WASHINGTON - O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, disse neste domingo, 13, que o presidente norte-americano, Donald Trump, ordenou que as tropas do país deixem a região norte da Síria. À rede de televisão CBS, Esper afirmou que o conflito entre as forças da Turquia e os curdos da Síria, aliados dos EUA, se tornou "insustentável" para os militares americanos.
Segundo Esper, os soldados devem se deslocar para a região sul da Síria, mas não vão deixar completamente o país. O número exato de soldados que devem abandonar o norte não foi divulgado, mas deve representar a maior parte dos mil homens na região.
O secretário disse ainda que os Estados Unidos acreditam que os curdos estão prestes a "fazer um acordo" com o exército sírio e a Rússia para contra-atacar a Turquia e seus aliados sírios.
De acordo com o jornal The New York Times, centenas de parentes de combatentes do Estado Islâmico fugiram de um campo de detenção curdo na manhã deste domingo, depois que ataques aéreos turcos atingiram a área, disse um grupo de ajuda, aprofundando a crise provocada pela invasão liderada pela Turquia no norte da Síria. As fugas geraram receios de que as tentativas de conter afiliados do grupo militante estivessem desmoronando.
Uma autoridade curda também disse que a bandeira do Estado Islâmico, também conhecida como ISIS, havia sido levantada no campo entre o campo na cidade de curdos Ain Issa e a fronteira turca, outra indicação de como as autoridades curdas estavam perdendo controle de uma região que havia libertado dos extremistas apenas há alguns meses.
"Estamos enfrentando ataques muito ferozes e somos forçados a diminuir o número de guardas", disse o oficial Ciya Kurd, da autoridade regional liderada pelos curdos, que confirmou a interrupção do campo de deslocados após os ataques turcos.
No sábado, 12, as tropas da Turquia invadiram a cidade fronteiriça síria de Ras al-Ain, região estratégica comandada pelas forças curdas, que virou alvo de bombardeios turcos desde quarta-feira, 9, quando os Estados Unidos anunciaram a retirada de tropas americanas do nordeste da Síria.
Agora, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou o Twitter para defender a retirada de tropas norte-americanas do norte do país. E avaliou ser muito inteligente não se envolver nos intensos combates na fronteira turca. "Eles não têm ideia da má decisão que tomaram. Por que eles não estão pedindo uma declaração de guerra?", questionou o post.
Trump lembra que os curdos e a Turquia lutam há anos. "A Turquia considera o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) os piores terroristas de todos. Guerra sem fim".
Retaliações
O presidente dos Estados Unidos afirmou ainda que o Tesouro norte-americano está "pronto" para impor "poderosas" sanções à Turquia, após a ação militar do país contra os curdos da Síria. Trump disse que conversa com "muitos membros do Congresso, incluindo os democratas."
O Ministério de Relações Exteriores da França anunciou no sábado, 12, a suspensão imediata de armamentos à Turquia, uma medida tomada devido à ofensiva iniciada pelo governo de Recep Tayyip Erdogan contra uma área controlada pelos curdos na Síria.
"À espera da cessação dessa ofensiva, a França decidiu suspender todos os projetos de exportação de materiais de guerra suscetíveis de ser empregados na ofensiva na Síria. Esta decisão tem efeito imediato", informou o governo do país em comunicado.
Com a decisão, a França se une a Holanda e Alemanha, que já tinham tomado medidas similares contra o governo da Turquia.
Fugas
Autoridades curdas afirmaram neste domingo que 785 estrangeiros ligados ao Estado Islâmico (EI) fugiram após um ataque ao campo de detenção de Ain Issa, controlado pela aliança de milícias curdas Forças da Síria Democrática (FSD).
Em mensagem no Facebook, a autoridade autônoma do Norte e do Leste da Síria disse que um grupo de "mercenários da Turquia", em aparente referência a milícias pró-turcas, atacaram o acampamento em Ain Issa com apoio aéreo do país euroasiático.
Além disso, membros do EI teriam atacado os guardas do acampamento e aberto as portas para que houvesse a fuga.
As autoridades afirmaram ainda que tiveram que reduzir o número de guardas que tinham no local - para vigiar os 12 mil jihadistas e os cerca de 70 mil familiares de membros do EI que alegam estar sob seu controle em prisões e campos de detenção - para se defenderem dos turcos e pró-turcos.
"Se o mundo considera seriamente o EI como uma ameaça a sua segurança, sobre o que não tenho 100% de certeza, tem uma grande oportunidade de provar. Senão, todos sofrerão as consequências muito em breve, mas desta vez pode ser que não haja ninguém para fazer o trabalho por eles", declarou o porta-voz das FSD, Mustafa Bali, no Twitter.
"Não deveriam esperar que nos responsabilizemos por seus terroristas presos enquanto não têm problema em ver nossos filhos assassinados, nosso povo deslocado e nossa região limpada etnicamente", acrescentou.
O exército turco começou a invasão ao norte da Síria - onde há maioria curda - na última quarta-feira, depois que os Estados Unidos, aliados dos curdos na guerra contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) anunciaram a retirada de suas tropas da região diante da iminência da operação, o que foi considerado como uma "traição" pelas Forças da Síria Democrática (FSD).
A invasão alcança praticamente todos os 480 quilômetros de extensão da fronteira controlados pelos curdos, especialmente nas cidades de Ras al Ain e Tell Abiad, onde ocorrem constantes bombardeios aéreos e de artilharia.
A Turquia quer tirar dos curdos o controle de 480 quilômetros de comprimento e 30 quilômetros de largura do que chamou de "zona de segurança" para tirar de lá as FSD e seu principal integrante, as Unidades de Proteção do Povo (YPG), à qual considera uma organização terrorista ligada à guerrilha do PKK. / The New York Times, Associated Press e EFE.
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Depois dos ataques turcos iniciados na quarta-feira, cerca de 100 mil pessoas foram forçadas a sair de suas casas. Essa é a terceira vez, desde 2011, que a Turquia invade o norte da Síria.
Por que o conflito?
As tropas americanas mantinham certa estabilidade na região, já que se aliaram aos curdos durante a guerra civil na Síria para combater o avanço do grupo terrorista Estado Islâmico. Cerca de 11 mil militantes do grupo estão detidos sob o comando de autoridades curdas, além de suas famílias, e o enfraquecimento dos curdos pode levar a soltura dos terroristas.