Autoridades da Ucrânia começaram a distribuir comprimidos de iodo para moradores nos arredores da usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, nesta sexta-feira, 26. Em meio aos combates perto do complexo, cresce também os temores de que um possível vazamento de radiação cause uma catástrofe.
A medida foi tomada um dia depois da usina ter sido temporariamente desligada da rede elétrica do país por causa de danos provocados por um incêndio em uma linha de transmissão. O incidente aumentou o temor de um desastre nuclear em um país ainda assombrado pela explosão do reator da usina de Chernobyl, em 1986. A rede foi reativada nesta sexta-feira, mas os riscos continuam, segundo as autoridades ucranianas.
Bombardeios contínuos foram relatados na área durante a noite, e imagens de satélite do Planet Labs mostraram incêndios queimando ao redor do complexo – a maior usina nuclear da Europa – nos últimos dias.
Comprimidos de iodo, que ajudam a bloquear a absorção de iodo radioativo pela tireoide em caso de acidente nuclear, foram distribuídos na cidade de Zaporizhzhia, controlada pela Ucrânia, a cerca de 45 km da usina.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU está tentando enviar uma equipe para inspecionar e ajudar a proteger a usina. Autoridades disseram que os preparativos para a viagem estão em andamento, mas ainda não está claro quando ela pode acontecer.
Zaporizhzhia foi ocupada por forças russas, mas continua a ser administrada por funcionários ucranianos desde os primeiros dias da guerra. Os dois lados se acusaram de bombardear o local.
No incidente de quinta-feira, a Ucrânia e a Rússia culparam-se mutuamente pelos danos na linha de transmissão que derrubou a usina da rede elétrica.
Não está claro o que exatamente aconteceu, mas o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, disse que os geradores a diesel de emergência da usina tiveram que ser ativados para fornecer eletricidade para operar o complexo - a usina requer energia para operar os sistemas vitais de resfriamento dos reatores. Uma perda de resfriamento pode levar a um colapso nuclear.
A Ukrenergo, operadora do sistema de transmissão da Ucrânia, informou na sexta-feira que duas linhas principais danificadas que abastecem a usina com eletricidade retomaram a operação, garantindo um fornecimento de energia estável.
A agência de energia nuclear do país, Energoatom, disse que a usina foi reconectada à rede e estava produzindo eletricidade “para as necessidades da Ucrânia”.
“Os trabalhodores nucleares da usina de Zaporizhzhia são verdadeiros heróis! Eles sustentam incansavelmente e com firmeza a segurança nuclear e radiológica da Ucrânia e de toda a Europa em seus ombros”, disse a agência em comunicado.
Autoridades instaladas pela Rússia na região de Zaporizhzhia, no entanto, disseram que a usina estava fornecendo eletricidade apenas para áreas do país controladas pela Rússia e não para o resto da Ucrânia.
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que uma visita da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU deve ocorrer “muito rapidamente”, alertando: “A energia nuclear civil não deve ser um instrumento de guerra”.
Lana Zerkal, conselheira do ministro da Energia da Ucrânia, disse à mídia ucraniana que a logística para uma visita da AIEA ainda está sendo elaborada. Zerkal acusou a Rússia de tentar sabotar a visita.
A Ucrânia alegou que a Rússia está usando a usina como um escudo, armazenando armas lá e lançando ataques ao seu redor. Moscou, por sua vez, acusa a Ucrânia de disparar imprudentemente contra o local.
Os reatores de Zaporizhzhia são protegidos por grossas cúpulas de contenção de concreto armado que, segundo especialistas, podem resistir a um projétil de artilharia errante. Muitos dos temores se concentram em uma possível perda do sistema de resfriamento, e também no risco de que um ataque às lagoas de resfriamento onde são mantidas as barras de combustível usado possa espalhar material radioativo.
O contínuo bombardeio russo de Nikopol, uma cidade do outro lado do rio Dnieper a partir da usina Zaporizhzhia, danificou 10 casas, uma escola e uma unidade de saúde, mas não causou feridos, disse o governador de Dnipropetrovsk, Valentin Reznichenko./ AP