Ucranianos relatam novos horrores com inundações após destruição de represa


Muitos dos afetados viviam em Kherson, região que tentava retomar normalidade depois de nove meses sob ocupação russa

Por Redação

KHERSON - A explosão que acordou Oksana Alfiorova, 57, parecia bastante normal, pelo menos para Kherson durante a Guerra da Ucrânia. Ela viveu nove meses de ocupação russa –”muito assustadora”– e, desde então, quase o mesmo tempo sob o bombardeio constante das forças de Moscou, que montaram acampamento no rio Dnieper, no sul da Ucrânia, depois que foram expulsas da cidade.

Mas, mesmo para Kherson, Oksana percebeu que as coisas estavam longe do normal na manhã de terça, 6. A água estava enchendo as ruas de seu bairro. A barragem da represa de Kakhovka explodiu, o que levou ao alagamento de mais de 80 vilas e pequenas cidades. Logo acabou a energia, o gás parou de funcionar e o abastecimento de água parou.

continua após a publicidade

Então ela fez algo a que havia resistido por muito tempo, apesar de todas as dificuldades do último ano e meio: fugiu. Embarcou num trem de retirada de Kherson para Mikolaiv, cerca de 65 km a oeste, desabrigada pela primeira vez em sua vida. “Não tive escolha.” A ONU afirmou que a destruição desencadeada é “monumental”.

Pessoas se movem em botes de borracha ao longo das ruas inundadas de Kherson, Ucrânia Foto: Mykola Tymchenko / EFE

Muitos de seus vizinhos e amigos decidiram arriscar e ficar. No trem destinado a levar pessoas para um local seguro havia 43 passageiros, entre eles várias crianças. A maioria dos dez vagões estava vazia.

continua após a publicidade

Oksana diz que muitas pessoas que ela conhecia decidiram se mudar para terrenos mais altos para ficar com amigos e familiares ou escapar da enchente em apartamentos em andares altos. “Tenho uma vizinha no terceiro andar que tem três cachorros. Ela não vai sair de casa.”

Ela mesma mora no quarto andar do prédio de nove andares, e a inundação foi uma dificuldade a mais, embora seja a tristeza mais recente numa cidade que abrigava 290 mil pessoas antes da guerra.

Oksana, uma socióloga, relembra os meses sombrios da ocupação, quando tinha pouco dinheiro e comida. Soldados ameaçavam os civis, procurando pessoas pró-Ucrânia, saqueando casas e empresas e deixando de fornecer até mesmo os serviços mais básicos.

continua após a publicidade

A ameaça não acabou depois que as forças ucranianas recapturaram Kherson em novembro e os russos começaram a bombardear a cidade à distância. Oksana se acostumou tanto que aprendeu a medir o perigo pelos sons no ar. “Se eu ouvir um assobio, pode estar muito longe. Mas quando é um som estrondoso, você entende que vai cair bem perto.”

Em março, diz, um projétil explodiu tão próximo que ela pensou por um momento que seria o fim. Mas sobreviveu. Na terça-feira, quando as explosões chegaram mais uma vez por volta das 4h, ela imaginou que fosse apenas o despertador habitual de Kherson. Não era.

continua após a publicidade

À medida que as ruas desapareciam sob a correnteza, carros de polícia começaram a patrulhar com alto-falantes para alertar sobre o perigo crescente. Liberem a área, diziam aos moradores.

Equipes de resgate tentam rebocar barcos que transportam moradores sendo retirados de um bairro inundado em Kherson, Ucrânia Foto: Libkos /AP

“Verifiquei os canais do Telegram, conversei com vizinhos e amigos e decidi partir”, relata Oksana. Ela e seu filho, Oleh, 23, correram para juntar documentos importantes, alguns pertences e seus dois gatos, Biusia e Miusia, que ela colocou em gaiolas de papelão.

continua após a publicidade

Mas, quando eles tentaram sair do bairro, o bombardeio recomeçou, forçando-os a se abrigar num porão. Só quando acalmou é que puderam seguir para a estação de trens. “Ao sair, percebemos que esquecemos nosso dinheiro”, diz. Mas havia voluntários de várias agências humanitárias na estação para ajudá-la.

Ela consultou amigos que ficaram para trás e acredita que tomou a única decisão que pôde, por mais difícil que fosse. “O nível da água está tão alto agora que as pessoas podem nadar.”

Cenas semelhantes foram descritas em Antonivka, a cerca de 65 km abaixo da barragem destruída. Uma moradora da cidade, Hanna Zarudnia, 69, diz que passou a noite em um abrigo no porão por causa dos bombardeios intensos. “Cerca de dez casas foram danificadas.”

continua após a publicidade
Equipes de resgate tentam rebocar barcos que transportam moradores sendo retirados de um bairro inundado em Kherson, na Ucrânia Foto: Felipe Dana/ AP

Então um novo horror tomou forma. “Antonivka estava cercada de água por todos os lados, estávamos numa ilha”, relata. “Tenho fotos, vídeos: estradas, um estádio, uma escola, tudo alagado.”

A Ucrânia e a Rússia se acusaram mutuamente pela explosão da barragem, uma estrutura crítica cuja violação colocou em risco milhares de pessoas. Zarudnia zomba da ideia de que a Ucrânia explodiu sua própria represa e lembra que alegações semelhantes foram feitas sobre ataques em Kherson, onde ela viveu sob ocupação.

“Fui testemunha disso.” Ela diz não ter dúvidas de quem esteve bombardeando sua casa semana após semana naquela época, e tampouco sobre quem explodiu a represa agora, nesta semana.

De acordo com a ONU, pelo menos 16 mil pessoas já perderam suas casas e esforços estão em andamento para fornecer água potável, dinheiro e apoio legal e emocional aos afetados. As retiradas no lado do rio controlado pelos ucranianos estavam transportando pessoas para cidades como Mikolaiv e Odesa, a oeste.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, afirmou que milhares de pessoas ainda não foram retiradas da região e estão sem acesso a água./AP e NY Times

KHERSON - A explosão que acordou Oksana Alfiorova, 57, parecia bastante normal, pelo menos para Kherson durante a Guerra da Ucrânia. Ela viveu nove meses de ocupação russa –”muito assustadora”– e, desde então, quase o mesmo tempo sob o bombardeio constante das forças de Moscou, que montaram acampamento no rio Dnieper, no sul da Ucrânia, depois que foram expulsas da cidade.

Mas, mesmo para Kherson, Oksana percebeu que as coisas estavam longe do normal na manhã de terça, 6. A água estava enchendo as ruas de seu bairro. A barragem da represa de Kakhovka explodiu, o que levou ao alagamento de mais de 80 vilas e pequenas cidades. Logo acabou a energia, o gás parou de funcionar e o abastecimento de água parou.

Então ela fez algo a que havia resistido por muito tempo, apesar de todas as dificuldades do último ano e meio: fugiu. Embarcou num trem de retirada de Kherson para Mikolaiv, cerca de 65 km a oeste, desabrigada pela primeira vez em sua vida. “Não tive escolha.” A ONU afirmou que a destruição desencadeada é “monumental”.

Pessoas se movem em botes de borracha ao longo das ruas inundadas de Kherson, Ucrânia Foto: Mykola Tymchenko / EFE

Muitos de seus vizinhos e amigos decidiram arriscar e ficar. No trem destinado a levar pessoas para um local seguro havia 43 passageiros, entre eles várias crianças. A maioria dos dez vagões estava vazia.

Oksana diz que muitas pessoas que ela conhecia decidiram se mudar para terrenos mais altos para ficar com amigos e familiares ou escapar da enchente em apartamentos em andares altos. “Tenho uma vizinha no terceiro andar que tem três cachorros. Ela não vai sair de casa.”

Ela mesma mora no quarto andar do prédio de nove andares, e a inundação foi uma dificuldade a mais, embora seja a tristeza mais recente numa cidade que abrigava 290 mil pessoas antes da guerra.

Oksana, uma socióloga, relembra os meses sombrios da ocupação, quando tinha pouco dinheiro e comida. Soldados ameaçavam os civis, procurando pessoas pró-Ucrânia, saqueando casas e empresas e deixando de fornecer até mesmo os serviços mais básicos.

A ameaça não acabou depois que as forças ucranianas recapturaram Kherson em novembro e os russos começaram a bombardear a cidade à distância. Oksana se acostumou tanto que aprendeu a medir o perigo pelos sons no ar. “Se eu ouvir um assobio, pode estar muito longe. Mas quando é um som estrondoso, você entende que vai cair bem perto.”

Em março, diz, um projétil explodiu tão próximo que ela pensou por um momento que seria o fim. Mas sobreviveu. Na terça-feira, quando as explosões chegaram mais uma vez por volta das 4h, ela imaginou que fosse apenas o despertador habitual de Kherson. Não era.

À medida que as ruas desapareciam sob a correnteza, carros de polícia começaram a patrulhar com alto-falantes para alertar sobre o perigo crescente. Liberem a área, diziam aos moradores.

Equipes de resgate tentam rebocar barcos que transportam moradores sendo retirados de um bairro inundado em Kherson, Ucrânia Foto: Libkos /AP

“Verifiquei os canais do Telegram, conversei com vizinhos e amigos e decidi partir”, relata Oksana. Ela e seu filho, Oleh, 23, correram para juntar documentos importantes, alguns pertences e seus dois gatos, Biusia e Miusia, que ela colocou em gaiolas de papelão.

Mas, quando eles tentaram sair do bairro, o bombardeio recomeçou, forçando-os a se abrigar num porão. Só quando acalmou é que puderam seguir para a estação de trens. “Ao sair, percebemos que esquecemos nosso dinheiro”, diz. Mas havia voluntários de várias agências humanitárias na estação para ajudá-la.

Ela consultou amigos que ficaram para trás e acredita que tomou a única decisão que pôde, por mais difícil que fosse. “O nível da água está tão alto agora que as pessoas podem nadar.”

Cenas semelhantes foram descritas em Antonivka, a cerca de 65 km abaixo da barragem destruída. Uma moradora da cidade, Hanna Zarudnia, 69, diz que passou a noite em um abrigo no porão por causa dos bombardeios intensos. “Cerca de dez casas foram danificadas.”

Equipes de resgate tentam rebocar barcos que transportam moradores sendo retirados de um bairro inundado em Kherson, na Ucrânia Foto: Felipe Dana/ AP

Então um novo horror tomou forma. “Antonivka estava cercada de água por todos os lados, estávamos numa ilha”, relata. “Tenho fotos, vídeos: estradas, um estádio, uma escola, tudo alagado.”

A Ucrânia e a Rússia se acusaram mutuamente pela explosão da barragem, uma estrutura crítica cuja violação colocou em risco milhares de pessoas. Zarudnia zomba da ideia de que a Ucrânia explodiu sua própria represa e lembra que alegações semelhantes foram feitas sobre ataques em Kherson, onde ela viveu sob ocupação.

“Fui testemunha disso.” Ela diz não ter dúvidas de quem esteve bombardeando sua casa semana após semana naquela época, e tampouco sobre quem explodiu a represa agora, nesta semana.

De acordo com a ONU, pelo menos 16 mil pessoas já perderam suas casas e esforços estão em andamento para fornecer água potável, dinheiro e apoio legal e emocional aos afetados. As retiradas no lado do rio controlado pelos ucranianos estavam transportando pessoas para cidades como Mikolaiv e Odesa, a oeste.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, afirmou que milhares de pessoas ainda não foram retiradas da região e estão sem acesso a água./AP e NY Times

KHERSON - A explosão que acordou Oksana Alfiorova, 57, parecia bastante normal, pelo menos para Kherson durante a Guerra da Ucrânia. Ela viveu nove meses de ocupação russa –”muito assustadora”– e, desde então, quase o mesmo tempo sob o bombardeio constante das forças de Moscou, que montaram acampamento no rio Dnieper, no sul da Ucrânia, depois que foram expulsas da cidade.

Mas, mesmo para Kherson, Oksana percebeu que as coisas estavam longe do normal na manhã de terça, 6. A água estava enchendo as ruas de seu bairro. A barragem da represa de Kakhovka explodiu, o que levou ao alagamento de mais de 80 vilas e pequenas cidades. Logo acabou a energia, o gás parou de funcionar e o abastecimento de água parou.

Então ela fez algo a que havia resistido por muito tempo, apesar de todas as dificuldades do último ano e meio: fugiu. Embarcou num trem de retirada de Kherson para Mikolaiv, cerca de 65 km a oeste, desabrigada pela primeira vez em sua vida. “Não tive escolha.” A ONU afirmou que a destruição desencadeada é “monumental”.

Pessoas se movem em botes de borracha ao longo das ruas inundadas de Kherson, Ucrânia Foto: Mykola Tymchenko / EFE

Muitos de seus vizinhos e amigos decidiram arriscar e ficar. No trem destinado a levar pessoas para um local seguro havia 43 passageiros, entre eles várias crianças. A maioria dos dez vagões estava vazia.

Oksana diz que muitas pessoas que ela conhecia decidiram se mudar para terrenos mais altos para ficar com amigos e familiares ou escapar da enchente em apartamentos em andares altos. “Tenho uma vizinha no terceiro andar que tem três cachorros. Ela não vai sair de casa.”

Ela mesma mora no quarto andar do prédio de nove andares, e a inundação foi uma dificuldade a mais, embora seja a tristeza mais recente numa cidade que abrigava 290 mil pessoas antes da guerra.

Oksana, uma socióloga, relembra os meses sombrios da ocupação, quando tinha pouco dinheiro e comida. Soldados ameaçavam os civis, procurando pessoas pró-Ucrânia, saqueando casas e empresas e deixando de fornecer até mesmo os serviços mais básicos.

A ameaça não acabou depois que as forças ucranianas recapturaram Kherson em novembro e os russos começaram a bombardear a cidade à distância. Oksana se acostumou tanto que aprendeu a medir o perigo pelos sons no ar. “Se eu ouvir um assobio, pode estar muito longe. Mas quando é um som estrondoso, você entende que vai cair bem perto.”

Em março, diz, um projétil explodiu tão próximo que ela pensou por um momento que seria o fim. Mas sobreviveu. Na terça-feira, quando as explosões chegaram mais uma vez por volta das 4h, ela imaginou que fosse apenas o despertador habitual de Kherson. Não era.

À medida que as ruas desapareciam sob a correnteza, carros de polícia começaram a patrulhar com alto-falantes para alertar sobre o perigo crescente. Liberem a área, diziam aos moradores.

Equipes de resgate tentam rebocar barcos que transportam moradores sendo retirados de um bairro inundado em Kherson, Ucrânia Foto: Libkos /AP

“Verifiquei os canais do Telegram, conversei com vizinhos e amigos e decidi partir”, relata Oksana. Ela e seu filho, Oleh, 23, correram para juntar documentos importantes, alguns pertences e seus dois gatos, Biusia e Miusia, que ela colocou em gaiolas de papelão.

Mas, quando eles tentaram sair do bairro, o bombardeio recomeçou, forçando-os a se abrigar num porão. Só quando acalmou é que puderam seguir para a estação de trens. “Ao sair, percebemos que esquecemos nosso dinheiro”, diz. Mas havia voluntários de várias agências humanitárias na estação para ajudá-la.

Ela consultou amigos que ficaram para trás e acredita que tomou a única decisão que pôde, por mais difícil que fosse. “O nível da água está tão alto agora que as pessoas podem nadar.”

Cenas semelhantes foram descritas em Antonivka, a cerca de 65 km abaixo da barragem destruída. Uma moradora da cidade, Hanna Zarudnia, 69, diz que passou a noite em um abrigo no porão por causa dos bombardeios intensos. “Cerca de dez casas foram danificadas.”

Equipes de resgate tentam rebocar barcos que transportam moradores sendo retirados de um bairro inundado em Kherson, na Ucrânia Foto: Felipe Dana/ AP

Então um novo horror tomou forma. “Antonivka estava cercada de água por todos os lados, estávamos numa ilha”, relata. “Tenho fotos, vídeos: estradas, um estádio, uma escola, tudo alagado.”

A Ucrânia e a Rússia se acusaram mutuamente pela explosão da barragem, uma estrutura crítica cuja violação colocou em risco milhares de pessoas. Zarudnia zomba da ideia de que a Ucrânia explodiu sua própria represa e lembra que alegações semelhantes foram feitas sobre ataques em Kherson, onde ela viveu sob ocupação.

“Fui testemunha disso.” Ela diz não ter dúvidas de quem esteve bombardeando sua casa semana após semana naquela época, e tampouco sobre quem explodiu a represa agora, nesta semana.

De acordo com a ONU, pelo menos 16 mil pessoas já perderam suas casas e esforços estão em andamento para fornecer água potável, dinheiro e apoio legal e emocional aos afetados. As retiradas no lado do rio controlado pelos ucranianos estavam transportando pessoas para cidades como Mikolaiv e Odesa, a oeste.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, afirmou que milhares de pessoas ainda não foram retiradas da região e estão sem acesso a água./AP e NY Times

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.