KREMENCHUK, UCRÂNIA - Dois mísseis russos atingiram um shopping center lotado na cidade ucraniana de Kremenchuk nesta segunda-feira, 27, matando pelo menos 16 pessoas e ferindo outras 59, disse o governador regional. Segundo as autoridades, havia ao menos mil pessoas no momento do ataque.
“Os invasores dispararam um míssil contra um shopping onde havia mais de mil civis. O shopping está em chamas e as equipes de resgate combatem o fogo. O número de vítimas é impossível de precisar”, escreveu o presidente ucraniano Volodmir Zelenski no Telegram.
Os serviços de emergência da Ucrânia informaram no fim desta segunda-feira que 19 pessoas foram confirmadas mortas pelo ataque, acrescentando que as equipes de resgate continuariam vasculhando os escombros, com mais corpos provavelmente sendo encontrados. Pelo menos 25 pessoas foram hospitalizadas, seis delas em estado crítico. Outras 29 receberam primeiros socorros sem hospitalização.
A certa altura, os paramédicos correram para o prédio depois que os socorristas gritaram “200″, significando que haviam encontrado um ou mais corpos no prédio. Mais tarde, os repórteres foram afastados do local quando as sirenes de ataque aéreo soaram novamente.
Segundo a Força Aérea da Ucrânia, o shopping foi atacado com mísseis Kh-22 disparados a partir de bombardeiros de longo alcance Tu-22 da região russa de Kursk.
Imagens divulgadas por Zelenski mostraram um enorme incêndio em um prédio amplo e uma fumaça escura subindo no céu enquanto os espectadores estavam do lado de fora.
Uma operação de resgate estava em andamento e nove dos feridos estavam em estado grave, disse Kirilo Timoshenko, vice-chefe do gabinete presidencial.
“O tiro de míssil em Kremenchuk atingiu um local muito movimentado sem qualquer relação com as hostilidades”, denunciou no Facebook Vitali Maletski.
Kremenchuk, uma cidade industrial de 217.000 habitantes antes da invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro, fica no rio Dnipro, na região de Poltava, e é o local da maior refinaria de petróleo da Ucrânia.
Não houve comentários imediatos da Rússia, que nega atacar civis na Ucrânia.
O governador regional, Dmitro Lunin, denunciou um “crime de guerra” e um “crime contra a humanidade”, bem como um “ato de terror não dissimulado e cínico contra a população civil”.
O ataque russo trouxe ecos de ataques no início da guerra que causaram um grande número de baixas civis - como um em março em um teatro de Mariupol onde muitos civis se esconderam, matando cerca de 600, e outro em abril em uma estação de trem no leste Kramatorsk que deixou pelo menos 59 pessoas mortas.
As Nações Unidas chamaram o ataque ao shopping center de “deplorável”, enfatizando que a infraestrutura civil “nunca deve ser alvo”, disse o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.
Ajuda à Ucrânia
Em meio à cúpula do G7, o presidente ucraniano pediu nesta segunda aos líderes ocidentais que forneçam sistemas de defesa antiaérea para sua nação, enquanto as forças russas continuam atacando Lisichansk, a última grande cidade ainda controlada por tropas ucranianas na província oriental de Luhansk.
Os Estados Unidos prometeram fornecer à Ucrânia capacidades avançadas de defesa aérea de médio e longo alcance para ajudar Kiev a resistir às forças de invasão russas, disse o assessor de segurança nacional do presidente Biden.
O conselheiro de segurança nacional americano, Jake Sullivan, disse que as autoridades dos EUA estão “no processo de finalização de um pacote” que incluirá itens vitais como “munição para sistemas de radar de artilharia e contra-bateria”.
Em Bruxelas, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, anunciou os planos de expandir bastante as forças de reação rápida da aliança como parte de sua resposta a uma “era de competição estratégica”. A força de resposta da Otan tem atualmente cerca de 40.000 soldados.
A Otan concordará em fornecer mais apoio militar à Ucrânia – incluindo comunicação segura e sistemas antidrones – quando seus líderes se reunirem na Espanha para uma cúpula, disse Stoltenberg.
O Ministério da Defesa britânico disse que a Rússia provavelmente confiará cada vez mais nas forças de reserva nas próximas semanas da guerra.
Analistas disseram que uma convocação de reservistas pela Rússia poderia alterar enormemente o equilíbrio na guerra, mas também poderia trazer consequências políticas para o governo do presidente Vladimir Putin.
Outros ataques
A Rússia também lançou um ataque com mísseis contra Odessa na noite de domingo, 26, ferindo oito pessoas, incluindo uma criança, disseram autoridades ucranianas locais. O míssil - lançado por um bombardeiro Tupolev Tu-22M - atingiu uma área residencial, danificando vários edifícios e dependências, disse o Conselho da Cidade de Odessa no Telegram.
Oito pessoas receberam ferimentos leves por estilhaços da explosão, incluindo uma criança, acrescentou o conselho. Eles foram atendidos no local e não precisaram ser hospitalizados.
Doze equipes de emergência foram enviadas para a área. Na manhã desta segunda-feira, horário local, o fogo havia sido extinto, e investigadores ucranianos e especialistas em explosivos avaliaram os danos e coletaram evidências. O trabalho também estava em andamento para reparar os danos em uma via no distrito de Primorski, perto da costa do Mar Negro de Odessa.
Também nesta segunda, pelo menos oito pessoas morreram e mais de 20 ficaram feridas em Lisichansk quando foguetes russos atingiram uma área onde uma multidão de pessoas se reunia para tirar água de um tanque, disse o governador de Luhansk, Serhi Haidai.
As forças russas pareciam intensificar uma ofensiva centrada na tentativa de arrancar a região leste de Donbas da Ucrânia depois de forçar as tropas do governo a sair da cidade vizinha de Severodonetsk nos últimos dias.
A oeste de Lisichansk, o prefeito da cidade de Sloviansk - potencialmente o próximo grande campo de batalha - disse que as forças russas dispararam munições de fragmentação na cidade após o amanhecer, incluindo uma que atingiu um bairro residencial./AP, AFP, REUTERS e W.POST