Líderes palestinos disseram nesta quarta-feira que o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pelos Estados Unidos representa uma declaração de guerra contra muçulmanos, que levará a conflitos intermináveis e destruirá as chances de criação de dois Estados para solucionar o conflito palestino-israelense.
Mudando a política mantida por Washington durante décadas, o presidente Donald Trump anunciou a transferência da embaixada dos EUA de Tel-Aviv para Jerusalém. Segundo ele, isso não significará o abandono da busca de um acordo de paz na região. Mas, em contraste com posições de governos anteriores, ele não apresentou a criação de dois Estados como o resultado necessário desse processo. “Os EUA apoiarão a solução de dois Estados se ela for acordada por ambos os lados”, declarou Trump em discurso na Casa Branca.
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O anúncio foi condenado de maneira unânime por países do Oriente Médio. A única exceção foi Israel, onde o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu celebrou o “dia histórico” para seu país. Manifestantes saíram às ruas na Faixa de Gaza para protestar contra a decisão horas antes do anúncio formal do presidente americano. Ativistas palestinos convocaram três “dias de fúria” contra a medida.
“As orações de sexta-feira serão uma indicação muito importante do grau de violência que o anúncio vai gerar”, disse Aaron Miller, diretor do Programa de Oriente Médio do Wilson Center, em Washington. “Se você quisesse uma questão para mobilizar pessoas e inserir paixão e extrema emoção nesse debate, essa questão seria Jerusalém.”
Grupos palestinos convocaram manifestações ao “redor do mundo” diante de locais centrais de cidades e diante de embaixadas de Israel para mobilizar “a raiva popular” e “torpedear” o reconhecimento de Jerusalém como capital.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, ressaltou que o anúncio favorece o extremismo. O papa Francisco pediu “respeito” ao “status quo” de Jerusalém. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que só haverá paz quando a cidade for capital de ambos os Estados, Israel e Palestina.
Trump afirmou que o anúncio desta quarta-feira não modifica a posição dos EUA em relação ao status quo atual de Jerusalém, indicando que seu governo não reconhecerá o lado oriental da cidade como parte da capital. Israel controla desde 1949 a parte ocidental e anexou a oriental em 1967. Segundo o líder americano, as fronteiras da cidade deverão ser definidas no âmbito das discussões entre Israel e Palestina.
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Mas a credibilidade dos EUA para atuar como moderador isento das conversas foi afetada pelo reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, algo que atende às demandas de Netanyahu, mas enfurece o mundo islâmico, incluindo aliados americanos no Oriente Médio.
“Com essas decisões lamentáveis, os EUA boicotam deliberadamente os esforços de paz e proclamam o abandono do papel de patrocinador do processo de paz que exerceu nas últimas décadas”, declarou Abbas.
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O papa Francisco, as Nações Unidas, a China e o Reino Unido se somaram nesta quarta-feira ao coro de preocupações sobre o possível reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pelo presidente americano Donald Trump.
Principal aliada de Trump na Europa, a premiê britânica, Theresa May, disse que discorda da decisão de Trump. Para ela, o destino de Jerusalém só deve ser definido no âmbito das negociações de um acordo de paz. “A embaixada britânica em Israel fica em Tel-Aviv e não temos planos de movê-la.”
O presidente francês, Emmanuel Macron, qualificou de “lamentável” a decisão de Trump. Ele ressaltou “o compromisso da França e da Europa com a solução dos dois Estados, Israel e Palestina, vivendo como vizinhos em paz e segurança em fronteiras reconhecidas internacionalmente com Jerusalém como capital dos dois Estados”. A chanceler alemã, Angela Merkel, declarou que seu governo não apoia a decisão, “pois o estatuto de Jerusalém só pode ser negociado no contexto de uma solução de dois Estados”.
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O reconhecimento Jerusalém como capital de Israel é mais uma promessa de campanha feita por Donald Trump a um dos segmentos mais conservadores de sua base de apoio, os evangélicos brancos, 80% dos quais optaram por sua candidatura na disputa de novembro de 2016. Esse grupo representa um terço dos eleitores republicanos e vê em Israel a realização de profecias bíblicas.