As evidências de que a barragem de Nova Kakhovka foi explodida cresceram nas últimas horas, após a publicação de dados sísmicos mostrando que houve uma explosão no local na madrugada de terça-feira, 6.
Segundo o Norsar, também chamado de Norwegian Seismic Array, um centro independente de avaliação de terremotos e explosões nucleares, afirmou que os sinais de uma estação regional na Romênia apontavam para uma explosão durante a madrugada. O centro não deu mais detalhes sobre quem teria sido o responsável pela explosão.
De acordo com o The New York Times, um alto funcionário do governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que os satélites dos EUA também detectaram uma explosão na barragem pouco antes de seu colapso, mas acrescentou que os analistas de inteligência dos EUA ainda não concluíram quem causou a explosão ou exatamente o que aconteceu.
Separadamente, o serviço de segurança doméstica da Ucrânia divulgou uma gravação do que dizem ser uma conversa telefônica entre dois militares russos não identificados, discutindo como a Rússia havia sido responsável pela explosão da barragem. Na gravação, que não foi verificada de forma independente, um grupo de sabotagem de Moscou teria se responsabilizado pela explosão, mas o colapso havia sido maior do que o esperado.
“Os invasores queriam chantagear a Ucrânia”, afirmou o serviço de segurança de Kiev.
Em entrevista ao jornal The Guardian, Ihor Syrota, diretor-geral da empresa de energia hidrelétrica ucraniana Ukrhydroenergo, afirmou que sugestões de que a barragem poderia ter sido destruída por um bombardeio ucraniano ou falha estrutural eram parte de uma propaganda russa.
“A usina foi projetada para resistir a um ataque nuclear”, apontou Syrota. “Para destruir a usina por fora, pelo menos três aviões, cada um de 500kg, teriam que ser lançados no mesmo local. A estação foi explodida por dentro. Os russos estavam apenas esperando o dia certo para explosão”, completou.
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Moscou não tem provas contra Kiev
Imagens exclusivas da Associated Press da barragem ucraniana desmoronada e de cidades vizinhas sob ocupação russa mostraram a estrutura em ruínas em meio as enchentes e centenas de casas submersas. As imagens não mostram nenhuma evidência de um ataque de Kiev.
Uma equipe da Associated Press sobrevoou a devastação com um drone na quarta-feira, 8, um dia após a destruição da barragem de Kakhovka no rio Dnieper.
A maior parte da barragem em si está submersa, mas as partes dos edifícios ainda visíveis acima das águas correntes não tinham marcas de queimaduras ou estilhaços típicas de um bombardeio que a Rússia acusou a Ucrânia de realizar.
A Ucrânia, por sua vez, alegou que as forças russas, que controlavam a barragem, a explodiram por dentro. As imagens da AP não conseguiram sustentar as alegações ucranianas.
Kiev alertou desde outubro do ano passado que a represa hidrelétrica foi minada por forças russas e os acusou de desencadear uma explosão que transformou a região em um terreno baldio alagado. A Rússia disse que a Ucrânia atingiu a barragem com um míssil. Especialistas disseram que a estrutura estava em mau estado, o que também poderia ter levado ao seu colapso.
Cidade ocupada por Moscou está paralisada
Anna Lodigina, uma moradora de Nova Kakhovka que fugiu da cidade em meio a ocupação de Moscou, afirmou que a enchente paralisou a cidade ocupada, com mercados fechados e eletricidade limitada. Os soldados russos que ocupavam a casa de sua família, a apenas 500 metros do rio, fugiram depois que a barragem desabou e os vizinhos disseram a ela que a água chega ao andar superior do prédio de dois andares.
Amigos e vizinhos afirmaram que os russos se retiraram depois das enchentes, mas não ajudaram os residentes, então as pessoas resolveram o problema por conta própria, encontrando abrigo em um bairro mais distante do rio.
Segundo Lodigina, a parte histórica da cidade está submersa.
Do lado controlado pela Ucrânia, um funcionário da Cruz Vermelha atendeu ligações de pessoas que vivem em territórios ocupados pela Rússia e pediam resgate, mas pouco pôde fazer por elas.
“Ontem recebemos pelo menos 30 ligações de territórios ocupados”, disse Mikola Tarenenko, chefe da equipe de resposta rápida da Cruz Vermelha de Kherson. “As pessoas estão nos pedindo ajuda porque nenhuma operação para a retirada destas pessoas foi organizada.”
Conflitos
Ucrânia e Rússia travaram fortes batalhas nas linhas de frente nesta sexta-feira, 9, com os combates mais intensos ocorrendo na região sudeste de Zaporizhzhia, onde analistas militares alertam que a Ucrânia enfrentará perdas consideráveis ao tentar romper as defesas russas fortificadas.
Os militares ucranianos não reivindicaram nenhum avanço após um dia de ataques crescentes, que autoridades dos EUA disseram ser o principal impulso da tão esperada contraofensiva da Ucrânia com o objetivo de retomar o território capturado.
Os presidentes Volodimir Zelenski da Ucrânia e Vladimir Putin da Rússia apresentaram narrativas divergentes sobre a escalada dos combates, cada um reivindicando a vantagem. Zelenski disse que as forças ucranianas estavam alcançando resultados “passo a passo”, enquanto Putin afirmou que “a coragem dos soldados russos” estava frustrando o avanço de Kiev.
Zelenski apontou na quinta-feira que o exército ucraniano fez progressos, embora não tenha dado detalhes. Moscou apontou que suas forças repeliram vários ataques ucranianos nas regiões do sudeste de Zaporizhzhia e Donetsk. Não foi possível confirmar o relato de nenhum dos lados sobre os conflitos.
Putin disse que a Ucrânia iniciou uma ofensiva e não alcançou seus objetivos em nenhum setor graças à “organização adequada” das tropas russas./NY Times e AP