KIEV - As defesas aéreas da Ucrânia interceptaram cerca de 35 drones kamikaze, de fabricação iraniana, que foram lançados pela Rússia durante a madrugada desta segunda-feira, 8, informaram autoridades ucranianas. A maioria dos drones foi lançada contra Kiev no ataque mais agressivo contra a capital nos últimos meses. Conforme as comemorações do Dia da Vitória se aproximam e aumentam as expectativas de uma contraofensiva ucraniana, Moscou intensifica seus ataques contra Kiev e outras cidades-chave.
Ao menos quatro civis morreram nos últimos ataques russos, segundo autoridades ucranianas. Os bombardeios aconteceram em meio a um reforço na segurança de Moscou na véspera das tradicionais comemorações que marcam a derrota da Alemanha nazista para a União Soviética na 2ª Guerra. O país comemora o Dia da Vitória no dia 9 de maio, enquanto a Ucrânia busca se distanciar de Moscou e celebrar um dia antes.
As forças armadas da Ucrânia disseram que abateram todos os 35 drones, incluindo 30 sobre Kiev, no que foi o quarto ataque em grande escala direcionado à cidade neste mês. Pelo menos cinco pessoas ficaram feridas quando destroços de drones caíram sobre os prédios e carros, disse Vitali Klitschko, prefeito de Kiev, em comunicado. “Este foi o maior ataque de drones contra a capital em toda a guerra”, disse mais tarde a repórteres.
O ataque a Kiev começou depois da meia-noite (horário local, início da noite de domingo em Brasília). Por quase quatro horas, as equipes de defesa aérea ucraniana correram para abater os drones, iluminando o céu noturno com disparos de armas antiaéreas. Cada vez que um drone era abatido, uma explosão sacudia janelas e abalava edifícios. Os moradores se amontoaram em abrigos antiaéreos, corredores e banheiros até que tudo fosse liberado.
Ataque mais amplo
A chuva de drones na capital foi parte de um ataque russo mais amplo que também teve como alvo as cidades de Kharkiv, Kherson, Mikolaiv e Odessa, disseram os militares ucranianos em um comunicado na segunda-feira.
A Cruz Vermelha Ucraniana disse que um armazém que guardava a sua ajuda humanitária foi destruído na região de Odessa, no sul da Ucrânia, e que foi forçada a suspender parte do seu trabalho ali.
Guerra na Ucrânia
Além disso, seis foguetes russos também atingiram a cidade de Kramatorsk, no leste da Ucrânia, durante a noite, informou uma autoridade regional, mas os projeteis caíram em uma área industrial da cidade, sem causar vitimas.
Moscou também segue bombardeando a cidade de Bakhmut, considerada o campo de batalha mais longo da guerra até agora. Kiev apontou que o exército russo espera tomar o controle total da cidade até o feriado do Dia da Vitória amanhã.
No domingo, 7, o chefe do grupo Wagner, Ievgeni Prigozhin, apontou que o grupo deve continuar em Bakhmut após ameaçar que poderia deixar a região por falta de munições.
As forças russas têm intensificado os ataques contra civis ucranianos enquanto Moscou se prepara para uma possível contraofensiva de Kiev agora que o inverno no Hemisfério Norte acabou. Autoridades ucranianas alertaram que Moscou pode tentar provocar um ataque programado para esta terça.
Comemorações reduzidas
Nos últimos anos, o presidente Vladimir Putin transformou a celebração do Dia da Vitória em uma vitrine para o poderio militar russo moderno e um local para divulgar sua visão do nacionalismo russo. Mais recentemente, ele tentou envolver a Ucrânia nessa narrativa, retratando-a falsamente como um reduto nazista.
Este ano, porém, as comemorações na Rússia serão reduzidas. De acordo com a mídia russa, pelo menos 21 cidades cancelaram os desfiles militares e alegaram preocupações com a segurança. A Rússia culpou Kiev, e os Estados Unidos, por ataques recentes a seu território, incluindo um ao Kremlin que, segundo autoridades russas, pretendiam assassinar Vladimir Putin. Mas alguns analistas sugeriram que o mal-estar tem a ver com temores de distúrbios domésticos.
Espera-se que o maior desfile do país ocorra do lado de fora da Praça Vermelha do Kremlin, e Putin deve falar à nação. Mas muitas áreas proibiram voos de drones durante os eventos, e a agência de notícias Readovka no Telegram informou que as unidades da Guarda Nacional receberam armas anti-drone.
O cancelamento da marcha nacional do “Regimento Imortal”, quando russos comuns saem às ruas para exibir fotos de seus antepassados veteranos, talvez seja a mudança mais marcante. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que a marcha foi cancelada como uma “medida de precaução” contra possíveis ataques.
Alguns governadores regionais disseram que não queriam reunir um grande número de pessoas em meio à guerra. Mas alguns analistas sugeriram que o Kremlin pode estar temeroso em colocar grandes multidões de russos nas ruas já que as dificuldades na guerra poderiam levar a manifestações, mesmo com as leis russas contra protestos em tempos de guerra.
Enquanto isso, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, disse nesta segunda que enviou um projeto de lei ao parlamento propondo que o Dia da Memória e da Vitória sobre o nazismo seja celebrado no dia 8 de maio no país e um Dia da Europa ocorra no dia 9 de maio, distanciando ainda mais Kiev de Moscou.
Zelenski comparou os objetivos da Rússia na Ucrânia aos dos nazistas. “Infelizmente, o mal voltou”, apontou Zelo presidente ucraniano no Telegram. “Embora agora seja outro agressor, o objetivo é o mesmo – escravização ou destruição”./AFP e NYT