Trump, o mentiroso, e sua trupe de perdedores; leia a coluna de Thomas Friedman


Você ouviu Trump ou seus lacaios alegando que essas eleições de meio de mandato foram roubadas de seus candidatos escolhidos a dedo?

Por Thomas Friedman

Fiquei um pouco emocionado ao ir votar este ano.

Primeiro, fui votar na escola errada, onde um funcionário da seção eleitoral buscou cuidadosamente o meu nome e me explicou que eu estava registrado na escola de ensino fundamental de Bethesda, em outro endereço na mesma rua. Quando cheguei lá, uma equipe de voluntários — vizinhos meus, de ávidos jovens de 20 e poucos anos a aposentados grisalhos — explicava pacientemente a maneira correta de marcar a cédula de papel. Quando meu celular tocou, de repente, eles quase me estrangularam: “Desligue isso!!!”.

Era o melhor dos Estados Unidos — essas pessoas, esse processo realizado com integridade e solenidade. Que privilégio poder votar dessa maneira.

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E que absurdo terem sido essas mesmas pessoas e esse mesmo processo que Donald Trump difamou e minou, conseguindo reunir a maioria de seu partido em torno de sua afirmação enormemente fraudulenta de que a eleição de 2020 lhe foi roubada.

Mas espere um momento — onde estava Trump na semana passada?

Partidários de Trump em evento em Mar-a-Lago: ex-presidente planeja disputar nova eleição Foto: REUTERS/Jonathan Ernst
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Você ouviu ele ou seus lacaios alegando que essas eleições de meio de mandato foram roubadas de seus candidatos escolhidos a dedo? Além de algumas afirmações sem base de Trump aqui ou ali, incluindo de que a fracassada candidata a governadora do Arizona, Kari Lake (uma imitadora abobalhada de Trump), estava sendo roubada, não houve muita coisa. Trump, em vez disso, gastou a maior parte da sua energia difamando alguns dos candidatos que apoiou e culpando sua mulher e outros indivíduos por persuadi-lo a endossar a bizarra coleção de bajuladores negacionistas eleitorais que se tornou o Team Trump nessa eleição e perdeu quase todas as principais disputas.

O fato de Trump não estar hoje abrindo processos judiciais em nome de cada um deles para tentar comprovar fraudes eleitorais diz muito. Trata-se de Trump dizendo a todos eles:

“Desculpem, mas essa mentira a respeito de eleições roubadas vale só para mim. Só há espaço para um mártir neste partido. Vocês não podem usar a minha mentira em suas eleições estaduais. Eu só apoiei pessoas ambiciosas e sem princípios — como vocês: JD Vance, Mehmet Oz, Doug Mastriano e Adam Laxalt — para amplificar a minha própria mentira, para provar que eu não sou um perdedor. Eu não posso ser visto como um perdedor. Mas se vocês são perdedores, a culpa é sua.”

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Você ouviu Trump ou seus lacaios alegando que essas eleições de meio de mandato foram roubadas de seus candidatos escolhidos a dedo?

Isso também explica por que a maioria dos negacionistas eleitorais que perdeu, como Oz, simplesmente aceitou a derrota e não denunciou fraude. Por que você não está tumultuando, Mehmet? Ei, JD, por que você não está dizendo que seus colegas republicanos perderam em razão das eleições que eles disputaram terem sido “fraudadas”, como você afirmou por Trump? E você, Doug? Lembre-se do que disse no domingo quando reconheceu a derrota para a disputa pelo governo da Pensilvânia: “Por mais difíceis de aceitar que sejam os resultados, não há outro caminho correto a não ser reconhecer a derrota, que reconheço.”

O quê? Por que esse é o caminho correto hoje, mas não foi para Trump dois anos atrás?

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Porque, para começar, nenhum de vocês jamais acreditou na mentira de Trump, então vocês não ousaram acioná-la em suas próprias eleições!

Vocês apenas alugaram a mentira de Trump acreditando que ela fosse o passaporte da alegria, o atalho para a vitória. Vocês pensaram que poderiam ecoar a mentira de Trump, se eleger com os votos dos apoiadores dele e depois simplesmente não falar mais sobre isso. E agora que a maioria de vocês não conseguiu se eleger com base no negacionismo eleitoral, vocês querem que nós nos esqueçamos de como vocês tentaram vergonhosamente explorar essa mentira para chegar ao poder, enquanto ficam quietinhos e se distanciam dela.

Não, não; mil vezes não.

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Nós nunca devemos esquecer o estrago que Donald Trump e seus cínicos imitadores, seguidores devotos e arautos nos meios de comunicação fizeram com a reputação da nossa democracia, contra a reverência por suas instituições e a unidade da nossa sociedade ao proferir a Grande Mentira. Em si isso já é uma distorção vergonhosa — mas fazer isso em meio a uma pandemia enormemente estressante, quando precisávamos mais que nunca confiar um no outro, cuidar um do outro e trabalhar juntamente com o nosso governo para combater a covid, foi um crime.

Acho que não compreendemos completamente o estrago que isso causou na tessitura da nossa sociedade e no nosso sistema político. Isso estraçalhou famílias e jantares de Ação de Graças; desfez amizades antigas; dividiu vizinhanças, legislaturas municipais, assembleias estaduais, associações de pais e professores, diretorias de empresas e redações da imprensa. E distraiu nosso país inteiro do trabalho doméstico de construção de uma nação, tornando quase impossível algum consenso a respeito de qualquer realização conjunta grande e difícil.

Nós nunca devemos esquecer o estrago que Donald Trump e seus cínicos imitadores, seguidores devotos e arautos nos meios de comunicação fizeram com a reputação da nossa democracia

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Isso não apenas maculou a reputação da nossa democracia, mas também motivou a multidão que invadiu o Capitólio do nosso país em 6 de janeiro de 2021 — com o objetivo expresso de reverter o resultado da eleição. Cinco policiais metropolitanos ou do Capitólio morreram em decorrência desse ataque. Muitos dos arruaceiros deixaram claro depois que foram motivados pela Grande Mentira. O extremista que atacou Paul Pelosi, o marido da presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, dentro de sua casa, foi banhado em teorias conspiratórias eleitorais.

Isso deu poder a autocratas, como o russo Vladimir Putin e o chinês Xi Jinping, e também a falsos democratas, como o húngaro Viktor Orbán, para sair por aí gabando-se de que seus próprios povos jamais terão de se preocupar com o “caos” provocado pela democracia e as eleições.

Trump, o Grande Mentiroso, e todos os pequenos mentirosos que surfaram em seu embuste por diversão e dinheiro — particularmente Rupert e Lachlan Murdoch, Tucker Carlson, Sean Hannity e virtualmente toda a equipe da Fox — impingiram um dano incalculável ao nosso país. Todos vocês devem se envergonhar disso.

E Trump agora tem o descaramento, a rançosa cara de pau, de se erguer em meio a essa fogueira de mentiras, ódio e relações partidas que ele próprio incendiou e declarar que vai concorrer à presidência novamente?

E agora a equipe de Murdoch, depois de endossar essa alegação de fraude por dois anos, tem a pachorra de dizer, “Bem, talvez devemos seguir com Ron DeSantis” — sem nenhum tipo de responsabilização pelo que possibilitou? Não, desculpem-me. A história não será gentil com vocês.

Trump anuncia nova candidatura à presidência: candidatos do presidente foram mal na eleição de meio de mandato Foto: Joe Raedle/Getty Images/AFP

Conforme David Axelrod, ex-conselheiro do ex-presidente Barack Obama, definiu no site CNN.com a respeito de Trump ter sido abandonado por alguns políticos republicanos agora que se tornou um perdedor: assistir o “êxodo de seu campo, liderado por Rupert Murdoch e seu império direitista das comunicações, é algo para recordar. Para eles, violações contra a democracia e a decência podem ser toleradas — um perdedor, não”.

É por isso que, pela primeira vez em muito tempo, me sinto agora novamente esperançoso em relação ao sistema político americano. Desde que Trump emergiu daquela escada rolante, em 2015, o establishment do Partido Republicano tentou ter tudo: colher os votos da base de Trump e desviar o olhar de seus comportamentos vergonhosos, até mesmo de seu vilipêndio ao nosso sistema eleitoral. Trump jamais seria considerado baixo demais porque eles estavam viciados nos votos de sua base.

Bem, a maioria dos americanos acaba de estabelecer um patamar. Ou, conforme noticiou Nick Corasaniti, do Times: “Todo negacionista de eleição que buscou se tornar autoridade máxima eleitoral em algum Estado crítico na batalha política perdeu nas urnas este ano, os eleitores rejeitaram redondamente políticos extremistas que prometiam restringir a votação e revisar o processo eleitoral”.

É certo que a maioria dos devotos de Trump ainda endossa sua mentira, porque abandoná-la abertamente diante de suas famílias, amigos ou colegas de trabalho é embaraçoso demais. Mas o establishment republicano terá de escolher: continuar perdendo com Trump ou votar para ele deixar o reality show, favorecendo DeSantis. Bem-vindo ao “Survivor: Florida”.

A melhor parte é que esse acerto de contas foi obra não dos líderes republicanos — eles não passam de covardes — mas das pessoas mais importantes e discretamente corajosas nessa eleição. Foi obra dos americanos comuns: republicanos, democratas e independentes com princípios, jovens e velhos, votando contra a Grande Mentira e seus perpetradores em suas seções eleitorais locais, iguais à minha; e dos nossos vizinhos e concidadãos com princípios que contaram os votos cuidadosamente, com justiça e honestidade, da maneira que sempre fizeram — incluindo em 2020. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Fiquei um pouco emocionado ao ir votar este ano.

Primeiro, fui votar na escola errada, onde um funcionário da seção eleitoral buscou cuidadosamente o meu nome e me explicou que eu estava registrado na escola de ensino fundamental de Bethesda, em outro endereço na mesma rua. Quando cheguei lá, uma equipe de voluntários — vizinhos meus, de ávidos jovens de 20 e poucos anos a aposentados grisalhos — explicava pacientemente a maneira correta de marcar a cédula de papel. Quando meu celular tocou, de repente, eles quase me estrangularam: “Desligue isso!!!”.

Era o melhor dos Estados Unidos — essas pessoas, esse processo realizado com integridade e solenidade. Que privilégio poder votar dessa maneira.

E que absurdo terem sido essas mesmas pessoas e esse mesmo processo que Donald Trump difamou e minou, conseguindo reunir a maioria de seu partido em torno de sua afirmação enormemente fraudulenta de que a eleição de 2020 lhe foi roubada.

Mas espere um momento — onde estava Trump na semana passada?

Partidários de Trump em evento em Mar-a-Lago: ex-presidente planeja disputar nova eleição Foto: REUTERS/Jonathan Ernst

Você ouviu ele ou seus lacaios alegando que essas eleições de meio de mandato foram roubadas de seus candidatos escolhidos a dedo? Além de algumas afirmações sem base de Trump aqui ou ali, incluindo de que a fracassada candidata a governadora do Arizona, Kari Lake (uma imitadora abobalhada de Trump), estava sendo roubada, não houve muita coisa. Trump, em vez disso, gastou a maior parte da sua energia difamando alguns dos candidatos que apoiou e culpando sua mulher e outros indivíduos por persuadi-lo a endossar a bizarra coleção de bajuladores negacionistas eleitorais que se tornou o Team Trump nessa eleição e perdeu quase todas as principais disputas.

O fato de Trump não estar hoje abrindo processos judiciais em nome de cada um deles para tentar comprovar fraudes eleitorais diz muito. Trata-se de Trump dizendo a todos eles:

“Desculpem, mas essa mentira a respeito de eleições roubadas vale só para mim. Só há espaço para um mártir neste partido. Vocês não podem usar a minha mentira em suas eleições estaduais. Eu só apoiei pessoas ambiciosas e sem princípios — como vocês: JD Vance, Mehmet Oz, Doug Mastriano e Adam Laxalt — para amplificar a minha própria mentira, para provar que eu não sou um perdedor. Eu não posso ser visto como um perdedor. Mas se vocês são perdedores, a culpa é sua.”

Você ouviu Trump ou seus lacaios alegando que essas eleições de meio de mandato foram roubadas de seus candidatos escolhidos a dedo?

Isso também explica por que a maioria dos negacionistas eleitorais que perdeu, como Oz, simplesmente aceitou a derrota e não denunciou fraude. Por que você não está tumultuando, Mehmet? Ei, JD, por que você não está dizendo que seus colegas republicanos perderam em razão das eleições que eles disputaram terem sido “fraudadas”, como você afirmou por Trump? E você, Doug? Lembre-se do que disse no domingo quando reconheceu a derrota para a disputa pelo governo da Pensilvânia: “Por mais difíceis de aceitar que sejam os resultados, não há outro caminho correto a não ser reconhecer a derrota, que reconheço.”

O quê? Por que esse é o caminho correto hoje, mas não foi para Trump dois anos atrás?

Porque, para começar, nenhum de vocês jamais acreditou na mentira de Trump, então vocês não ousaram acioná-la em suas próprias eleições!

Vocês apenas alugaram a mentira de Trump acreditando que ela fosse o passaporte da alegria, o atalho para a vitória. Vocês pensaram que poderiam ecoar a mentira de Trump, se eleger com os votos dos apoiadores dele e depois simplesmente não falar mais sobre isso. E agora que a maioria de vocês não conseguiu se eleger com base no negacionismo eleitoral, vocês querem que nós nos esqueçamos de como vocês tentaram vergonhosamente explorar essa mentira para chegar ao poder, enquanto ficam quietinhos e se distanciam dela.

Não, não; mil vezes não.

Nós nunca devemos esquecer o estrago que Donald Trump e seus cínicos imitadores, seguidores devotos e arautos nos meios de comunicação fizeram com a reputação da nossa democracia, contra a reverência por suas instituições e a unidade da nossa sociedade ao proferir a Grande Mentira. Em si isso já é uma distorção vergonhosa — mas fazer isso em meio a uma pandemia enormemente estressante, quando precisávamos mais que nunca confiar um no outro, cuidar um do outro e trabalhar juntamente com o nosso governo para combater a covid, foi um crime.

Acho que não compreendemos completamente o estrago que isso causou na tessitura da nossa sociedade e no nosso sistema político. Isso estraçalhou famílias e jantares de Ação de Graças; desfez amizades antigas; dividiu vizinhanças, legislaturas municipais, assembleias estaduais, associações de pais e professores, diretorias de empresas e redações da imprensa. E distraiu nosso país inteiro do trabalho doméstico de construção de uma nação, tornando quase impossível algum consenso a respeito de qualquer realização conjunta grande e difícil.

Nós nunca devemos esquecer o estrago que Donald Trump e seus cínicos imitadores, seguidores devotos e arautos nos meios de comunicação fizeram com a reputação da nossa democracia

Isso não apenas maculou a reputação da nossa democracia, mas também motivou a multidão que invadiu o Capitólio do nosso país em 6 de janeiro de 2021 — com o objetivo expresso de reverter o resultado da eleição. Cinco policiais metropolitanos ou do Capitólio morreram em decorrência desse ataque. Muitos dos arruaceiros deixaram claro depois que foram motivados pela Grande Mentira. O extremista que atacou Paul Pelosi, o marido da presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, dentro de sua casa, foi banhado em teorias conspiratórias eleitorais.

Isso deu poder a autocratas, como o russo Vladimir Putin e o chinês Xi Jinping, e também a falsos democratas, como o húngaro Viktor Orbán, para sair por aí gabando-se de que seus próprios povos jamais terão de se preocupar com o “caos” provocado pela democracia e as eleições.

Trump, o Grande Mentiroso, e todos os pequenos mentirosos que surfaram em seu embuste por diversão e dinheiro — particularmente Rupert e Lachlan Murdoch, Tucker Carlson, Sean Hannity e virtualmente toda a equipe da Fox — impingiram um dano incalculável ao nosso país. Todos vocês devem se envergonhar disso.

E Trump agora tem o descaramento, a rançosa cara de pau, de se erguer em meio a essa fogueira de mentiras, ódio e relações partidas que ele próprio incendiou e declarar que vai concorrer à presidência novamente?

E agora a equipe de Murdoch, depois de endossar essa alegação de fraude por dois anos, tem a pachorra de dizer, “Bem, talvez devemos seguir com Ron DeSantis” — sem nenhum tipo de responsabilização pelo que possibilitou? Não, desculpem-me. A história não será gentil com vocês.

Trump anuncia nova candidatura à presidência: candidatos do presidente foram mal na eleição de meio de mandato Foto: Joe Raedle/Getty Images/AFP

Conforme David Axelrod, ex-conselheiro do ex-presidente Barack Obama, definiu no site CNN.com a respeito de Trump ter sido abandonado por alguns políticos republicanos agora que se tornou um perdedor: assistir o “êxodo de seu campo, liderado por Rupert Murdoch e seu império direitista das comunicações, é algo para recordar. Para eles, violações contra a democracia e a decência podem ser toleradas — um perdedor, não”.

É por isso que, pela primeira vez em muito tempo, me sinto agora novamente esperançoso em relação ao sistema político americano. Desde que Trump emergiu daquela escada rolante, em 2015, o establishment do Partido Republicano tentou ter tudo: colher os votos da base de Trump e desviar o olhar de seus comportamentos vergonhosos, até mesmo de seu vilipêndio ao nosso sistema eleitoral. Trump jamais seria considerado baixo demais porque eles estavam viciados nos votos de sua base.

Bem, a maioria dos americanos acaba de estabelecer um patamar. Ou, conforme noticiou Nick Corasaniti, do Times: “Todo negacionista de eleição que buscou se tornar autoridade máxima eleitoral em algum Estado crítico na batalha política perdeu nas urnas este ano, os eleitores rejeitaram redondamente políticos extremistas que prometiam restringir a votação e revisar o processo eleitoral”.

É certo que a maioria dos devotos de Trump ainda endossa sua mentira, porque abandoná-la abertamente diante de suas famílias, amigos ou colegas de trabalho é embaraçoso demais. Mas o establishment republicano terá de escolher: continuar perdendo com Trump ou votar para ele deixar o reality show, favorecendo DeSantis. Bem-vindo ao “Survivor: Florida”.

A melhor parte é que esse acerto de contas foi obra não dos líderes republicanos — eles não passam de covardes — mas das pessoas mais importantes e discretamente corajosas nessa eleição. Foi obra dos americanos comuns: republicanos, democratas e independentes com princípios, jovens e velhos, votando contra a Grande Mentira e seus perpetradores em suas seções eleitorais locais, iguais à minha; e dos nossos vizinhos e concidadãos com princípios que contaram os votos cuidadosamente, com justiça e honestidade, da maneira que sempre fizeram — incluindo em 2020. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Fiquei um pouco emocionado ao ir votar este ano.

Primeiro, fui votar na escola errada, onde um funcionário da seção eleitoral buscou cuidadosamente o meu nome e me explicou que eu estava registrado na escola de ensino fundamental de Bethesda, em outro endereço na mesma rua. Quando cheguei lá, uma equipe de voluntários — vizinhos meus, de ávidos jovens de 20 e poucos anos a aposentados grisalhos — explicava pacientemente a maneira correta de marcar a cédula de papel. Quando meu celular tocou, de repente, eles quase me estrangularam: “Desligue isso!!!”.

Era o melhor dos Estados Unidos — essas pessoas, esse processo realizado com integridade e solenidade. Que privilégio poder votar dessa maneira.

E que absurdo terem sido essas mesmas pessoas e esse mesmo processo que Donald Trump difamou e minou, conseguindo reunir a maioria de seu partido em torno de sua afirmação enormemente fraudulenta de que a eleição de 2020 lhe foi roubada.

Mas espere um momento — onde estava Trump na semana passada?

Partidários de Trump em evento em Mar-a-Lago: ex-presidente planeja disputar nova eleição Foto: REUTERS/Jonathan Ernst

Você ouviu ele ou seus lacaios alegando que essas eleições de meio de mandato foram roubadas de seus candidatos escolhidos a dedo? Além de algumas afirmações sem base de Trump aqui ou ali, incluindo de que a fracassada candidata a governadora do Arizona, Kari Lake (uma imitadora abobalhada de Trump), estava sendo roubada, não houve muita coisa. Trump, em vez disso, gastou a maior parte da sua energia difamando alguns dos candidatos que apoiou e culpando sua mulher e outros indivíduos por persuadi-lo a endossar a bizarra coleção de bajuladores negacionistas eleitorais que se tornou o Team Trump nessa eleição e perdeu quase todas as principais disputas.

O fato de Trump não estar hoje abrindo processos judiciais em nome de cada um deles para tentar comprovar fraudes eleitorais diz muito. Trata-se de Trump dizendo a todos eles:

“Desculpem, mas essa mentira a respeito de eleições roubadas vale só para mim. Só há espaço para um mártir neste partido. Vocês não podem usar a minha mentira em suas eleições estaduais. Eu só apoiei pessoas ambiciosas e sem princípios — como vocês: JD Vance, Mehmet Oz, Doug Mastriano e Adam Laxalt — para amplificar a minha própria mentira, para provar que eu não sou um perdedor. Eu não posso ser visto como um perdedor. Mas se vocês são perdedores, a culpa é sua.”

Você ouviu Trump ou seus lacaios alegando que essas eleições de meio de mandato foram roubadas de seus candidatos escolhidos a dedo?

Isso também explica por que a maioria dos negacionistas eleitorais que perdeu, como Oz, simplesmente aceitou a derrota e não denunciou fraude. Por que você não está tumultuando, Mehmet? Ei, JD, por que você não está dizendo que seus colegas republicanos perderam em razão das eleições que eles disputaram terem sido “fraudadas”, como você afirmou por Trump? E você, Doug? Lembre-se do que disse no domingo quando reconheceu a derrota para a disputa pelo governo da Pensilvânia: “Por mais difíceis de aceitar que sejam os resultados, não há outro caminho correto a não ser reconhecer a derrota, que reconheço.”

O quê? Por que esse é o caminho correto hoje, mas não foi para Trump dois anos atrás?

Porque, para começar, nenhum de vocês jamais acreditou na mentira de Trump, então vocês não ousaram acioná-la em suas próprias eleições!

Vocês apenas alugaram a mentira de Trump acreditando que ela fosse o passaporte da alegria, o atalho para a vitória. Vocês pensaram que poderiam ecoar a mentira de Trump, se eleger com os votos dos apoiadores dele e depois simplesmente não falar mais sobre isso. E agora que a maioria de vocês não conseguiu se eleger com base no negacionismo eleitoral, vocês querem que nós nos esqueçamos de como vocês tentaram vergonhosamente explorar essa mentira para chegar ao poder, enquanto ficam quietinhos e se distanciam dela.

Não, não; mil vezes não.

Nós nunca devemos esquecer o estrago que Donald Trump e seus cínicos imitadores, seguidores devotos e arautos nos meios de comunicação fizeram com a reputação da nossa democracia, contra a reverência por suas instituições e a unidade da nossa sociedade ao proferir a Grande Mentira. Em si isso já é uma distorção vergonhosa — mas fazer isso em meio a uma pandemia enormemente estressante, quando precisávamos mais que nunca confiar um no outro, cuidar um do outro e trabalhar juntamente com o nosso governo para combater a covid, foi um crime.

Acho que não compreendemos completamente o estrago que isso causou na tessitura da nossa sociedade e no nosso sistema político. Isso estraçalhou famílias e jantares de Ação de Graças; desfez amizades antigas; dividiu vizinhanças, legislaturas municipais, assembleias estaduais, associações de pais e professores, diretorias de empresas e redações da imprensa. E distraiu nosso país inteiro do trabalho doméstico de construção de uma nação, tornando quase impossível algum consenso a respeito de qualquer realização conjunta grande e difícil.

Nós nunca devemos esquecer o estrago que Donald Trump e seus cínicos imitadores, seguidores devotos e arautos nos meios de comunicação fizeram com a reputação da nossa democracia

Isso não apenas maculou a reputação da nossa democracia, mas também motivou a multidão que invadiu o Capitólio do nosso país em 6 de janeiro de 2021 — com o objetivo expresso de reverter o resultado da eleição. Cinco policiais metropolitanos ou do Capitólio morreram em decorrência desse ataque. Muitos dos arruaceiros deixaram claro depois que foram motivados pela Grande Mentira. O extremista que atacou Paul Pelosi, o marido da presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, dentro de sua casa, foi banhado em teorias conspiratórias eleitorais.

Isso deu poder a autocratas, como o russo Vladimir Putin e o chinês Xi Jinping, e também a falsos democratas, como o húngaro Viktor Orbán, para sair por aí gabando-se de que seus próprios povos jamais terão de se preocupar com o “caos” provocado pela democracia e as eleições.

Trump, o Grande Mentiroso, e todos os pequenos mentirosos que surfaram em seu embuste por diversão e dinheiro — particularmente Rupert e Lachlan Murdoch, Tucker Carlson, Sean Hannity e virtualmente toda a equipe da Fox — impingiram um dano incalculável ao nosso país. Todos vocês devem se envergonhar disso.

E Trump agora tem o descaramento, a rançosa cara de pau, de se erguer em meio a essa fogueira de mentiras, ódio e relações partidas que ele próprio incendiou e declarar que vai concorrer à presidência novamente?

E agora a equipe de Murdoch, depois de endossar essa alegação de fraude por dois anos, tem a pachorra de dizer, “Bem, talvez devemos seguir com Ron DeSantis” — sem nenhum tipo de responsabilização pelo que possibilitou? Não, desculpem-me. A história não será gentil com vocês.

Trump anuncia nova candidatura à presidência: candidatos do presidente foram mal na eleição de meio de mandato Foto: Joe Raedle/Getty Images/AFP

Conforme David Axelrod, ex-conselheiro do ex-presidente Barack Obama, definiu no site CNN.com a respeito de Trump ter sido abandonado por alguns políticos republicanos agora que se tornou um perdedor: assistir o “êxodo de seu campo, liderado por Rupert Murdoch e seu império direitista das comunicações, é algo para recordar. Para eles, violações contra a democracia e a decência podem ser toleradas — um perdedor, não”.

É por isso que, pela primeira vez em muito tempo, me sinto agora novamente esperançoso em relação ao sistema político americano. Desde que Trump emergiu daquela escada rolante, em 2015, o establishment do Partido Republicano tentou ter tudo: colher os votos da base de Trump e desviar o olhar de seus comportamentos vergonhosos, até mesmo de seu vilipêndio ao nosso sistema eleitoral. Trump jamais seria considerado baixo demais porque eles estavam viciados nos votos de sua base.

Bem, a maioria dos americanos acaba de estabelecer um patamar. Ou, conforme noticiou Nick Corasaniti, do Times: “Todo negacionista de eleição que buscou se tornar autoridade máxima eleitoral em algum Estado crítico na batalha política perdeu nas urnas este ano, os eleitores rejeitaram redondamente políticos extremistas que prometiam restringir a votação e revisar o processo eleitoral”.

É certo que a maioria dos devotos de Trump ainda endossa sua mentira, porque abandoná-la abertamente diante de suas famílias, amigos ou colegas de trabalho é embaraçoso demais. Mas o establishment republicano terá de escolher: continuar perdendo com Trump ou votar para ele deixar o reality show, favorecendo DeSantis. Bem-vindo ao “Survivor: Florida”.

A melhor parte é que esse acerto de contas foi obra não dos líderes republicanos — eles não passam de covardes — mas das pessoas mais importantes e discretamente corajosas nessa eleição. Foi obra dos americanos comuns: republicanos, democratas e independentes com princípios, jovens e velhos, votando contra a Grande Mentira e seus perpetradores em suas seções eleitorais locais, iguais à minha; e dos nossos vizinhos e concidadãos com princípios que contaram os votos cuidadosamente, com justiça e honestidade, da maneira que sempre fizeram — incluindo em 2020. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Fiquei um pouco emocionado ao ir votar este ano.

Primeiro, fui votar na escola errada, onde um funcionário da seção eleitoral buscou cuidadosamente o meu nome e me explicou que eu estava registrado na escola de ensino fundamental de Bethesda, em outro endereço na mesma rua. Quando cheguei lá, uma equipe de voluntários — vizinhos meus, de ávidos jovens de 20 e poucos anos a aposentados grisalhos — explicava pacientemente a maneira correta de marcar a cédula de papel. Quando meu celular tocou, de repente, eles quase me estrangularam: “Desligue isso!!!”.

Era o melhor dos Estados Unidos — essas pessoas, esse processo realizado com integridade e solenidade. Que privilégio poder votar dessa maneira.

E que absurdo terem sido essas mesmas pessoas e esse mesmo processo que Donald Trump difamou e minou, conseguindo reunir a maioria de seu partido em torno de sua afirmação enormemente fraudulenta de que a eleição de 2020 lhe foi roubada.

Mas espere um momento — onde estava Trump na semana passada?

Partidários de Trump em evento em Mar-a-Lago: ex-presidente planeja disputar nova eleição Foto: REUTERS/Jonathan Ernst

Você ouviu ele ou seus lacaios alegando que essas eleições de meio de mandato foram roubadas de seus candidatos escolhidos a dedo? Além de algumas afirmações sem base de Trump aqui ou ali, incluindo de que a fracassada candidata a governadora do Arizona, Kari Lake (uma imitadora abobalhada de Trump), estava sendo roubada, não houve muita coisa. Trump, em vez disso, gastou a maior parte da sua energia difamando alguns dos candidatos que apoiou e culpando sua mulher e outros indivíduos por persuadi-lo a endossar a bizarra coleção de bajuladores negacionistas eleitorais que se tornou o Team Trump nessa eleição e perdeu quase todas as principais disputas.

O fato de Trump não estar hoje abrindo processos judiciais em nome de cada um deles para tentar comprovar fraudes eleitorais diz muito. Trata-se de Trump dizendo a todos eles:

“Desculpem, mas essa mentira a respeito de eleições roubadas vale só para mim. Só há espaço para um mártir neste partido. Vocês não podem usar a minha mentira em suas eleições estaduais. Eu só apoiei pessoas ambiciosas e sem princípios — como vocês: JD Vance, Mehmet Oz, Doug Mastriano e Adam Laxalt — para amplificar a minha própria mentira, para provar que eu não sou um perdedor. Eu não posso ser visto como um perdedor. Mas se vocês são perdedores, a culpa é sua.”

Você ouviu Trump ou seus lacaios alegando que essas eleições de meio de mandato foram roubadas de seus candidatos escolhidos a dedo?

Isso também explica por que a maioria dos negacionistas eleitorais que perdeu, como Oz, simplesmente aceitou a derrota e não denunciou fraude. Por que você não está tumultuando, Mehmet? Ei, JD, por que você não está dizendo que seus colegas republicanos perderam em razão das eleições que eles disputaram terem sido “fraudadas”, como você afirmou por Trump? E você, Doug? Lembre-se do que disse no domingo quando reconheceu a derrota para a disputa pelo governo da Pensilvânia: “Por mais difíceis de aceitar que sejam os resultados, não há outro caminho correto a não ser reconhecer a derrota, que reconheço.”

O quê? Por que esse é o caminho correto hoje, mas não foi para Trump dois anos atrás?

Porque, para começar, nenhum de vocês jamais acreditou na mentira de Trump, então vocês não ousaram acioná-la em suas próprias eleições!

Vocês apenas alugaram a mentira de Trump acreditando que ela fosse o passaporte da alegria, o atalho para a vitória. Vocês pensaram que poderiam ecoar a mentira de Trump, se eleger com os votos dos apoiadores dele e depois simplesmente não falar mais sobre isso. E agora que a maioria de vocês não conseguiu se eleger com base no negacionismo eleitoral, vocês querem que nós nos esqueçamos de como vocês tentaram vergonhosamente explorar essa mentira para chegar ao poder, enquanto ficam quietinhos e se distanciam dela.

Não, não; mil vezes não.

Nós nunca devemos esquecer o estrago que Donald Trump e seus cínicos imitadores, seguidores devotos e arautos nos meios de comunicação fizeram com a reputação da nossa democracia, contra a reverência por suas instituições e a unidade da nossa sociedade ao proferir a Grande Mentira. Em si isso já é uma distorção vergonhosa — mas fazer isso em meio a uma pandemia enormemente estressante, quando precisávamos mais que nunca confiar um no outro, cuidar um do outro e trabalhar juntamente com o nosso governo para combater a covid, foi um crime.

Acho que não compreendemos completamente o estrago que isso causou na tessitura da nossa sociedade e no nosso sistema político. Isso estraçalhou famílias e jantares de Ação de Graças; desfez amizades antigas; dividiu vizinhanças, legislaturas municipais, assembleias estaduais, associações de pais e professores, diretorias de empresas e redações da imprensa. E distraiu nosso país inteiro do trabalho doméstico de construção de uma nação, tornando quase impossível algum consenso a respeito de qualquer realização conjunta grande e difícil.

Nós nunca devemos esquecer o estrago que Donald Trump e seus cínicos imitadores, seguidores devotos e arautos nos meios de comunicação fizeram com a reputação da nossa democracia

Isso não apenas maculou a reputação da nossa democracia, mas também motivou a multidão que invadiu o Capitólio do nosso país em 6 de janeiro de 2021 — com o objetivo expresso de reverter o resultado da eleição. Cinco policiais metropolitanos ou do Capitólio morreram em decorrência desse ataque. Muitos dos arruaceiros deixaram claro depois que foram motivados pela Grande Mentira. O extremista que atacou Paul Pelosi, o marido da presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, dentro de sua casa, foi banhado em teorias conspiratórias eleitorais.

Isso deu poder a autocratas, como o russo Vladimir Putin e o chinês Xi Jinping, e também a falsos democratas, como o húngaro Viktor Orbán, para sair por aí gabando-se de que seus próprios povos jamais terão de se preocupar com o “caos” provocado pela democracia e as eleições.

Trump, o Grande Mentiroso, e todos os pequenos mentirosos que surfaram em seu embuste por diversão e dinheiro — particularmente Rupert e Lachlan Murdoch, Tucker Carlson, Sean Hannity e virtualmente toda a equipe da Fox — impingiram um dano incalculável ao nosso país. Todos vocês devem se envergonhar disso.

E Trump agora tem o descaramento, a rançosa cara de pau, de se erguer em meio a essa fogueira de mentiras, ódio e relações partidas que ele próprio incendiou e declarar que vai concorrer à presidência novamente?

E agora a equipe de Murdoch, depois de endossar essa alegação de fraude por dois anos, tem a pachorra de dizer, “Bem, talvez devemos seguir com Ron DeSantis” — sem nenhum tipo de responsabilização pelo que possibilitou? Não, desculpem-me. A história não será gentil com vocês.

Trump anuncia nova candidatura à presidência: candidatos do presidente foram mal na eleição de meio de mandato Foto: Joe Raedle/Getty Images/AFP

Conforme David Axelrod, ex-conselheiro do ex-presidente Barack Obama, definiu no site CNN.com a respeito de Trump ter sido abandonado por alguns políticos republicanos agora que se tornou um perdedor: assistir o “êxodo de seu campo, liderado por Rupert Murdoch e seu império direitista das comunicações, é algo para recordar. Para eles, violações contra a democracia e a decência podem ser toleradas — um perdedor, não”.

É por isso que, pela primeira vez em muito tempo, me sinto agora novamente esperançoso em relação ao sistema político americano. Desde que Trump emergiu daquela escada rolante, em 2015, o establishment do Partido Republicano tentou ter tudo: colher os votos da base de Trump e desviar o olhar de seus comportamentos vergonhosos, até mesmo de seu vilipêndio ao nosso sistema eleitoral. Trump jamais seria considerado baixo demais porque eles estavam viciados nos votos de sua base.

Bem, a maioria dos americanos acaba de estabelecer um patamar. Ou, conforme noticiou Nick Corasaniti, do Times: “Todo negacionista de eleição que buscou se tornar autoridade máxima eleitoral em algum Estado crítico na batalha política perdeu nas urnas este ano, os eleitores rejeitaram redondamente políticos extremistas que prometiam restringir a votação e revisar o processo eleitoral”.

É certo que a maioria dos devotos de Trump ainda endossa sua mentira, porque abandoná-la abertamente diante de suas famílias, amigos ou colegas de trabalho é embaraçoso demais. Mas o establishment republicano terá de escolher: continuar perdendo com Trump ou votar para ele deixar o reality show, favorecendo DeSantis. Bem-vindo ao “Survivor: Florida”.

A melhor parte é que esse acerto de contas foi obra não dos líderes republicanos — eles não passam de covardes — mas das pessoas mais importantes e discretamente corajosas nessa eleição. Foi obra dos americanos comuns: republicanos, democratas e independentes com princípios, jovens e velhos, votando contra a Grande Mentira e seus perpetradores em suas seções eleitorais locais, iguais à minha; e dos nossos vizinhos e concidadãos com princípios que contaram os votos cuidadosamente, com justiça e honestidade, da maneira que sempre fizeram — incluindo em 2020. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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