O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou em publicações na sua rede social Truth Social, as taxas cobradas pelo Panamá para o uso do Canal do Panamá. Trump classificou os valores como “ridículos” e afirmou que o canal, considerado estratégico para o comércio e a segurança nacional dos Estados Unidos, não deveria beneficiar outros países, mencionando indiretamente uma suposta influência chinesa na região.
“O Canal do Panamá é considerado um ativo nacional vital para os Estados Unidos, devido ao seu papel crucial para a economia e segurança nacional. Ele foi dado ao Panamá para administração, não para outros países, e certamente não para impor tarifas exorbitantes aos Estados Unidos, sua Marinha e empresas”, escreveu Trump.
Ele também afirmou que os Estados Unidos têm o direito de exigir a devolução do controle da hidrovia, caso não sejam garantidas operações consideradas justas e eficientes. “Se os princípios, tanto morais quanto legais, deste gesto magnânimo de doação não forem respeitados, exigiremos que o Canal do Panamá nos seja devolvido, integralmente e sem questionamentos”, publicou.
“Esse completo roubo do nosso país vai parar imediatamente”, disse Trump. Não está claro como ele poderia tentar reaver o controle do canal – ele não teria nenhum amparo da lei internacional.
Falando a uma multidão de apoiadores do Arizona ontem, Trump voltou a dizer que não deixaria o canal cair em “mãos erradas”, alertando sobre uma possível influência chinesa na passagem.
A China não controla ou administra o canal, mas uma subsidiária da CK Hutchison Holdings, baseada em Hong Kong, há muito tempo gerencia dois portos localizados nas entradas do Caribe e do Pacífico para o canal.
Reações
As autoridades panamenhas não comentaram. Vários políticos do país, no entanto, recorreram às redes sociais para criticar as declarações de Trump e pedir ao governo para defender o canal. “O governo tem o dever de defender nossa autonomia como país independente”, disse Grace Hernandez, uma deputada do partido de oposição Moca, no X.
O canal, construído pelos EUA no início do século 20, foi transferido ao controle do Panamá em 1999, como parte de um acordo bilateral. Atualmente, ele é utilizado para o transporte de aproximadamente 5% do comércio marítimo global, com a passagem de cerca de 14 mil navios por ano – EUA e China são os maiores usuários da hidrovia.
Os comentários de Trump são um exemplo extremamente raro de um líder dos EUA dizendo que poderia pressionar um país soberano a ceder território, mas não a primeira vez que o republicano considera abertamente uma expansão territorial. Na última semana, ele afirmou que os canadenses poderiam querer que seu país se tornasse o 51.º Estado dos EUA e provocou o primeiro-ministro Justin Trudeau como “governador Trudeau”.
Durante seu primeiro mandato, Trump expressou interesse em comprar a Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca.
A opinião de Trump com relação ao Panamá destaca também uma mudança esperada na diplomacia dos EUA com o início de seu governo, em janeiro, especialmente em relação à China e à segurança europeia. Na sexta-feira, o Financial Times relatou que a equipe de Trump havia informado a autoridades europeias que ele exigirá que os Estados membros da Otan aumentem seus gastos com defesa para 5% de seu PIB. / AP e AFP