MIAMI - O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump se declarou inocente perante o tribunal federal de Miami nesta terça-feira, 13, depois de ser acusado formalmente de reter intencionalmente documentos contendo alguns dos segredos mais bem guardados do país - além de mentir e obstruir a Justiça quando autoridades federais tentaram recuperá-los. Trump foi preso sob custódia e fichado em uma audiência que durou 47 minutos. Esta é a segunda vez que Trump, que é candidato à presidência novamente, se entrega à Justiça, mas a primeira em uma acusação a nível federal.
Trump enfrenta 37 acusações relacionadas ao manuseio incorreto de documentos secretos, incluindo 31 acusações sob um estatuto da Lei de Espionagem referente à retenção intencional de informações de defesa nacional. As acusações também incluem obstrução da Justiça e declarações falsas, entre outros crimes. Além de Trump, seu assessor Walt Nauta também é réu no caso e compareceu no tribunal.
Trump foi fichado, mas não precisou ser fotografado ou algemado durante os procedimentos, o que seria padrão nestes casos de crimes federais. “O presidente Trump está em uma posição única, onde não precisa tirar uma foto de identificação. Obviamente, ele não apresenta risco de fuga. Ele é o principal candidato do Partido Republicano no momento”, disse uma de suas advogadas, Alina Habba, a repórteres do lado de fora do tribunal.
Antes de chegar ao tribunal, Trump postou no Truth Social, sua plataforma de mídia social, que hoje foi “Um dos dias mais triste da história de nosso país”. O ex-presidente chegou em uma carreata e entrou no tribunal por uma garagem subterrânea. Não haverá fotos de Trump durante a audiência por determinação do juiz. Após se declarar inocente, o processo deve seguir agora seus trâmites por mais alguns meses antes de um julgamento.
Trump é acusado de manter documentos relacionados a “armamento nuclear nos Estados Unidos” e “capacidades nucleares de um país estrangeiro”, juntamente com documentos de relatórios de inteligência da Casa Branca, de acordo com a acusação.
Os promotores alegam que Trump mostrou os documentos para pessoas que não tinham autorizações de segurança para revisá-los e depois tentou esconder os papeis de seus próprios advogados enquanto tentavam cumprir as exigências federais para encontrar e devolver os mesmo. As principais acusações acarretam penas de até 20 anos de prisão.
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Esta foi uma aparição inicial no tribunal, uma fase em que os réus não costumam ser denunciados já que em tese ainda não conhece as acusações e não são representados por um advogado. Em vez disso, eles frequentemente entram com sua apelações em uma audiência em data posterior, quando já são representados por um advogado.
Mas o caso de Trump é diferente já que ele foi ao tribunal dias depois de receber uma intimação. Ele já viu e conhece as acusações que enfrenta e as discutiu com sua equipe jurídica, que muda constantemente. O caso deve esquentar, porém, nos próximos meses, quando se terá uma melhor percepção de quando um julgamento pode ocorrer - e qual pode ser a defesa de Trump.
A aparição de hoje marca a primeira vez que um ex-presidente americano foi indiciado por crimes federais. No entanto, já é a segunda vez que Trump é acusado criminalmente desde março, quando foi indiciado em um tribunal estadual de Nova York por 34 acusações criminais de falsificação de registros comerciais relacionados a pagamentos de dinheiro secreto de 2016. Trump negou irregularidade em ambos os casos.
Ao contrário de sua acusação em Nova York, não houve fotos no tribunal porque não são autorizadas câmeras em tribunais federais.
Normalmente, os réus em processos criminais federais tiram suas impressões digitais e são fotografados para ajudar a identificá-los. Mas quando Trump foi indiciado em Nova York, as autoridades sentiram que uma foto era desnecessária devido ao nível de fama do ex-presidente. Porém, sua equipe política, acreditando que tal imagem os ajudaria politicamente, criou uma foto falsa e a usou para arrecadar dinheiro.
Do lado de fora do tribunal, a polícia se preparava para grandes protestos, tanto a favor quanto contra a prisão de Trump. No entanto, a multidão, embora fosse animada, era pequena, apesar do apelo de Trump para que apoiadores se reunissem em sua defesa.
Após a audiência, Trump deve dar um pronunciamento na noite de hoje após retornar ao seu resort em Bedminster, Nova Jersey.
Além de Trump, Walt Nauta, que é assessor pessoal de Trump e também réu no caso, comparece ao tribunal. Nauta, um veterano da Marinha de 40 anos, recebeu quatro acusações separadas relacionadas à obstrução e uma acusação por declarações falsas ao governo. Os promotores dizem que ele mentiu várias vezes sobre a transferência de caixas com documentos federais para Trump em um esforço para ajudar o ex-presidente a evitar devolvê-los ao governo.
Diferentemente de Trump, Nauta não apresentou uma apelação. Ele solicitou uma prorrogação da acusação, agora marcada para 27 de junho.
O magistrado que supervisiona a acusação, Jonathan Goodman, ordenou que Trump não discutisse o caso com Nauta. O juiz disse entender que os dois devem se falar diariamente, mas disse que qualquer coisa relacionada ao caso deve passar por seus advogados. Ele também determinou que Trump não deve ter contato com testemunhas do caso, exceto por meio de seus advogados. O governo irá gerar uma lista de tais testemunhas em uma data posterior./AP, NYT e W.POST