Três dias antes da eleição israelense - vista como um referendo sobre o tipo de negociação de paz promovido pelo primeiro-ministro Ehud Barak -, pesquisas publicadas hoje apontam para uma avassaladora vitória do líder oposicionista Ariel Sharon, que é contrário a todas as concessões oferecidas por Barak aos palestinos. O pressionado Barak, enquanto isso, ordenou ao Exército para isolar novamente a maioria das cidades e vilas palestinas na Cisjordânia a fim de evitar novos ataques contra israelenses que poderiam comprometer ainda mais sua posição antes da eleição de terça-feira. Na quinta-feira, dois motoristas israelenses, incluindo um proeminente médico, foram assassinados por atiradores palestinos em emboscadas na Cisjordânia, levando Barak a cancelar esforços internacionais visando promover uma reunião de cúpula de paz do Oriente Médio antes da votação. Tal reunião internacional de relevo era vista como a última cartada de Barak para a eleição. Agora ele irá enfrentar os eleitores sem mesmo contar com frágeis promessas de um acordo de paz com os palestinos, enquanto os confrontos palestino-israelenses dos últimos quatro meses não davam sinais de diminuírem. Barak tem dito que espera que sua posição nas pesquisas melhore uma vez que a possível candidatura do popular antigo estadista de Israel Shimon Peres deixe de estar em discussão. Barak vinha sendo pressionado para renunciar à sua candidatura no Partido Trabalhista em favor de Peres, mas o prazo final para a mudança expirou à meia-noite desta quinta-feira. Numa entrevista publicada hoje, Barak insistiu que os números das pesquisas não refletem a realidade. "Quando os cidadãos de Israel entrarem na cabine de votação, eles vão entender que não são as pesquisas que são importantes" disse ele ao diário Maariv. "O que é importante é o destino dos cidadãos do país e o futuro de todos nós". O premier, que chamou Sharon de um "extremista sem contenção", afirmou não estar irritado com partidários que o abandonaram. "Não me sinto traído", disse. "Não tenho reclamações contra ninguém que achou difícil unir-se a mim nessa luta". Uma pesquisa promovida pelo instituto Dahaf mostrou que 56% dos israelenses planejam votar em Sharon, e apenas 35% apóiam Barak, com 9% de indecisos. A margem de erro da sondagem, publicada hoje pelo jornal Yediot Ahronot, é de três pontos percentuais. Uma pesquisa do Gallup divulgada pelo Maariv mostra Sharon com 51% das preferências, e Barak com 34%. Sharon disse numa entrevista publicada hoje que ele reuniria-se relutantemente com o líder palestino Yasser Arafat, a quem ele chama de assassino. "Todo mundo sabe quem é Arafat, mas não podemos decidir quem os palestinos escolhem para liderá-los, e ele é o homem com quem temos de conversar", afirmou Sharon ao Maariv. Sharon denunciou as concessões propostas por Barak aos palestinos e disse que optaria no lugar por um acordo interino de longo prazo. Sharon insistiu que a violência tem de para como pré-condição para a retomada das conversações de paz. Ele tem dito que não tem intenção de honrar entendimentos de Barak com os palestinos. "Não vou promover negociações sob fogo e terrorismo e violência", afirmou Sharon. "Este foi o erro de Barak, de ter concordado com isso". Barak diz que Israel tem de se separar dos palestinos, ou por um acordo ou através de medidas graduais unilaterais. Em conversações de paz, Barak tem oferecido aos palestinos um Estado que abarcaria mais de 90% da Cisjordânia e 100% da Faixa de Gaza, com controle sobre bairros árabes em Jerusalém e arranjos especiais para os locais sagrados. Tropas israelenses voltaram hoje a colocar em isolamento praticamente todas cidades e vilas palestinas na Cisjordânia, afetando a vida de quase 2 milhões de palestinos. O Exército também anunciou que iria bloquear estradas vicinais que conecta vilas palestinas às principais rodovias onde motoristas israelenses foram emboscados por palestinos. Em quatro meses de derramamento de sangue, 383 pessoas foram assassinadas: 322 palestinas, 13 árabe-israelenses, 47 outros israelenses e um médico alemão.