Trump se torna alvo de ataques no Partido Republicano após derrotas nas eleições


Aliados e ex-aliados questionam escolhas de candidatos e apontam para ‘culto à personalidade’

Por Redação

Depois de ser apontado como o maior perdedor das eleições legislativas de terça-feira, quando uma esperada “onda vermelha” republicana não se concretizou, o ex-presidente Donald Trump assumiu um posto outrora destinado por ele a seus desafetos: o de alvo de ataques e críticas dentro de seu próprio campo político. E muitos já questionam se ele deve mesmo ser o candidato da sigla à Presidência em 2024.

Assim que os primeiros resultados e projeções mostraram que alguns dos principais candidatos nos quais Trump apostou não conseguiriam se eleger — incluindo Mehmet Oz, postulante ao Senado na Pensilvânia, e candidatos aos governos de Michigan, Nova York e Wisconsin — comentaristas conservadores não demoraram a dar início ao processo de fritura.

“Os republicanos seguiram Donald Trump até a beira do abismo”, disse David Urban, que foi conselheiro do ex-presidente e está ligado à política da Pensilvânia, onde o candidato trumpista ao governo também foi derrotado.

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Donald Trump participa de comício do candidato ao Senado pela Pensilvânia, Mehmet Oz, derrotado nas eleições de terça; queda de nomes ligados ao trumpismo provocam dúvidas entre republicanos. Foto: Angela Weiss/ AFP

O ex-deputado Peter King, também ligado a Trump, disse que “ele não deveria mais ser a face do Partido Republicano” e que a sigla “não pode se tornar um culto à personalidade”.

De inspiração a democracia sob ameaça: Aliados temem que EUA tenham perdido o rumo

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O coro de ataques foi replicado em veículos simpáticos aos republicanos, como a Fox News, mas, apesar da aparente vulnerabilidade, analistas e lideranças do partido dizem que é muito cedo para afirmar se ele sofrerá algum dano permanente: afinal, lembram, o ex-presidente construiu sua imagem e carreira política com a ajuda de controvérsias, polêmicas e a busca permanente por um estado de agitação. Sem contar que ele ainda tem seus aliados .

O coro de críticas, que se desenrolou na Fox News e nas mídias sociais ao longo do dia, revelou que Trump está em seu ponto mais vulnerável politicamente desde o rescaldo do ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Ainda assim, Trump construiu um profundo poço de lealdade com os eleitores republicanos, e autoridades do partido alertaram que é muito cedo para dizer se ele sofrerá algum dano político duradouro além de uma enxurrada de manchetes ruins, ou se um rival surgirá para desafiá-lo. Trump construiu uma carreira sobre controvérsias políticas duradouras, e assessores de Trump insistiram que qualquer sugestão de fraqueza era uma invenção da mídia.

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Apoiadores oram antes de comício com a participação de Donald Trump na Pensilvânia; Partido Republicano avalia se laços construídos por ex-presidente com o eleitorado têm respaldo nas urnas. Foto: Win McNamee/Getty Images/AFP

“Tenho orgulho de endossar Donald Trump para presidente em 2024″, disse a deputada Elise Stefanik, republicana de Nova York, em comunicado. “É hora de os republicanos se unirem em torno do republicano mais popular da América, que tem um histórico comprovado de governança conservadora.”

O senador eleito J.D. Vance, republicano de Ohio e uma das primeiras escolhas de Trump, disse acreditar que o ex-presidente seria o candidato se concorrer. “Todos os anos, a mídia escreve o obituário político de Donald Trump. E todos os anos, somos rapidamente lembrados de que Trump continua sendo a figura mais popular do Partido Republicano”, disse ele. E o deputado Jim Banks, de Indiana, disse que apoia Trump, que “transformou nosso partido”.

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Publicamente, Trump também celebrou alguns bons resultados de seus aliados, apontando para vitórias em disputas apertadas para o Senado, Câmara e governos estaduais. “Nós tivemos um sucesso tremendo, por que deveríamos mudar algo?”, disse na quarta-feira à Fox News.

Mas, nos bastidores, apurou o The New York Times, o ex-presidente foi menos positivo, atacando antigos aliados, como o comentarista Sean Hannity e até a sua mulher, Melania, por terem lhe dado “maus conselhos”, entre eles a decisão de apoiar o cirurgião-celebridade Mehmet Oz na Pensilvânia.

Integrantes de antigas campanhas republicanas também começam a se questionar se deveriam embarcar em uma nova empreitada de Trump — isso a menos de uma semana da data marcada para um “grande anúncio”, supostamente sua pré-candidatura a um novo mandato, no dia 15 de novembro.

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Kayleigh McEnany, ex-secretária de imprensa de Trump na Casa Branca e uma de suas defensoras de longa data, disse à Fox News na quarta-feira que seu ex-chefe deveria adiar um anúncio, pelo menos até depois do segundo turno da eleição para o Senado na Geórgia. “Ele precisa se colocar em pausa, com certeza”, disse McEnany. “Se estou aconselhando um candidato, ninguém anuncia nada sobre 2024 até chegarmos em 6 de dezembro e a definição da vaga para o Senado.”

Trump, no entanto, vem provocando multidões em comícios há semanas com anúncios sobre uma nova candidatura presidencial – uma que deveria capitalizar o impulso que ele previu repetidamente que seria uma vitória republicana nas eleições de terça-feira. Isso permitiria que ele reivindicasse o crédito por endossar os vencedores, realizando dezenas de comícios para exibi-los e, em um novo espírito de benevolência, gastando milhões de dólares de campanha em anúncios para apoiá-los.

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Em vez disso, o partido se saiu bem pior do que o esperado, embora esteja perto do controle da Câmara e com possibilidades de controlar o Senado.

“Quase todos esses candidatos endossados por Trump que você vê em Estados competitivos perderam”, disse Chris Christie, ex-governador de Nova Jersey, na quarta-feira no programa “Good Morning America” da ABC. “É uma grande perda para Trump. E, novamente, mostra que seus instintos políticos não são sobre o partido, não são sobre o país – são sobre ele mesmo.”

King disse que os resultados mostraram que era hora de o partido seguir em frente, e ele culpou Trump por atacar aliados políticos.

“Sua autopromoção e seus ataques a republicanos, incluindo Ron DeSantis e Mitch McConnell, foram os principais responsáveis por os republicanos não terem uma onda vermelha”, disse King. “Não podemos permitir que a lealdade cega a Trump determine o destino de nosso partido.”

Falando só para a base

Há ainda disputas em aberto no Arizona, onde Kari Lake e Blake Masters estão em desvantagem, respectivamente, nas corridas para o governo e para o Senado. Os dois compartilham das ideias conspiracionistas do ex-presidente sobre o processo eleitoral.

Nas disputas para a Câmara, nomes apoiados por Trump que nas primárias republicanas suplantaram nomes mais tradicionais do partido sofreram derrotas em eleições cruciais. “Donald Trump fez com que as pessoas conseguissem as candidaturas, mas evitou que elas vencessem as eleições”, disse à Bloomberg o estrategista republicano Frank Luntz.

Ele apontou que, segundo pesquisas, eleitores independentes que normalmente votam em republicanos escolheram candidatos democratas na terça-feira, justamente por causa do apoio do ex-presidente. Um sinal de que Trump cada vez mais fala apenas para sua base.

“Novamente, isso mostra que seus instintos políticos não são sobre o partido, não são sobre o país, são sobre ele”, disse na ABC o ex-governador de Nova Jersey e ex-aliado Chris Christie.

Insistência de Donald Trump em candidatos leais a ele pode ter limitado avanço do Partido Republicano. Foto: Gaelen Morse/ REUTERS

Scott Jennings, ligado ao líder da atual minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, apontou que os números mostram um Trump menos popular do que Joe Biden, cujos índices estão perto dos 40%. Para ele, se o partido quiser retomar a Casa Branca em dois anos, o ex-presidente não deve estar nas cédulas. Ele pediu que os republicanos agissem com urgência. “O vazio precisa ser preenchido”, disse Jennings. “Depois de 6 de janeiro, o Partido Republicano hesitou e se recuperou rapidamente. DeSantis não pode hesitar.”

Neste cenário, o nome do governador da Flórida, Ron DeSantis, surge com cada vez mais força. Na terça-feira, DeSantis derrotou seu adversário democrata, Charlie Crist, por mais de 1,5 milhão de votos. Sua força política também ajudou o candidato ao Senado pela Flórida, Marco Rubio, a registrar uma votação considerável.

O New York Post, uma das publicações favoritas de Trump, dedicou sua capa na quarta-feira a uma foto da noite da eleição do governador de 44 anos comemorando com sua jovem família. A manchete do tablóide, “DeFuture”, transformou o nome de sua família em um elogio – apenas quatro dias depois que Trump chamou DeSantis de “DeSanctimonious” em um comício.

“Os americanos tendem a apoiar candidatos que olham para frente e não para trás”, disse Urban, ex-assessor de Trump. “Se Trump puder fazer isso, as pessoas ficarão empolgadas. Mas ele pode? Se a história é um juiz, acho que ele não pode e é uma vergonha. Ele é um político incrivelmente habilidoso em muitos aspectos, mas em outros, ele simplesmente não entende.”

Mike Cernovich, um blogueiro conservador e defensor de longa data de Trump, rompeu com seu aliado político na quarta-feira, postando uma série de mensagens para seus um milhão de seguidores no Twitter, nas quais ele se referiu às eleições como “um chute no traseiro” para Republicanos, e disse que o único lado positivo era “pelo menos ninguém mais tem que bajular Trump”.

“O país não se importa com a eleição de 2020″, escreveu Cernovich. “Trump não pode seguir em frente? Tudo bem. Tchau.”

Depois de ser apontado como o maior perdedor das eleições legislativas de terça-feira, quando uma esperada “onda vermelha” republicana não se concretizou, o ex-presidente Donald Trump assumiu um posto outrora destinado por ele a seus desafetos: o de alvo de ataques e críticas dentro de seu próprio campo político. E muitos já questionam se ele deve mesmo ser o candidato da sigla à Presidência em 2024.

Assim que os primeiros resultados e projeções mostraram que alguns dos principais candidatos nos quais Trump apostou não conseguiriam se eleger — incluindo Mehmet Oz, postulante ao Senado na Pensilvânia, e candidatos aos governos de Michigan, Nova York e Wisconsin — comentaristas conservadores não demoraram a dar início ao processo de fritura.

“Os republicanos seguiram Donald Trump até a beira do abismo”, disse David Urban, que foi conselheiro do ex-presidente e está ligado à política da Pensilvânia, onde o candidato trumpista ao governo também foi derrotado.

Donald Trump participa de comício do candidato ao Senado pela Pensilvânia, Mehmet Oz, derrotado nas eleições de terça; queda de nomes ligados ao trumpismo provocam dúvidas entre republicanos. Foto: Angela Weiss/ AFP

O ex-deputado Peter King, também ligado a Trump, disse que “ele não deveria mais ser a face do Partido Republicano” e que a sigla “não pode se tornar um culto à personalidade”.

De inspiração a democracia sob ameaça: Aliados temem que EUA tenham perdido o rumo

O coro de ataques foi replicado em veículos simpáticos aos republicanos, como a Fox News, mas, apesar da aparente vulnerabilidade, analistas e lideranças do partido dizem que é muito cedo para afirmar se ele sofrerá algum dano permanente: afinal, lembram, o ex-presidente construiu sua imagem e carreira política com a ajuda de controvérsias, polêmicas e a busca permanente por um estado de agitação. Sem contar que ele ainda tem seus aliados .

O coro de críticas, que se desenrolou na Fox News e nas mídias sociais ao longo do dia, revelou que Trump está em seu ponto mais vulnerável politicamente desde o rescaldo do ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Ainda assim, Trump construiu um profundo poço de lealdade com os eleitores republicanos, e autoridades do partido alertaram que é muito cedo para dizer se ele sofrerá algum dano político duradouro além de uma enxurrada de manchetes ruins, ou se um rival surgirá para desafiá-lo. Trump construiu uma carreira sobre controvérsias políticas duradouras, e assessores de Trump insistiram que qualquer sugestão de fraqueza era uma invenção da mídia.

Apoiadores oram antes de comício com a participação de Donald Trump na Pensilvânia; Partido Republicano avalia se laços construídos por ex-presidente com o eleitorado têm respaldo nas urnas. Foto: Win McNamee/Getty Images/AFP

“Tenho orgulho de endossar Donald Trump para presidente em 2024″, disse a deputada Elise Stefanik, republicana de Nova York, em comunicado. “É hora de os republicanos se unirem em torno do republicano mais popular da América, que tem um histórico comprovado de governança conservadora.”

O senador eleito J.D. Vance, republicano de Ohio e uma das primeiras escolhas de Trump, disse acreditar que o ex-presidente seria o candidato se concorrer. “Todos os anos, a mídia escreve o obituário político de Donald Trump. E todos os anos, somos rapidamente lembrados de que Trump continua sendo a figura mais popular do Partido Republicano”, disse ele. E o deputado Jim Banks, de Indiana, disse que apoia Trump, que “transformou nosso partido”.

Publicamente, Trump também celebrou alguns bons resultados de seus aliados, apontando para vitórias em disputas apertadas para o Senado, Câmara e governos estaduais. “Nós tivemos um sucesso tremendo, por que deveríamos mudar algo?”, disse na quarta-feira à Fox News.

Mas, nos bastidores, apurou o The New York Times, o ex-presidente foi menos positivo, atacando antigos aliados, como o comentarista Sean Hannity e até a sua mulher, Melania, por terem lhe dado “maus conselhos”, entre eles a decisão de apoiar o cirurgião-celebridade Mehmet Oz na Pensilvânia.

Integrantes de antigas campanhas republicanas também começam a se questionar se deveriam embarcar em uma nova empreitada de Trump — isso a menos de uma semana da data marcada para um “grande anúncio”, supostamente sua pré-candidatura a um novo mandato, no dia 15 de novembro.

Kayleigh McEnany, ex-secretária de imprensa de Trump na Casa Branca e uma de suas defensoras de longa data, disse à Fox News na quarta-feira que seu ex-chefe deveria adiar um anúncio, pelo menos até depois do segundo turno da eleição para o Senado na Geórgia. “Ele precisa se colocar em pausa, com certeza”, disse McEnany. “Se estou aconselhando um candidato, ninguém anuncia nada sobre 2024 até chegarmos em 6 de dezembro e a definição da vaga para o Senado.”

Trump, no entanto, vem provocando multidões em comícios há semanas com anúncios sobre uma nova candidatura presidencial – uma que deveria capitalizar o impulso que ele previu repetidamente que seria uma vitória republicana nas eleições de terça-feira. Isso permitiria que ele reivindicasse o crédito por endossar os vencedores, realizando dezenas de comícios para exibi-los e, em um novo espírito de benevolência, gastando milhões de dólares de campanha em anúncios para apoiá-los.

Em vez disso, o partido se saiu bem pior do que o esperado, embora esteja perto do controle da Câmara e com possibilidades de controlar o Senado.

“Quase todos esses candidatos endossados por Trump que você vê em Estados competitivos perderam”, disse Chris Christie, ex-governador de Nova Jersey, na quarta-feira no programa “Good Morning America” da ABC. “É uma grande perda para Trump. E, novamente, mostra que seus instintos políticos não são sobre o partido, não são sobre o país – são sobre ele mesmo.”

King disse que os resultados mostraram que era hora de o partido seguir em frente, e ele culpou Trump por atacar aliados políticos.

“Sua autopromoção e seus ataques a republicanos, incluindo Ron DeSantis e Mitch McConnell, foram os principais responsáveis por os republicanos não terem uma onda vermelha”, disse King. “Não podemos permitir que a lealdade cega a Trump determine o destino de nosso partido.”

Falando só para a base

Há ainda disputas em aberto no Arizona, onde Kari Lake e Blake Masters estão em desvantagem, respectivamente, nas corridas para o governo e para o Senado. Os dois compartilham das ideias conspiracionistas do ex-presidente sobre o processo eleitoral.

Nas disputas para a Câmara, nomes apoiados por Trump que nas primárias republicanas suplantaram nomes mais tradicionais do partido sofreram derrotas em eleições cruciais. “Donald Trump fez com que as pessoas conseguissem as candidaturas, mas evitou que elas vencessem as eleições”, disse à Bloomberg o estrategista republicano Frank Luntz.

Ele apontou que, segundo pesquisas, eleitores independentes que normalmente votam em republicanos escolheram candidatos democratas na terça-feira, justamente por causa do apoio do ex-presidente. Um sinal de que Trump cada vez mais fala apenas para sua base.

“Novamente, isso mostra que seus instintos políticos não são sobre o partido, não são sobre o país, são sobre ele”, disse na ABC o ex-governador de Nova Jersey e ex-aliado Chris Christie.

Insistência de Donald Trump em candidatos leais a ele pode ter limitado avanço do Partido Republicano. Foto: Gaelen Morse/ REUTERS

Scott Jennings, ligado ao líder da atual minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, apontou que os números mostram um Trump menos popular do que Joe Biden, cujos índices estão perto dos 40%. Para ele, se o partido quiser retomar a Casa Branca em dois anos, o ex-presidente não deve estar nas cédulas. Ele pediu que os republicanos agissem com urgência. “O vazio precisa ser preenchido”, disse Jennings. “Depois de 6 de janeiro, o Partido Republicano hesitou e se recuperou rapidamente. DeSantis não pode hesitar.”

Neste cenário, o nome do governador da Flórida, Ron DeSantis, surge com cada vez mais força. Na terça-feira, DeSantis derrotou seu adversário democrata, Charlie Crist, por mais de 1,5 milhão de votos. Sua força política também ajudou o candidato ao Senado pela Flórida, Marco Rubio, a registrar uma votação considerável.

O New York Post, uma das publicações favoritas de Trump, dedicou sua capa na quarta-feira a uma foto da noite da eleição do governador de 44 anos comemorando com sua jovem família. A manchete do tablóide, “DeFuture”, transformou o nome de sua família em um elogio – apenas quatro dias depois que Trump chamou DeSantis de “DeSanctimonious” em um comício.

“Os americanos tendem a apoiar candidatos que olham para frente e não para trás”, disse Urban, ex-assessor de Trump. “Se Trump puder fazer isso, as pessoas ficarão empolgadas. Mas ele pode? Se a história é um juiz, acho que ele não pode e é uma vergonha. Ele é um político incrivelmente habilidoso em muitos aspectos, mas em outros, ele simplesmente não entende.”

Mike Cernovich, um blogueiro conservador e defensor de longa data de Trump, rompeu com seu aliado político na quarta-feira, postando uma série de mensagens para seus um milhão de seguidores no Twitter, nas quais ele se referiu às eleições como “um chute no traseiro” para Republicanos, e disse que o único lado positivo era “pelo menos ninguém mais tem que bajular Trump”.

“O país não se importa com a eleição de 2020″, escreveu Cernovich. “Trump não pode seguir em frente? Tudo bem. Tchau.”

Depois de ser apontado como o maior perdedor das eleições legislativas de terça-feira, quando uma esperada “onda vermelha” republicana não se concretizou, o ex-presidente Donald Trump assumiu um posto outrora destinado por ele a seus desafetos: o de alvo de ataques e críticas dentro de seu próprio campo político. E muitos já questionam se ele deve mesmo ser o candidato da sigla à Presidência em 2024.

Assim que os primeiros resultados e projeções mostraram que alguns dos principais candidatos nos quais Trump apostou não conseguiriam se eleger — incluindo Mehmet Oz, postulante ao Senado na Pensilvânia, e candidatos aos governos de Michigan, Nova York e Wisconsin — comentaristas conservadores não demoraram a dar início ao processo de fritura.

“Os republicanos seguiram Donald Trump até a beira do abismo”, disse David Urban, que foi conselheiro do ex-presidente e está ligado à política da Pensilvânia, onde o candidato trumpista ao governo também foi derrotado.

Donald Trump participa de comício do candidato ao Senado pela Pensilvânia, Mehmet Oz, derrotado nas eleições de terça; queda de nomes ligados ao trumpismo provocam dúvidas entre republicanos. Foto: Angela Weiss/ AFP

O ex-deputado Peter King, também ligado a Trump, disse que “ele não deveria mais ser a face do Partido Republicano” e que a sigla “não pode se tornar um culto à personalidade”.

De inspiração a democracia sob ameaça: Aliados temem que EUA tenham perdido o rumo

O coro de ataques foi replicado em veículos simpáticos aos republicanos, como a Fox News, mas, apesar da aparente vulnerabilidade, analistas e lideranças do partido dizem que é muito cedo para afirmar se ele sofrerá algum dano permanente: afinal, lembram, o ex-presidente construiu sua imagem e carreira política com a ajuda de controvérsias, polêmicas e a busca permanente por um estado de agitação. Sem contar que ele ainda tem seus aliados .

O coro de críticas, que se desenrolou na Fox News e nas mídias sociais ao longo do dia, revelou que Trump está em seu ponto mais vulnerável politicamente desde o rescaldo do ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Ainda assim, Trump construiu um profundo poço de lealdade com os eleitores republicanos, e autoridades do partido alertaram que é muito cedo para dizer se ele sofrerá algum dano político duradouro além de uma enxurrada de manchetes ruins, ou se um rival surgirá para desafiá-lo. Trump construiu uma carreira sobre controvérsias políticas duradouras, e assessores de Trump insistiram que qualquer sugestão de fraqueza era uma invenção da mídia.

Apoiadores oram antes de comício com a participação de Donald Trump na Pensilvânia; Partido Republicano avalia se laços construídos por ex-presidente com o eleitorado têm respaldo nas urnas. Foto: Win McNamee/Getty Images/AFP

“Tenho orgulho de endossar Donald Trump para presidente em 2024″, disse a deputada Elise Stefanik, republicana de Nova York, em comunicado. “É hora de os republicanos se unirem em torno do republicano mais popular da América, que tem um histórico comprovado de governança conservadora.”

O senador eleito J.D. Vance, republicano de Ohio e uma das primeiras escolhas de Trump, disse acreditar que o ex-presidente seria o candidato se concorrer. “Todos os anos, a mídia escreve o obituário político de Donald Trump. E todos os anos, somos rapidamente lembrados de que Trump continua sendo a figura mais popular do Partido Republicano”, disse ele. E o deputado Jim Banks, de Indiana, disse que apoia Trump, que “transformou nosso partido”.

Publicamente, Trump também celebrou alguns bons resultados de seus aliados, apontando para vitórias em disputas apertadas para o Senado, Câmara e governos estaduais. “Nós tivemos um sucesso tremendo, por que deveríamos mudar algo?”, disse na quarta-feira à Fox News.

Mas, nos bastidores, apurou o The New York Times, o ex-presidente foi menos positivo, atacando antigos aliados, como o comentarista Sean Hannity e até a sua mulher, Melania, por terem lhe dado “maus conselhos”, entre eles a decisão de apoiar o cirurgião-celebridade Mehmet Oz na Pensilvânia.

Integrantes de antigas campanhas republicanas também começam a se questionar se deveriam embarcar em uma nova empreitada de Trump — isso a menos de uma semana da data marcada para um “grande anúncio”, supostamente sua pré-candidatura a um novo mandato, no dia 15 de novembro.

Kayleigh McEnany, ex-secretária de imprensa de Trump na Casa Branca e uma de suas defensoras de longa data, disse à Fox News na quarta-feira que seu ex-chefe deveria adiar um anúncio, pelo menos até depois do segundo turno da eleição para o Senado na Geórgia. “Ele precisa se colocar em pausa, com certeza”, disse McEnany. “Se estou aconselhando um candidato, ninguém anuncia nada sobre 2024 até chegarmos em 6 de dezembro e a definição da vaga para o Senado.”

Trump, no entanto, vem provocando multidões em comícios há semanas com anúncios sobre uma nova candidatura presidencial – uma que deveria capitalizar o impulso que ele previu repetidamente que seria uma vitória republicana nas eleições de terça-feira. Isso permitiria que ele reivindicasse o crédito por endossar os vencedores, realizando dezenas de comícios para exibi-los e, em um novo espírito de benevolência, gastando milhões de dólares de campanha em anúncios para apoiá-los.

Em vez disso, o partido se saiu bem pior do que o esperado, embora esteja perto do controle da Câmara e com possibilidades de controlar o Senado.

“Quase todos esses candidatos endossados por Trump que você vê em Estados competitivos perderam”, disse Chris Christie, ex-governador de Nova Jersey, na quarta-feira no programa “Good Morning America” da ABC. “É uma grande perda para Trump. E, novamente, mostra que seus instintos políticos não são sobre o partido, não são sobre o país – são sobre ele mesmo.”

King disse que os resultados mostraram que era hora de o partido seguir em frente, e ele culpou Trump por atacar aliados políticos.

“Sua autopromoção e seus ataques a republicanos, incluindo Ron DeSantis e Mitch McConnell, foram os principais responsáveis por os republicanos não terem uma onda vermelha”, disse King. “Não podemos permitir que a lealdade cega a Trump determine o destino de nosso partido.”

Falando só para a base

Há ainda disputas em aberto no Arizona, onde Kari Lake e Blake Masters estão em desvantagem, respectivamente, nas corridas para o governo e para o Senado. Os dois compartilham das ideias conspiracionistas do ex-presidente sobre o processo eleitoral.

Nas disputas para a Câmara, nomes apoiados por Trump que nas primárias republicanas suplantaram nomes mais tradicionais do partido sofreram derrotas em eleições cruciais. “Donald Trump fez com que as pessoas conseguissem as candidaturas, mas evitou que elas vencessem as eleições”, disse à Bloomberg o estrategista republicano Frank Luntz.

Ele apontou que, segundo pesquisas, eleitores independentes que normalmente votam em republicanos escolheram candidatos democratas na terça-feira, justamente por causa do apoio do ex-presidente. Um sinal de que Trump cada vez mais fala apenas para sua base.

“Novamente, isso mostra que seus instintos políticos não são sobre o partido, não são sobre o país, são sobre ele”, disse na ABC o ex-governador de Nova Jersey e ex-aliado Chris Christie.

Insistência de Donald Trump em candidatos leais a ele pode ter limitado avanço do Partido Republicano. Foto: Gaelen Morse/ REUTERS

Scott Jennings, ligado ao líder da atual minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, apontou que os números mostram um Trump menos popular do que Joe Biden, cujos índices estão perto dos 40%. Para ele, se o partido quiser retomar a Casa Branca em dois anos, o ex-presidente não deve estar nas cédulas. Ele pediu que os republicanos agissem com urgência. “O vazio precisa ser preenchido”, disse Jennings. “Depois de 6 de janeiro, o Partido Republicano hesitou e se recuperou rapidamente. DeSantis não pode hesitar.”

Neste cenário, o nome do governador da Flórida, Ron DeSantis, surge com cada vez mais força. Na terça-feira, DeSantis derrotou seu adversário democrata, Charlie Crist, por mais de 1,5 milhão de votos. Sua força política também ajudou o candidato ao Senado pela Flórida, Marco Rubio, a registrar uma votação considerável.

O New York Post, uma das publicações favoritas de Trump, dedicou sua capa na quarta-feira a uma foto da noite da eleição do governador de 44 anos comemorando com sua jovem família. A manchete do tablóide, “DeFuture”, transformou o nome de sua família em um elogio – apenas quatro dias depois que Trump chamou DeSantis de “DeSanctimonious” em um comício.

“Os americanos tendem a apoiar candidatos que olham para frente e não para trás”, disse Urban, ex-assessor de Trump. “Se Trump puder fazer isso, as pessoas ficarão empolgadas. Mas ele pode? Se a história é um juiz, acho que ele não pode e é uma vergonha. Ele é um político incrivelmente habilidoso em muitos aspectos, mas em outros, ele simplesmente não entende.”

Mike Cernovich, um blogueiro conservador e defensor de longa data de Trump, rompeu com seu aliado político na quarta-feira, postando uma série de mensagens para seus um milhão de seguidores no Twitter, nas quais ele se referiu às eleições como “um chute no traseiro” para Republicanos, e disse que o único lado positivo era “pelo menos ninguém mais tem que bajular Trump”.

“O país não se importa com a eleição de 2020″, escreveu Cernovich. “Trump não pode seguir em frente? Tudo bem. Tchau.”

Depois de ser apontado como o maior perdedor das eleições legislativas de terça-feira, quando uma esperada “onda vermelha” republicana não se concretizou, o ex-presidente Donald Trump assumiu um posto outrora destinado por ele a seus desafetos: o de alvo de ataques e críticas dentro de seu próprio campo político. E muitos já questionam se ele deve mesmo ser o candidato da sigla à Presidência em 2024.

Assim que os primeiros resultados e projeções mostraram que alguns dos principais candidatos nos quais Trump apostou não conseguiriam se eleger — incluindo Mehmet Oz, postulante ao Senado na Pensilvânia, e candidatos aos governos de Michigan, Nova York e Wisconsin — comentaristas conservadores não demoraram a dar início ao processo de fritura.

“Os republicanos seguiram Donald Trump até a beira do abismo”, disse David Urban, que foi conselheiro do ex-presidente e está ligado à política da Pensilvânia, onde o candidato trumpista ao governo também foi derrotado.

Donald Trump participa de comício do candidato ao Senado pela Pensilvânia, Mehmet Oz, derrotado nas eleições de terça; queda de nomes ligados ao trumpismo provocam dúvidas entre republicanos. Foto: Angela Weiss/ AFP

O ex-deputado Peter King, também ligado a Trump, disse que “ele não deveria mais ser a face do Partido Republicano” e que a sigla “não pode se tornar um culto à personalidade”.

De inspiração a democracia sob ameaça: Aliados temem que EUA tenham perdido o rumo

O coro de ataques foi replicado em veículos simpáticos aos republicanos, como a Fox News, mas, apesar da aparente vulnerabilidade, analistas e lideranças do partido dizem que é muito cedo para afirmar se ele sofrerá algum dano permanente: afinal, lembram, o ex-presidente construiu sua imagem e carreira política com a ajuda de controvérsias, polêmicas e a busca permanente por um estado de agitação. Sem contar que ele ainda tem seus aliados .

O coro de críticas, que se desenrolou na Fox News e nas mídias sociais ao longo do dia, revelou que Trump está em seu ponto mais vulnerável politicamente desde o rescaldo do ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Ainda assim, Trump construiu um profundo poço de lealdade com os eleitores republicanos, e autoridades do partido alertaram que é muito cedo para dizer se ele sofrerá algum dano político duradouro além de uma enxurrada de manchetes ruins, ou se um rival surgirá para desafiá-lo. Trump construiu uma carreira sobre controvérsias políticas duradouras, e assessores de Trump insistiram que qualquer sugestão de fraqueza era uma invenção da mídia.

Apoiadores oram antes de comício com a participação de Donald Trump na Pensilvânia; Partido Republicano avalia se laços construídos por ex-presidente com o eleitorado têm respaldo nas urnas. Foto: Win McNamee/Getty Images/AFP

“Tenho orgulho de endossar Donald Trump para presidente em 2024″, disse a deputada Elise Stefanik, republicana de Nova York, em comunicado. “É hora de os republicanos se unirem em torno do republicano mais popular da América, que tem um histórico comprovado de governança conservadora.”

O senador eleito J.D. Vance, republicano de Ohio e uma das primeiras escolhas de Trump, disse acreditar que o ex-presidente seria o candidato se concorrer. “Todos os anos, a mídia escreve o obituário político de Donald Trump. E todos os anos, somos rapidamente lembrados de que Trump continua sendo a figura mais popular do Partido Republicano”, disse ele. E o deputado Jim Banks, de Indiana, disse que apoia Trump, que “transformou nosso partido”.

Publicamente, Trump também celebrou alguns bons resultados de seus aliados, apontando para vitórias em disputas apertadas para o Senado, Câmara e governos estaduais. “Nós tivemos um sucesso tremendo, por que deveríamos mudar algo?”, disse na quarta-feira à Fox News.

Mas, nos bastidores, apurou o The New York Times, o ex-presidente foi menos positivo, atacando antigos aliados, como o comentarista Sean Hannity e até a sua mulher, Melania, por terem lhe dado “maus conselhos”, entre eles a decisão de apoiar o cirurgião-celebridade Mehmet Oz na Pensilvânia.

Integrantes de antigas campanhas republicanas também começam a se questionar se deveriam embarcar em uma nova empreitada de Trump — isso a menos de uma semana da data marcada para um “grande anúncio”, supostamente sua pré-candidatura a um novo mandato, no dia 15 de novembro.

Kayleigh McEnany, ex-secretária de imprensa de Trump na Casa Branca e uma de suas defensoras de longa data, disse à Fox News na quarta-feira que seu ex-chefe deveria adiar um anúncio, pelo menos até depois do segundo turno da eleição para o Senado na Geórgia. “Ele precisa se colocar em pausa, com certeza”, disse McEnany. “Se estou aconselhando um candidato, ninguém anuncia nada sobre 2024 até chegarmos em 6 de dezembro e a definição da vaga para o Senado.”

Trump, no entanto, vem provocando multidões em comícios há semanas com anúncios sobre uma nova candidatura presidencial – uma que deveria capitalizar o impulso que ele previu repetidamente que seria uma vitória republicana nas eleições de terça-feira. Isso permitiria que ele reivindicasse o crédito por endossar os vencedores, realizando dezenas de comícios para exibi-los e, em um novo espírito de benevolência, gastando milhões de dólares de campanha em anúncios para apoiá-los.

Em vez disso, o partido se saiu bem pior do que o esperado, embora esteja perto do controle da Câmara e com possibilidades de controlar o Senado.

“Quase todos esses candidatos endossados por Trump que você vê em Estados competitivos perderam”, disse Chris Christie, ex-governador de Nova Jersey, na quarta-feira no programa “Good Morning America” da ABC. “É uma grande perda para Trump. E, novamente, mostra que seus instintos políticos não são sobre o partido, não são sobre o país – são sobre ele mesmo.”

King disse que os resultados mostraram que era hora de o partido seguir em frente, e ele culpou Trump por atacar aliados políticos.

“Sua autopromoção e seus ataques a republicanos, incluindo Ron DeSantis e Mitch McConnell, foram os principais responsáveis por os republicanos não terem uma onda vermelha”, disse King. “Não podemos permitir que a lealdade cega a Trump determine o destino de nosso partido.”

Falando só para a base

Há ainda disputas em aberto no Arizona, onde Kari Lake e Blake Masters estão em desvantagem, respectivamente, nas corridas para o governo e para o Senado. Os dois compartilham das ideias conspiracionistas do ex-presidente sobre o processo eleitoral.

Nas disputas para a Câmara, nomes apoiados por Trump que nas primárias republicanas suplantaram nomes mais tradicionais do partido sofreram derrotas em eleições cruciais. “Donald Trump fez com que as pessoas conseguissem as candidaturas, mas evitou que elas vencessem as eleições”, disse à Bloomberg o estrategista republicano Frank Luntz.

Ele apontou que, segundo pesquisas, eleitores independentes que normalmente votam em republicanos escolheram candidatos democratas na terça-feira, justamente por causa do apoio do ex-presidente. Um sinal de que Trump cada vez mais fala apenas para sua base.

“Novamente, isso mostra que seus instintos políticos não são sobre o partido, não são sobre o país, são sobre ele”, disse na ABC o ex-governador de Nova Jersey e ex-aliado Chris Christie.

Insistência de Donald Trump em candidatos leais a ele pode ter limitado avanço do Partido Republicano. Foto: Gaelen Morse/ REUTERS

Scott Jennings, ligado ao líder da atual minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, apontou que os números mostram um Trump menos popular do que Joe Biden, cujos índices estão perto dos 40%. Para ele, se o partido quiser retomar a Casa Branca em dois anos, o ex-presidente não deve estar nas cédulas. Ele pediu que os republicanos agissem com urgência. “O vazio precisa ser preenchido”, disse Jennings. “Depois de 6 de janeiro, o Partido Republicano hesitou e se recuperou rapidamente. DeSantis não pode hesitar.”

Neste cenário, o nome do governador da Flórida, Ron DeSantis, surge com cada vez mais força. Na terça-feira, DeSantis derrotou seu adversário democrata, Charlie Crist, por mais de 1,5 milhão de votos. Sua força política também ajudou o candidato ao Senado pela Flórida, Marco Rubio, a registrar uma votação considerável.

O New York Post, uma das publicações favoritas de Trump, dedicou sua capa na quarta-feira a uma foto da noite da eleição do governador de 44 anos comemorando com sua jovem família. A manchete do tablóide, “DeFuture”, transformou o nome de sua família em um elogio – apenas quatro dias depois que Trump chamou DeSantis de “DeSanctimonious” em um comício.

“Os americanos tendem a apoiar candidatos que olham para frente e não para trás”, disse Urban, ex-assessor de Trump. “Se Trump puder fazer isso, as pessoas ficarão empolgadas. Mas ele pode? Se a história é um juiz, acho que ele não pode e é uma vergonha. Ele é um político incrivelmente habilidoso em muitos aspectos, mas em outros, ele simplesmente não entende.”

Mike Cernovich, um blogueiro conservador e defensor de longa data de Trump, rompeu com seu aliado político na quarta-feira, postando uma série de mensagens para seus um milhão de seguidores no Twitter, nas quais ele se referiu às eleições como “um chute no traseiro” para Republicanos, e disse que o único lado positivo era “pelo menos ninguém mais tem que bajular Trump”.

“O país não se importa com a eleição de 2020″, escreveu Cernovich. “Trump não pode seguir em frente? Tudo bem. Tchau.”

Depois de ser apontado como o maior perdedor das eleições legislativas de terça-feira, quando uma esperada “onda vermelha” republicana não se concretizou, o ex-presidente Donald Trump assumiu um posto outrora destinado por ele a seus desafetos: o de alvo de ataques e críticas dentro de seu próprio campo político. E muitos já questionam se ele deve mesmo ser o candidato da sigla à Presidência em 2024.

Assim que os primeiros resultados e projeções mostraram que alguns dos principais candidatos nos quais Trump apostou não conseguiriam se eleger — incluindo Mehmet Oz, postulante ao Senado na Pensilvânia, e candidatos aos governos de Michigan, Nova York e Wisconsin — comentaristas conservadores não demoraram a dar início ao processo de fritura.

“Os republicanos seguiram Donald Trump até a beira do abismo”, disse David Urban, que foi conselheiro do ex-presidente e está ligado à política da Pensilvânia, onde o candidato trumpista ao governo também foi derrotado.

Donald Trump participa de comício do candidato ao Senado pela Pensilvânia, Mehmet Oz, derrotado nas eleições de terça; queda de nomes ligados ao trumpismo provocam dúvidas entre republicanos. Foto: Angela Weiss/ AFP

O ex-deputado Peter King, também ligado a Trump, disse que “ele não deveria mais ser a face do Partido Republicano” e que a sigla “não pode se tornar um culto à personalidade”.

De inspiração a democracia sob ameaça: Aliados temem que EUA tenham perdido o rumo

O coro de ataques foi replicado em veículos simpáticos aos republicanos, como a Fox News, mas, apesar da aparente vulnerabilidade, analistas e lideranças do partido dizem que é muito cedo para afirmar se ele sofrerá algum dano permanente: afinal, lembram, o ex-presidente construiu sua imagem e carreira política com a ajuda de controvérsias, polêmicas e a busca permanente por um estado de agitação. Sem contar que ele ainda tem seus aliados .

O coro de críticas, que se desenrolou na Fox News e nas mídias sociais ao longo do dia, revelou que Trump está em seu ponto mais vulnerável politicamente desde o rescaldo do ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Ainda assim, Trump construiu um profundo poço de lealdade com os eleitores republicanos, e autoridades do partido alertaram que é muito cedo para dizer se ele sofrerá algum dano político duradouro além de uma enxurrada de manchetes ruins, ou se um rival surgirá para desafiá-lo. Trump construiu uma carreira sobre controvérsias políticas duradouras, e assessores de Trump insistiram que qualquer sugestão de fraqueza era uma invenção da mídia.

Apoiadores oram antes de comício com a participação de Donald Trump na Pensilvânia; Partido Republicano avalia se laços construídos por ex-presidente com o eleitorado têm respaldo nas urnas. Foto: Win McNamee/Getty Images/AFP

“Tenho orgulho de endossar Donald Trump para presidente em 2024″, disse a deputada Elise Stefanik, republicana de Nova York, em comunicado. “É hora de os republicanos se unirem em torno do republicano mais popular da América, que tem um histórico comprovado de governança conservadora.”

O senador eleito J.D. Vance, republicano de Ohio e uma das primeiras escolhas de Trump, disse acreditar que o ex-presidente seria o candidato se concorrer. “Todos os anos, a mídia escreve o obituário político de Donald Trump. E todos os anos, somos rapidamente lembrados de que Trump continua sendo a figura mais popular do Partido Republicano”, disse ele. E o deputado Jim Banks, de Indiana, disse que apoia Trump, que “transformou nosso partido”.

Publicamente, Trump também celebrou alguns bons resultados de seus aliados, apontando para vitórias em disputas apertadas para o Senado, Câmara e governos estaduais. “Nós tivemos um sucesso tremendo, por que deveríamos mudar algo?”, disse na quarta-feira à Fox News.

Mas, nos bastidores, apurou o The New York Times, o ex-presidente foi menos positivo, atacando antigos aliados, como o comentarista Sean Hannity e até a sua mulher, Melania, por terem lhe dado “maus conselhos”, entre eles a decisão de apoiar o cirurgião-celebridade Mehmet Oz na Pensilvânia.

Integrantes de antigas campanhas republicanas também começam a se questionar se deveriam embarcar em uma nova empreitada de Trump — isso a menos de uma semana da data marcada para um “grande anúncio”, supostamente sua pré-candidatura a um novo mandato, no dia 15 de novembro.

Kayleigh McEnany, ex-secretária de imprensa de Trump na Casa Branca e uma de suas defensoras de longa data, disse à Fox News na quarta-feira que seu ex-chefe deveria adiar um anúncio, pelo menos até depois do segundo turno da eleição para o Senado na Geórgia. “Ele precisa se colocar em pausa, com certeza”, disse McEnany. “Se estou aconselhando um candidato, ninguém anuncia nada sobre 2024 até chegarmos em 6 de dezembro e a definição da vaga para o Senado.”

Trump, no entanto, vem provocando multidões em comícios há semanas com anúncios sobre uma nova candidatura presidencial – uma que deveria capitalizar o impulso que ele previu repetidamente que seria uma vitória republicana nas eleições de terça-feira. Isso permitiria que ele reivindicasse o crédito por endossar os vencedores, realizando dezenas de comícios para exibi-los e, em um novo espírito de benevolência, gastando milhões de dólares de campanha em anúncios para apoiá-los.

Em vez disso, o partido se saiu bem pior do que o esperado, embora esteja perto do controle da Câmara e com possibilidades de controlar o Senado.

“Quase todos esses candidatos endossados por Trump que você vê em Estados competitivos perderam”, disse Chris Christie, ex-governador de Nova Jersey, na quarta-feira no programa “Good Morning America” da ABC. “É uma grande perda para Trump. E, novamente, mostra que seus instintos políticos não são sobre o partido, não são sobre o país – são sobre ele mesmo.”

King disse que os resultados mostraram que era hora de o partido seguir em frente, e ele culpou Trump por atacar aliados políticos.

“Sua autopromoção e seus ataques a republicanos, incluindo Ron DeSantis e Mitch McConnell, foram os principais responsáveis por os republicanos não terem uma onda vermelha”, disse King. “Não podemos permitir que a lealdade cega a Trump determine o destino de nosso partido.”

Falando só para a base

Há ainda disputas em aberto no Arizona, onde Kari Lake e Blake Masters estão em desvantagem, respectivamente, nas corridas para o governo e para o Senado. Os dois compartilham das ideias conspiracionistas do ex-presidente sobre o processo eleitoral.

Nas disputas para a Câmara, nomes apoiados por Trump que nas primárias republicanas suplantaram nomes mais tradicionais do partido sofreram derrotas em eleições cruciais. “Donald Trump fez com que as pessoas conseguissem as candidaturas, mas evitou que elas vencessem as eleições”, disse à Bloomberg o estrategista republicano Frank Luntz.

Ele apontou que, segundo pesquisas, eleitores independentes que normalmente votam em republicanos escolheram candidatos democratas na terça-feira, justamente por causa do apoio do ex-presidente. Um sinal de que Trump cada vez mais fala apenas para sua base.

“Novamente, isso mostra que seus instintos políticos não são sobre o partido, não são sobre o país, são sobre ele”, disse na ABC o ex-governador de Nova Jersey e ex-aliado Chris Christie.

Insistência de Donald Trump em candidatos leais a ele pode ter limitado avanço do Partido Republicano. Foto: Gaelen Morse/ REUTERS

Scott Jennings, ligado ao líder da atual minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, apontou que os números mostram um Trump menos popular do que Joe Biden, cujos índices estão perto dos 40%. Para ele, se o partido quiser retomar a Casa Branca em dois anos, o ex-presidente não deve estar nas cédulas. Ele pediu que os republicanos agissem com urgência. “O vazio precisa ser preenchido”, disse Jennings. “Depois de 6 de janeiro, o Partido Republicano hesitou e se recuperou rapidamente. DeSantis não pode hesitar.”

Neste cenário, o nome do governador da Flórida, Ron DeSantis, surge com cada vez mais força. Na terça-feira, DeSantis derrotou seu adversário democrata, Charlie Crist, por mais de 1,5 milhão de votos. Sua força política também ajudou o candidato ao Senado pela Flórida, Marco Rubio, a registrar uma votação considerável.

O New York Post, uma das publicações favoritas de Trump, dedicou sua capa na quarta-feira a uma foto da noite da eleição do governador de 44 anos comemorando com sua jovem família. A manchete do tablóide, “DeFuture”, transformou o nome de sua família em um elogio – apenas quatro dias depois que Trump chamou DeSantis de “DeSanctimonious” em um comício.

“Os americanos tendem a apoiar candidatos que olham para frente e não para trás”, disse Urban, ex-assessor de Trump. “Se Trump puder fazer isso, as pessoas ficarão empolgadas. Mas ele pode? Se a história é um juiz, acho que ele não pode e é uma vergonha. Ele é um político incrivelmente habilidoso em muitos aspectos, mas em outros, ele simplesmente não entende.”

Mike Cernovich, um blogueiro conservador e defensor de longa data de Trump, rompeu com seu aliado político na quarta-feira, postando uma série de mensagens para seus um milhão de seguidores no Twitter, nas quais ele se referiu às eleições como “um chute no traseiro” para Republicanos, e disse que o único lado positivo era “pelo menos ninguém mais tem que bajular Trump”.

“O país não se importa com a eleição de 2020″, escreveu Cernovich. “Trump não pode seguir em frente? Tudo bem. Tchau.”

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