Trump é fraco, mas o Partido Republicano é ainda mais; leia análise de Paul Krugman


Biden é visto como líder fraco. Trump foi percebido após deixar o poder como forte por republicanos

Por Paul Krugman

Depois do decepcionante desempenho de seu partido nas eleições de meio de mandato, as elites republicanas parecem ter decidido que Donald Trump é seu maior problema. O império das comunicações de Rupert Murdoch tem criticado o ex-presidente. Muitos doadores e operadores estão, segundo relatos, agrupando-se em torno do governador da Flórida, Ron DeSantis.

Mas Trump não se renderá sem alarde. Trump conseguirá garantir sua indicação apesar das hesitações das elites? Se não conseguir, o homem que jamais mostrou nenhuma lealdade ao seu partido – e além disso, nenhuma lealdade a não ser a si mesmo – passará a sabotar os republicanos?

Não tenho mais informações do que qualquer outra pessoa que acompanhe as notícias. Falemos, em vez disso, a respeito do quão excepcional é alguém como Trump conseguir dominar um dos dois maiores partidos políticos dos EUA e reter uma base certamente substancial.

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O ex-presidente dos EUA Donald Trump fala em um comício para apoiar os candidatos republicanos antes das eleições de meio de mandato, em Ohio, EUA Foto: Gaelen Morse/Reuters - 07/11/2022

Não estou falando do fato de Trump adotar visões políticas que eu considero repreensíveis, nem a respeito dele ter empreendido várias ações, incluindo uma tentativa de reverter o resultado de uma eleição nacional, que podem ser descritas sensatamente como sediciosas. Claramente, a maior parte do Partido Republicano não vê nenhum problema nisso.

Estou falando, em vez disso, da percepção evidente de muitos republicanos de que Trump é um líder forte, quando na realidade ele é extraordinariamente fraco. Comecemos com sua personalidade – que não é meu tema favorito (fico muito mais confortável em falar de políticas), mas é algo claramente relevante quando escolhemos um comandante-chefe.

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Não considero romantizar o passado afirmar que, historicamente, políticos que almejavam a presidência tinham de parecer, bem, presidenciais. Ou seja, eles tinham de transparecer seriedade e dignidade; qualquer que fosse seu comportamento a portas fechadas, em público eles tinham de aparentar maturidade e autocontrole.

Trump, contudo, chega aos 76 anos como se fosse um adolescente mimado, levado e turrão. Ele oscila, por vezes em consecutivas afirmações, entre autoelogios constrangedores (que tipo de pessoa descreve a si mesma como gênio estável?) e birras, entre grandiloquências e autocomiserações. Além das afetações pessoais, o que se sobressai a respeito do tempo de Trump na presidência é sua fraqueza, sua incapacidade em realizar qualquer coisa.

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Sobre políticas domésticas, Trump concorreu em 2016 como um republicano diferente, capaz de romper com a ortodoxia do partido em relação a cortes de impostos antigoverno. Uma vez na Casa Branca, porém, ele foi argila nas mãos de Mitch McConnell. As únicas grandes iniciativas em políticas domésticas de Trump foram os esforços fracassados em repelir o Obamacare e o tema-padrão republicano de cortar impostos sobre empresas e fortunas.

O que aconteceu com suas promessas de investimentos em infraestrutura? Elas não resultaram em nada: “É a Semana da Infraestrutura!” tornou-se uma piada corrente. Sobre política externa, a Coreia do Norte de Kim Jong-un fez Trump de otário com garantias vazias a respeito de desnuclearização.

A China de Xi Jinping conseguiu o mesmo em grande medida no comércio, fazendo Trump pausar seus aumentos em tarifas em troca de uma promessa de compra de mercadorias produzidas nos EUA que se provou inteiramente vazia. Em suma, o desempenho de Trump na presidência foi fraco – especialmente se comparado com o de seu sucessor.

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O presidente Joe Biden não conseguiu tudo o que pretendeu em políticas domésticas, mas aprovou uma grande legislação de infraestrutura e, na Lei de Redução da Inflação, obteve tanto um financiamento sem precedentes para combater as mudanças climáticas quanto um fortalecimento significativo na assistência médica. E a surpreendente demonstração de força dos democratas nas eleições de meio de mandato provavelmente garantirá que o sucesso dessas políticas perdurem.

‘Arsenal da democracia’

No exterior, Biden reuniu e manteve unida a coalizão em apoio à Ucrânia, que possibilitou à nação invadida resistir ao ataque da Rússia – um enorme sucesso em política externa, que evoca o papel dos EUA anterior a Pearl Harbor, como “arsenal da democracia”. E a política de Biden em relação à China, centrada em restrições a exportações projetadas para minar as ambições tecnológicas de Pequim, é vastamente mais agressiva do que qualquer coisa que Trump fez, mesmo que não tenha obtido tanta atenção nos meios de comunicação.

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Ainda assim, Biden é retratado com frequência como fraco e obtuso, enquanto Trump foi percebido como um “líder forte” por 90% dos republicanos no dia em que relutantemente deixou a função. Como isso é possível? O culto à personalidade de Trump pode ter sido possibilitado em parte por forças além da política.

Afinal, nós costumávamos esperar comportamentos dignos tanto de capitães da indústria quanto de políticos. Mas nestes dias, talvez porque uma cultura de celebridades infecte tudo, líderes empresariais são levados a sério até mesmo quando parecem incapazes de evitar exibições exuberantes de egoísmo e insegurança (como Elon Musk).

Também, as elites republicanas que tentam agora se distanciar de Trump passaram anos acalentando sua imagem. Até poucos dias atrás, a Fox News, maior fonte de informações sobre política para grande parte da base republicana, dava a Trump o tipo de cobertura beatificadora que se espera de um meio de imprensa estatal em uma ditadura.

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E os políticos republicanos, muitos dos quais sabendo bem quem era o verdadeiro Trump desde o início, passaram anos louvando-o com terminologias que remetem a membros de Politburos elogiando o presidente do partido. Agora, essas mesmas elites querem Trump fora da jogada. Mas ainda que possam ser capazes de negar-lhe a indicação, elas provavelmente não conseguirão evitar pagar um enorme preço por sua covardia no passado. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Depois do decepcionante desempenho de seu partido nas eleições de meio de mandato, as elites republicanas parecem ter decidido que Donald Trump é seu maior problema. O império das comunicações de Rupert Murdoch tem criticado o ex-presidente. Muitos doadores e operadores estão, segundo relatos, agrupando-se em torno do governador da Flórida, Ron DeSantis.

Mas Trump não se renderá sem alarde. Trump conseguirá garantir sua indicação apesar das hesitações das elites? Se não conseguir, o homem que jamais mostrou nenhuma lealdade ao seu partido – e além disso, nenhuma lealdade a não ser a si mesmo – passará a sabotar os republicanos?

Não tenho mais informações do que qualquer outra pessoa que acompanhe as notícias. Falemos, em vez disso, a respeito do quão excepcional é alguém como Trump conseguir dominar um dos dois maiores partidos políticos dos EUA e reter uma base certamente substancial.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump fala em um comício para apoiar os candidatos republicanos antes das eleições de meio de mandato, em Ohio, EUA Foto: Gaelen Morse/Reuters - 07/11/2022

Não estou falando do fato de Trump adotar visões políticas que eu considero repreensíveis, nem a respeito dele ter empreendido várias ações, incluindo uma tentativa de reverter o resultado de uma eleição nacional, que podem ser descritas sensatamente como sediciosas. Claramente, a maior parte do Partido Republicano não vê nenhum problema nisso.

Estou falando, em vez disso, da percepção evidente de muitos republicanos de que Trump é um líder forte, quando na realidade ele é extraordinariamente fraco. Comecemos com sua personalidade – que não é meu tema favorito (fico muito mais confortável em falar de políticas), mas é algo claramente relevante quando escolhemos um comandante-chefe.

Não considero romantizar o passado afirmar que, historicamente, políticos que almejavam a presidência tinham de parecer, bem, presidenciais. Ou seja, eles tinham de transparecer seriedade e dignidade; qualquer que fosse seu comportamento a portas fechadas, em público eles tinham de aparentar maturidade e autocontrole.

Trump, contudo, chega aos 76 anos como se fosse um adolescente mimado, levado e turrão. Ele oscila, por vezes em consecutivas afirmações, entre autoelogios constrangedores (que tipo de pessoa descreve a si mesma como gênio estável?) e birras, entre grandiloquências e autocomiserações. Além das afetações pessoais, o que se sobressai a respeito do tempo de Trump na presidência é sua fraqueza, sua incapacidade em realizar qualquer coisa.

Sobre políticas domésticas, Trump concorreu em 2016 como um republicano diferente, capaz de romper com a ortodoxia do partido em relação a cortes de impostos antigoverno. Uma vez na Casa Branca, porém, ele foi argila nas mãos de Mitch McConnell. As únicas grandes iniciativas em políticas domésticas de Trump foram os esforços fracassados em repelir o Obamacare e o tema-padrão republicano de cortar impostos sobre empresas e fortunas.

O que aconteceu com suas promessas de investimentos em infraestrutura? Elas não resultaram em nada: “É a Semana da Infraestrutura!” tornou-se uma piada corrente. Sobre política externa, a Coreia do Norte de Kim Jong-un fez Trump de otário com garantias vazias a respeito de desnuclearização.

A China de Xi Jinping conseguiu o mesmo em grande medida no comércio, fazendo Trump pausar seus aumentos em tarifas em troca de uma promessa de compra de mercadorias produzidas nos EUA que se provou inteiramente vazia. Em suma, o desempenho de Trump na presidência foi fraco – especialmente se comparado com o de seu sucessor.

O presidente Joe Biden não conseguiu tudo o que pretendeu em políticas domésticas, mas aprovou uma grande legislação de infraestrutura e, na Lei de Redução da Inflação, obteve tanto um financiamento sem precedentes para combater as mudanças climáticas quanto um fortalecimento significativo na assistência médica. E a surpreendente demonstração de força dos democratas nas eleições de meio de mandato provavelmente garantirá que o sucesso dessas políticas perdurem.

‘Arsenal da democracia’

No exterior, Biden reuniu e manteve unida a coalizão em apoio à Ucrânia, que possibilitou à nação invadida resistir ao ataque da Rússia – um enorme sucesso em política externa, que evoca o papel dos EUA anterior a Pearl Harbor, como “arsenal da democracia”. E a política de Biden em relação à China, centrada em restrições a exportações projetadas para minar as ambições tecnológicas de Pequim, é vastamente mais agressiva do que qualquer coisa que Trump fez, mesmo que não tenha obtido tanta atenção nos meios de comunicação.

Ainda assim, Biden é retratado com frequência como fraco e obtuso, enquanto Trump foi percebido como um “líder forte” por 90% dos republicanos no dia em que relutantemente deixou a função. Como isso é possível? O culto à personalidade de Trump pode ter sido possibilitado em parte por forças além da política.

Afinal, nós costumávamos esperar comportamentos dignos tanto de capitães da indústria quanto de políticos. Mas nestes dias, talvez porque uma cultura de celebridades infecte tudo, líderes empresariais são levados a sério até mesmo quando parecem incapazes de evitar exibições exuberantes de egoísmo e insegurança (como Elon Musk).

Também, as elites republicanas que tentam agora se distanciar de Trump passaram anos acalentando sua imagem. Até poucos dias atrás, a Fox News, maior fonte de informações sobre política para grande parte da base republicana, dava a Trump o tipo de cobertura beatificadora que se espera de um meio de imprensa estatal em uma ditadura.

E os políticos republicanos, muitos dos quais sabendo bem quem era o verdadeiro Trump desde o início, passaram anos louvando-o com terminologias que remetem a membros de Politburos elogiando o presidente do partido. Agora, essas mesmas elites querem Trump fora da jogada. Mas ainda que possam ser capazes de negar-lhe a indicação, elas provavelmente não conseguirão evitar pagar um enorme preço por sua covardia no passado. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Depois do decepcionante desempenho de seu partido nas eleições de meio de mandato, as elites republicanas parecem ter decidido que Donald Trump é seu maior problema. O império das comunicações de Rupert Murdoch tem criticado o ex-presidente. Muitos doadores e operadores estão, segundo relatos, agrupando-se em torno do governador da Flórida, Ron DeSantis.

Mas Trump não se renderá sem alarde. Trump conseguirá garantir sua indicação apesar das hesitações das elites? Se não conseguir, o homem que jamais mostrou nenhuma lealdade ao seu partido – e além disso, nenhuma lealdade a não ser a si mesmo – passará a sabotar os republicanos?

Não tenho mais informações do que qualquer outra pessoa que acompanhe as notícias. Falemos, em vez disso, a respeito do quão excepcional é alguém como Trump conseguir dominar um dos dois maiores partidos políticos dos EUA e reter uma base certamente substancial.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump fala em um comício para apoiar os candidatos republicanos antes das eleições de meio de mandato, em Ohio, EUA Foto: Gaelen Morse/Reuters - 07/11/2022

Não estou falando do fato de Trump adotar visões políticas que eu considero repreensíveis, nem a respeito dele ter empreendido várias ações, incluindo uma tentativa de reverter o resultado de uma eleição nacional, que podem ser descritas sensatamente como sediciosas. Claramente, a maior parte do Partido Republicano não vê nenhum problema nisso.

Estou falando, em vez disso, da percepção evidente de muitos republicanos de que Trump é um líder forte, quando na realidade ele é extraordinariamente fraco. Comecemos com sua personalidade – que não é meu tema favorito (fico muito mais confortável em falar de políticas), mas é algo claramente relevante quando escolhemos um comandante-chefe.

Não considero romantizar o passado afirmar que, historicamente, políticos que almejavam a presidência tinham de parecer, bem, presidenciais. Ou seja, eles tinham de transparecer seriedade e dignidade; qualquer que fosse seu comportamento a portas fechadas, em público eles tinham de aparentar maturidade e autocontrole.

Trump, contudo, chega aos 76 anos como se fosse um adolescente mimado, levado e turrão. Ele oscila, por vezes em consecutivas afirmações, entre autoelogios constrangedores (que tipo de pessoa descreve a si mesma como gênio estável?) e birras, entre grandiloquências e autocomiserações. Além das afetações pessoais, o que se sobressai a respeito do tempo de Trump na presidência é sua fraqueza, sua incapacidade em realizar qualquer coisa.

Sobre políticas domésticas, Trump concorreu em 2016 como um republicano diferente, capaz de romper com a ortodoxia do partido em relação a cortes de impostos antigoverno. Uma vez na Casa Branca, porém, ele foi argila nas mãos de Mitch McConnell. As únicas grandes iniciativas em políticas domésticas de Trump foram os esforços fracassados em repelir o Obamacare e o tema-padrão republicano de cortar impostos sobre empresas e fortunas.

O que aconteceu com suas promessas de investimentos em infraestrutura? Elas não resultaram em nada: “É a Semana da Infraestrutura!” tornou-se uma piada corrente. Sobre política externa, a Coreia do Norte de Kim Jong-un fez Trump de otário com garantias vazias a respeito de desnuclearização.

A China de Xi Jinping conseguiu o mesmo em grande medida no comércio, fazendo Trump pausar seus aumentos em tarifas em troca de uma promessa de compra de mercadorias produzidas nos EUA que se provou inteiramente vazia. Em suma, o desempenho de Trump na presidência foi fraco – especialmente se comparado com o de seu sucessor.

O presidente Joe Biden não conseguiu tudo o que pretendeu em políticas domésticas, mas aprovou uma grande legislação de infraestrutura e, na Lei de Redução da Inflação, obteve tanto um financiamento sem precedentes para combater as mudanças climáticas quanto um fortalecimento significativo na assistência médica. E a surpreendente demonstração de força dos democratas nas eleições de meio de mandato provavelmente garantirá que o sucesso dessas políticas perdurem.

‘Arsenal da democracia’

No exterior, Biden reuniu e manteve unida a coalizão em apoio à Ucrânia, que possibilitou à nação invadida resistir ao ataque da Rússia – um enorme sucesso em política externa, que evoca o papel dos EUA anterior a Pearl Harbor, como “arsenal da democracia”. E a política de Biden em relação à China, centrada em restrições a exportações projetadas para minar as ambições tecnológicas de Pequim, é vastamente mais agressiva do que qualquer coisa que Trump fez, mesmo que não tenha obtido tanta atenção nos meios de comunicação.

Ainda assim, Biden é retratado com frequência como fraco e obtuso, enquanto Trump foi percebido como um “líder forte” por 90% dos republicanos no dia em que relutantemente deixou a função. Como isso é possível? O culto à personalidade de Trump pode ter sido possibilitado em parte por forças além da política.

Afinal, nós costumávamos esperar comportamentos dignos tanto de capitães da indústria quanto de políticos. Mas nestes dias, talvez porque uma cultura de celebridades infecte tudo, líderes empresariais são levados a sério até mesmo quando parecem incapazes de evitar exibições exuberantes de egoísmo e insegurança (como Elon Musk).

Também, as elites republicanas que tentam agora se distanciar de Trump passaram anos acalentando sua imagem. Até poucos dias atrás, a Fox News, maior fonte de informações sobre política para grande parte da base republicana, dava a Trump o tipo de cobertura beatificadora que se espera de um meio de imprensa estatal em uma ditadura.

E os políticos republicanos, muitos dos quais sabendo bem quem era o verdadeiro Trump desde o início, passaram anos louvando-o com terminologias que remetem a membros de Politburos elogiando o presidente do partido. Agora, essas mesmas elites querem Trump fora da jogada. Mas ainda que possam ser capazes de negar-lhe a indicação, elas provavelmente não conseguirão evitar pagar um enorme preço por sua covardia no passado. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Depois do decepcionante desempenho de seu partido nas eleições de meio de mandato, as elites republicanas parecem ter decidido que Donald Trump é seu maior problema. O império das comunicações de Rupert Murdoch tem criticado o ex-presidente. Muitos doadores e operadores estão, segundo relatos, agrupando-se em torno do governador da Flórida, Ron DeSantis.

Mas Trump não se renderá sem alarde. Trump conseguirá garantir sua indicação apesar das hesitações das elites? Se não conseguir, o homem que jamais mostrou nenhuma lealdade ao seu partido – e além disso, nenhuma lealdade a não ser a si mesmo – passará a sabotar os republicanos?

Não tenho mais informações do que qualquer outra pessoa que acompanhe as notícias. Falemos, em vez disso, a respeito do quão excepcional é alguém como Trump conseguir dominar um dos dois maiores partidos políticos dos EUA e reter uma base certamente substancial.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump fala em um comício para apoiar os candidatos republicanos antes das eleições de meio de mandato, em Ohio, EUA Foto: Gaelen Morse/Reuters - 07/11/2022

Não estou falando do fato de Trump adotar visões políticas que eu considero repreensíveis, nem a respeito dele ter empreendido várias ações, incluindo uma tentativa de reverter o resultado de uma eleição nacional, que podem ser descritas sensatamente como sediciosas. Claramente, a maior parte do Partido Republicano não vê nenhum problema nisso.

Estou falando, em vez disso, da percepção evidente de muitos republicanos de que Trump é um líder forte, quando na realidade ele é extraordinariamente fraco. Comecemos com sua personalidade – que não é meu tema favorito (fico muito mais confortável em falar de políticas), mas é algo claramente relevante quando escolhemos um comandante-chefe.

Não considero romantizar o passado afirmar que, historicamente, políticos que almejavam a presidência tinham de parecer, bem, presidenciais. Ou seja, eles tinham de transparecer seriedade e dignidade; qualquer que fosse seu comportamento a portas fechadas, em público eles tinham de aparentar maturidade e autocontrole.

Trump, contudo, chega aos 76 anos como se fosse um adolescente mimado, levado e turrão. Ele oscila, por vezes em consecutivas afirmações, entre autoelogios constrangedores (que tipo de pessoa descreve a si mesma como gênio estável?) e birras, entre grandiloquências e autocomiserações. Além das afetações pessoais, o que se sobressai a respeito do tempo de Trump na presidência é sua fraqueza, sua incapacidade em realizar qualquer coisa.

Sobre políticas domésticas, Trump concorreu em 2016 como um republicano diferente, capaz de romper com a ortodoxia do partido em relação a cortes de impostos antigoverno. Uma vez na Casa Branca, porém, ele foi argila nas mãos de Mitch McConnell. As únicas grandes iniciativas em políticas domésticas de Trump foram os esforços fracassados em repelir o Obamacare e o tema-padrão republicano de cortar impostos sobre empresas e fortunas.

O que aconteceu com suas promessas de investimentos em infraestrutura? Elas não resultaram em nada: “É a Semana da Infraestrutura!” tornou-se uma piada corrente. Sobre política externa, a Coreia do Norte de Kim Jong-un fez Trump de otário com garantias vazias a respeito de desnuclearização.

A China de Xi Jinping conseguiu o mesmo em grande medida no comércio, fazendo Trump pausar seus aumentos em tarifas em troca de uma promessa de compra de mercadorias produzidas nos EUA que se provou inteiramente vazia. Em suma, o desempenho de Trump na presidência foi fraco – especialmente se comparado com o de seu sucessor.

O presidente Joe Biden não conseguiu tudo o que pretendeu em políticas domésticas, mas aprovou uma grande legislação de infraestrutura e, na Lei de Redução da Inflação, obteve tanto um financiamento sem precedentes para combater as mudanças climáticas quanto um fortalecimento significativo na assistência médica. E a surpreendente demonstração de força dos democratas nas eleições de meio de mandato provavelmente garantirá que o sucesso dessas políticas perdurem.

‘Arsenal da democracia’

No exterior, Biden reuniu e manteve unida a coalizão em apoio à Ucrânia, que possibilitou à nação invadida resistir ao ataque da Rússia – um enorme sucesso em política externa, que evoca o papel dos EUA anterior a Pearl Harbor, como “arsenal da democracia”. E a política de Biden em relação à China, centrada em restrições a exportações projetadas para minar as ambições tecnológicas de Pequim, é vastamente mais agressiva do que qualquer coisa que Trump fez, mesmo que não tenha obtido tanta atenção nos meios de comunicação.

Ainda assim, Biden é retratado com frequência como fraco e obtuso, enquanto Trump foi percebido como um “líder forte” por 90% dos republicanos no dia em que relutantemente deixou a função. Como isso é possível? O culto à personalidade de Trump pode ter sido possibilitado em parte por forças além da política.

Afinal, nós costumávamos esperar comportamentos dignos tanto de capitães da indústria quanto de políticos. Mas nestes dias, talvez porque uma cultura de celebridades infecte tudo, líderes empresariais são levados a sério até mesmo quando parecem incapazes de evitar exibições exuberantes de egoísmo e insegurança (como Elon Musk).

Também, as elites republicanas que tentam agora se distanciar de Trump passaram anos acalentando sua imagem. Até poucos dias atrás, a Fox News, maior fonte de informações sobre política para grande parte da base republicana, dava a Trump o tipo de cobertura beatificadora que se espera de um meio de imprensa estatal em uma ditadura.

E os políticos republicanos, muitos dos quais sabendo bem quem era o verdadeiro Trump desde o início, passaram anos louvando-o com terminologias que remetem a membros de Politburos elogiando o presidente do partido. Agora, essas mesmas elites querem Trump fora da jogada. Mas ainda que possam ser capazes de negar-lhe a indicação, elas provavelmente não conseguirão evitar pagar um enorme preço por sua covardia no passado. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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