O Exército ucraniano continua a operação militar de contraofensiva em territórios parcialmente ocupados pela Rússia nesta segunda-feira, 3, com movimentações confirmadas em duas frentes. Em Liman, na província de Donetsk, tropas leais a Kiev perseguiram unidades russas em retirada da cidade, enquanto autoridades de Moscou reconheceram recuos no sul da província de Kherson. Tanto Donetsk quanto Kherson foram anexadas irregularmente pela Rússia nos primeiros meses de conflito.
Embaladas pela recaptura de Liman no fim de semana, um centro ferroviário estratégico e porta de entrada para as regiões de Donetsk e Luhansk, autoridades ucranianas disseram que tropas que avançavam para o leste da cidade destruíram uma coluna de blindados russo perto da vila de Torske. O ataque deixou um rastro de tanques e veículos blindados queimados na densa floresta de pinheiros da região, disse Vladislav Podkich, porta-voz militar ucraniano.
O ataque não pôde ser verificado de forma independente. Mas as autoridades russas admitiram contratempos no leste, dizendo que as forças ucranianas cruzaram a fronteira administrativa da autoproclamada República Popular de Luhansk, um território reivindicado por rebeldes apoiados por Moscou, e estabeleceram posições mais perto da cidade de Lisichansk.
“Apesar das baixas, as forças ucranianas conseguiram atravessar a fronteira administrativa da República Popular de Luhansk e para garantir suas posições na direção de Lisichansk”, disse um porta-voz do grupo separatista, Andrei Marochko, à agência de notícias russa Interfax. Ele disse que as forças aéreas e terrestres russas estavam atirando contra os ucranianos que avançavam.
A centenas de quilômetros de distância, no sul, onde uma contraofensiva ucraniana tem avançado mais lentamente, houve novos sinais de progresso para as forças de Kiev. O Ministério da Defesa da Rússia reconheceu que unidades de tanques ucranianos conseguiram penetrar em sua linha de defesa em parte da região de Kherson.
Um funcionário russo na região, Kirill Stremousov, disse que as tropas ucranianas avançaram ao longo do rio Dnipro em direção à capital regional de Kherson, controlada pela Rússia, mas insistiu que “a situação está completamente sob controle”.
Os anúncios sugeriram que as forças ucranianas estavam atacando as forças russas enquanto recuavam no leste e no sul da Ucrânia. “Os sucessos de nossos militares não se limitam apenas a Liman”, disse o presidente Volodmir Zelenski em seu discurso noturno no domingo.
A capacidade da Ucrânia de avançar no sul parecia ser parte de uma estratégia que entrou em foco nas últimas semanas, quando suas forças começaram a aproveitar suas linhas de reabastecimento internas mais curtas para deslocar rapidamente as tropas entre os locais. Isso permitiu que a Ucrânia atacasse as forças russas em duas áreas ao mesmo tempo ao longo da longa linha de frente, dizem especialistas militares.
Analistas disseram que um risco para os militares ucranianos é que eles avancem muito rápido, esticando demais suas forças e tornando-se vulneráveis ao contra-ataque. Os combates no leste têm sido tão acelerados, disseram soldados de várias brigadas ucranianas em entrevistas, que não sabem para onde serão enviados na sequência. Algumas unidades que foram designadas para operações de limpeza na cidade recuperada de Izium no mês passado, por exemplo, foram redistribuídas para aldeias mais a leste no fim de semana.
Câmara da Rússia aprova anexação de províncias ucranianas
Em meio aos avanços ucranianos no campo de batalha, a Duma, equivalente a Câmara dos Deputados na Rússia, aprovou por unanimidade o projeto de lei enviado pelo Kremlin ao Congresso para confirmar a anexação das quatro regiões da Ucrânia reconhecidas pelo presidente Vladimir Putin como parte do território russo na última sexta-feira, 30.
A anexação dos territórios de Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporizhzhia foi aprovada pelos deputados russos sem nenhum voto contrário ou abstenção. Embora Moscou não detenha o controle de fato dos territórios reivindicados, o reconhecimento deles como parte da Rússia tem uma série de implicações práticas, autorizando, conforme a doutrina atômica russa, o uso de armas nucleares./ NYT e AFP