WASHINGTON - O ex-diretor do FBI, James Comey, acha possível que os russos tenham informações compremetedoras sobre o presidente Donald Trump. O comentário foi emitido durante uma entrevista à ABC News no último domingo, 15. No mesmo programa, Comey revelou julga Trump "moralmente inadequado" para ocupar o cargo e que suas ações incluem "algumas evidências de obstrução de justiça".
A assessora de Trump na Casa Branca, Kellyane Conway, criticou o ex-diretor nesta segunda-feira, 16, o acusou de vender uma "versão revisionista da história" e de estar afundando na "sarjeta" com comentários sobre o tamanho das mãos de Trump ou o comprimento de sua gravata. "Ele parecia um pouco trêmulo", disse Conway durante entrevista no programa Good Morning, America, também da ABC. Horas antes de a entrevista com James Comey ser exibida, o presidente, que o demitiu ano passado, publicou tuítes no quais o chamou de "escorregadio", sugeriu que ele deveria ser colocado na cadeia e ficar marcado como "de longe, o pior diretor do FBI na história".
Livro
Os comentários de Comey na televisão, juntamente de seu livro, que será lançado em breve, oferecem sua versão dos eventos que cercaram sua demissão do FBI, a investigação sobre a interferência russa nas eleições e o uso dos e-mails de Hillary Clinton. Ele descreve vários dos episódios com detalhes, incluindo uma conversa particular com o ex-conselheiro de segurança nacional Michael Flynn - todos estes são fatos centrais na investigação do procurador especial Robert Mueller, e as memórias do ex-diretor são importantes para procuradores do caso.
O ex-diretor do FBI, que até sua demissão em maio do ano passado liderou uma investigação sobre possíveis conexões entre Rússia e a campanha de Trump, reconheceu que era "impressionante" pensar que os russos tivessem informações prejudiciais sobre um presidente americano. Mas ele disse que, no caso de Trump, ele não poderia descartar a possibilidade de que o presidente fora comprometido. "Essas são palavras do que eu jamais pensei em dizer sobre um presidente dos Estados Unidos, mas é possível", disse Comey ao âncora chefe da ABC, George Stephanopoulos. Ele também reconheceu que não tem provas de que a Rússia tivesse sujeira sobre Trump. "Eu acho que é possível", disse.
Para Comey, também é "possível" que o presidente tentou obstruir a justiça quando pediu a todos os funcionários que saíssem Salão Oval, antes de ficar sozinho com o ex-diretor e encorajá-lo a finalizar a investigação sobre Flynn, que à época era suspeito de mentir ao FBI sobre seus contatos com os russos.O general aposentado se declarou culpado e agora coopera com a investigação de Mueller.
Comey ainda acredita que Trump é "moralmente inadequado" para ser presidente. "Uma pessoa que enxerga equivalência moral em Charlottesville, que fala sobre e trata mulheres como se fossem pedaços de carne, que constantemente mente sobre sobre questões grandes ou pequenas e insiste para que o povo americano acredite nelas - essa pessoa não é adequada para ser presidente dos Estados Unidos, em bases morais", afirmou.
Reação
No domingo, 15, Trump rejeitou tinha solicitado a lealdade de Comey em janeiro de 2017, durante um jantar. O presidente afirmou que "Eu mal conhecia esse cara. Essa é mais uma de suas muitas mentiras". Ele ainda sugeriu que o ex-diretor deveria ser preso. "Por que ele forneceu informação classificada (prisão), por que ele mentiu ao congresso (prisão)". Não há indicações de que Comey esteja sob investigação por nenhuma das duas ações.
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Questionada se o presidente quer que o ex-agente seja investigado pelo Departamento de Justiça, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, disse domingo, no programa This Week, da ABC, que não está ciente deste pedido em particular, mas ressaltou que "se eles [Departamento de Justiça] sentem que houve qualquer delito, eles certamente deveriam investigar isso, da mesma maneira que fazem sobre diversas questões".
Eleição
Os ataques do presidente a Comey começaram antes que a entrevista fosse ao ar. Ele conseguiu um trecho do programa no sábado, durante o qual Comey diz que acredita que Clinton derrotaria Trump na eleição de 2016 e que isso provavelmente foi um fator considerado na sua decisão de divulgar a investigação sobre seus e-mails. Segundo o tuíte de Trump, Comey "estava tomando decisões com base no fato de que ele achava que ela ganharia, e ele queria um emprego. Escorregadio!". Tal argumento é surpreendente vindo de Trump, considerando que o gerenciamento da investigação sobre os e-mails e a divulgação de sua reabertura pouco antes da eleição enfureceu o Partido Democrata. Após a perda de Clinton, muitos democratas culparam Comey, e Hillary já afirmou que suas chances na eleição foram prejudicadas pelo ex-diretor.
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Comey novamente defendeu suas decisões, dizendo na ABC que escolheu o que achou ser melhor à época. Ele revelou que não se lembra de "conscientemente pensar" sobre os resultados da eleição quando decidiu divulgar que o FBI reabrira a investigação sobre os e-mails de Hillary, mas reconheceu que estava "operando em um mundo onde Hillary Clinton iria derrotar Donald Trump, então eu estava certo disso". O ex-diretor acrescentou que pensava que não poderia esconder a investigação do povo americano, porque Clinton se tornaria "ilegítima no momento em que ocupasse o cargo, assim que a investigação fosse publicada".
Impeachment
Questionado se acredita que Trump deveria sofrer impeachment, Comey respondeu que "Espero que não, porque acho que impichar e remover Donald Trump do cargo livraria o povo americano, que veriam o acontencimento indiretament, e eu acredito que têm o dever de fazer isso diretamente. As pessoas deste país precisam se levantar e ir às cabines de votação para votar em seus valores". No entanto, ele adicionou que "Mas você não pode ter, como presidente dos Estados Unidos, alguém que não reflita os valores que eu acredito que Republicanos e Democratas valorizam. Esse é núcleo deste país, é a nossa fundação. E assim, o impeachment, de certa maneira, causaria um curto-circuito nisso". / AP