WASHINGTON - O jornal New York Times afirmou nesta terça-feira, 2, que o presidente dos EUA, Donald Trump, participou de esquemas de sonegação fiscal, ao lado dos irmãos, para ajudar o pai a sonegar milhões de dólares em impostos. O advogado de Trump disse que a investigação do jornal’ é “imprecisa”. E o presidente americano disse que a informação é "100% falsa".
O NYT informou que suas descobertas são baseadas em mais de 200 declarações de impostos de Fred Trump, de suas companhias e de diversas parcerias e trustes de Trump. Os registros não incluíam declarações fiscais pessoais de Donald Trump. Os documentos mostram que o republicano recebeu o equivalente a valores de hoje pelo menos US$ 413 milhões dos negócios imobiliários de seu pai ao longo de décadas.
O jornal relatou que grande parte dessa fortuna foi para Trump porque ele ajudou seu pai a sonegar impostos, montando uma falsa corporação com seus irmãos para despistar os milhões de dólares recebidos como herança.
De acordo com o NYT, no fim dos anos 90, antes de morrer, Fred Trump transferiu a propriedade da maioria de seus imóveis para seus quatro filhos. O valor das propriedades nas declarações de impostos somavam US$ 41,4 milhões, um valor que, segundo jornal, é muito menor do que realmente custavam. As mesmas propriedades seriam vendidas na década seguinte por mais de 16 vezes o valor.
Os pais de Trump deixaram para seus filhos uma fortuna de mais de US$ 1 bilhão, o que poderia rendido ao Tesouro pelo menos US$ 550 milhões, de acordo com a alíquota de 55% para heranças vigente na época. Os Trumps, porém, pagaram apenas US$ 52,2 milhões – ou 5%, em impostos.
A carreira de Donald Trump
Segundo o jornal, aos 3 anos, Trump já recebia US$ 200 mil por ano de seu pai e, aos 8, já era milionário. As informações contrastam com a imagem que ele construiu de “homem que se fez sozinho”, amplamente reforçada durante sua campanha presidencial, em 2016, e em seu livro A Arte da Negociação. Trump afirma que se tornou um magnata do ramo imobiliário começando apenas com um empréstimo “muito pequeno” de seu pai: US$ 1 milhão. “Meu pai me concedeu um pequeno empréstimo, em 1975”, disse. “E eu o transformei em uma companhia que vale muitos bilhões de dólares.”
Diferentemente de outros candidatos à Casa Branca nas últimas décadas, Trump se negou a divulgar sua declaração de imposto de renda durante a campanha.
O advogado do presidente, Charles Harder, disse ao jornal que o presidente não teve “praticamente nenhum” envolvimento com o caso. “Esses assuntos foram tratados por outros membros da família Trump que não eram especialistas e, portanto, dependiam inteiramente dos profissionais licenciados para garantir o cumprimento da lei.”
A Casa Branca não respondeu aos pedidos de entrevista. O jornal também disse que a denúncia tinha como base entrevistas com ex-funcionários e consultores de Fred Trump e mais de 100 mil páginas de documentos que descreviam o funcionamento de seu império de negócios.
“A investigação também se apoia em dezenas de milhares de páginas de registros confidenciais – extratos bancários, auditorias financeiras, livros contábeis, relatórios de desembolso de caixa, faturas e cheques cancelados”, afirma o jornal. Citando funcionários que não se identificaram, a rede CNBC informou que o Departamento Fiscal do Estado de Nova York está averiguando as alegações.
Citando especialistas em impostos, o NYT afirmou que é improvável que Trump enfrente algum processo criminal, porque os atos já prescreveram. No entanto, não há limite de tempo para multas civis por fraude fiscal.
A holding que reúne os interesses do magnata, as Organizações Trump, é uma empresa familiar que não está na Bolsa e não divulga seus resultados. Desde que Trump assumiu a presidência, o grupo é liderado por seus filhos Eric e Donald Jr. O irmão do presidente, Robert Trump, disse que “todas as declarações de imposto de renda sobre bens e propriedades” foram arquivadas. “Nossa família não comenta sobre assuntos que aconteceram há 20 anos”, disse ele ao Times. / NYT, AFP e AP