Mais de dois meses antes de pedir ao presidente da Ucrânia que investigasse seus oponentes políticos, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, instruiu John Bolton, então conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, a ajudar em sua campanha de pressão para extrair informações prejudiciais sobre Joe Biden e seu filho, Hunter Biden, das autoridades ucranianas.
A revelação estaria nos manuscritos do livro de John Bolton, aos quais o jornal New York times teria tido acesso. Bolton pretende lançar o livro em breve.
Bolton registrou o diálogo em um caderno durante uma reunião no Salão Oval no início de maio, que incluiu o chefe de gabinete interino da Casa Branca, Mick Mulvaney, o advogado pessoal do presidente Rudolph Giuliani e o advogado da Casa Branca, Pat Cipollone, que agora lidera a defesa do impeachment do presidente.
Trump disse a Bolton para ligar para Volodmir Zelenski, que havia vencido recentemente a eleição como presidente da Ucrânia, para garantir que Zelenski se encontrasse com Giuliani. O advogado do presidente estava planejando uma viagem à Ucrânia para discutir as investigações que o presidente queria, sobre os negócios da família Biden na Ucrânia. Bolton afirma nunca ter feito a ligação.
O pedido de Trump diretamente a Bolton seria o primeiro caso conhecido do presidente americano tentando aproveitar o poder do governo dos Estados Unidos para avançar sua campanha de pressão contra a Ucrânia, como fez mais tarde na ligação de julho com Zelenski, que desencadeou uma denúncia e um processo de impeachment.
Para os democratas, o caso configura abuso de poder, e se tornou o alicerce da acusação contra Trump no processo de impeachment em curso no Senado. Os advogados de Trump alegam que ele não fez nada de errado e que a acusação não é passível de impeachment.
O relato no manuscrito de Bolton retrata os conselheiros mais graduados da Casa Branca como testemunhas iniciais do esforço do presidente em conseguir as informações.
E a divulgação da reunião ressalta o tipo de informação que os democratas procuravam ao buscar o pedido para que os principais assessores do presidente testemunhassem em sua investigação de impeachment, incluindo Bolton e Mulvaney, bloqueados pela Casa Branca.
Em uma breve entrevista, Giuliani negou que a conversa tenha ocorrido e disse que essas discussões com o presidente sempre eram mantidas separadas. Ele afirmou que Cipollone e Mulvaney nunca se envolveram em reuniões relacionadas à Ucrânia. "É absolutamente falso, categoricamente", disse ele.
Nem Bolton nem um representante de Mulvaney responderam aos pedidos de comentário. Um porta-voz da Casa Branca não respondeu aos pedidos de comentário do New York Times.
Bolton descreveu a conversa de aproximadamente 10 minutos nos rascunhos de seu livro de memórias de seu tempo como conselheiro de Segurança Nacional que será lançado em março.
Ao longo de várias páginas, Bolton expôs a fixação de Trump com os ucranianos e a crença do presidente de que a Ucrânia tentou minar suas chances de conquistar a presidência em 2016.
Bolton diz que quando percebeu a extensão e os objetivos da campanha de pressão de Trump, começou a se opor. Ele afirma que o testemunho de uma ex-assessora do Conselho de Segurança Nacional, Fiona Hill, que havia dito que Bolton avisou que Giuliani era "uma granada de mão que vai explodir todo mundo", comprovaria sua história.
Trump também tomou repetidamente decisões de Segurança Nacional contrárias aos interesses americanos, escreveu Bolton, descrevendo um sentimento geral de alarme entre os principais assessores sobre as escolhas do presidente.
O New York Times noticiou nesta semana outra revelação do rascunho de Bolton: que Trump lhe disse em agosto que queria continuar congelando US$ 391 milhões em assistência de segurança à Ucrânia até que as autoridades de lá ajudassem nas investigações de Joe Biden e seu filho Hunter.
Esse relato enfraquece um elemento essencial da defesa de impeachment da Casa Branca - que a retenção da ajuda foi separada de suas investigações. Trump negou que a conversa tenha ocorrido.