MAR-A-LAGO, EUA - O ex-presidente americano Donald Trump lançou nesta terça-feira, 15, sua terceira candidatura para as eleições presidenciais de 2024. Ele anunciou sua intenção de concorrer pela terceira vez à Casa Branca em um discurso na mansão de Mar-a-Lago, sua propriedade à beira-mar na Flórida, logo depois de registrar sua candidatura no Comitê Eleitoral Federal.
“Dois anos atrás, quando deixei o cargo, os Estados Unidos estavam prontos para sua idade de ouro”, disse Trump em seu discurso, antes de listar realizações que são contestadas, sobre como lidou com a pandemia e a recuperação econômica do país.
Com a decisão, Trump ignora os apelos de dentro do Partido Republicano para voltar atrás devido ao mau desempenho dos candidatos leais ao magnata nas eleições de meio de mandato. Dezenas de apoiadores com camisetas, bonés e bandeiras em homenagem ao magnata o aguardam por horas.
Seu anúncio incomumente precoce foi motivado em parte por um cálculo de que uma candidatura formal pode ajudar a protegê-lo de várias investigações sobre suas tentativas de se agarrar ao poder após sua derrota em 2020. A decisão vem enquanto os votos ainda estão sendo contados nas disputas do Congresso que determinarão o equilíbrio de poder na Câmara.
A opinião do ex-presidente, segundo amigos e conselheiros, é que uma candidatura formal à Casa Branca reforçará suas alegações de que as múltiplas investigações estaduais e federais que ele enfrenta são todas politicamente motivadas.
Ele espera, segundo fontes, que uma candidatura possa frear os promotores que podem estar considerando acusações criminais, particularmente em conexão com a investigação do Departamento de Justiça sobre documentos altamente confidenciais que Trump mantinha em Mar-a-Lago.
Enquanto seu antecessor anunciava uma terceira candidatura à Casa Branca, o presidente Joe Biden tuitou: “Donald Trump falhou com a América”. A mensagem veio no meio do discurso de Trump.
O tuíte da conta oficial de Biden incluiu um vídeo criticando o histórico de Trump no cargo, incluindo sua economia, empregos, assistência médica, “mimar extremistas”, “atacar os direitos das mulheres” e “incitar uma multidão violenta”.
Sem onda vermelha
Trump deixou Washington depois que seus apoiadores invadiram o Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Mas optou por permanecer na arena política e continuar arrecadando fundos e realizando comícios em todo o país.
Antes das eleições de meio de mandato de 8 de novembro, Trump parecia determinado a aproveitar a derrota prevista para os democratas e o sucesso esmagador dos republicanos para voltar triunfante. Mas a onda vermelha, a cor dos republicanos, com a qual os conservadores contavam, não aconteceu.
Os democratas conseguiram manter o controle do Senado e, embora os republicanos provavelmente recuperem o controle da Câmara dos Deputados, será por uma margem menor do que pensavam.
Para piorar a situação, uma de suas aliadas mais próximas, Kari Lake, não conseguiu se eleger governadora do Arizona na segunda-feira.
Esses resultados decepcionantes, especialmente os de alguns dos candidatos apoiados por Trump, obscurecem seus planos presidenciais. Vozes republicanas influentes chegaram a pedir que ele se afastasse da liderança do partido.
O ex-vice-presidente Mike Pence, que publicou nesta terça-feira suas memórias, nas quais relata as pressões que sofreu para não certificar os resultados das eleições presidenciais de 2020, recusou-se a comentar se Trump deveria concorrer novamente, em uma entrevista à rede ABC.
“Isso depende do povo americano, mas acho que teremos melhores opções daqui para frente”, disse Pence, cujo nome também está entre os possíveis candidatos.
Duelo na Flórida?
Parte dos conservadores aposta em outro possível candidato à Casa Branca: o governador da Flórida, Ron DeSantis, de 44 anos. A nova estrela da direita radical saiu fortalecida das eleições de meio de mandato e alertou que sua luta está “apenas começando”.
No momento, Trump mantém uma popularidade inegável entre a base e as pesquisas continuam a mostrá-lo como o vencedor nas primárias republicanas. Mas os inúmeros problemas legais do ex-presidente ameaçam sua volta à presidência americana.
Trump é alvo de várias investigações por seu papel no ataque à sede do Congresso, em 6 de janeiro de 2021, e por sua gestão dos arquivos da Casa Branca, entre outros. Mas ele, seguindo seu “instinto”, como sempre, sabe que até agora sobreviveu a todos os escândalos e ainda está de pé, apesar das inúmeras vezes em que o deram por derrotado.
Um ex-presidente derrotado concorrendo às eleições novamente enquanto enfrenta uma possível acusação criminal é algo sem precedentes na história dos EUA. Trump se torna o primeiro ex-presidente a concorrer novamente desde Theodore Roosevelt, e o primeiro desde Grover Cleveland a fazê-lo após perder a reeleição. Ele é o único presidente a sofrer impeachment duas vezes, e o único impeachment por um voto bipartidário./AFP, NYT e WPost