Ucrânia enfrenta desafio de reabilitar 20 mil pessoas amputadas desde o início da guerra


Drama atinge a escala da 1ª guerra e soma-se ao trauma psicológico de soldados e civis

Por Redação

Enquanto a guerra na Ucrânia segue estagnada, o país tem 20 mil pessoas amputadas, a maior parte são soldados que carregam ainda o trauma psicológico das batalhas. O drama é inédito na Europa desde a 1ª Guerra enquanto os Estados Unidos, um dos maiores aliados de Kiev contra Rússia, só viram algo parecido durante a Guerra Civil americana.

Vitali Biliak ficou seis semanas em coma e enfrentou dez cirurgias depois que passou por cima de minas antitanque. “Quando acordei senti como se tivesse nascido de novo, voltado da vida após a morte”, contou à agência AP.

Mais de um ano depois do trauma, ele ainda tem pesadelos em que é alvejado pelos russos. “Eles começam a ficar nervosos porque estão ficando sem munição e eu continuo vivo. Eu mostro pra eles o dedo do meio e começo a rir”, relatou a vingança do inconsciente enquanto ainda tenta se recuperar. Biliak teve a perna amputada acima do joelho e espera por uma prótese, que não sabe quando vai receber.

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Médicos transferem Vitali Biliak para um maca em hospital de Lviv, Ucrânia, 25 de julho de 2023.  Foto: AP Photo/Evgeniy Maloletka

Os centros de reabilitação estimam que, assim como ele, 20 mil pessoas sofreram amputações desde o início da invasão russa. Embora o governo não confirme o percentual de militares, é provável que muitos sejam soldados já que os graves ferimentos por explosões são comuns em uma guerra com uma linha de combate tão extensa.

Os centros oferecem próteses com ajuda de outros países, ONGs e empresas privadas. Já os voluntários, como o paraquedista Mikhailo Iurchuk atuam como líderes motivacionais para outros feridos que precisam reaprender a lidar com o próprio corpo depois das amputações. Com isso, mesmo que informalmente, ele ajuda a suprir a falta de profissionais especializados em reabilitação para atender um número cada vez maior de amputados.

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O próprio Iurchuk foi ferido logo no início da guerra, perto da cidade de Izium, o palco de um massacre onde uma vala comum foi encontrada. Ele conta que pensou em tirar a própria vida com uma granada enquanto os colegas o carregavam por uma hora para salvá-lo. Preocupado com Iurchuk, um médico ficou o tempo inteiro ao lado dele na UTI: “tinha medo que você puxasse o pino”, disse em resposta ao agradecimento do soldado.

Mikhailo Iurchuk passeia com a mulher e a filha recém-nascida em Lviv, Ucrânia.  Foto: AP Photo/Evgeniy Maloletka

Desde que o paraquedista teve a perna amputada acima do joelho, 18 meses se passaram. De lá para cá, ele casou com uma voluntária do centro de reabilitação, teve uma filha e recuperou os movimentos com a ajuda de duas próteses, uma na perna direita e outra na mão esquerda.

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A médica do Imperial College Emily Mayhew, que é especialista em lesões causadas por explosões e já atendeu milhares de amputados explica como essa adaptação é complexa. “Todo o sistema locomotivo precisa ser reorientado. Eles têm que fazer uma redistribuição do peso, algo que é muito difícil de fazer e requer ajuda de outra pessoa”.

No entanto, relatou e Mayhew, a parte mais difícil para os amputados geralmente é aprender a convier com a dor constante da lesão e os seus efeitos. “Quando as pessoas sofrem uma lesão física e uma lesão psicológica que a acompanha, essas coisas nunca podem ser separadas.”

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Mesmo diante do trauma, alguns amputados se ressentem por deixar o campo de batalha, como o ex-comandante de batalhão Valentin Litvinchuk. Recentemente, ele voltou ao centro de treinamento militar com uma prótese na perna na esperança de poder ajudar de alguma forma, mas logo desistiu.

“Eu percebi que era irreal. Eu consigo pular na trincheira, mas preciso ficar de quatro apoios para sair. Mesmo quando me movimento ‘rápido’ até uma criança pode me alcançar”, disse ele acrescentando que “além disso, a prótese cai”.

Campo de batalha

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Para os soldados que seguem em combate, a situação também é difícil. A Ucrânia dá sinais de avanço na frente de batalha ao sul do país como parte de uma anunciada contraofensiva que está prestes a completar três meses. O problema é que, mesmo com o forte apoio militar da Otan, esses avanços têm sido lentos e dependem de pequenos grupos de soldados encarregados de atacar uma trincheira, uma vila, às vezes uma casa por vez.

Nesse cenário, a tropa passará por uma mudança de comando, com a demissão do ministro da Defesa ucraniano Oleksi Reznikov, acusado de corrupção. Embora o ministro não seja o formulador direto da estratégia militar ucraniana, a escolha do substituto, Rustem Umerov, da Crimeia, sugere que as ações na península anexada por Moscou podem ser intensificadas.

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Recentemente, a ponte entre a Rússia e a Crimeia — símbolo do expansionismo de Vladimir Putin e importante fonte de suprimentos para as tropas — já foi alvo de ataques. A Ucrânia não reivindica a autoria dessas explosões, mas também não nega.

Do outro lado, Putin voltou a tripudiar da tentativa ucraniana de retomar território ocupado pela Rússia. Nesta segunda-feira, 04, o presidente russo minimizou os efeitos da contraofensiva que definiu como um “fracasso”./AP, EFE e The New York Times

Enquanto a guerra na Ucrânia segue estagnada, o país tem 20 mil pessoas amputadas, a maior parte são soldados que carregam ainda o trauma psicológico das batalhas. O drama é inédito na Europa desde a 1ª Guerra enquanto os Estados Unidos, um dos maiores aliados de Kiev contra Rússia, só viram algo parecido durante a Guerra Civil americana.

Vitali Biliak ficou seis semanas em coma e enfrentou dez cirurgias depois que passou por cima de minas antitanque. “Quando acordei senti como se tivesse nascido de novo, voltado da vida após a morte”, contou à agência AP.

Mais de um ano depois do trauma, ele ainda tem pesadelos em que é alvejado pelos russos. “Eles começam a ficar nervosos porque estão ficando sem munição e eu continuo vivo. Eu mostro pra eles o dedo do meio e começo a rir”, relatou a vingança do inconsciente enquanto ainda tenta se recuperar. Biliak teve a perna amputada acima do joelho e espera por uma prótese, que não sabe quando vai receber.

Médicos transferem Vitali Biliak para um maca em hospital de Lviv, Ucrânia, 25 de julho de 2023.  Foto: AP Photo/Evgeniy Maloletka

Os centros de reabilitação estimam que, assim como ele, 20 mil pessoas sofreram amputações desde o início da invasão russa. Embora o governo não confirme o percentual de militares, é provável que muitos sejam soldados já que os graves ferimentos por explosões são comuns em uma guerra com uma linha de combate tão extensa.

Os centros oferecem próteses com ajuda de outros países, ONGs e empresas privadas. Já os voluntários, como o paraquedista Mikhailo Iurchuk atuam como líderes motivacionais para outros feridos que precisam reaprender a lidar com o próprio corpo depois das amputações. Com isso, mesmo que informalmente, ele ajuda a suprir a falta de profissionais especializados em reabilitação para atender um número cada vez maior de amputados.

O próprio Iurchuk foi ferido logo no início da guerra, perto da cidade de Izium, o palco de um massacre onde uma vala comum foi encontrada. Ele conta que pensou em tirar a própria vida com uma granada enquanto os colegas o carregavam por uma hora para salvá-lo. Preocupado com Iurchuk, um médico ficou o tempo inteiro ao lado dele na UTI: “tinha medo que você puxasse o pino”, disse em resposta ao agradecimento do soldado.

Mikhailo Iurchuk passeia com a mulher e a filha recém-nascida em Lviv, Ucrânia.  Foto: AP Photo/Evgeniy Maloletka

Desde que o paraquedista teve a perna amputada acima do joelho, 18 meses se passaram. De lá para cá, ele casou com uma voluntária do centro de reabilitação, teve uma filha e recuperou os movimentos com a ajuda de duas próteses, uma na perna direita e outra na mão esquerda.

A médica do Imperial College Emily Mayhew, que é especialista em lesões causadas por explosões e já atendeu milhares de amputados explica como essa adaptação é complexa. “Todo o sistema locomotivo precisa ser reorientado. Eles têm que fazer uma redistribuição do peso, algo que é muito difícil de fazer e requer ajuda de outra pessoa”.

No entanto, relatou e Mayhew, a parte mais difícil para os amputados geralmente é aprender a convier com a dor constante da lesão e os seus efeitos. “Quando as pessoas sofrem uma lesão física e uma lesão psicológica que a acompanha, essas coisas nunca podem ser separadas.”

Mesmo diante do trauma, alguns amputados se ressentem por deixar o campo de batalha, como o ex-comandante de batalhão Valentin Litvinchuk. Recentemente, ele voltou ao centro de treinamento militar com uma prótese na perna na esperança de poder ajudar de alguma forma, mas logo desistiu.

“Eu percebi que era irreal. Eu consigo pular na trincheira, mas preciso ficar de quatro apoios para sair. Mesmo quando me movimento ‘rápido’ até uma criança pode me alcançar”, disse ele acrescentando que “além disso, a prótese cai”.

Campo de batalha

Para os soldados que seguem em combate, a situação também é difícil. A Ucrânia dá sinais de avanço na frente de batalha ao sul do país como parte de uma anunciada contraofensiva que está prestes a completar três meses. O problema é que, mesmo com o forte apoio militar da Otan, esses avanços têm sido lentos e dependem de pequenos grupos de soldados encarregados de atacar uma trincheira, uma vila, às vezes uma casa por vez.

Nesse cenário, a tropa passará por uma mudança de comando, com a demissão do ministro da Defesa ucraniano Oleksi Reznikov, acusado de corrupção. Embora o ministro não seja o formulador direto da estratégia militar ucraniana, a escolha do substituto, Rustem Umerov, da Crimeia, sugere que as ações na península anexada por Moscou podem ser intensificadas.

Recentemente, a ponte entre a Rússia e a Crimeia — símbolo do expansionismo de Vladimir Putin e importante fonte de suprimentos para as tropas — já foi alvo de ataques. A Ucrânia não reivindica a autoria dessas explosões, mas também não nega.

Do outro lado, Putin voltou a tripudiar da tentativa ucraniana de retomar território ocupado pela Rússia. Nesta segunda-feira, 04, o presidente russo minimizou os efeitos da contraofensiva que definiu como um “fracasso”./AP, EFE e The New York Times

Enquanto a guerra na Ucrânia segue estagnada, o país tem 20 mil pessoas amputadas, a maior parte são soldados que carregam ainda o trauma psicológico das batalhas. O drama é inédito na Europa desde a 1ª Guerra enquanto os Estados Unidos, um dos maiores aliados de Kiev contra Rússia, só viram algo parecido durante a Guerra Civil americana.

Vitali Biliak ficou seis semanas em coma e enfrentou dez cirurgias depois que passou por cima de minas antitanque. “Quando acordei senti como se tivesse nascido de novo, voltado da vida após a morte”, contou à agência AP.

Mais de um ano depois do trauma, ele ainda tem pesadelos em que é alvejado pelos russos. “Eles começam a ficar nervosos porque estão ficando sem munição e eu continuo vivo. Eu mostro pra eles o dedo do meio e começo a rir”, relatou a vingança do inconsciente enquanto ainda tenta se recuperar. Biliak teve a perna amputada acima do joelho e espera por uma prótese, que não sabe quando vai receber.

Médicos transferem Vitali Biliak para um maca em hospital de Lviv, Ucrânia, 25 de julho de 2023.  Foto: AP Photo/Evgeniy Maloletka

Os centros de reabilitação estimam que, assim como ele, 20 mil pessoas sofreram amputações desde o início da invasão russa. Embora o governo não confirme o percentual de militares, é provável que muitos sejam soldados já que os graves ferimentos por explosões são comuns em uma guerra com uma linha de combate tão extensa.

Os centros oferecem próteses com ajuda de outros países, ONGs e empresas privadas. Já os voluntários, como o paraquedista Mikhailo Iurchuk atuam como líderes motivacionais para outros feridos que precisam reaprender a lidar com o próprio corpo depois das amputações. Com isso, mesmo que informalmente, ele ajuda a suprir a falta de profissionais especializados em reabilitação para atender um número cada vez maior de amputados.

O próprio Iurchuk foi ferido logo no início da guerra, perto da cidade de Izium, o palco de um massacre onde uma vala comum foi encontrada. Ele conta que pensou em tirar a própria vida com uma granada enquanto os colegas o carregavam por uma hora para salvá-lo. Preocupado com Iurchuk, um médico ficou o tempo inteiro ao lado dele na UTI: “tinha medo que você puxasse o pino”, disse em resposta ao agradecimento do soldado.

Mikhailo Iurchuk passeia com a mulher e a filha recém-nascida em Lviv, Ucrânia.  Foto: AP Photo/Evgeniy Maloletka

Desde que o paraquedista teve a perna amputada acima do joelho, 18 meses se passaram. De lá para cá, ele casou com uma voluntária do centro de reabilitação, teve uma filha e recuperou os movimentos com a ajuda de duas próteses, uma na perna direita e outra na mão esquerda.

A médica do Imperial College Emily Mayhew, que é especialista em lesões causadas por explosões e já atendeu milhares de amputados explica como essa adaptação é complexa. “Todo o sistema locomotivo precisa ser reorientado. Eles têm que fazer uma redistribuição do peso, algo que é muito difícil de fazer e requer ajuda de outra pessoa”.

No entanto, relatou e Mayhew, a parte mais difícil para os amputados geralmente é aprender a convier com a dor constante da lesão e os seus efeitos. “Quando as pessoas sofrem uma lesão física e uma lesão psicológica que a acompanha, essas coisas nunca podem ser separadas.”

Mesmo diante do trauma, alguns amputados se ressentem por deixar o campo de batalha, como o ex-comandante de batalhão Valentin Litvinchuk. Recentemente, ele voltou ao centro de treinamento militar com uma prótese na perna na esperança de poder ajudar de alguma forma, mas logo desistiu.

“Eu percebi que era irreal. Eu consigo pular na trincheira, mas preciso ficar de quatro apoios para sair. Mesmo quando me movimento ‘rápido’ até uma criança pode me alcançar”, disse ele acrescentando que “além disso, a prótese cai”.

Campo de batalha

Para os soldados que seguem em combate, a situação também é difícil. A Ucrânia dá sinais de avanço na frente de batalha ao sul do país como parte de uma anunciada contraofensiva que está prestes a completar três meses. O problema é que, mesmo com o forte apoio militar da Otan, esses avanços têm sido lentos e dependem de pequenos grupos de soldados encarregados de atacar uma trincheira, uma vila, às vezes uma casa por vez.

Nesse cenário, a tropa passará por uma mudança de comando, com a demissão do ministro da Defesa ucraniano Oleksi Reznikov, acusado de corrupção. Embora o ministro não seja o formulador direto da estratégia militar ucraniana, a escolha do substituto, Rustem Umerov, da Crimeia, sugere que as ações na península anexada por Moscou podem ser intensificadas.

Recentemente, a ponte entre a Rússia e a Crimeia — símbolo do expansionismo de Vladimir Putin e importante fonte de suprimentos para as tropas — já foi alvo de ataques. A Ucrânia não reivindica a autoria dessas explosões, mas também não nega.

Do outro lado, Putin voltou a tripudiar da tentativa ucraniana de retomar território ocupado pela Rússia. Nesta segunda-feira, 04, o presidente russo minimizou os efeitos da contraofensiva que definiu como um “fracasso”./AP, EFE e The New York Times

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