BRUXELAS – Os líderes da União Europeia concordaram nesta quinta-feira, 14, em iniciar negociações para a adesão de Ucrânia e Moldávia, além de conceder à Geórgia o status de aspirante a membro. Segundo o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, a decisão é um marco importante para a entrada dos ucranianos no bloco assim que a guerra contra a Rússia acabar.
A decisão ocorreu após oito horas de negociações em Bruxelas e muita resistência do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, que ameaçava bloquear a adesão dos ucranianos. Esta semana, ele barrou a inclusão de 50 bilhões de euros no orçamento do bloco que seriam destinados à Ucrânia.
Como decisões importantes – incluindo a adesão de novos membros – precisam da unanimidade dos 27 países da UE, Orbán poderia engavetar a autorização para negociar com a Ucrânia. De acordo com diplomatas europeus, no entanto, o premiê húngaro saiu ontem deliberadamente da sala na hora que o tema foi votado.
“A Hungria não quer ter elação com essa decisão. Por isso, não participei da votação”, disse Orbán, em vídeo gravado logo após a reunião. O premiê húngaro afirmou que a Ucrânia é um dos países mais corruptos do mundo e qualificou sua entrada no bloco como “uma decisão completamente sem sentido, irracional e incorreta.”
O sinal verde para negociar sua entrada na UE foi uma vitória do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, que vem perdendo gradualmente o apoio dos EUA. No início da semana, ele esteve em Washington, mas não conseguiu convencer os congressistas republicanos a apoiarem um pacote de ajuda militar de US$ 61 bilhões. Sem os americanos, Zelenski depende cada vez mais da ajuda enviada pela Europa.
Ontem, Zelenski celebrou o avanço da candidatura ucraniana. “Foi uma vitória para a Ucrânia e para toda a Europa. Uma vitória que motiva, inspira e fortalece”, escreveu o presidente ucraniano no X (antigo Twitter). “A história é feita por aqueles que não se cansam de lutar pela liberdade.”
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que as negociações serão abertas em março, quando será apresentado um relatório sobre as mudanças que a Ucrânia deve realizar para entrar na UE. “Isso é extremamente importante: queremos apoiar a Ucrânia. Esse é um sinal político muito poderoso”, disse Michel.
Ameaça russa
Em uma rara entrevista coletiva em Moscou, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que a paz só será possível depois que a Rússia alcançar seus objetivos na guerra. “Haverá paz apenas quando alcançarmos nossos objetivos. Eles não mudaram. Vou recordá-los: a desnazificação, a desmilitarização da Ucrânia e o status de neutralidade”, disse.
Por “desnazificação”, Putin se refere à acusação de que o atual governo ucraniano tem elementos neonazistas – mesmo que Zelenski seja judeu. A “desmilitarização” e a “neutralidade” são exigências antigas de que a Ucrânia não entre na Otan, vista como uma ameaça existencial pelo Kremlin.
Na conversa de ontem, Putin parecia extremamente confiante com os resultados conquistados no campo de batalha. “Em quase toda linha de frente, nossas Forças Armadas melhoram suas posições. Quase todas estão em fase ativa”, disse o presidente, que revelou ter 617 mil soldados combatendo na Ucrânia.
Durante a entrevista, um encontro anual em que Putin responde a várias perguntas, ele também celebrou a falta de entusiasmo do Ocidente. “Hoje, a Ucrânia não produz quase nada”, disse. “Tudo está sendo enviado de graça. Mas isso vai acabar em algum momento. E parece que o apoio está se esgotando gradualmente.” /AP e NYT