou a ameaçar explodir escolas, a prefeitura e outros prédios públicos, forçando o esvaziamento desses edifícios e provocando uma onda de medo.

Dias depois, disseram as autoridades, um homem que se descreveu online como um ex-apoiador de Trump descontente foi com um fuzil semiautomático até o campo de golfe do ex-presidente na Flórida, evidentemente procurando uma oportunidade de atirar. Ele foi frustrado apenas quando um agente do Serviço Secreto atento o avistou e abriu fogo primeiro.

E assim tem sido em 2024. No espaço de menos de uma semana, o antigo e possivelmente futuro comandante em chefe foi tanto uma inspiração aparente quanto um alvo aparente da violência política que cada vez mais vem moldando a política americana na era moderna. Ameaças de bomba e tentativas de assassinato agora se tornaram parte do cenário, chocantes e horríveis, mas não tanto a ponto de forçarem algum acerto de contas nacional real.

“Uma das coisas que mais me preocupam agora é a normalização da violência política em nosso sistema político. Ela está aumentando”, disse em uma entrevista o democrata Jason Crow, deputado pelo Colorado e membro de uma força-tarefa bipartidária que já investigava a tentativa de assassinato de 13 de julho contra Trump. “Agora estamos no segundo [episódio] em um igual número de meses, o que só mostra até que ponto a coisa se tornou generalizada.”

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e a vice-presidente Kamala Harris emitiram declarações condenando o último incidente, mas a campanha continuou sem interrupções. Apenas quatro horas depois de Trump ter sido levado em uma carreata para longe do clube de golfe, para sua proteção, sua equipe financeira enviou um e-mail para sua lista de arrecadação de fundos com um botão para clicar e fazer uma doação. “Minha determinação só ficou mais forte depois de outro atentado contra minha vida!”, dizia Trump no e-mail. Os e-mails de arrecadação de fundos de Kamala também continuaram.

Recentemente no debate da semana passada com Kamala, Trump culpou os democratas pelo tiroteio em um comício em Butler, Pensilvânia, que atingiu sua orelha em julho. Ele também atribuiu o atentado de domingo ao presidente e à vice-presidente, argumentando que o suspeito preso estava agindo em resposta aos ataques políticos deles.

“Ele acreditou na retórica de Biden e Harris e agiu de acordo com ela”, disse Trump à Fox News na segunda feira. “A retórica deles está fazendo com que eu seja alvo de tiros, quando sou eu quem vai salvar o país, e são eles que estão destruindo o país — tanto por dentro quanto de fora.”

Recentemente no debate da semana passada com Kamala, Trump culpou os democratas pelo tiroteio em um comício em Butler, Pensilvânia. Foto: AP Photo/Alex Brandon

Mesmo quando ele reclamou que os democratas fizeram dele um alvo ao chamá-lo de ameaça à democracia, ele repetiu sua própria afirmação de que “essas são pessoas que querem destruir nosso país” e os chamou de “o inimigo interno”.

Elon Musk, o bilionário dono de uma rede social e um dos mais proeminentes e vocais apoiadores de Trump, causou um alvoroço com uma postagem que dizia: “E ninguém está tentando assassinar Biden/Kamala”.

‘Por que eles têm que fazer isso em plena luz do dia?’

Mais tarde, ele apagou a publicação e disse que foi uma piada, mas a Casa Branca reagiu. “A violência só deve ser condenada, nunca encorajada ou usada como motivo de piada”, disse Andrew Bates, um porta-voz da Casa Branca. “Essa retórica é irresponsável”.

A história americana já foi marcada por períodos anteriores de violência política. Quatro presidentes em exercício foram mortos no cargo, e outro foi baleado e gravemente ferido. Um ex-presidente também foi baleado e sobreviveu, e muitos outros que moravam na Casa Branca foram alvos de atentados. Mas duas tentativas de assassinato de um ex-presidente realizadas em um intervalo de dois meses ainda chamam a atenção, especialmente no calor de uma eleição na qual ele é um dos principais candidatos para seu antigo cargo.

Talvez a analogia mais próxima seja quando o presidente Gerald R. Ford foi alvo de tiros duas vezes em pouco mais de duas semanas em 1975, mas sobreviveu ileso a ambas as vezes. Mais assustadoramente, porém, os esforços para matar Trump lembraram para muitos o ano de 1968, quando o reverendo Dr. Martin Luther King Jr. e Robert F. Kennedy foram mortos a tiros em um intervalo de dois meses. Esses assassinatos ocorreram durante um momento de violência mais ampla nas ruas americanas em meio a uma sensação de desgaste dos laços sociais, algo que também preocupa muitos líderes atualmente.

No centro da erupção atual de violência política está Trump, uma figura que parece inspirar as pessoas a fazer ameaças ou tomar medidas tanto a seu favor quanto contra ele. Ele há muito favorece a linguagem da violência em seu discurso político, encorajando apoiadores a espancar provocadores, ameaçando atirar em saqueadores e imigrantes sem documentos, zombando de um ataque quase fatal ao marido da presidente da Câmara, uma democrata, e sugerindo que um general que ele considerou desleal fosse executado.

Autoridades policiais trabalham do lado de fora do Trump International Golf Club após a aparente tentativa de assassinato do candidato republicano. Foto: AP Photo/Lynne Sladky

Enquanto Trump insiste que seu discurso inflamado aos apoiadores em 6 de janeiro de 2021 não foi responsável pelo subsequente saque do Capitólio, ele resistiu aos apelos de conselheiros e de sua própria filha naquele dia para fazer mais para impedir o ataque. Ele até sugeriu que a multidão poderia ter razão em querer enforcar seu vice-presidente e, desde então, abraçou os agressores como patriotas a quem ele pode perdoar se for eleito novamente.

Trump não para para refletir a respeito do impacto de suas próprias palavras. Na semana passada, suas falsas acusações contra imigrantes haitianos que comeriam animais de estimação feita durante seu debate com Kamala foram rapidamente seguidas por ameaças de bomba que viraram a vida de cabeça para baixo em Springfield, Ohio, e ele não fez nada para desencorajá-las.

Questionado por um repórter se ele denunciou as ameaças de bomba, ele objetou. “Não sei o que aconteceu com essas ameaças de bomba”, disse ele. “Sei que o lugar foi tomado por imigrantes ilegais, e é terrível que isso tenha acontecido.”

Os críticos de Trump às vezes também empregaram a linguagem da violência, embora não tão extensivamente e repetidamente nos mais altos escalões. Os aliados do ex-presidente distribuíram uma compilação de vídeos online de vários oponentes de Trump dizendo que gostariam de dar um soco em sua cara ou algo parecido. Algumas das vozes mais extremas nas redes sociais nas horas mais recentes zombaram ou minimizaram o quase incidente no campo de golfe da Flórida. Os aliados de Trump frequentemente criticam o que chamam de Síndrome de perturbação causada por Trump, a noção de que seus críticos o desprezam tanto a ponto de perderem a cabeça.

A raiva, é claro, tem sido há muito tempo a força animadora do tempo de Trump na política — tanto a raiva que ele desperta entre os apoiadores contra seus rivais quanto a raiva que ele gera entre os oponentes que passam a detestá-lo. As previsões de que ele poderia repensar isso depois de escapar por pouco da morte em Butler se mostraram efêmeras. Na metade de seu discurso de aceitação da candidatura na Convenção Nacional Republicana, cinco dias depois, ele estava de volta a si mesmo.

Mas é uma medida do quanto a violência política se tornou parte da cultura americana moderna — não aceita, talvez, mas cada vez mais esperada — o fato de o mais recente incidente talvez não fazer mais diferença do que o primeiro. O choque do tiroteio em Butler passou relativamente rápido, pois a atenção se voltou para outros desenvolvimentos. O choque deste novo atentado pode durar ainda menos./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Poucos dias depois de o ex-presidente Donald Trump difamar imigrantes em rede nacional de televisão com histórias falsas a respeito de imigrantes haitianos comendo cães e gatos de estimação em uma cidade de Ohio, alguém começou a ameaçar explodir escolas, a prefeitura e outros prédios públicos, forçando o esvaziamento desses edifícios e provocando uma onda de medo.

Dias depois, disseram as autoridades, um homem que se descreveu online como um ex-apoiador de Trump descontente foi com um fuzil semiautomático até o campo de golfe do ex-presidente na Flórida, evidentemente procurando uma oportunidade de atirar. Ele foi frustrado apenas quando um agente do Serviço Secreto atento o avistou e abriu fogo primeiro.

E assim tem sido em 2024. No espaço de menos de uma semana, o antigo e possivelmente futuro comandante em chefe foi tanto uma inspiração aparente quanto um alvo aparente da violência política que cada vez mais vem moldando a política americana na era moderna. Ameaças de bomba e tentativas de assassinato agora se tornaram parte do cenário, chocantes e horríveis, mas não tanto a ponto de forçarem algum acerto de contas nacional real.

“Uma das coisas que mais me preocupam agora é a normalização da violência política em nosso sistema político. Ela está aumentando”, disse em uma entrevista o democrata Jason Crow, deputado pelo Colorado e membro de uma força-tarefa bipartidária que já investigava a tentativa de assassinato de 13 de julho contra Trump. “Agora estamos no segundo [episódio] em um igual número de meses, o que só mostra até que ponto a coisa se tornou generalizada.”

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e a vice-presidente Kamala Harris emitiram declarações condenando o último incidente, mas a campanha continuou sem interrupções. Apenas quatro horas depois de Trump ter sido levado em uma carreata para longe do clube de golfe, para sua proteção, sua equipe financeira enviou um e-mail para sua lista de arrecadação de fundos com um botão para clicar e fazer uma doação. “Minha determinação só ficou mais forte depois de outro atentado contra minha vida!”, dizia Trump no e-mail. Os e-mails de arrecadação de fundos de Kamala também continuaram.

Recentemente no debate da semana passada com Kamala, Trump culpou os democratas pelo tiroteio em um comício em Butler, Pensilvânia, que atingiu sua orelha em julho. Ele também atribuiu o atentado de domingo ao presidente e à vice-presidente, argumentando que o suspeito preso estava agindo em resposta aos ataques políticos deles.

“Ele acreditou na retórica de Biden e Harris e agiu de acordo com ela”, disse Trump à Fox News na segunda feira. “A retórica deles está fazendo com que eu seja alvo de tiros, quando sou eu quem vai salvar o país, e são eles que estão destruindo o país — tanto por dentro quanto de fora.”

Recentemente no debate da semana passada com Kamala, Trump culpou os democratas pelo tiroteio em um comício em Butler, Pensilvânia. Foto: AP Photo/Alex Brandon

Mesmo quando ele reclamou que os democratas fizeram dele um alvo ao chamá-lo de ameaça à democracia, ele repetiu sua própria afirmação de que “essas são pessoas que querem destruir nosso país” e os chamou de “o inimigo interno”.

Elon Musk, o bilionário dono de uma rede social e um dos mais proeminentes e vocais apoiadores de Trump, causou um alvoroço com uma postagem que dizia: “E ninguém está tentando assassinar Biden/Kamala”.

‘Por que eles têm que fazer isso em plena luz do dia?’

Mais tarde, ele apagou a publicação e disse que foi uma piada, mas a Casa Branca reagiu. “A violência só deve ser condenada, nunca encorajada ou usada como motivo de piada”, disse Andrew Bates, um porta-voz da Casa Branca. “Essa retórica é irresponsável”.

A história americana já foi marcada por períodos anteriores de violência política. Quatro presidentes em exercício foram mortos no cargo, e outro foi baleado e gravemente ferido. Um ex-presidente também foi baleado e sobreviveu, e muitos outros que moravam na Casa Branca foram alvos de atentados. Mas duas tentativas de assassinato de um ex-presidente realizadas em um intervalo de dois meses ainda chamam a atenção, especialmente no calor de uma eleição na qual ele é um dos principais candidatos para seu antigo cargo.

Talvez a analogia mais próxima seja quando o presidente Gerald R. Ford foi alvo de tiros duas vezes em pouco mais de duas semanas em 1975, mas sobreviveu ileso a ambas as vezes. Mais assustadoramente, porém, os esforços para matar Trump lembraram para muitos o ano de 1968, quando o reverendo Dr. Martin Luther King Jr. e Robert F. Kennedy foram mortos a tiros em um intervalo de dois meses. Esses assassinatos ocorreram durante um momento de violência mais ampla nas ruas americanas em meio a uma sensação de desgaste dos laços sociais, algo que também preocupa muitos líderes atualmente.

No centro da erupção atual de violência política está Trump, uma figura que parece inspirar as pessoas a fazer ameaças ou tomar medidas tanto a seu favor quanto contra ele. Ele há muito favorece a linguagem da violência em seu discurso político, encorajando apoiadores a espancar provocadores, ameaçando atirar em saqueadores e imigrantes sem documentos, zombando de um ataque quase fatal ao marido da presidente da Câmara, uma democrata, e sugerindo que um general que ele considerou desleal fosse executado.

Autoridades policiais trabalham do lado de fora do Trump International Golf Club após a aparente tentativa de assassinato do candidato republicano. Foto: AP Photo/Lynne Sladky

Enquanto Trump insiste que seu discurso inflamado aos apoiadores em 6 de janeiro de 2021 não foi responsável pelo subsequente saque do Capitólio, ele resistiu aos apelos de conselheiros e de sua própria filha naquele dia para fazer mais para impedir o ataque. Ele até sugeriu que a multidão poderia ter razão em querer enforcar seu vice-presidente e, desde então, abraçou os agressores como patriotas a quem ele pode perdoar se for eleito novamente.

Trump não para para refletir a respeito do impacto de suas próprias palavras. Na semana passada, suas falsas acusações contra imigrantes haitianos que comeriam animais de estimação feita durante seu debate com Kamala foram rapidamente seguidas por ameaças de bomba que viraram a vida de cabeça para baixo em Springfield, Ohio, e ele não fez nada para desencorajá-las.

Questionado por um repórter se ele denunciou as ameaças de bomba, ele objetou. “Não sei o que aconteceu com essas ameaças de bomba”, disse ele. “Sei que o lugar foi tomado por imigrantes ilegais, e é terrível que isso tenha acontecido.”

Os críticos de Trump às vezes também empregaram a linguagem da violência, embora não tão extensivamente e repetidamente nos mais altos escalões. Os aliados do ex-presidente distribuíram uma compilação de vídeos online de vários oponentes de Trump dizendo que gostariam de dar um soco em sua cara ou algo parecido. Algumas das vozes mais extremas nas redes sociais nas horas mais recentes zombaram ou minimizaram o quase incidente no campo de golfe da Flórida. Os aliados de Trump frequentemente criticam o que chamam de Síndrome de perturbação causada por Trump, a noção de que seus críticos o desprezam tanto a ponto de perderem a cabeça.

A raiva, é claro, tem sido há muito tempo a força animadora do tempo de Trump na política — tanto a raiva que ele desperta entre os apoiadores contra seus rivais quanto a raiva que ele gera entre os oponentes que passam a detestá-lo. As previsões de que ele poderia repensar isso depois de escapar por pouco da morte em Butler se mostraram efêmeras. Na metade de seu discurso de aceitação da candidatura na Convenção Nacional Republicana, cinco dias depois, ele estava de volta a si mesmo.

Mas é uma medida do quanto a violência política se tornou parte da cultura americana moderna — não aceita, talvez, mas cada vez mais esperada — o fato de o mais recente incidente talvez não fazer mais diferença do que o primeiro. O choque do tiroteio em Butler passou relativamente rápido, pois a atenção se voltou para outros desenvolvimentos. O choque deste novo atentado pode durar ainda menos./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Poucos dias depois de o ex-presidente Donald Trump difamar imigrantes em rede nacional de televisão com histórias falsas a respeito de imigrantes haitianos comendo cães e gatos de estimação em uma cidade de Ohio, alguém começou a ameaçar explodir escolas, a prefeitura e outros prédios públicos, forçando o esvaziamento desses edifícios e provocando uma onda de medo.

Dias depois, disseram as autoridades, um homem que se descreveu online como um ex-apoiador de Trump descontente foi com um fuzil semiautomático até o campo de golfe do ex-presidente na Flórida, evidentemente procurando uma oportunidade de atirar. Ele foi frustrado apenas quando um agente do Serviço Secreto atento o avistou e abriu fogo primeiro.

E assim tem sido em 2024. No espaço de menos de uma semana, o antigo e possivelmente futuro comandante em chefe foi tanto uma inspiração aparente quanto um alvo aparente da violência política que cada vez mais vem moldando a política americana na era moderna. Ameaças de bomba e tentativas de assassinato agora se tornaram parte do cenário, chocantes e horríveis, mas não tanto a ponto de forçarem algum acerto de contas nacional real.

“Uma das coisas que mais me preocupam agora é a normalização da violência política em nosso sistema político. Ela está aumentando”, disse em uma entrevista o democrata Jason Crow, deputado pelo Colorado e membro de uma força-tarefa bipartidária que já investigava a tentativa de assassinato de 13 de julho contra Trump. “Agora estamos no segundo [episódio] em um igual número de meses, o que só mostra até que ponto a coisa se tornou generalizada.”

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e a vice-presidente Kamala Harris emitiram declarações condenando o último incidente, mas a campanha continuou sem interrupções. Apenas quatro horas depois de Trump ter sido levado em uma carreata para longe do clube de golfe, para sua proteção, sua equipe financeira enviou um e-mail para sua lista de arrecadação de fundos com um botão para clicar e fazer uma doação. “Minha determinação só ficou mais forte depois de outro atentado contra minha vida!”, dizia Trump no e-mail. Os e-mails de arrecadação de fundos de Kamala também continuaram.

Recentemente no debate da semana passada com Kamala, Trump culpou os democratas pelo tiroteio em um comício em Butler, Pensilvânia, que atingiu sua orelha em julho. Ele também atribuiu o atentado de domingo ao presidente e à vice-presidente, argumentando que o suspeito preso estava agindo em resposta aos ataques políticos deles.

“Ele acreditou na retórica de Biden e Harris e agiu de acordo com ela”, disse Trump à Fox News na segunda feira. “A retórica deles está fazendo com que eu seja alvo de tiros, quando sou eu quem vai salvar o país, e são eles que estão destruindo o país — tanto por dentro quanto de fora.”

Recentemente no debate da semana passada com Kamala, Trump culpou os democratas pelo tiroteio em um comício em Butler, Pensilvânia. Foto: AP Photo/Alex Brandon

Mesmo quando ele reclamou que os democratas fizeram dele um alvo ao chamá-lo de ameaça à democracia, ele repetiu sua própria afirmação de que “essas são pessoas que querem destruir nosso país” e os chamou de “o inimigo interno”.

Elon Musk, o bilionário dono de uma rede social e um dos mais proeminentes e vocais apoiadores de Trump, causou um alvoroço com uma postagem que dizia: “E ninguém está tentando assassinar Biden/Kamala”.

‘Por que eles têm que fazer isso em plena luz do dia?’

Mais tarde, ele apagou a publicação e disse que foi uma piada, mas a Casa Branca reagiu. “A violência só deve ser condenada, nunca encorajada ou usada como motivo de piada”, disse Andrew Bates, um porta-voz da Casa Branca. “Essa retórica é irresponsável”.

A história americana já foi marcada por períodos anteriores de violência política. Quatro presidentes em exercício foram mortos no cargo, e outro foi baleado e gravemente ferido. Um ex-presidente também foi baleado e sobreviveu, e muitos outros que moravam na Casa Branca foram alvos de atentados. Mas duas tentativas de assassinato de um ex-presidente realizadas em um intervalo de dois meses ainda chamam a atenção, especialmente no calor de uma eleição na qual ele é um dos principais candidatos para seu antigo cargo.

Talvez a analogia mais próxima seja quando o presidente Gerald R. Ford foi alvo de tiros duas vezes em pouco mais de duas semanas em 1975, mas sobreviveu ileso a ambas as vezes. Mais assustadoramente, porém, os esforços para matar Trump lembraram para muitos o ano de 1968, quando o reverendo Dr. Martin Luther King Jr. e Robert F. Kennedy foram mortos a tiros em um intervalo de dois meses. Esses assassinatos ocorreram durante um momento de violência mais ampla nas ruas americanas em meio a uma sensação de desgaste dos laços sociais, algo que também preocupa muitos líderes atualmente.

No centro da erupção atual de violência política está Trump, uma figura que parece inspirar as pessoas a fazer ameaças ou tomar medidas tanto a seu favor quanto contra ele. Ele há muito favorece a linguagem da violência em seu discurso político, encorajando apoiadores a espancar provocadores, ameaçando atirar em saqueadores e imigrantes sem documentos, zombando de um ataque quase fatal ao marido da presidente da Câmara, uma democrata, e sugerindo que um general que ele considerou desleal fosse executado.

Autoridades policiais trabalham do lado de fora do Trump International Golf Club após a aparente tentativa de assassinato do candidato republicano. Foto: AP Photo/Lynne Sladky

Enquanto Trump insiste que seu discurso inflamado aos apoiadores em 6 de janeiro de 2021 não foi responsável pelo subsequente saque do Capitólio, ele resistiu aos apelos de conselheiros e de sua própria filha naquele dia para fazer mais para impedir o ataque. Ele até sugeriu que a multidão poderia ter razão em querer enforcar seu vice-presidente e, desde então, abraçou os agressores como patriotas a quem ele pode perdoar se for eleito novamente.

Trump não para para refletir a respeito do impacto de suas próprias palavras. Na semana passada, suas falsas acusações contra imigrantes haitianos que comeriam animais de estimação feita durante seu debate com Kamala foram rapidamente seguidas por ameaças de bomba que viraram a vida de cabeça para baixo em Springfield, Ohio, e ele não fez nada para desencorajá-las.

Questionado por um repórter se ele denunciou as ameaças de bomba, ele objetou. “Não sei o que aconteceu com essas ameaças de bomba”, disse ele. “Sei que o lugar foi tomado por imigrantes ilegais, e é terrível que isso tenha acontecido.”

Os críticos de Trump às vezes também empregaram a linguagem da violência, embora não tão extensivamente e repetidamente nos mais altos escalões. Os aliados do ex-presidente distribuíram uma compilação de vídeos online de vários oponentes de Trump dizendo que gostariam de dar um soco em sua cara ou algo parecido. Algumas das vozes mais extremas nas redes sociais nas horas mais recentes zombaram ou minimizaram o quase incidente no campo de golfe da Flórida. Os aliados de Trump frequentemente criticam o que chamam de Síndrome de perturbação causada por Trump, a noção de que seus críticos o desprezam tanto a ponto de perderem a cabeça.

A raiva, é claro, tem sido há muito tempo a força animadora do tempo de Trump na política — tanto a raiva que ele desperta entre os apoiadores contra seus rivais quanto a raiva que ele gera entre os oponentes que passam a detestá-lo. As previsões de que ele poderia repensar isso depois de escapar por pouco da morte em Butler se mostraram efêmeras. Na metade de seu discurso de aceitação da candidatura na Convenção Nacional Republicana, cinco dias depois, ele estava de volta a si mesmo.

Mas é uma medida do quanto a violência política se tornou parte da cultura americana moderna — não aceita, talvez, mas cada vez mais esperada — o fato de o mais recente incidente talvez não fazer mais diferença do que o primeiro. O choque do tiroteio em Butler passou relativamente rápido, pois a atenção se voltou para outros desenvolvimentos. O choque deste novo atentado pode durar ainda menos./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Análise por Peter Baker

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