Um quartel-general da Marinha da Rússia foi bombardeado nesta sexta-feira, 22, em um porto no Mar Negro, uma das principais regiões de conflito na guerra da Ucrânia desde o fim do acordo de exportação de grãos entre os dois países. O ataque aconteceu no momento em que a Rússia voltou a bombardear infraestruturas energéticas da Ucrânia, em um movimento descrito pelas autoridades ucranianas como “terrorismo energético” e que também foi feito há um ano, na aproximação do inverno do Hemisfério Norte.
O ataque ucraniano aconteceu em Sebastopol, cidade onde a frota russa do mar Negro está na Crimeia, anexada pela Rússia desde 2014 e reivindicada pela Ucrânia. O Ministério da Defesa da Rússia disse inicialmente que um militar foi morto após ser atingido por um míssil, mas depois emitiu outro comunicado dizendo que o militar estava desaparecido.
O Kremlin também afirmou que os provedores de internet da Crimeia foram atingidos por ataques cibernéticos “sem precedentes” horas após o bombardeio. “Estamos corrigindo os cortes de internet na península”, escreveu o assessor do governo russo na Crimeia, Oleg Kriuchkov, no Telegram. Não ficou claro se os ataques estão ligados aos bombardeios.
Em um aparente reconhecimento da responsabilidade da Ucrânia pelo bombardeio, o comandante da Força Aérea de Kiev postou um vídeo que mostram sirenes aéreas ligadas e fumaça subindo do prédio, junto com uma mensagem de agradecimento aos pilotos.
Os ataques acontecem em meio a uma intensificação de bombardeios russos a infraestruturas no interior da Ucrânia, enquanto forças ucranianas continuam com uma contraofensiva lenta no campo de batalha. De acordo com o primeiro-ministro da Ucrânia, Denis Shmihal, Moscou teria disparado mais de 40 mísseis de cruzeiro em diversas regiões. “A fase de terror energético neste período já começou”, declarou Smihal durante um evento econômico em Kiev. “Vemos isso nos primeiros ataques a subestações regionais de energia nas últimas duas semanas”, acrescentou.
Mais da guerra na Ucrânia
Durante o inverno do Hemisfério Norte no ano passado, as forças russas lançaram repetidos ataques à rede de energia da Ucrânia que deixaram milhões de pessoas sem eletricidade, aquecimento e água por longos períodos. A estratégia levou a Ucrânia a reforçar as defesas aéreas este ano com o apoio do Ocidente. “Estamos muito mais bem preparados e mais fortes do que no ano passado. Com certeza, o inverno será difícil”, afirmou Smihal.
Esta semana, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, citou no discurso da Assembleia-Geral da ONU a estratégia russa de atacar infraestruturas energéticas como transformação de energia em arma de guerra. Os alimentos também foram citados por Zelenski como “armas de guerra” da Rússia, em uma referência aos conflitos no Mar Negro. Zelenski continua em viagem na América do Norte para conseguir mais apoio para a Ucrânia e chegou ao Canadá nesta sexta-feira. Nesta quinta, ele se reuniu com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e com os congressistas americanos.
Crimeia
A península da Crimeia, que a Rússia anexou da Ucrânia em 2014 em um ato que a maior parte do mundo considerou ilegal, tem sido um alvo frequente desde que o presidente Vladimir Putin ordenou a invasão russa em grande escala da Ucrânia em fevereiro de 2022.
Ataques anteriores resultaram em várias mortes de civis, mas as autoridades russas ainda não relataram nenhum militar morto. Seis pessoas ficaram feridas após um ataque em julho de 2022 ao quartel-general da Frota do Mar Negro, mas não ficou claro se eram civis ou militares.
O governador de Sebastopol, Mikhail Razvozhaiev, disse que ninguém ficou ferido fora do quartel-general incendiado, mas não forneceu informações sobre outras vítimas. Os bombeiros combateram os incêndios e forças de emergência foram acionadas, indicando que o incêndio poderia ser intenso.
Agências de notícias russas relatam que moradores de Sebastopol ouviram explosões e viram fumaça, e imagens mostraram uma névoa cinza sobre a orla.
O Ministério da Defesa disse que cinco mísseis foram abatidos por sistemas de defesa aérea russos em resposta ao ataque a Sebastopol. Um dos mísseis caiu perto de Bakhchisarai, a cerca de 30 quilômetros do interior da Crimeia, e provocou um incêndio na grama. /AP, AFP