KIEV - A Ucrânia negou nesta quarta-feira, 8, qualquer envolvimento no ataque de setembro aos gasodutos Nord Stream, que foram construídos para transportar gás natural russo para a Alemanha.
Na terça-feira, o jornal americano The New York Times revelou que um grupo pró-ucraniano realizou o ataque aos gasodutos Nord Stream no ano passado, um passo para determinar a responsabilidade por um ato de sabotagem que confundiu investigadores de ambos os lados do Atlântico por meses.
Autoridades dos EUA disseram que não tinham evidências de que o presidente Volodimir Zelenski da Ucrânia ou sua cúpula militar estavam envolvidos na operação, ou que os perpetradores estavam agindo sob a direção de qualquer funcionário do governo ucraniano.
O ataque aos gasodutos, que ligam a Rússia à Europa Ocidental, alimentou a especulação pública sobre quem era o culpado, de Moscou a Kiev e de Londres a Washington, e permaneceu como um dos mistérios não resolvidos de maior importância da invasão na Ucrânia.
Mikhailo Podoliak, assessor do presidente ucraniano, disse que a Ucrânia “não está de forma alguma envolvida”. Moscou questionou como os EUA poderiam fazer suposições sem uma investigação.
Respondendo à reportagem do New York Times, Podolyak acrescentou que Kiev não tinha informações sobre o que havia acontecido.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, chamou o relatório de “cortina de fumaça, uma campanha falsa e coordenada de mídia” e disse à agência de notícias estatal Ria-Novosti que aqueles que atacaram o gasoduto “claramente queriam desviar a atenção”.
A Rússia culpou o Ocidente pelas explosões e pediu ao Conselho de Segurança da ONU que as investigue de forma independente.
Peskov disse que os países acionistas da Nord Stream deveriam insistir em uma investigação urgente e transparente.
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“Ainda não temos permissão para participar da investigação”, disse ele. “Apenas alguns dias atrás, recebemos notas nesse sentido dos dinamarqueses e suecos. Tudo isso não é apenas estranho. Cheira a um crime hediondo”.
Durante décadas, a Rússia forneceu enormes quantidades de gás natural para a Europa Ocidental. Mas depois que a guerra na Ucrânia começou em fevereiro do ano passado, a maioria dos países da UE reduziu drasticamente sua dependência da energia russa.
Investigadores alemães disseram na quarta-feira que revistaram um navio em janeiro, suspeito de transportar os explosivos usados para sabotar os dois gasodutos. Não havia, nesta fase, nenhuma evidência que sugerisse que um Estado estrangeiro estivesse envolvido, disseram eles.
O fornecimento de gás russo havia sido suspenso antes das explosões. A Rússia fechou o oleoduto Nord Stream 1 em agosto do ano passado, dizendo que precisava de manutenção. O Nord Stream 2 nunca havia sido colocado em serviço.
A causa exata das explosões de 26 de setembro que atingiram os gasodutos é desconhecida, mas acredita-se que foi um ato de sabotagem. Os líderes da Otan e do Ocidente não chegaram a acusar diretamente a Rússia de atacar seus próprios gasodutos, embora a UE tenha dito anteriormente que a Rússia usa seus gasodutos como uma arma contra o Ocidente.
Citando autoridades americanas anônimas, o relatório obtido pelo New York Times acusando “grupos pró-Ucrânia” pela sabotagem dizia não haver evidências de que o presidente ucraniano Volodimir Zelenski ou seus principais assessores estivessem envolvidos na operação.
O jornal norte-americano informou que as autoridades se recusaram a revelar a natureza da inteligência, como ela foi obtida ou “qualquer detalhe sobre a força da evidência que ela contém”.
Enquanto isso, o site alemão Die Zeit informou que as autoridades alemãs fizeram um avanço em sua investigação sobre a causa dos ataques.
De acordo com uma pesquisa conjunta de várias organizações de mídia alemãs, o barco usado para plantar os explosivos era um iate alugado de uma empresa sediada na Polônia, que supostamente pertencia a dois ucranianos. As nacionalidades daqueles que realizaram o ataque não eram claras.
Mais tarde, os investigadores alemães se recusaram a confirmar os detalhes do relatório, mas disseram que um navio havia sido revistado há sete semanas.
Em sua reportagem, o jornal alemão Die Zeit disse que os passaportes fornecidos para alugar o iate usado pelos suspeitos foram “falsificados profissionalmente”. Embora os investigadores não tenham descartado a possibilidade de uma operação de bandeira falsa, eles a consideraram improvável, escreveu o jornal.
Acredita-se que pelo menos 50 metros do gasoduto submarino Nord Stream 1, que transporta gás russo para a Alemanha, tenham sido destruídos pela explosão de setembro. A polícia dinamarquesa acredita que “explosões poderosas” abriram quatro buracos no cano. Autoridades alemãs, dinamarquesas e suecas estão investigando o incidente.
Acusação precipitada
O ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, alertou que era precipitado tirar conclusões sobre o caso. “Pode ser uma operação de ‘bandeira falsa’ destinada a atribuir a culpa a grupos pró-ucranianos”, disse ele a uma rádio alemã: “A probabilidade de ser uma teoria ou outra é igualmente alta”.
O chefe da Otan disse que ainda é incerto quem realizou o ataque aos gasodutos Nord Stream em setembro do ano passado e que as investigações precisam ser concluídas.
“O que sabemos é que houve um ataque contra os gasodutos Nord Stream, mas não conseguimos determinar quem estava por trás disso”, disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. “Existem investigações nacionais em andamento e acho que é certo esperar até que sejam finalizadas antes de dizermos mais alguma coisa sobre quem está por trás disso”. / NYT, W.POST e AP