Última testemunha de execução de soldados nazistas por resistência francesa narra caso pela 1ª vez


Quarenta e sete soldados foram mortos a tiros e enterrados secretamente na 2.ª Guerra, conta um veterano; história permaneceu desconhecida por décadas

Por Constant Méheut
Atualização:

THE NEW YORK TIMES – Pouco depois de 6 de junho de 1944, o chamado Dia D da 2.ª Guerra, combatentes da resistência francesa levaram 47 soldados alemães capturados para uma pequena área arborizada no centro-sudoeste da França. Sob um calor intenso, eles obrigaram os nazistas a cavar as próprias sepulturas, atiraram contra eles um a um e os enterraram.

A história permaneceu desconhecida durante décadas, mas veio à público recentemente no depoimento da última testemunha viva deste dia e se mostrou uma mancha no movimento de resistência. “Tínhamos vergonha”, declarou Edmond Réveil, a última testemunha, ao jornal francês La Vie Corrézienne. “Sabíamos que não deveríamos matar prisioneiros.”

Os detalhes gerais de Réveil está de acordo com pesquisas de historiadores franceses, mas as questões mais particulares não puderam ser verificadas de forma independente. As declarações chocaram Limousin, a área rural do centro-sudoeste da França que se orgulha da história de resistência durante a guerra. Centenas de civis da região foram massacrados pelos oficiais nazistas da Alemanha da SS, a Waffen-SS, por resistirem.

continua após a publicidade
Imagem mostra soldados nazistas capturados pelos Aliados sendo interrogados por americanos em 6 de junho de 1944, no Dia D. História de execução de nazistas na França veio à tona após décadas Foto: Eisenhower Presidential Library / HO / REUTERS

A primeira vez que Edmond Réveil contou a história foi em 2019, durante uma reunião de veteranos da guerra. As autoridades francesas e alemãs foram informadas logo em seguida e planejaram a exumação dos corpos, mas a notícia foi mantida em segredo por um tempo. O homem não participou dos assassinatos, segundo narra.

O prefeito de Meymac, cidade onde Réveil reside hoje e próxima ao local dos assassinatos, afirmou que a razão para manter a história em segredo foi a consciência das reações que ela poderia surtir. “Algumas polêmicas, já que mina um pouco a história da resistência”, disse o prefeito, Phillipe Brugère. Ele próprio ouviu a história durante a reunião dos veteranos. “Era um tabu, uma lembrança sobre a qual não queríamos falar.”

continua após a publicidade

A resistência francesa abarcou organizações clandestinas que lutavam contra a ocupação nazista da França e o regime colaboracionista de Vichy e desempenhou um papel fundamental na libertação do país. Na região do Limousin, os combatentes atacaram e sabotaram tropas alemãs para libertá-la no fim do verão europeu de 1944.

Depois da libertação, Réveil foi integrado ao exército francês e passou a lutar na Alemanha. Com o fim da guerra, tornou-se ferroviário, casou e teve vários filhos.

continua após a publicidade

A execução dos soldados

Segundo o depoimento, a execução dos soldados alemães ocorreu após uma batalha de dois dias que culminou com a libertação da cidade de Tulle, em junho de 1944. Cerca de 50 alemães foram entregues como prisioneiros ao destacamento de Réveil. O grupo de resistência não tinha comida suficiente e era difícil proteger tantos prisioneiros de uma vez só. “Não conseguimos manter eles”, diz o francês numa conversa gravada com o Phillipe Brugère que o NYT teve acesso.

Então, o Exército de Libertação da França ordenou que o destacamento matasse os prisioneiros – informação considerada incerta pelo chefe local do Escritório Nacional de Veteranos, Xavier Kompa. Os combatentes levaram os prisioneiros para uma floresta próxima ao vilarejo chamado Le Vert e o comandante com codinome Hannibal ordenou que voluntários fizessem os assassinatos. Réveil e alguns outros se recusaram.

continua após a publicidade

Antes de cada disparo, Hannibal conversou com o prisioneiro da vez. E chorava. Chorava como uma criança, conta Réveil. “Não é divertido atirar em alguém”, explica. Entre as prisioneiras, estava uma francesa colaboradora da Gestapo. Ninguém queria matá-la e a decisão de quem ia foi tirada na sorte.

Depois do episódio, o grupo decidiu não falar nunca sobre o massacre. Segundo Réveil, nem mesmo a esposa e seus filhos sabiam disso.

Brugère, o prefeito, disse que até então as pessoas sabiam apenas da história de um grupo de soldados alemães que se tornaram prisioneiros e “de repente, puf” havia desaparecido.

continua após a publicidade
O primeiro-ministro inglês Winston Churchill e o presidente francês Charles DeGaulle desfilam em Paris após a vitória na 2ª Guerra. País foi ocupado pela Alemanha nazista Foto: Companhia das Letras

Em 1967, 11 corpos alemães foram exumados em Le Vert em uma operação descrita como discreta. Nenhum registro foi mantido a nível local, poucas pessoas ouviram falar, mas as exumações foram interrompidas por motivos desconhecidos. “Um cobertor foi colocado novamente nesta lembrança”, disse Brugère.

Mais de meio século se passaram até o caso ser reaberto pelas autoridades, depois dos depoimentos de Réveil. Algumas investigações foram interrompidas pela pandemia de coronavírus, mas devem recomeçar em junho. Uma equipe alemã usará radar de penetração no solo para rastrear o local dos túmulos, segundo o Ministério da Defesa da França. Se a busca for bem-sucedida, a exumação e o enterro dos corpos fica sob responsabilidade da Alemanha.

continua após a publicidade

Não se sabe se Edmond Réveil irá sofrer consequências pela história. O prefeito Brugère disse que não tem conhecimento de investigação de crime de guerra contra ele.

No depoimento gravado, Réveil é questionado do motivo de quebrar o silêncio depois de tantos anos. Ele responde que quer tornar a história oficial. “Todo mundo sabe disso, mas ninguém fala sobre”, diz. /TRADUZIDO POR LUIZ HENRIQUE GOMES

THE NEW YORK TIMES – Pouco depois de 6 de junho de 1944, o chamado Dia D da 2.ª Guerra, combatentes da resistência francesa levaram 47 soldados alemães capturados para uma pequena área arborizada no centro-sudoeste da França. Sob um calor intenso, eles obrigaram os nazistas a cavar as próprias sepulturas, atiraram contra eles um a um e os enterraram.

A história permaneceu desconhecida durante décadas, mas veio à público recentemente no depoimento da última testemunha viva deste dia e se mostrou uma mancha no movimento de resistência. “Tínhamos vergonha”, declarou Edmond Réveil, a última testemunha, ao jornal francês La Vie Corrézienne. “Sabíamos que não deveríamos matar prisioneiros.”

Os detalhes gerais de Réveil está de acordo com pesquisas de historiadores franceses, mas as questões mais particulares não puderam ser verificadas de forma independente. As declarações chocaram Limousin, a área rural do centro-sudoeste da França que se orgulha da história de resistência durante a guerra. Centenas de civis da região foram massacrados pelos oficiais nazistas da Alemanha da SS, a Waffen-SS, por resistirem.

Imagem mostra soldados nazistas capturados pelos Aliados sendo interrogados por americanos em 6 de junho de 1944, no Dia D. História de execução de nazistas na França veio à tona após décadas Foto: Eisenhower Presidential Library / HO / REUTERS

A primeira vez que Edmond Réveil contou a história foi em 2019, durante uma reunião de veteranos da guerra. As autoridades francesas e alemãs foram informadas logo em seguida e planejaram a exumação dos corpos, mas a notícia foi mantida em segredo por um tempo. O homem não participou dos assassinatos, segundo narra.

O prefeito de Meymac, cidade onde Réveil reside hoje e próxima ao local dos assassinatos, afirmou que a razão para manter a história em segredo foi a consciência das reações que ela poderia surtir. “Algumas polêmicas, já que mina um pouco a história da resistência”, disse o prefeito, Phillipe Brugère. Ele próprio ouviu a história durante a reunião dos veteranos. “Era um tabu, uma lembrança sobre a qual não queríamos falar.”

A resistência francesa abarcou organizações clandestinas que lutavam contra a ocupação nazista da França e o regime colaboracionista de Vichy e desempenhou um papel fundamental na libertação do país. Na região do Limousin, os combatentes atacaram e sabotaram tropas alemãs para libertá-la no fim do verão europeu de 1944.

Depois da libertação, Réveil foi integrado ao exército francês e passou a lutar na Alemanha. Com o fim da guerra, tornou-se ferroviário, casou e teve vários filhos.

A execução dos soldados

Segundo o depoimento, a execução dos soldados alemães ocorreu após uma batalha de dois dias que culminou com a libertação da cidade de Tulle, em junho de 1944. Cerca de 50 alemães foram entregues como prisioneiros ao destacamento de Réveil. O grupo de resistência não tinha comida suficiente e era difícil proteger tantos prisioneiros de uma vez só. “Não conseguimos manter eles”, diz o francês numa conversa gravada com o Phillipe Brugère que o NYT teve acesso.

Então, o Exército de Libertação da França ordenou que o destacamento matasse os prisioneiros – informação considerada incerta pelo chefe local do Escritório Nacional de Veteranos, Xavier Kompa. Os combatentes levaram os prisioneiros para uma floresta próxima ao vilarejo chamado Le Vert e o comandante com codinome Hannibal ordenou que voluntários fizessem os assassinatos. Réveil e alguns outros se recusaram.

Antes de cada disparo, Hannibal conversou com o prisioneiro da vez. E chorava. Chorava como uma criança, conta Réveil. “Não é divertido atirar em alguém”, explica. Entre as prisioneiras, estava uma francesa colaboradora da Gestapo. Ninguém queria matá-la e a decisão de quem ia foi tirada na sorte.

Depois do episódio, o grupo decidiu não falar nunca sobre o massacre. Segundo Réveil, nem mesmo a esposa e seus filhos sabiam disso.

Brugère, o prefeito, disse que até então as pessoas sabiam apenas da história de um grupo de soldados alemães que se tornaram prisioneiros e “de repente, puf” havia desaparecido.

O primeiro-ministro inglês Winston Churchill e o presidente francês Charles DeGaulle desfilam em Paris após a vitória na 2ª Guerra. País foi ocupado pela Alemanha nazista Foto: Companhia das Letras

Em 1967, 11 corpos alemães foram exumados em Le Vert em uma operação descrita como discreta. Nenhum registro foi mantido a nível local, poucas pessoas ouviram falar, mas as exumações foram interrompidas por motivos desconhecidos. “Um cobertor foi colocado novamente nesta lembrança”, disse Brugère.

Mais de meio século se passaram até o caso ser reaberto pelas autoridades, depois dos depoimentos de Réveil. Algumas investigações foram interrompidas pela pandemia de coronavírus, mas devem recomeçar em junho. Uma equipe alemã usará radar de penetração no solo para rastrear o local dos túmulos, segundo o Ministério da Defesa da França. Se a busca for bem-sucedida, a exumação e o enterro dos corpos fica sob responsabilidade da Alemanha.

Não se sabe se Edmond Réveil irá sofrer consequências pela história. O prefeito Brugère disse que não tem conhecimento de investigação de crime de guerra contra ele.

No depoimento gravado, Réveil é questionado do motivo de quebrar o silêncio depois de tantos anos. Ele responde que quer tornar a história oficial. “Todo mundo sabe disso, mas ninguém fala sobre”, diz. /TRADUZIDO POR LUIZ HENRIQUE GOMES

THE NEW YORK TIMES – Pouco depois de 6 de junho de 1944, o chamado Dia D da 2.ª Guerra, combatentes da resistência francesa levaram 47 soldados alemães capturados para uma pequena área arborizada no centro-sudoeste da França. Sob um calor intenso, eles obrigaram os nazistas a cavar as próprias sepulturas, atiraram contra eles um a um e os enterraram.

A história permaneceu desconhecida durante décadas, mas veio à público recentemente no depoimento da última testemunha viva deste dia e se mostrou uma mancha no movimento de resistência. “Tínhamos vergonha”, declarou Edmond Réveil, a última testemunha, ao jornal francês La Vie Corrézienne. “Sabíamos que não deveríamos matar prisioneiros.”

Os detalhes gerais de Réveil está de acordo com pesquisas de historiadores franceses, mas as questões mais particulares não puderam ser verificadas de forma independente. As declarações chocaram Limousin, a área rural do centro-sudoeste da França que se orgulha da história de resistência durante a guerra. Centenas de civis da região foram massacrados pelos oficiais nazistas da Alemanha da SS, a Waffen-SS, por resistirem.

Imagem mostra soldados nazistas capturados pelos Aliados sendo interrogados por americanos em 6 de junho de 1944, no Dia D. História de execução de nazistas na França veio à tona após décadas Foto: Eisenhower Presidential Library / HO / REUTERS

A primeira vez que Edmond Réveil contou a história foi em 2019, durante uma reunião de veteranos da guerra. As autoridades francesas e alemãs foram informadas logo em seguida e planejaram a exumação dos corpos, mas a notícia foi mantida em segredo por um tempo. O homem não participou dos assassinatos, segundo narra.

O prefeito de Meymac, cidade onde Réveil reside hoje e próxima ao local dos assassinatos, afirmou que a razão para manter a história em segredo foi a consciência das reações que ela poderia surtir. “Algumas polêmicas, já que mina um pouco a história da resistência”, disse o prefeito, Phillipe Brugère. Ele próprio ouviu a história durante a reunião dos veteranos. “Era um tabu, uma lembrança sobre a qual não queríamos falar.”

A resistência francesa abarcou organizações clandestinas que lutavam contra a ocupação nazista da França e o regime colaboracionista de Vichy e desempenhou um papel fundamental na libertação do país. Na região do Limousin, os combatentes atacaram e sabotaram tropas alemãs para libertá-la no fim do verão europeu de 1944.

Depois da libertação, Réveil foi integrado ao exército francês e passou a lutar na Alemanha. Com o fim da guerra, tornou-se ferroviário, casou e teve vários filhos.

A execução dos soldados

Segundo o depoimento, a execução dos soldados alemães ocorreu após uma batalha de dois dias que culminou com a libertação da cidade de Tulle, em junho de 1944. Cerca de 50 alemães foram entregues como prisioneiros ao destacamento de Réveil. O grupo de resistência não tinha comida suficiente e era difícil proteger tantos prisioneiros de uma vez só. “Não conseguimos manter eles”, diz o francês numa conversa gravada com o Phillipe Brugère que o NYT teve acesso.

Então, o Exército de Libertação da França ordenou que o destacamento matasse os prisioneiros – informação considerada incerta pelo chefe local do Escritório Nacional de Veteranos, Xavier Kompa. Os combatentes levaram os prisioneiros para uma floresta próxima ao vilarejo chamado Le Vert e o comandante com codinome Hannibal ordenou que voluntários fizessem os assassinatos. Réveil e alguns outros se recusaram.

Antes de cada disparo, Hannibal conversou com o prisioneiro da vez. E chorava. Chorava como uma criança, conta Réveil. “Não é divertido atirar em alguém”, explica. Entre as prisioneiras, estava uma francesa colaboradora da Gestapo. Ninguém queria matá-la e a decisão de quem ia foi tirada na sorte.

Depois do episódio, o grupo decidiu não falar nunca sobre o massacre. Segundo Réveil, nem mesmo a esposa e seus filhos sabiam disso.

Brugère, o prefeito, disse que até então as pessoas sabiam apenas da história de um grupo de soldados alemães que se tornaram prisioneiros e “de repente, puf” havia desaparecido.

O primeiro-ministro inglês Winston Churchill e o presidente francês Charles DeGaulle desfilam em Paris após a vitória na 2ª Guerra. País foi ocupado pela Alemanha nazista Foto: Companhia das Letras

Em 1967, 11 corpos alemães foram exumados em Le Vert em uma operação descrita como discreta. Nenhum registro foi mantido a nível local, poucas pessoas ouviram falar, mas as exumações foram interrompidas por motivos desconhecidos. “Um cobertor foi colocado novamente nesta lembrança”, disse Brugère.

Mais de meio século se passaram até o caso ser reaberto pelas autoridades, depois dos depoimentos de Réveil. Algumas investigações foram interrompidas pela pandemia de coronavírus, mas devem recomeçar em junho. Uma equipe alemã usará radar de penetração no solo para rastrear o local dos túmulos, segundo o Ministério da Defesa da França. Se a busca for bem-sucedida, a exumação e o enterro dos corpos fica sob responsabilidade da Alemanha.

Não se sabe se Edmond Réveil irá sofrer consequências pela história. O prefeito Brugère disse que não tem conhecimento de investigação de crime de guerra contra ele.

No depoimento gravado, Réveil é questionado do motivo de quebrar o silêncio depois de tantos anos. Ele responde que quer tornar a história oficial. “Todo mundo sabe disso, mas ninguém fala sobre”, diz. /TRADUZIDO POR LUIZ HENRIQUE GOMES

THE NEW YORK TIMES – Pouco depois de 6 de junho de 1944, o chamado Dia D da 2.ª Guerra, combatentes da resistência francesa levaram 47 soldados alemães capturados para uma pequena área arborizada no centro-sudoeste da França. Sob um calor intenso, eles obrigaram os nazistas a cavar as próprias sepulturas, atiraram contra eles um a um e os enterraram.

A história permaneceu desconhecida durante décadas, mas veio à público recentemente no depoimento da última testemunha viva deste dia e se mostrou uma mancha no movimento de resistência. “Tínhamos vergonha”, declarou Edmond Réveil, a última testemunha, ao jornal francês La Vie Corrézienne. “Sabíamos que não deveríamos matar prisioneiros.”

Os detalhes gerais de Réveil está de acordo com pesquisas de historiadores franceses, mas as questões mais particulares não puderam ser verificadas de forma independente. As declarações chocaram Limousin, a área rural do centro-sudoeste da França que se orgulha da história de resistência durante a guerra. Centenas de civis da região foram massacrados pelos oficiais nazistas da Alemanha da SS, a Waffen-SS, por resistirem.

Imagem mostra soldados nazistas capturados pelos Aliados sendo interrogados por americanos em 6 de junho de 1944, no Dia D. História de execução de nazistas na França veio à tona após décadas Foto: Eisenhower Presidential Library / HO / REUTERS

A primeira vez que Edmond Réveil contou a história foi em 2019, durante uma reunião de veteranos da guerra. As autoridades francesas e alemãs foram informadas logo em seguida e planejaram a exumação dos corpos, mas a notícia foi mantida em segredo por um tempo. O homem não participou dos assassinatos, segundo narra.

O prefeito de Meymac, cidade onde Réveil reside hoje e próxima ao local dos assassinatos, afirmou que a razão para manter a história em segredo foi a consciência das reações que ela poderia surtir. “Algumas polêmicas, já que mina um pouco a história da resistência”, disse o prefeito, Phillipe Brugère. Ele próprio ouviu a história durante a reunião dos veteranos. “Era um tabu, uma lembrança sobre a qual não queríamos falar.”

A resistência francesa abarcou organizações clandestinas que lutavam contra a ocupação nazista da França e o regime colaboracionista de Vichy e desempenhou um papel fundamental na libertação do país. Na região do Limousin, os combatentes atacaram e sabotaram tropas alemãs para libertá-la no fim do verão europeu de 1944.

Depois da libertação, Réveil foi integrado ao exército francês e passou a lutar na Alemanha. Com o fim da guerra, tornou-se ferroviário, casou e teve vários filhos.

A execução dos soldados

Segundo o depoimento, a execução dos soldados alemães ocorreu após uma batalha de dois dias que culminou com a libertação da cidade de Tulle, em junho de 1944. Cerca de 50 alemães foram entregues como prisioneiros ao destacamento de Réveil. O grupo de resistência não tinha comida suficiente e era difícil proteger tantos prisioneiros de uma vez só. “Não conseguimos manter eles”, diz o francês numa conversa gravada com o Phillipe Brugère que o NYT teve acesso.

Então, o Exército de Libertação da França ordenou que o destacamento matasse os prisioneiros – informação considerada incerta pelo chefe local do Escritório Nacional de Veteranos, Xavier Kompa. Os combatentes levaram os prisioneiros para uma floresta próxima ao vilarejo chamado Le Vert e o comandante com codinome Hannibal ordenou que voluntários fizessem os assassinatos. Réveil e alguns outros se recusaram.

Antes de cada disparo, Hannibal conversou com o prisioneiro da vez. E chorava. Chorava como uma criança, conta Réveil. “Não é divertido atirar em alguém”, explica. Entre as prisioneiras, estava uma francesa colaboradora da Gestapo. Ninguém queria matá-la e a decisão de quem ia foi tirada na sorte.

Depois do episódio, o grupo decidiu não falar nunca sobre o massacre. Segundo Réveil, nem mesmo a esposa e seus filhos sabiam disso.

Brugère, o prefeito, disse que até então as pessoas sabiam apenas da história de um grupo de soldados alemães que se tornaram prisioneiros e “de repente, puf” havia desaparecido.

O primeiro-ministro inglês Winston Churchill e o presidente francês Charles DeGaulle desfilam em Paris após a vitória na 2ª Guerra. País foi ocupado pela Alemanha nazista Foto: Companhia das Letras

Em 1967, 11 corpos alemães foram exumados em Le Vert em uma operação descrita como discreta. Nenhum registro foi mantido a nível local, poucas pessoas ouviram falar, mas as exumações foram interrompidas por motivos desconhecidos. “Um cobertor foi colocado novamente nesta lembrança”, disse Brugère.

Mais de meio século se passaram até o caso ser reaberto pelas autoridades, depois dos depoimentos de Réveil. Algumas investigações foram interrompidas pela pandemia de coronavírus, mas devem recomeçar em junho. Uma equipe alemã usará radar de penetração no solo para rastrear o local dos túmulos, segundo o Ministério da Defesa da França. Se a busca for bem-sucedida, a exumação e o enterro dos corpos fica sob responsabilidade da Alemanha.

Não se sabe se Edmond Réveil irá sofrer consequências pela história. O prefeito Brugère disse que não tem conhecimento de investigação de crime de guerra contra ele.

No depoimento gravado, Réveil é questionado do motivo de quebrar o silêncio depois de tantos anos. Ele responde que quer tornar a história oficial. “Todo mundo sabe disso, mas ninguém fala sobre”, diz. /TRADUZIDO POR LUIZ HENRIQUE GOMES

THE NEW YORK TIMES – Pouco depois de 6 de junho de 1944, o chamado Dia D da 2.ª Guerra, combatentes da resistência francesa levaram 47 soldados alemães capturados para uma pequena área arborizada no centro-sudoeste da França. Sob um calor intenso, eles obrigaram os nazistas a cavar as próprias sepulturas, atiraram contra eles um a um e os enterraram.

A história permaneceu desconhecida durante décadas, mas veio à público recentemente no depoimento da última testemunha viva deste dia e se mostrou uma mancha no movimento de resistência. “Tínhamos vergonha”, declarou Edmond Réveil, a última testemunha, ao jornal francês La Vie Corrézienne. “Sabíamos que não deveríamos matar prisioneiros.”

Os detalhes gerais de Réveil está de acordo com pesquisas de historiadores franceses, mas as questões mais particulares não puderam ser verificadas de forma independente. As declarações chocaram Limousin, a área rural do centro-sudoeste da França que se orgulha da história de resistência durante a guerra. Centenas de civis da região foram massacrados pelos oficiais nazistas da Alemanha da SS, a Waffen-SS, por resistirem.

Imagem mostra soldados nazistas capturados pelos Aliados sendo interrogados por americanos em 6 de junho de 1944, no Dia D. História de execução de nazistas na França veio à tona após décadas Foto: Eisenhower Presidential Library / HO / REUTERS

A primeira vez que Edmond Réveil contou a história foi em 2019, durante uma reunião de veteranos da guerra. As autoridades francesas e alemãs foram informadas logo em seguida e planejaram a exumação dos corpos, mas a notícia foi mantida em segredo por um tempo. O homem não participou dos assassinatos, segundo narra.

O prefeito de Meymac, cidade onde Réveil reside hoje e próxima ao local dos assassinatos, afirmou que a razão para manter a história em segredo foi a consciência das reações que ela poderia surtir. “Algumas polêmicas, já que mina um pouco a história da resistência”, disse o prefeito, Phillipe Brugère. Ele próprio ouviu a história durante a reunião dos veteranos. “Era um tabu, uma lembrança sobre a qual não queríamos falar.”

A resistência francesa abarcou organizações clandestinas que lutavam contra a ocupação nazista da França e o regime colaboracionista de Vichy e desempenhou um papel fundamental na libertação do país. Na região do Limousin, os combatentes atacaram e sabotaram tropas alemãs para libertá-la no fim do verão europeu de 1944.

Depois da libertação, Réveil foi integrado ao exército francês e passou a lutar na Alemanha. Com o fim da guerra, tornou-se ferroviário, casou e teve vários filhos.

A execução dos soldados

Segundo o depoimento, a execução dos soldados alemães ocorreu após uma batalha de dois dias que culminou com a libertação da cidade de Tulle, em junho de 1944. Cerca de 50 alemães foram entregues como prisioneiros ao destacamento de Réveil. O grupo de resistência não tinha comida suficiente e era difícil proteger tantos prisioneiros de uma vez só. “Não conseguimos manter eles”, diz o francês numa conversa gravada com o Phillipe Brugère que o NYT teve acesso.

Então, o Exército de Libertação da França ordenou que o destacamento matasse os prisioneiros – informação considerada incerta pelo chefe local do Escritório Nacional de Veteranos, Xavier Kompa. Os combatentes levaram os prisioneiros para uma floresta próxima ao vilarejo chamado Le Vert e o comandante com codinome Hannibal ordenou que voluntários fizessem os assassinatos. Réveil e alguns outros se recusaram.

Antes de cada disparo, Hannibal conversou com o prisioneiro da vez. E chorava. Chorava como uma criança, conta Réveil. “Não é divertido atirar em alguém”, explica. Entre as prisioneiras, estava uma francesa colaboradora da Gestapo. Ninguém queria matá-la e a decisão de quem ia foi tirada na sorte.

Depois do episódio, o grupo decidiu não falar nunca sobre o massacre. Segundo Réveil, nem mesmo a esposa e seus filhos sabiam disso.

Brugère, o prefeito, disse que até então as pessoas sabiam apenas da história de um grupo de soldados alemães que se tornaram prisioneiros e “de repente, puf” havia desaparecido.

O primeiro-ministro inglês Winston Churchill e o presidente francês Charles DeGaulle desfilam em Paris após a vitória na 2ª Guerra. País foi ocupado pela Alemanha nazista Foto: Companhia das Letras

Em 1967, 11 corpos alemães foram exumados em Le Vert em uma operação descrita como discreta. Nenhum registro foi mantido a nível local, poucas pessoas ouviram falar, mas as exumações foram interrompidas por motivos desconhecidos. “Um cobertor foi colocado novamente nesta lembrança”, disse Brugère.

Mais de meio século se passaram até o caso ser reaberto pelas autoridades, depois dos depoimentos de Réveil. Algumas investigações foram interrompidas pela pandemia de coronavírus, mas devem recomeçar em junho. Uma equipe alemã usará radar de penetração no solo para rastrear o local dos túmulos, segundo o Ministério da Defesa da França. Se a busca for bem-sucedida, a exumação e o enterro dos corpos fica sob responsabilidade da Alemanha.

Não se sabe se Edmond Réveil irá sofrer consequências pela história. O prefeito Brugère disse que não tem conhecimento de investigação de crime de guerra contra ele.

No depoimento gravado, Réveil é questionado do motivo de quebrar o silêncio depois de tantos anos. Ele responde que quer tornar a história oficial. “Todo mundo sabe disso, mas ninguém fala sobre”, diz. /TRADUZIDO POR LUIZ HENRIQUE GOMES

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.